NO
SEGUNDO EPISÓDIO
DOMÊNICO
Se
quiser posso me confessar antes... Não vejo as coisas que fiz na vida como
pecado. Na realidade, quando estudávamos juntos naquela escola, lembra? O que
faziam com a gente, o que aqueles padres faziam... Aquilo era pecado, né?
PADRE
EMERENCIANO (está vermelho de ódio. Olhos marejados)
O
que você quer?
DOMÊNICO
Me
diga logo o que você quer comigo. (quase suplicante) Fale e, me poupe do
esforço desnecessário de ficar lembrando da nossa juventude, por favor?
PADRE
EMERENCIANO (se aproxima de Domênico)
É
só para você saber que agora você não será páreo para a medicina verdadeira.
Aquela que Deus deu ao homem a possibilidade de exercer. Suas curas, falsas
curas, vão cair por terra!
DOMÊNICO
Você
era o preferido do Padre Ângelo. Ela gostava quando você chorava. Ele ficava
horrorizado comigo porque eu gostava.
DOMÊNICO DÁ UMA GARGALHADA E
SAÍ. AO MESMO TEMPO PADRE EMERENCIANO CORRE ATÉ A PORTA E A FECHA BRUSCAMENTE.
EM SEGUIDA DÁ UM SOCO NA PORTA E MORDE A OUTRA MÃO, COMO QUEM SEGURA UM GRITO
QUE ECOARIA POR TODO O VILAREJO.
***
DORINHA
(como se resistisse as carícias)
Não
faça isso! Eu sou uma menina virgem...
ALMEIDA
(continua
as carícias)
E
isso é o que me dá mais tesão!
ALMEIDA E DORINHA SE BEIJAM.
ELE FAZ COM QUE A BEATA ENVOLVA A PERNA EM SUA CINTURA. ALMEIDA LEVA A MÃO
ABAIXO DA CAMISOLA. DORINHA REVIRA OS OLHOS. ELE, ACHANDO MÃO AONDE NÃO EXISTE,
CONSEGUE DESABOTOAR A BOTÃO DA CALÇA QUE USA, MAS DORINHA LHE EMPURRA.
***
MARINALVA
(entre dentes)
Eu
me arrependo de ter casado contigo. Você está sendo influenciado pelo demo, só
pode! Eu tenho nojo de você!
FIGUEIRA
Você
tem nojo? (Figueira levanta com dificuldade, segura com força Marinalva pelos
ombros) E eu que nem sei mais direito o que é foder com a minha mulher... Você
virou uma carola seca. Seca!
MARINALVA DÁ UM TAPA NO
ROSTO DO MARIDO QUE QUASE CAI.
FIGUEIRA (se
recuperando do tapa)
Seca
e malcriada!
FIGUEIRA SEGURA MARINALVA
PELO BRAÇO E LHE DÁ UM TAPA. ASSIM QUE VOLTA O ROSTO ASSUTADA COM A ATITUDE DO
MARIDO, FIGUEIRA LHE DESFERE MAIS UM TAPA NA OUTRA FACE.
FIGUEIRA
É
por isso, pelo que você se tornou, uma beata seca, uma carola de quinta; é por
isso que eu procura mulher na zona. Lá elas dão até a traseira, sabia? Chifruda
dos infernos...
***
DANIEL
(olhando a mão estendida de Domênico)
Você
então diz curar as pessoas? Eu já ouvi falar de história de quem é charlatão,
mas nunca vi um de perto.
A FISIONÔMIA DE DOMÊNICO
MUDA. ANTES O SEMBLANTE CONVIDATIVO, SE TORNA PERPLEXO E DURO. ALICE SE
INCOMODA. DOMÊNICO RECOLHE A MÃO.
INOCÊNCIA
(interrompe o momento constrangedor)
Gente,
vamos deixar o doutor Daniel e a dona Alice se acomodarem, conhecerem a unidade
de...
INOCÊNCIA PARA DE FALAR.
PARECE FICAR TONTA. TENTA BALBUCIAR ALGO, MAS ACABA DESMAIANDO E, ANTES DE CAIR
NO CHÃO, É AMPARADA POR DANIEL. TODOS SE ENTREOLHAM. CÂMERA FOCA EM CLOSE NO
ROSTO DE DOMÊNICO.
***
1x03
CENA
1 / POSTO DE SAÚDE - CONSULTÓRIO / INT. DIA
INOCÊNCIA ESTÁ SENTADA NA
MACA. DANIEL SENTADO EM SUA MESA, FAZENDO UM RECEITUÁRIO. ALICE ESTÁ NA PORTA
DO CONSULTÓRIO, OBSERVA.
ALICE
Cê
tá melhor?
INOCÊNCIA
O
remédio tá fazendo efeito... Ainda me sinto um pouco zonza, mas daqui a pouco
passa e eu posso trabalhar normalmente...
DANIEL
Fica
tranquila! To te passando esse medicamento, você pega aí na farmácia do posto e
passa a tomar. Tenho certeza que você vai melhorar. Mas, se por um acaso, as
dores persistirem, você precisa me avisar. Estamos combinados?
INOCÊNCIA
(levantando da maca e indo até o doutor e pegando a receita)
Obrigada, Doutor Daniel! (virando-se para Alice) Vê se pode: o primeiro paciente dele fui eu! A funcionária.
ALICE SORRI.
CORTA
PARA
CENA
2 / RIQUEZA – RUA EM FRENTE AO POSTO / EXT. DIA
DOMÊNICO PERMANECE COM
RAIMUNDA TONHO E ALMEIDA, PRÓXIMOS A ENTRADA DO POSTO.
ALMEIDA
O
que será que aconteceu com a mulher, hein?
TONHO
Ela
caiu durinha no chão.
RAIMUNDA OBSERVA DOMÊNICO,
ELE ESTÁ COM O OLHAR NUM PONTO FIXO.
RAIMUNDA
Acha
que ela tem alguma coisa grave?
DOMÊNICO
(sem se virar para Raimunda)
Tenho
certeza! Mas não posso dar detalhes, ela que tem que vir até mim.
RAIMUNDA
Só
que ela tem o médico, né?
DOMÊNICO
Vá
saber até quando ele vai conseguir ajudá-la. Quando eu disse grave, é GRAVE
mesmo.
DOMÊNICO DEIXA O PONTO FIXO
DE LADO E OLHA PREOCUPADO PARA RAIMUNDA.
CORTA
PARA
CENA
3 / RIQUEZA – RUA EM FRENTE AO POSTO / EXT. DIA
PADRE EMERENCIANO,
MARINALVA, DORINHA E FIGUEIRA ESTÃO REUNIDOS, DO LADO OPOSTO AO DE DOMÊNICO E
OS DEMAIS. MARINALVA OBSERVA ELES.
MARINALVA
Aposto
que esses urubus vieram para causar esse rebuliço todo, Padre! Foi só esse
coisa ruim chegar, que a mocinha caiu de madura.
PADRE
EMERENCIANO
Ele
veio pra se mostrar, Marinalva! Vaidoso como o diabo! Não percebe? Aonde eu
estiver ele vai estar. Só, acredito eu, que não contava com uma recepção tão
dura do doutor...
PADRE EMERENCIANO ESBOÇA UM
SORRISO. ENQUANTO MARINALVA E DORINHA RIEM, SEGUIDOS DE FIGUEIRA. QUANDO O PADRE
PERCEBE QUE ELES ESTÃO RINDO ALTO, OS REPREENDEM COM UMA ONOMATOPEIA QUE PEDE
SILÊNCIO.
PADRE
EMERENCIANO
Vamos
deixar de chacota e rezar pela Inocência...
FIGUEIRA
Mas
que bela recepção, não foi? Só chegar e já sentem um gostinho do que é Riqueza.
DORINHA
Enquanto
nós, com toda a classe e decência, os recepcionávamos; veio esse quarteto do
apocalipse para desvirtuar tudo. É a intenção dele, Padre. Esse falso profeta é
um ardiloso!
CORTA
PARA
CENA
4 / RIQUEZA – RUA EM FRENTE AO POSTO / EXT. DIA
INOCÊNCIA SAI DO POSTO E DÁ
DE CARA COM A “COMITIVA”, CADA GRUPO DE UM LADO. NA SEQUÊNCIA SAEM ALICE E
DANIEL.
MARINALVA
Olha,
já está bem melhor! Está até mais corada! (para Domênico) Tenho certeza que foi um remédio que o
doutor receitou...
PADRE
EMERENCIANO
Está
melhor, Inocência?
INOCÊNCIA
Estou
sim. Muito obrigado Padre.
DOMÊNICO
(para Inocência)
Qualquer
coisa, precisando, você sabe onde me achar. Melhoras, moça.
DANIEL SE APROXIMA DE
INOCÊNCIA E FALA DIRETAMENTE PARA DOMÊNICO.
DANIEL
Ela
não precisa lhe procurar. Já foi medicada, já receitei um remédio e, ela vai
melhorar, sabia? Mas de verdade, não de mentira.
DOMÊNICO OLHA INCRÉDULO PARA
DANIEL.
ALICE
(para
o marido)
Daniel!
Não cata briga! Fica quieto!
INOCÊNCIA
(sem graça)
Eu
estou muito bem! Agradeço a todos pela preocupação.
CORTA
PARA
CENA
5 / CASA DE DOMÊNICO – SALA DE ESPERA / INT. TARDE
MÚSICA
ON: PROCISSÃO – GILBERTO GIL
VÁRIAS PESSOAS ESTÃO
SENTADAS NA SALA DE ESPERA. DOMÊNICO PASSA POR ELAS, QUE O CUMPRIMENTAM.
ALGUMAS ATÉ LHE BEIJAM AS MÃOS. ELE SORRI.
CORTA
PARA
CENA
6 / IGREJA – NAVE / INT. NOITE
PADRE EMERENCIANO CELEBRA A
MISSA. GESTICULA E TEM O OLHAR ATENTO DE SEUS FIÉIS. MARINALVA E DORINHA ESTÃO
NOS BANCOS DA FRENTE, COM OLHOS BRILHANTES OBSERVANDO O SERMÃO.
CORTA
PARA
CENA
7 / RUA DE RIQUEZA – EM FRENTE AO BAR DE DORIANO / EXT. DIA
LETREIRO:
DIAS DEPOIS
FIGUEIRA E TONHO ESTÃO
ENCOSTADOS NOS BATENTES DA PORTA DO BAR. DORIANO CHEGA PERTO DELES. NA
SEQUÊNCIA, ALICE PASSA CAMINHANDO EM FRENTE AO BAR E É CUMPRIMENTADA PELOS
HOMENS. ELA RETRIBUÍ COM UM ACENO LEVE DE CABEÇA.
MÚSICA OFF.
CORTA
PARA
CENA
8 / POSTO DE SAÚDE – RECEPÇÃO / INT. DIA
ALICE ESTÁ NO LOCAL E
CONVERSA COM INOCÊNCIA.
INOCÊNCIA
O
Doutor Daniel está atendendo. Logo, logo você fala com ele.
ALICE
Tá
bom.
(senta-se) Você não tá bem, né?
INOCÊNCIA
Deu
pra perceber?
ALICE
Tá
na sua cara. Você não está feliz... O que houve?
INOCÊNCIA
Olha,
Alice, eu vou ser bem sincera contigo: não aguento mais! Minha cabeça doí
demais! Eu estou tomando os medicamentos, o doutor já mudou e nada adiantou...
Eu...
INOCÊNCIA FAZ UMA LONGA
PAUSA.
ALICE
Você?
Sim, o que foi?
INOCÊNCIA
Eu,
eu acho que eu vou procurar o Domênico. Acho que vou vê-lo e, sei lá: vai que
ele consegue me curar? Essa dor é insuportável...
ALICE
Mas
você acredita nele?
INOCÊNCIA
Dona
A...
ALICE
(interrompe Inocência)
Não
sou dona! Sou “você”. Me trate por você!
INOCÊNCIA
Então,
Alice... Eu só quero que essa dor acabe, o mais rápido possível. Estou tentando
de tudo. O Domênico é minha última alternativa, ou... Sei lá. Eu sou capaz de
bater minha cabeça na parede até ela abrir, meter uma faca no meu crânio... Eu
não aguento mais!
INOCÊNCIA COMEÇA A CHORAR.
ALICE A ABRAÇA.
ALICE
Se
você achar que isso pode lhe ajudar...
CORTA
PARA
CENA
9 / IGREJA – SACRISTIA / INT. TARDE
PADRE EMERENCIANO ESTÁ
LENDO, SENTADO A UMA MESA. UMA BATIDA NA PORTA.
PADRE
EMERENCIANO (sem tirar os olhos da leitura)
Pode
entrar!
RAIMUNDA
(abrindo
a porta, ainda sem entrar no local)
Posso
falar com você? Quer dizer, com o senhor?
PADRE EMERENCIANO DESVIA O
OLHAR DO LIVRO, O FECHA E O DEIXA EM CIMA DA MESA. OLHA PARA RAIMUNDA. FAZ UM ACENO
MOSTRANDO UMA CADEIRA.
RAIMUNDA
Não
preciso me sentar, não... É coisa rápida.
PADRE
EMERENCIANO
Sente-se
Raimunda. Nunca é rápido. A gente tem uma vida pela frente...
RAIMUNDA SENTA EM UMA
CADEIRA. ELA OLHA SOLENE PARA O PADRE
PADRE
EMERENCIANO
O
que você quer?
RAIMUNDA
Eu
queria saber o porquê dessa coisa toda com o Domênico... Antes as curas dele
nem lhe importavam e, de uns tempos pra cá, você se tornou uma pedra no caminho
dele.
PADRE
EMERENCIANO
Pedra?
Um padre ser um obstáculo? Raimunda, o Domênico é um pecado ambulante. Ele
promete cura as pessoas...
RAIMUNDA
E
cumpre. Ele cura as pessoas. Se isso não é uma dádiva, um dom de Deus, o que é
então?
PADRE
EMERENCIANO
Ele
é um charlatão...
RAIMUNDA
Eu
to lá do lado dele. A maioria das pessoas que o procuram, eu nunca nem vi. Você
acha que eu, uma mulher tão devota, temente a Deus, ficaria do lado de um homem
que mente? Que bota em xeque o nosso Senhor?
PADRE
EMERENCIANO
Raimunda,
eu lhe respeito demais, e você sabe. Mas eu não posso permitir, como padre
desse lugar, que o Domênico passe por cima da fé do próximo...
RAIMUNDA
Mas
ele não passa por cima da fé de ninguém. Domênico mesmo ora, reza... A gente
não vem nem a igreja, a gente nem incomoda ninguém. Ficamos no nosso canto,
quietos lá na saída da cidade, bem afastados de todos. Ninguém quer tirar os
seus féis, Emerenciano. A gente não quer isso, não.
PADRE
EMERENCIANO
Você
sempre do lado dele, né? Quando criança, qualquer coisa que eu fizesse era
motivo de levar uma bronca sua. Quando era ele, você passava a mão na cabeça...
Raimunda, eu não posso permitir que um homem seja um verdadeiro deus na Terra,
sem um sinal do Maior. Domênico é vaidoso...
RAIMUNDA
Você
também é vaidoso. Na realidade, você nunca deixou de ser.
PADRE
EMERENCIANO (sorri sem mostrar os dentes. Um sorriso de
desprezo)
Por
que meu pai deixava você e o seu afilhado morar lá em casa? O certo era só
você, né? Minha babá... Até hoje, eu desconfio, na realidade, eu tenho certeza:
você cuidava dele também, né? Daquele jeito.
RAIMUNDA SE LEVANTA DEVAGAR.
DA A VOLTA NA MESA E SE APROXIMA DE EMERENCIANO. QUANDO CHEGA AO LADO DELE, ELE
VIRA O ROSTO PARA ELA. RAIMUNDA DÁ UM TAPA NA CARA DELE. PADRE EMERENCIANO
PARECE DESPERTAR, LEVANTA-SE DA CADEIRA NUM SALTO.
PADRE
EMERENCIANO
Você
está louca?
RAIMUNDA
(mantendo a calma e toda paciência do mundo)
Não.
Quem está ficando louco é você. Está ficando louco como sua mãe...
PADRE
EMERENCIANO (aumenta a voz)
Minha
mãe nunca foi louca!
RAIMUNDA
(mantendo o tom de voz, parece baixar o volume, falar mais baixo. Um
contraponto com o crescimento de tom de Emerenciano)
Sua
mãe morreu louca. Mas antes foi cometendo loucuras... Você se lembra quando
levava o Domênico na feira, lá na cidade, e cobrava para as pessoas verem ele
curar? Lembra que aquilo começou a chamar a atenção e, sua mãe com medo,
resolveu te por numa escola de padres, e ainda por cima insistiu para que eu
deixasse o Domênico lá também? Lembra? Essa foi a primeira loucura, porque eu
não deveria ter deixado ele ir. A fofoca das coisas que aconteciam por lá...
(Raimunda começa a caminhar, indo em direção a porta) Depois ela insistiu em
que você se ordenasse. Você nunca quis ser padre...
PADRE
EMERENCIANO (de pé, olhando Raimunda indo em direção a
porta. Aos berros)
Eu
sempre quis ser padre!
RAIMUNDA
(virando o rosto. Olhando fixamente para Emerenciano)
Você
é um carcará, Emerenciano. Um lobo em pele de cordeiro. Reúne todos os pecados
em um só ser.
RAIMUNDA VIRA PARA IR
EMBORA, MAS ANTES DE SAIR VOLTA.
RAIMUNDA
Mas
e o seu desejo? O teu fogo, o teu tesão... A sua paixão por ele? Como você faz
para viver com isso?
PADRE EMERENCIANO DESABA NA
CADEIRA. OLHOS FIXOS PARA A MESA. RAIMUNDA SAI E FECHA A PORTA. AGILMENTE,
EMERENCIANO PEGA O LIVRO QUE ESTAVA LENDO E O ARREMESSA NA PAREDE.
CORTA
PARA
CENA
10 / RIQUEZA / EXT. TARDE/NOITE
TIMELAPSE MOSTRANDO O
ANOITECER NA CIDADE.
CORTA
PARA
CENA
11 / CASA DE MARINALVA – QUARTO / INT. NOITE.
MARINALVA ESTÁ DORMINDO. A
CENA MOSTRA ELA DEITADA NA CAMA. OUVIMOS UM BARULHO COMO SE ALGUÉM TIVESSE
DERRUBADO ALGO NA SALA. MARINALVA SE MEXE. MAIS UM BARULHO, DESSA VEZ DE PORTA
BATENDO. MARINALVA SE LEVANTA, SENTA NA CAMA.
MARINALVA
Figueira,
é você?
FIGUEIRA
(V.O)
Para
de berrar, mulher! As crianças estão dormindo.
MARINALVA LEVANTA-SE DA CAMA
E ACENDE A LUZ. ABRE A PORTA DO QUARTO. FIGUEIRA ENTRA CAMBALEANDO E SENTA NA
CAMA.
MARINALVA
Pode
levantar dessa cama...
MARINALVA TENTA LEVANTAR FIGUEIRA
PELO BRAÇO. O LEVANTA UM POUCO, MAS ELE ACABA CAINDO.
FIGUEIRA
Me
deixa mulher!
MARINALVA
Você
tá fedendo! Vá tomar um banho pelo menos...
FIGUEIRA SE AJEITA NA CAMA,
JÁ COMO SE FOSSE DORMIR. MARINALVA SOBE EM CIMA DELE.
MARINALVA
Acorde
homem! Vá se lavar, você está imundo!
FIGUEIRA
(empurrando a mulher violentamente)
Sai
daqui, inferno!
MARINALVA ACABA BATENDO O
ROSTO NUMA PARTE DA CAMA E CAI NO CHÃO.
MÚSICA
ON: DRAMA – MARIA BETHÂNIA
MARINALVA
(tentando se levantar, com a boca suja de sangue e a mão)
Meu
Deus do Céu! Você me machucou homem!
FIGUEIRA SE ACOMODA NA CAMA
E CONTINUA A DORMIR. MARINALVA, AGORA ESTÁ SENTADA NO CHÃO PERTO DA CAMA. ELA
PEGA ALGO NO CHÃO, LEVA PRÓXIMO AO ROSTO. MARINALVA SE LEVANTA.
CORTA
PARA
CENA
12 / CASA DE MARINALVA – BANHEIRO / INT. NOITE.
MARINALVA SE OLHA NO
ESPELHO. DESCABELADA. ROSTO SUJO DE SANGUE, A BOCA. ELA OLHA NA MÃO O PEDAÇO DO
DENTE QUE QUEBROU. LAVA A BOCA, BOCHECHA E COSPE A ÁGUA TINGIDA DE VERMELHO.
MARINALVA (se
olhando no espelho)
Eu
juro por Deus! Eu juro que isso vai acabar! Mais cedo, ou mais tarde...
CORTA
PARA
CENA
13 / CASA DE DOMÊNICO – SALA DE ESPERA / INT. NOITE
MÚSICA
ON: CIRANDEIRO – EDU LOBO E MARIA BETHÂNIA
INOCÊNCIA ENTRA NA CASA DE
DOMÊNICO. ELA DÁ DE CARA COM RAIMUNDA QUE ESTÁ SE DESPEDINDO DE UM HOMEM.
RAIMUNDA
(fechando a porta e se virando para Inocência)
Posso
lhe ajudar?
INOCÊNCIA
Pode.
Na realidade, eu acho que quem pode é o Domênico.
RAIMUNDA OBSERVA INOCÊNCIA.
INOCÊNCIA
Não
me julgue, pelo amor de Deus! Eu não aguento mais de tanta dor...
RAIMUNDA
(amparando Inocência)
Eu
não sou ninguém para julgar, minha filha! Venha!
RAIMUNDA PASSA PELA RECEPÇÃO
E CHEGA A SALA DE CURA. AMPARANDO A JOVEM MOÇA QUE COMEÇA A CHORAR. AGORA ELAS
JÁ ESTÃO NA SALA DE CURA. DOMÊNICO ESTAVA DE PÉ CONVERSANDO ANIMADO COM TONHO E
ALMEIDA, MAS PARA AO VER INOCÊNCIA. O CURANDEIRO SE APROXIMA DE INOCÊNCIA,
ENQUANTO RAIMUNDA SAI DO RECINTO.
DOMÊNICO
(segurando o rosto de Inocência com as duas mãos)
Continua
a dor, né?
INOCÊNCIA FAZ SINAL DE
POSITIVO COM A CABEÇA E CONTINUA A CHORAR.
DOMÊNICO
Eu
vou te ajudar...
DOMÊNICO DÁ UM BEIJO SUTIL
NOS LÁBIOS DE INOCÊNCIA. ELA É PEGA DE FORMA TÃO SURPRESA, QUE NÃO SE
DESVENCILHA. O BEIJO DURA SEGUNDOS. QUANDO DOMÊNICO SE AFASTA. INOCÊNCIA
CONTINUA A CHORAR. O CHORO SE EMENDA COM UM SORRISO QUE SE TRANSFORMA EM
GARGALHADA.
INOCÊNCIA
(eufórica)
Meu
Deus! Isso é verdade! É real! Eu to curada! Eu não sinto mais dor nenhuma.
INOCÊNCIA GARGALHA DE
FELICIDADE. ABRAÇA DOMÊNICO ESPALHAFATOSAMENTE.
INOCÊNCIA
(abraçando também Tonho e Almeida)
Eu
to curada! Eu não sinto mais dor! Ela sumiu, sumiu! (abraçando Raimunda) Dona
Raimunda, é verdade! Dona Raimunda...
RAIMUNDA
(abraçando Inocência)
É
verdade minha filha! O dom do Domênico é real!
INOCÊNCIA
(para Domênico)
Você
salvou a minha vida! Você é um santo!
DOMÊNICO
Salvei.
Se você não viesse pra cá você iria morrer. Você tinha um câncer no cérebro.
O SORRISO DE INOCÊNCIA SOME.
OS OLHOS ARREGALADOS COM A NOTÍCIA.
CONTINUA...
autor
VITOR ZUCOLOTTI
elenco
DOMÊNICO (LÁZARO RAMOS)
RAIMUNDA (ZEZÉ MOTTA)
TONHO (TOMÁS AQUINO)
ALMEIDA (EMÍLIO FARIAS)
MARINALVA (CLAUDIA MISSURA)
DORINHA (BÁRBARA REIS)
PADRE EMERENCIANO (JOÃO MIGUEL)
DANIEL (EMILIANO D´AVILLA)
ALICE (ALICE BORGES)
INOCÊNCIA (LUCY RAMOS)
DORIANO (CLAUDIO JABORANDY)
FIGUEIRA (EDUARDO GALVÃO)
CRISTINA RAVELA
REALIZAÇÃO
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