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Cine Virtual: Tempo da Colheita

Conto de Carmen Villas Bôas
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Sinopse: Depois de um longo período fora, Pedro voltou à fazenda da família, para ajudar o pai doente, no tempo da colheita. No milharal, ele conheceu o novo capataz, Alceu, por quem sentiu uma imediata atração, mas não podia deixar transparecer seu segredo tão bem guardado e que o fez partir para longe, assim tentou esquecer aquela paixão incipiente. Contudo, Alceu se aproximou dele, de modo ambíguo, deixando o rapaz confuso, sem saber se seria apenas amizade ou atração. Ao mesmo tempo, que a irmã de Pedro, Leila, confessou o seu interesse pelo belo capataz e que estava disposta a conquistá-lo a qualquer custo. Assim, surgiu um velado triângulo amoroso.


Tempo da Colheita
de Carmen Villas Bôas

 

Ao entrar naquela estrada que conhecia tão bem, ladeada pelos campos dourados de milho sob o sol do cerrado, Pedro pensava que não devia ter retornado, depois de tanto tempo longe, pelo menos, a metade dos seus trinta anos, tentando viver ao seu modo, sem disfarces ou subterfúgios, mas como negar o pedido de ajuda da sua mãe, por causa do estado de saúde cada vez mais debilitado do seu pai, devido ao câncer.  De repente, o rapaz se deparou com um pequeno trator, que puxava uma carretinha, em marcha lenta, bloqueando a via, então buzinou várias vezes, impaciente. O veículo saiu de lado para lhe dar passagem, Pedro aproveitou e emparelhou para agradecer ao condutor, um homem da sua idade, com o corpo torneado e bronzeado pelo trabalho duro do campo e o rosto, parcialmente, escondido pelo chapéu de palha.

— Está perdido, moço? — o rapaz perguntou, com o sotaque tão familiar, que Pedro havia feito questão de perder.

— Não, estou indo para casa dos meus pais — respondeu, de modo amigável.

— Seu Pedro? Está todo mundo esperando a sua chegada. — O rapaz descobriu a cabeça, em saudação, revelando o rosto de traços fortes. — Sou Alceu, o capataz.

— O que houve com Moisés?

— Se aposentou. Disse que estava muito velho para esse trabalho.

— Prazer em conhecê-lo, Alceu. Nos vemos depois.

— Até! — Com um sorriso, o rapaz inclinou a cabeça e recolocou o chapéu.

Pedro prosseguiu o seu caminho, observando Alceu diminuir no espelho retrovisor, pensando que não podia se deixar levar por essa sensação.

A casa paterna, que sempre tinha as portas abertas, pouco mudou durante todo aquele tempo, cheia de memórias opressivas e medos. Lá, era um estranho. Parou no meio da sala, colocou a mala no chão, olhou ao redor, os móveis de madeira pesados e escuros, a poltrona de couro do pai destacando-se como um trono, o chão de lajotas vermelhas encerado, as grandes janelas, com telas, por onde a tênue luz róseo do entardecer era filtrada pelas finas cortinas, só o número de porta-retratos aumentou. Sua mãe, Judite, surgiu pela porta do corredor, magra, alta,  com seus cabelos escuros entremeados por fios grisalhos, sua postura rígida e o seu semblante duro demonstravam toda a força daquela mulher. Ele se parecia com ela, pelo menos, fisicamente.

— Pedro, que bom que chegou — disse, sem emoção na voz, nem um gesto de carinho, suas mãos continuaram juntas ao corpo, como se ele tivesse saído naquela manhã e não anos atrás.

— Mãe! Como ele está? — perguntou no mesmo tom.

— Nada bem. — Ela sacudiu a cabeça e uma sombra de tristeza passou na sua face.

— Posso vê-lo?

— Depois, ele está dormindo agora.

— Pedro! Você chegou! — Os dois se voltaram para a porta da frente e encontraram a moça bonita, de longos cabelos castanhos e pele bronzeada, as pernas compridas pouco cobertas pelos shorts curtos. Ela correu e se pendurou no pescoço do irmão mais velho. — Eu sabia, quando vi aquele carro estranho estacionado, aí em frente!

— Eu o aluguei no aeroporto. Nossa, Leila, como você mudou! — exclamou, surpreso, se afastando para vê-la melhor.

— Se viesse mais aqui não ficaria tão espantado — acusou, erguendo o queixo, petulante.

— Sabe como é? Muito trabalho... — Pedro se desculpou, desviando o olhar.

— Leila, deixa o seu irmão em paz! — a mãe ralhou, em tom brando, sempre paciente com a sua caçula. — Pedro, leve sua mala para o quarto. Comemos daqui a pouco — avisou.

O rapaz havia se esquecido daquele modo de vida, depois de tantos anos morando em uma grande cidade, por isso só assentiu, pegou a mala e foi em direção ao quarto. Passou pela porta entreaberta do quarto do pai, parou e avistou a figura esquálida sobre a grande cama, envolta em cobertas, seu coração apertou ao se lembrar do homem forte do passado. Relutante, seguiu em frente e entrou no refúgio da sua juventude, que estava exatamente como sempre foi. Respirou fundo e jogou a mala em cima da cama, observando em volta, os móveis, os livros, os quadros, as fotografias, resquícios de outra vida, uma vida de mentiras e angústia.

Uma hora depois, a família estava reunida em volta da mesa posta para o jantar, com exceção da cadeira vazia na cabeceira. A velha cabocla Mércia, empregada de longa data, entrou arrastando os pés, trazendo uma travessa fumegante e depositou sobre a mesa. Pedro se ergueu para abraçar a sua antiga babá, que retribuiu o carinho.

— Ai, que saudades de você e da sua comida, Mércia!

— Fiz tudo que você gosta, Pedrinho! Empadão, panelinha e, para sobremesa, pamonha. Tudo que você não tem naquela tal de São Paulo.

— Você é um anjo, Mércia! — Pedro se inclinou, sobre a mesa, para sentir melhor o aroma.

— Ela só fez isso tudo porque você está aqui! — Leila reclamou, fazendo beicinho.

— Deixa de ser ciumenta, menina! Sempre faço tudo que você gosta! — Mércia rebateu, colocando as mãos nos quadris.

Mas, todos ficaram em silêncio, quando Alceu entrou e parou diante deles, sem jeito.

— Boa noite.

Leila deu um pulo da cadeira, ficando de pé e indo até o recém-chegado.

— Que bom que veio, Alceu! — exclamou, puxando o homem até a mesa e indicando o lugar ao seu lado. — Convidei Alceu para jantar conosco e conhecer Pedro — comunicou.

— Claro — Judite concordou, mas sua expressão demonstrava o contrário. — Alceu, esse é meu filho Pedro. Ele veio nos ajudar com a colheita.

— Já nos conhecemos na estrada. É bom ter mais dois braços para o trabalho. — Alceu lhe estendeu a mão, que Pedro demorou alguns instantes para aceitar. Por fim, cumprimentaram-se, com firmeza.

— Eu sou um homem da cidade, meu lugar é em um escritório — Pedro respondeu, tentando manter um sorriso congelado, para disfarçar o seu incômodo. Recolheu a mão depressa para não perceberem o leve tremor, se esforçou para desviar os olhos em direção ao prato à sua frente.

— Pedro trabalha no mercado financeiro, em São Paulo — Leila completou e continuou a falar, na nítida intenção de chamar atenção de Alceu, que mal conseguia abrir a boca.

Ao fim da refeição, Judite se levantou e convidou o filho para uma rápida visita ao pai, que ele aceitou prontamente, precisava se afastar.

No quarto, mergulhado na penumbra e nos cheiros da doença e de remédios, Pedro se postou ao lado da cama, escutando a respiração ruidosa do pai.

— José, Pedro está aqui — Judite anunciou, em tom suave.

— Pedro? — o pai murmurou, abrindo os olhos confusos e os fechando, em seguida. 

— Ele não se lembra de muitas coisas, talvez, seja melhor assim — a mãe concluiu.

Abatido, o rapaz voltou para o quarto e se deitou, mas o sono não veio, de imediato. Sua mente repassava os acontecimentos do dia, era um ciclo que se fechava. Assim, rolou na cama escutando o silêncio da noite, até adormecer.

Pela manhã, acordou assustado, sem saber onde estava, quando sua irmã entrou no quarto, animada.

— Vamos, preguiçoso! Você não veio aqui para dormir!

— Que horas são? — Pedro se sentou e coçou a cabeça.

— Seis. Vamos tomar café e ir para a plantação, trabalhar, se é que lembra como se faz isso. Eu lhe dou uma carona, porque aquele seu carrinho não é páreo para as estradas daqui.

— Por que essa gentileza?

— Porque eu ajudo no armazém, aproveito e, também, vejo Alceu.

— Você está mesma interessada nele? — Pedro questionou, com dissimulada casualidade.

— Ele é a melhor coisa que apareceu por aqui, pena que seja tão difícil, mas ainda vai ser meu. Ouça o que estou dizendo!

— Mas, ele não é muito velho para você?

— Já não sou mais um bebê, tenho dezenove anos! E se apresse, mano, senão vai acabar a pé!

Pouco depois, na estrada de terra cercada pela plantação, ouvindo os sons das máquinas trabalhando à distância, logo puderam ver os silos e o armazém, os caminhões e os homens circulando ao seu redor. Ao se aproximarem, Pedro conseguiu distinguir Alceu entre os outros, seu coração acelerou, quando Leila estacionou, bem ao lado dele.

— Chegamos! — a moça anunciou, ao sair da caminhonete.

— Que bom! — Alceu sorriu, seus olhos pararam nos de Pedro, por um breve instante.

Durante o resto do dia, Pedro evitou ficar perto de Alceu, mas por coincidência ou não, estavam sempre juntos. No término da jornada, os trabalhadores começaram a dispersar.

— O que achou do seu primeiro dia? — na porta do escritório, Alceu quis saber, de um jeito simpático, enquanto Pedro fazia algumas anotações.

— Já perdi o costume do trabalho no campo — Pedro respondeu no mesmo tom, sem erguer a cabeça.

— Eu já estou indo, Pedro! Você vem? — Leila se aproximou e perguntou, o irmão vacilou, fingindo-se ocupado.

— Se quiser ficar mais um pouco, eu lhe dou uma carona para casa — Alceu ofereceu, Pedro assentiu, Leila deu de ombros e se foi, porém, antes os lembrou que eram esperados para o jantar.

Aos poucos, o lugar foi ficando vazio e quando perceberam os dois estavam sozinhos, envoltos no silêncio. Alceu sorriu e perguntou:

— Quer uma cerveja?

Pedro sabia que era melhor dizer não, que queria voltar para casa, mas...

— Quero, obrigado.

Alceu foi até a geladeira do escritório e pegou duas pequenas garrafas, entregou uma a ele.

— Não conte para os meus patrões — brincou, enquanto, abria e tomava um gole.

— Pode deixar, o seu segredo está seguro comigo — respondeu no mesmo tom.

Sentaram-se, lado a lado, em um muro baixo próximo ao armazém, observando o horizonte, onde os tons vermelhos e dourados tornavam-se púrpura, anunciando o anoitecer.

— Havia me esquecido como isso aqui é bonito — Pedro confessou. — Dá uma paz.

— Então, por que você foi embora? — Alceu se voltou para ele.

— Precisava partir, não havia mais nada para mim, aqui.

— Você tem toda essa terra. — Alceu ergueu o braço, mostrando em torno.

 — Mas, não era o bastante, precisava de algo que esse lugar não pode me dar — respondeu e, em seguida, tomou um longo gole da sua garrafa.

— Eu entendo você. Às vezes, sinto que tem algo errado comigo, alguma coisa quebrada, que não compreendo — o rapaz revelou, olhando o infinito, Pedro encarou o seu perfil, em um longo silêncio.

— Acho melhor irmos. Leila está esperando e ficará furiosa se demorarmos demais — enfim, falou.

Os dois entraram na velha caminhonete do capataz, que balançava na estrada de terra.

— Minha irmã está interessada em você — Pedro comentou, maquiavélico, e Alceu deu um sorriso maroto.

— Leila é uma boa menina e, um dia, será uma boa mulher para alguém.

Ao trocar a marcha a mão de Alceu roçou na lateral da coxa do outro rapaz que, apesar do jeans, sentiu o toque queimar, se retesou e se calou até chegarem à casa.

E como havia previsto, Leila estava furiosa com a demora. Judite os recebeu de modo frio e o olhar afiado. No final, a própria moça amenizou o clima, pois queria causar uma boa impressão ao seu cobiçado.

No meio da noite, sozinho no quarto, Pedro relembrava daquela tarde, sua proximidade com Alceu, considerando se ele queria apenas um amigo ou havia percebido seu interesse e correspondia, no entanto, seria melhor não se aventurar, deixar como estava.

No segundo dia de trabalho, Pedro evitou ficar próximo do outro rapaz, mas seus olhos eram sempre atraídos para ele, era impossível controlar, se perdia nos seus movimentos, nos seus músculos rígidos, nas suas mãos, no seu sorriso. Estava acontecendo outra vez, estava se apaixonando e sabia o que isso poderia significar.  E como no dia anterior, ao cair da tarde, Pedro se deixou ficar no escritório até só restarem ele e Alceu.

— Leila já foi, quer uma carona para casa? — o capataz surgiu na porta e se encostou no batente, displicente. Pedro não levantou a cabeça, forçando a atenção no documento nas suas mãos.

— Eu preciso acabar com isso — respondeu, apontando o papel.

— Você vai a pé para casa? É um estirão e tanto.

Ele tinha razão, então não restava outra saída se não concordar.

Dentro da caminhonete, Alceu ligou o rádio, ficaram em silêncio, escutando a música que falava de um amor perdido.

— Quer mesmo ir para casa? —  de repente, Alceu perguntou, de modo casual, e Pedro o interrogou com o olhar. — Tem um lugar aqui perto, podemos beber e comer alguma coisa.

— Estão nos esperando para o jantar.

— É só ligar. Eu gosto demais da comida da Mércia, mas não me sinto muito à vontade na sua casa.

— Sabe de uma coisa? Eu também não — Pedro admitiu.

Exibindo um sorriso vitorioso, Alceu virou o volante para a esquerda em vez da direita, enquanto, Pedro ligava para o telefone da casa, felizmente, foi uma empregada que atendeu, deixou seu recado e desligou o aparelho para não ser encontrado.

O lugar escolhido era novo e simples e, para alívio de Pedro, cheio de rostos desconhecidos. Escolheram uma mesa no canto, pediram cerveja, linguiça e pão. Precisavam falar alto para superar as músicas, que contavam histórias de traições, desilusões e amores não correspondidos, enquanto relatavam as suas infâncias e confessavam alguns segredos. Alceu lhe contou que era um nômade, sem família, trabalhou em muitos lugares, sem pouso certo desde que a mãe morreu, seu lar era sua caminhonete, enquanto, os joelhos se tocavam sob a pequena mesa, com cada vez mais frequência.

— Já está tarde. É melhor a gente ir — Pedro pediu, Alceu concordou.

Brigaram pela conta, mas Pedro ganhou com a desculpa da paga das caronas.

De volta à cabine da caminhonete, no silêncio da noite, os insetos dançavam nas luzes dos faróis, as janelas abertas deixavam a brisa fresca entrar, e Pedro, envolto na nebulosidade do álcool, olhava para as sombras do milharal ladeando a estrada. Alceu trocou a marcha, tocando a coxa do outro, mas em vez de se afastarem, continuaram ali, sentindo aquele leve contato. Pedro passou a língua nos lábios secos, com o coração tentando fugir do peito. Sem aviso, Alceu jogou o carro para o lado da estrada, parou e apagou as luzes, se voltou para Pedro e se beijaram, os corpos se buscaram e se encontraram, com intensidade.

Depois, relaxados, ficaram olhando a escuridão pelo para-brisa, esperando os corações se acalmarem.

Pedro engoliu em seco e olhou para Alceu.

— Não devíamos... — disse em tom suave.

— Por que não? — Alceu perguntou, com sorriso brando.

— Foi por isso que fui embora daqui, há quinze anos. Eu me apaixonei por um garoto da minha idade, chamado João. Éramos amigos desde criança. E com o tempo, a amizade se transformou em amor. Nós costumávamos nos encontrar no mesmo lugar onde brincávamos quando meninos, no milharal ainda verde, mas tínhamos muito medo de sermos descobertos. Um dia, como receávamos, alguém nos viu juntos, acho que foi Moisés, e contou para os meus pais, que ficaram decepcionados e me mandaram para estudar longe daqui. Só voltava de vez em quando, em datas especiais, mas jamais me sentia bem-vindo.

— E o que aconteceu com o seu amigo?

— A família de João não tinha dinheiro para mandá-lo para longe. Então, ele ficou por aqui, carregando todo o preconceito e maledicência, e um dia quando não aguentava mais, roubou uma arma e se matou, no mesmo lugar em que nos encontrávamos — Pedro concluiu e passou a mão no rosto, para limpar as lágrimas. Alceu o puxou para si e o abraçou, com ternura.

As primeiras luzes do dia já apagavam as estrelas quando Alceu o deixou  na porta de casa. Pedro torcia para que todos ainda estivessem dormindo, mas ao entrar, paralisou ao encontrar a mãe sentada, rígida e com seu olhar frio, na poltrona do pai, usando um penhoar.

— Bom dia, mãe — murmurou, pronto para fugir, no entanto, Judite se levantou, interrompendo o seu caminho e o olhou nos olhos.

— Não demorou muito, para você mostrar a sua personalidade sórdida, não é, Pedro? Pensei que tivesse se regenerado, depois de tanto tempo, mas nada mudou. Você continua um pervertido — falou, entredentes.

— Eu sou o que sou, mãe. Não posso, nem quero mudar, por isso construí a minha vida longe daqui — Pedro rebateu, sustentando o olhar.

— Você é uma aberração!

— Um aberração? Por que eu gosto de homens? — Pedro franziu a testa.

— Isso não basta? — Judite ergueu o queixo. — Sua irmã gosta daquele moço.

— Mas, ele gosta de mim — respondeu com sarcasmo.

Judite o esbofeteou com força, Pedro levou a mão ao rosto, impassível.

— Você não merece usar o nome dessa família! Quero que arrume a sua mala e deixe essa casa, agora! — ordenou, Pedro concordou com  a cabeça, foi para o quarto e enfiou as roupas na mala, sem cuidado.

Quando deixou a casa, não olhou para trás. Não havia ninguém lá para se despedir.

Entrou no carro, ficou sentado atrás do volante, por um tempo, ponderando e tomou uma decisão, pegou a estrada em direção ao armazém, precisava falar com Alceu, como para redimir um erro de 15 anos atrás, quando partiu sem dizer adeus a João.

Mesmo tendo passado a noite em claro, Alceu já estava lá e sorriu ao vê-lo tão cedo.

— Eu vou embora — Pedro avisou, antes que ele falasse algo. O sorriso de Alceu desabou, enquanto o olhava, confuso. — Eu não quero passar pelo que já passei, não mereço isso, nem você. Merecemos ser felizes. Venha comigo.

— Eu não posso — murmurou,  olhando para baixo e sacudiu a cabeça.

— Você mesmo disse que nada lhe prendia a um lugar, que sua casa é a sua caminhonete. A não ser que queira tentar a sorte com a minha irmã, e toda essas terras serão suas, pois, com certeza, serei deserdado — concluiu, com um sorriso triste, Alceu lhe devolveu um olhar firme.

Dentro do carro, na estrada a caminho do aeroporto, Pedro ajeitou o espelho retrovisor e sorriu, ao ver a caminhonete de Alceu o seguindo.


Conto escrito por
Carmen Villas Bôas

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Márcio André Silva Garcia
Ney Doyle
Pedro Panhoca da Silva
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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