Aquele Olhar
de Rubem Gleison
As noites frias em Chapada dos Guimarães são uma marca da cidade
turística do interior do Mato Grosso. Por ser perto da capital, Cuiabá, os
jovens, no fim de semana, vão para o lugar, onde encontram lindas cachoeiras
com águas claras, pontos turísticos de tirar o fôlego, grandes serras e vistosos
mirantes.
Durante o dia, a galera aproveita para curtir a natureza
tirar fotos, exibi-las nas redes sociais; fazem piqueniques, divertem-se bastante,
e à noite, jantam nos melhores restaurantes das pousadas que o local oferece.
Um lugar tão familiar, mas que também oferece opções para
quem está sozinho, procurando alguém para um encontro de amor.
O restaurante de dona Marieta é um dos mais requisitados.
Para se ter ideia, é preciso agendar com antecedência, lugares e cardápio. O
local está sempre lotado.
Ali, trabalha Elisa, como garçonete. A jovem é considerada
uma das melhores para atender o público. A patroa sempre elogia a garota por sua
agilidade e comprometimento.
A noite bucólica do pacato e intrigante município, que tem
clima frio, estando praticamente ao lado da famosa Cuiabrasa, revela
sorrisos, aromas e sabores por todos os cantos. Churrascos, música ao vivo, estalar
de talheres em pratos e mesas repletas de gente conversando todo tipo de
assunto, desde negócios importantes e grandiosos, até fofocas toscas que não
servem para nada.
Entre tantas mesas, está sentado Gustavo. O rapaz deixou a
cidade de Campo Grande e decidiu conhecer a residência do irmão.
— Cara!
Tua cidade é muito bacana! — observa o jovem, enquanto janta acompanhado do
irmão e sua namorada.
— Não
tem aquela movimentação da cidade morena, mas tem muita gente bonita,
sim! — pontua
o anfitrião.
— Gente
bonita, é, Geovane? — indaga em tom de brincadeira, a namorada.
—
Nenhuma mais bonita que você, meu bem! — conclui o namorado.
Geovane havia passado em um concurso da Polícia Militar de
Mato Grosso, e foi lotado exatamente na cidade de Chapada dos Guimarães. Deixou
a família em Campo Grande, sob muitas lágrimas. Os pais visitavam-no com
frequência, enquanto seu irmão ficava cuidando da fazenda.
—
Finalmente você largou um pouco aquela fazenda, não é? — disse
Geovane —
Pensei que não viria me visitar nunca.
— Claro
que eu viria sim! Só que quando nossos pais vêm para cá, a fazenda fica só para
mim! —
brinca Gustavo.
Risos na mesa, e muita descontração. Foi com um sorriso
largo que Gustavo percebeu uma linda mulher recepcionando um casal de idosos
que acabava de entrar no estabelecimento. Ela o percebeu, observando-a.
Trocaram olhares demorados. Ele a achou perfeita. Ela, viu nele um sorriso que
nunca havia visto.
Durante aquele momento, parecia que não havia ninguém nas
mesas, apenas os dois.
— Ou! —
alerta Geovane — Planeta Terra chamando!
— Quem
é ela? —
questiona Gustavo.
— O
nome dela é Elisa. — responde Melissa, a namorada de Geovane.
— Ela é
muito bonita! —
afirma o visitante.
— Todos
acham isso. —
confirma o anfitrião.
— Até
você? —
brinca como se estivesse com ciúmes, Melissa.
— Não
sou todos! Sua bobinha. — garante
enquanto se beijam.
— Acho
que estou segurando vela aqui! — observa Gustavo.
A janta estava deliciosa, mas nada era tão saboroso e
instigante quanto observar a beleza daquela dama, tão simpática com todos. Era
perfeição demais para uma pessoa só.
Melissa mandou o contato da garota para Gustavo.
— Anote
aí! Pode falar que fui eu quem te passou o contato.
— Vocês
são amigas? — indaga
o turista.
— Somos
primas, não muito próximas, mas sem nenhuma rusga.
— É,
irmão! —
observa Geovane — Acho que você tem chance com ela, pois, tudo
indica que está caidinha por você.
O casal anfitrião deu a maior força para que Gustavo
tentasse um contato com aquela mulher tão admirada por tantos.
Ao final do expediente, Gustavo estava na pracinha que
ficava em frente ao restaurante, e ao ver a sua possível paquera deixando o
ambiente de trabalho, abordou-a com gentileza, tentando aquele contato amoroso.
— Tudo
bem? — disse
o moço.
— Tudo!
—
responde Elisa.
—
Então! —
prossegue Gustavo — Notei que você é muito linda. Perguntei ao meu
irmão e à namorada dele, quem era você. Disseram tantas coisas boas ao seu
respeito.
— Fico
feliz por isto. Você é irmão do policial?
— Sim!
Vim visitá-lo, e curtir o frio aqui da cidade.
— E
onde eles estão?
— Foram
para casa. Bem, eu fiquei aqui, esperando você sair para te convidar para,
talvez, tomar um caldo de frango, ali na pracinha.
— Já
está tarde!
— Não
vamos demorar! Porém, se você não estiver à vontade, tranquilo.
Elisa pensou, olhou para o relógio e concluiu.
— Tudo
bem! Só que não podemos demorar.
E assim, os dois dirigiram-se para o quiosque, onde se
sentaram, para conversar. Pediram o tal caldo, obviamente usado como pretexto
para uma aproximação.
—
Então, você veio de Campo Grande? — Indaga Elisa.
— Sim!
Conhece? —
questiona Gustavo.
—
Conheço só Cuiabá. Excursão da Escola, sabe?
—
Acredito que você era a mais bela deste passeio.
— Nem
tanto!
A conversa fluía em uma leveza encantadora. O rapaz ficava
cada vez mais fascinado com a simplicidade de uma jovem que tinha tudo para ser
soberba, mas demonstrava só humildade.
Ao passo que, a garota não conseguia esconder o
encantamento pelo sorriso e carisma do visitante.
— E
seus pais ficaram em Campo Grande? — interroga Elisa.
— Sim!
Na verdade, a gente mora em uma chácara próximo à cidade. Não podemos vir todos
de uma vez, e deixar lá só. Por isto, quando meus pais vêm visitar o Geovane,
fico cuidando de tudo, e agora que eu vim, eles que ficaram.
— Teu
irmão é um policial muito respeitado aqui.
— Era o
sonho dele passar neste concurso. Mas, enfim. Vamos falar sobre você? Pretende
fazer o quê futuramente?
— Já
faço psicologia, aqui mesmo na cidade. Durante a semana, trabalho de dia e
estudo à noite. Excepcionalmente hoje, troquei o turno com uma colega, por ser
sábado, claro, não tenho aula.
— Isto
significa que o destino fez com que você estivesse naquele restaurante em um
horário que não era o teu, só para propiciar o nosso encontro.
— Você
é um pouco convencido, não? — disse em tom de brincadeira, arrancando
sorrisos de Gustavo.
—
Nenhum pouco! Mas, acredito em ocasião do destino. E… sinto
que foi ele que marcou nosso encontro.
Elisa já não podia esconder que estava se envolvendo emocionalmente
com Gustavo. Um misto de medo de entregar-se em um relacionamento que a mesma
sabia que não teria duração, e um desejo de conhecer intimamente aquele corpo
que lhe despertava vontades.
Deixaram a pracinha e dirigiram-se a pé, até a casa de
Geovane. Entraram pé por pé, achando eles, que Geovane e Melissa não os viriam.
Esqueceram-se de que a casa tinha câmeras de segurança na garagem e no jardim
da frente, e que o policial, possuía uma TV com todas as imagens.
—
Danado! —
brinca Geovane com a namorada enquanto se preparam para dormir, depois de terem
se amado.
— Não
seja indiscreto, Geovane! — reprime a garota.
— Minha
casa virou motel. Era só o que faltava! — pontuou, fazendo graça.
— Vamos
dormir, porque amanhã teu expediente começa cedo no batalhão e eu tenho que ajudar
minha mãe na panificadora. Agora, é a vez deles tocarem fogo na casa.
Enquanto Geovane e Melissa começavam a dormir, no outro
quarto, sentados na beira da cama, Gustavo observava Elisa mexendo no celular.
— Está
mandando mensagem para os teus pais?
— Sim!
E para uma amiga.
— Então
quer dizer que você está dormindo na casa de uma amiga?
— Exatamente!
E a mensagem que acabo de mandar é para que ela saiba disto! Meus pais confiam
muito nela, e creio eu, não teremos problemas.
Toda a articulação concluída, então, a noite era do casal.
Amaram-se intensamente. Para os dois, aqueles momentos
estavam sendo mágicos, pois, envolviam prazer e amor. Não era apenas uma noite
de paixão; era algo especial, com um sentimento surreal envolvendo-os, deixando
os corações mais acelerados e os olhares cada vez mais hipnotizantes.
Depois de muito tempo, já pela madrugada, abraçaram-se
exaustos. Ela estava feliz, como nunca havia sido, e ele, tinha a certeza de
que ter se aproximado dela após o jantar, foi a atitude mais acertada daquela
viagem.
Pela manhã, beijaram-se novamente.
— Não
vou nem criar expectativas! — afirma Elisa.
— Como
assim? —
pergunta intrigado, Gustavo.
— Vamos
ser realistas! Você não vai ficar muito tempo por aqui! Logo, estará de volta a
tua cidade. Foi ótimo estar com você. A gente fica com esta experiência linda!
A verdade era uma só: aquele amor, por mais bonito que
fosse, não teria como resistir à distância. Gustavo levou Elisa até o portão, e
ambos verificaram que estavam somente os dois na casa.
— Vem
aqui mais tarde! — pede o rapaz — À noite, eu vou embora.
— Vou
pensar com carinho. — responde a jovem.
Os dois beijaram-se demoradamente, até que ela saiu
vagarosamente pela rua praticamente deserta, típica de cidade interiorana.
Gustavo a esperou durante toda a tarde, mas ela não vinha.
— Cadê
a moça, mano velho? — Indaga Geovane, chegando do trabalho.
—
Rapaz, até que eu pedi para ela vir aqui à tarde, mas até agora, nada.
— Mande
uma mensagem para ela!
— Como
mano? Eu nem lembrei de pegar o número dela.
— Seu
tonto! A Melissa te passou o contato da garota lá no restaurante. Você tem o
contato dela salvo!
— É
verdade! Nem lembrava!
— O
fogo era tanto que até esqueceu disso!
Os irmãos riram da situação. Enquanto Geovane foi para o
banho, Gustavo imediatamente ligou para Elisa.
— Alô? — Disse
uma suave voz feminina.
— Tudo
bem, linda princesa?
— É
você, Gustavo?
— O
amor da tua vida!
— Não
brinque com isto! — pondera Elisa.
— Estou
te ligando para dizer que vou embora hoje à noite, e que daqui uma semana
estarei de volta.
— Que
bom! Então, na próxima semana a gente pode se encontrar!
— Na próxima,
e nas próximas. Chapada ganhou um novo morador, e meu coração, uma dona! Quer
ir comigo para Campo Grande para buscarmos minhas coisas?
Elisa tocou a campainha, surpreendendo Gustavo, que abriu o portão radiante de felicidade. Ela já estava por perto quando ele ligou. Não precisaram dizer mais nada. Beijaram-se intensamente, e o que era para ter sido somente uma noite de diversão e muitos beijos, converteu-se em um compromisso de amor. E tudo começou com aquele olhar.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Cristina Ravela
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