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Antologia Romance à Vista: 1x09 - Feixe de Luz

Conto de Kabutsuchi
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Sinopse: Festa do Divino ano de 1908, Sueli atinge 18 anos, suas reações impensadas e repentinas vêm do coração. Gabriel veio do campo, conhece Sueli, moça diferente de todas as outras daquele tempo. Viverão momentos que poderão ser inesquecíveis!


Feixe de Luz
de Kabutsuchi

 

A Festa do Divino é uma homenagem feita ao Divino Espírito Santo. Em Ouro Preto, inicia em junho e encerra no dia 24 de agosto, com uma grande festa na cidade.

Este ano de 1908 será diferente para Sueli, que está completando seus 18 anos, no dia 24 de agosto, e aos olhos da sociedade, pronta para casar-se. Sueli é muito bonita, cabelos ruivos na altura dos seios, pele branca, olhos castanho mel. Sua família veio de Portugal para o Brasil em 1750, e fez fortuna com as minas de ouro em Vila Rica.

No sábado, 24 de agosto, chega à cidade, Gabriel, forte, cor parda, cabelo castanho escuro, olhos castanho claro e com a barba por fazer. Ele vinha de Congonhas do Campo, é a primeira vez que está na Festa do Divino. Ele gosta do campo e a última vez que esteve em Ouro Preto, foi quando era criança. Para resolver os negócios da família, Gabriel encontra-se com um dos comerciantes e faz a entrega das sacas de milho, mas, se incomoda com o barulho das pessoas falando todas ao mesmo tempo, pede para um de seus empregados resolver as entregas restantes e sai em busca de um local mais tranquilo, descendo uma escadaria entre casas, o Sol alto lambia suas costas com raios quentes, tinha impressão que estava lhe punindo, pois o sol estava posicionado de tal forma que não havia sombras no grande corredor até em baixo. Ao mesmo tempo em que chegava ao patamar do meio, Sueli começava a subir. Gabriel ficou atônito com a visão. Os raios de sol cobria Sueli e deixou seus cabelos vermelhos como brasa, para ele, era uma deusa, com uma aura vermelha, que subia a escadaria graciosamente, que fez Gabriel parar e apreciá-la, e cada degrau que ela subia, seu coração acelerava.

Momentos antes, Sueli estava na parte baixa da cidade, visitava uma fonte d’água, a fonte está rodeada por um lindo tapete colorido, e Sueli caminhou ao lado das flores, passando uma de suas mãos, como se estivesse acariciando-as. Quase dando uma volta completa, sentiu o cheiro familiar no ar, era de seu bolo favorito, e decidiu ir comê-lo. Na escadaria, que leva a parte alta da cidade, ela levanta a cabeça, e vê um contorno preto em forma de pessoa descendo, o Sol que brilhava a frente, não a deixava enxergar direito, fez com que ela subisse mais lentamente, faltavam pouco para ficar lado a lado com tal forma escura que parou. Foi quando a escuridão desapareceu, a luz cria vida e vê o olhar de um homem brilhar de felicidade, como se estivesse recebido um presente divino, que a fez corar o rosto. Para Sueli, ele transmitia um carinho amigável e apaixonante. O encontro no patamar durou segundos, ela passa a esquerda dele, com olhar fixado para frente, ele acompanhava virando a cabeça para vê-la passar, quando deu por si, estava com o braço esticado, querendo pegar sua mão, paralisado na posição.

— Qual é o seu nome? — Saiu de sua boca sem querer.

Ela para por um instante, e volta a subir. Ele respira aliviado, a decisão da moça, senta na escadaria, depois deita nos degraus, no sentido para cima e fecha os olhos.

— O que eu estava pensando? Ela não falaria com um estanho que nunca viu na vida. — Segurando sua cabeça com as mãos. — Sou muito estúpido mesmo. — Com aparência triste.

— Meu nome é Sueli e o seu?

O coração dele congela. Abre os olhos, e ela está sentada ao seu lado, com um lindo sorriso. Não acreditava no que estava acontecendo, ainda deitado olhando para ela pensava.

— É uma ilusão, só pode ser uma ilusão. — Coloca o antebraço sobre a testa. — Meu nome é Gabriel.

— Você está com fome? — Olhando nos olhos dele.

— O quê? — confuso.

— Perguntei se está com fome? Porque eu estou. — afirma Sueli.

— Acho que no momento não. Mas, desde que cheguei, não comi nada.

— Então vem comigo. Vou comer um bolo bem gostoso perto daqui.

— Você não está com medo? Nem me conhece e se eu for um bandido.

— Um dos meus dons é ver o caráter das pessoas, e vi que você é uma boa pessoa. — Sorrindo fechando os olhos.

Sueli pega no braço de Gabriel e o ajuda a levantar. Ele com vergonha, pois nunca tinha visto uma garota com tal atitude, tratando um estranho como se fosse um conhecido de longa data. Não falaram nada até chegarem à praça, um do lado do outro. Ela fica feliz ao ver pedaços de seu bolo favorito no balcão. Agarra o braço direito de Gabriel, o fazendo andar mais rápido. Assim chegaram rápido na venda e ela dando pequenos pulinhos, feito uma criancinha, pediu logo três. Ela com um em cada mão, e outro pedaço na mão dele.

— Vem Gabriel, e não vá se perder na multidão.

Ela na frente e ele atrás, os dois foram na direção de uma pracinha. Ela foi para o banco vazio mais próximo e abancou-se, esperou Gabriel, assim que ele sentou ao seu lado, ela mordeu um dos bolos.

— Que delicia! — Fechando os olhos para apreciar mais o sabor.

Gabriel observa a felicidade dela e analisa o pedaço de bolo, o leva a boca e dá uma mordida.

— Humm! Que delicia! — disse com a boca cheia.

— Não é a melhor coisa que já comeu em sua vida?

— Sim, sem dúvida é a melhor. — Com outro pedaço na boca.

— Agora entendi porque pegou dois pedaços.

— Você quer metade? — Oferecendo para ele.

Ele pensou um pouco antes de dar a resposta.

— Sim! Quero a metade. — Abrindo um feliz sorriso.

— Eu sabia que iria querer. — Reparte o pedaço de bolo ao meio, com as bochechas infladas, dá a metade.

— Muito obrigado! — Colocando de uma só vez na boca, nem ligou para cara de emburrada dela.

— Se soubesse que havia esse bolo maravilhoso aqui, já tinha vindo aqui há muito tempo.

— Agora tenho certeza, essa é sua primeira vez em Ouro Preto.

— Tá... sei! — Olhou para ela, respirou fundo. — Você é muito impulsiva garota.

— Sei que você está gostando. — Dando língua para ele. — Seu bobo.

Olhando com rosto triste.

— Desculpa! Não fique assim, retiro o que disse.

— Não foi o que você falou, esse bolo me faz lembrar a minha mãe, que morreu quando tinha seis anos, ela fazia esse bolo para a Festa do Divino.

— Agora entendo, mas não fique assim não. — Passando as costas de seus dedos no rosto dela carinhosamente.

— Você está se aproveitando de mim, seu espertinho. — Abrindo um sorriso.

— Não... Não é isso... — Envergonhado. — Me desculpe!

— Sabia que quem me deu esse nome foi minha mãe. Ela sempre me contava que quando nasci, fui abençoada, após o nascimento, estava na banheira, e um raio de luz passava pela janela do quarto, fazendo meu pequeno corpinho brilhar, aí minha mãe me deu o nome de Sueli que significa luz.  — Falando empolgada.

— Agora entendo porque estava brilhando! Para mim você parecia uma deusa. — Pensou, mas falou ao mesmo tempo.

— O que você falou? uma deusa o quê? — Fazendo de desentendida, mas havia escutado tudo.

— O que? Não falei nada, você está escutando demais garota. — Fica de pé todo desconfiado.

— Já vai embora? — Segurando o braço dele, faz uma carinha jururu, como se fosse chorar.

Apreciou seu lindo rosto, apenas tinha ficado de pé para mudar de assunto, pois, na verdade, ele não queria sair mais do lado dela.

— Está bem, vou ficar mais um pouco.

— Eeee... sabia que não queria ir embora. — Pula e segurando o braço dele. — Vamos! Vou mostrar-lhe a cidade.

Os dois passaram por muitos lugares. Em uma igreja, ela mostrou os adornos de ouro, falou em segredo que sua família havia doado ouro para aquela igreja. Na saída, encontrou com a família Andrade, ela os conheciam, eles vinham de Itabira, muito longe de Ouro Preto, e dessa vez estavam acompanhados por um garotinho.

— Que garotinho lindo — disse Sueli. — Qual é o seu nome?

— É Carlos, tenho cinco anos.

— Não filho! Faz como a mamãe ensinou.

— É Carlos Domonte de Andrade.

Todos riram, e se despediram. Sueli o fez subir e descer muitas ruas, e ela tinha uma história para cada uma delas. Quando perceberam, estavam na metade da noite, de mãos dadas, a timidez não existia mais. Na Rua Direita, ela o leva para um casarão de dois andares. Chegando, Sueli abre a porta e o puxa para dentro.

— Você está louca? Isso é invasão!

— Calma! Esta é uma casa que temos na cidade. Mas moramos em Mariana.

— O que? E seu pai? Ele vai me matar se me vê aqui com você.

— Ele não está em casa, hoje ele vai chegar bem tarde, foi jogar cartas com seus amigos.

— E sua governanta?

—Ela é muito religiosa, vai passar a noite rezando na igreja, e meu pai está pensando que estou com ela. — Dando um sorriso malicioso olhando para ele. — Para de fazer perguntas e vem logo.

Eles sobem a escada, ela para em frente seu quarto, abre a porta, coloca Gabriel de costas para a porta aberta e o empurra com uma das mãos em seu peito, fazendo-o adentrar no quarto, que só parou quando as pernas dele bateram na grande cama. Sueli, lentamente, levanta a cabeça, ele é maior do que ela, olhou em seus olhos, ficando nas pontas dos pés, o beijou na boca e voltou à posição inicial. Gabriel coloca uma das mãos na cintura de Sueli e a outra entrelaçando os dedos nos cabelos ruivos, segura sua nuca, vai de encontro aos lábios dela, e a beija apaixonadamente. Ficam alguns minutos se beijando, ela tira o blazer dele e o empurra para cama. Ele deita e tira o resto de suas roupas e fica nu. Ela com seu vestido vermelho, que da cintura para cima, lembra uma blusa com decote V colada no corpo, e pequenas mangas com babados, nas costas uma cordinha fazendo zigue-zague nas duas direções, finalizando em um laço perto do pescoço. A parte da cintura para baixo, assemelhava uma saia flamenca. Ela puxa o laço, e com os seios quase expostos, olhando para ele, abaixa para retirar suas botas de cano curto preta, deixando seus seios bem a vista, o membro dele lateja de excitação. Ela retira a calcinha branca com rendas por baixo do vestido, deixando-a no chão. Logo depois, puxa a manga direita do vestido, tirando seu braço, fica com a parte de cima totalmente nua, com o resto de vestido ainda preso a cintura, amarra seus cabelos em forma de coque, deixando-a mais linda aos olhos de Gabriel. Ela sobe em cima dele, espalha a saia, e começa balançar para frente, depois para o lado, com se estivesse procurando alguma coisa. De repente! Ela solta um gemido, ele segura firme no lençol da cama, ela começa a movimentar apenas o quadril vagarosamente, pega uma das mãos dele e coloca em um de seus seios, ele sentia que era firme e macio de se pegar. Gabriel estava a ponto de gozar, pois se encontrava muito excitado com tudo que tinha visto e sentido. Foi quando ela lança seu corpo para trás, seus movimentos ficaram mais rápidos e começou a gemer, voltou o corpo pra frente, crava as unhas no peito de Gabriel e aperta com muita força, soltando um gemido mais alto e contínuo. Ele segurou forte em suas coxas por baixo da saia do vestido, e ao mesmo tempo ambos gozaram, olharam um para o outro, se beijaram, logo após, se abraçaram e ficaram deitados na cama.

— Você realmente é louca garota. — Com lágrimas nos olhos. — Quero viver como você o resto de minha vida.

Ela olha para ele, passa uma das mãos em seu rosto limpando as lágrimas, fala:

 — Quando o vi, meu coração falou-me que queria ficar com você a todo custo. — Beijando ele carinhosamente.

A noite ainda não havia acabado para os dois, como um casal de anos de namoro, eles andam pelas ruas da cidade novamente.

Saindo da igreja Santuário Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias, última visita deles, ela teria que voltar para casa. Descendo a escadaria da saída, viu uma charrete e correu feito criança atrás de algodão-doce, o veículo continha um cavalo, e lugares para duas pessoas apenas. Ela perguntou para o cocheiro quanto custaria para darem uma volta, ela queria um passeio romântico. O cocheiro responde que estava esperando seu patrão que rezava na igreja. Mas por muita insistência e carinhas de garotinha pidona, o cocheiro cedeu, porém, não sairia para muito longe e ele ficaria ao lado da charrete acompanhando a pé. Sueli, feliz da vida, com ajuda de Gabriel, sobe na charrete e ele embarca em seguida. A rédea nas mãos do cocheiro, conduzindo a charrete rua acima da lateral da igreja.

Sueli, eufórica abraça forte Gabriel, e seu pensamento sai em voz alta.

— Eu te amo. — Fica com vergonha.

— Te amo mais — disse ele segundos após ela finalizar sua fala. — E beija seu rosto.

O condutor descia a rua, perto da saída da igreja e preparando-se para parar. Ao mesmo tempo, um devoto do Divino acende um rojão, ele estava na ponta da escadaria, o condutor puxar a rédea para fazer o cavalo parar, o homem se desequilibra, e o rojão que estava apontado para o alto é disparado bem debaixo da charrete, o cavalo ficou assustado, mas o condutor fez com que ele ficasse calmo. Porém, em seguida, houve três grandes explosões nos pés do cavalo, que levanta suas pernas dianteira e dispara enlouquecidamente rua abaixo, subia a rua uma carrocinha de pipoca, o cavalo bate na carrocinha, fica mais descontrolado e vai de encontro ao semi círculo da ponte Antônio Dias, e os dois são lançados ponte abaixo, enquanto o cavalo ainda corria arrastando parte da charrete. Ela foi arremessada para o quintal da casa em frente à ponte, ele foi lançado no canal d’água.

Gabriel de barriga para cima, olhou para o alto ainda tonto, viu pessoas paradas na beira da ponte gritando por ajuda. Ele levanta com dificuldade, vai até a beira do canal, fica pendurado e procura por Sueli, ouviu gritos em baixo mais perto da ponte.

— Corre! Ela ainda está viva!

 Junta o resto de forças e vai para o outro lado, onde se encontra Sueli. Chegando à borda, a vê sendo carregada por pessoas. Ele ficou feliz e esboçou um sorriso, pois viu que ela estava de olhos abertos, esticando uma das mãos para ele; enquanto ela era levada, a visão de Gabriel ficou escura e sentiu seu corpo sendo levado pela água. Por algum motivo desconhecido, começou a descer muita água pelo canal naquele dia.

Amanheceu, Gabriel abre os olhos, está deitado em uma cama, fica de pé, sente um desconforto, e algo chama sua atenção, é um gato nervoso que fica soltando seus pequenos rugidos e saiu correndo pela porta aberta. Gabriel saiu do quarto também, seguiu um corredor e desceu uma pequena escada. Observou as pessoas passando para lá e para cá, compreendeu estar em um hospital. Aproximando da recepção, ele se preparou para fazer uma pergunta, mas antes de falar...

— Nossa! Nunca tinha visto uma quarta-feira tão quente como hoje.

Gabriel ficou parado ao escutar, lembrava que foi no sábado o acidente e se era quarta-feira, ele tinha ficado desmaiado quatro dias no hospital, concluiu. E se ficou tanto tempo desacordado, o que havia acontecido com Sueli? Sem demora, vai rápido para a casa dela. Chegando lá, estava fechada, procurou uma janela aberta e olhou dentro da casa, e viu os móveis todos cobertos por lençóis brancos, lembrou que ali não era a casa dela de fato, e que ela morava em Mariana, que não ficava muito longe de Ouro Preto, ele resolve ir a pé.

Na estrada que liga Ouro Preto a Mariana, havia cruzado com ele várias charretes e carroças, ele acenava, mas nenhuma parava. Compreendia os motivos, pois aos olhos deles, ele era um mendigo ou ladrão na estada. Passou por ele uma carroça puxada por dois cavalos, que ficaram agitados, fazendo o cocheiro puxar a rédea até eles pararem. Gabriel viu uma oportunidade, a carroça que carregava umas prateleiras com vasos de plantas, e que não tinha tampa traseira, havia um espaço que poderia sentar, ele não pensou duas vezes, correu e sentou na carroça, ao fazer isso, um vaso pequeno cai e quebra, imediatamente o cocheiro olha para trás e aperta os olhos com cara de raiva. Gabriel olha para ele esperando uma bronca e ser expulso. O cocheiro olha para o vaso quebrado, dá um suspiro e comanda os cavalos a seguir viagem, Gabriel fica aliviado.

Eles chegam a Mariana no início da noite, para sorte de Gabriel, a carroça faz sua parada na Igreja de São Pedro dos Clérigos, quase no centro de Mariana, pula da carroça e sobe andando a rua a esquerda da igreja. A Lua brilhava no céu, havia percorrido diversas ruas, não tinha a menor ideia de onde seria a casa de Sueli, ele pensou em pedir informações, mas achou melhor não, perguntar por uma garota pelas ruas da cidade à noite poderia até acabar sendo preso. Passando perto de uma igreja chamada Santana, sentiu um calafrio, olhou mais de perto e viu que lá também era um cemitério, ele rapidamente desceu a rua que tinha acabado de subir. Sem rumo, Gabriel cruza uma praça, sentou-se em um dos bancos. Ele observa as pessoas que conversavam e riam. Gabriel deita no banco, coloca a mão esquerda debaixo da cabeça e olha para as estrelas, lembrou-se de Sueli inflando as bochechas emburrada, dando um sorriso de boca fechada, mais uma lembrança, ela amarrando os cabelos em coque, ele fechou os olhos para vivenciar todos os detalhes, mas é interrompido por um latido persistente, abre os olhos, vira a cabeça para o lado, e vê um cachorro preto latindo feito louco para ele, como se fosse o dono do banco. Ele ignora o cachorro, volta a olhar para o alto, e vê um céu azul de uma linda manhã. Arregala os olhos e, em um salto, pula do banco, que fez o cachorro fugir gritando.

Gabriel subiu uma das ruas saindo da praça, e logo a sua frente, peregrinava duas senhorinhas, e uma delas comenta.

            — Emilia, o Sr. Joaquim está de mudança. Ele vai sair do sobrado do Barão do Pontal.

— Fiquei sabendo, lá é uma casa grande para morar sozinho agora.

— É muito triste, perder a única filha tão jovem.

— Mas como foi que ela caiu da ponte mesmo?

— O cavalo ficou louco e bateu na ponte, ela foi jogada pra baixo e morreu.

Ao escutar a palavra morreu, Gabriel sente uma dor forte, como se estivesse esmagando sua alma. Os seus pensamentos ficaram confusos, lembrava que ela estava viva, tinha sido resgatada ainda com vida, ele havia visto ela viva. Uma agonia enche seu espírito e falava para si mesmo.

— Não é verdade? Não é verdade... — Estica o braço para perguntar sobre o assunto.

A amiga de Emília continua.

— O Sr. Joaquim pediu para fazer uma missa especial de sétimo dia no domingo, lá na Igreja Santana, onde ela foi enterrada.

Gabriel sai correndo, as duas se assustam, olham para trás e fazem o sinal da cruz se benzendo, e ele quase virando a rua, pois sabia onde ficava a igreja. Chegou ao cemitério antes do Sol se pôr, os portões abertos, percorre várias ruas do cemitério e vai ao fundo, onde os túmulos mais recentes ficavam. Ele não acreditava, a garota com quem queria viver o resto de sua vida não estava mais viva. De pé, em frente a lápide de mármore vermelho, lia.

“Com a luz, ela veio ao mundo, e como a luz que se apaga, ela nos deixou, e virou uma estrela no céu para sua luz guiar nosso caminho”.

Sueli Cândida Alves Cunha

* 24-08-1890 † 24-08-1908

Ele só ficou lá, enquanto suas lágrimas molhavam o chão. E subitamente uma corrente de ar bate em sua face, mas para ele, era apenas o vento triste tentando lhe consolar. Para Gabriel sua vida não tinha mais sentido sem Sueli, e escuta uma voz.

— Gabriel!

A voz vinha de sua esquerda, mas ele não tinha ânimo para verificar quem o chamava.

— Gabriel!

Virou, e vinha uma pessoa correndo em sua direção acenando, enxugou as lágrimas para enxergar melhor e ficou surpreso ao ver Sueli, espantado e feliz, abre os braços para ela. Sueli pula em Gabriel, que gira com ela de felicidade em seus braços.

— Eu sabia que encontraria você aqui.

— Não estou entendendo, aqui diz que você está morta.

— Procurei tanto você, mas não lhe encontrei. — Escorria lágrimas de alegria do seu rosto.

— Mas você está morta! — Segurando no ombro dela.

— Sim! Eu sei que morri. — Enxugando as lágrimas.

Gabriel olha para ela, a abraça carinhosamente, e ela coloca a cabeça no peito dele, e ele diz:

— O importante é que estamos juntos.

Sueli levanta a cabeça, passa sua mão direita no rosto de Gabriel e abre um sorriso.

— Seu bobo eu te a...

 Ela não finaliza sua fala, é impedida por um beijo apaixonado de Gabriel, depois de alguns segundos ele interrompe o beijo.

— Ficaremos juntos para sempre. — Volta a beijá-la.

E um feixe de luz sai de dentro das nuvens e ilumina os dois se beijando, e aos poucos eles ficam transparentes até ficar apenas o feixe de luz, que em seguida são puxados de volta para as nuvens no céu.


Conto escrito por
Kabutsuchi

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

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