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O Dom - Vidas do Árido: 1x03

Série de Vitor Zucolotti
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O DOM - VIDAS DO ÁRIDO



NO SEGUNDO EPISÓDIO

 

DOMÊNICO

Se quiser posso me confessar antes... Não vejo as coisas que fiz na vida como pecado. Na realidade, quando estudávamos juntos naquela escola, lembra? O que faziam com a gente, o que aqueles padres faziam... Aquilo era pecado, né?

 

PADRE EMERENCIANO (está vermelho de ódio. Olhos marejados)

O que você quer?

 

DOMÊNICO

Me diga logo o que você quer comigo. (quase suplicante) Fale e, me poupe do esforço desnecessário de ficar lembrando da nossa juventude, por favor?


PADRE EMERENCIANO (se aproxima de Domênico)

É só para você saber que agora você não será páreo para a medicina verdadeira. Aquela que Deus deu ao homem a possibilidade de exercer. Suas curas, falsas curas, vão cair por terra!


DOMÊNICO

Você era o preferido do Padre Ângelo. Ela gostava quando você chorava. Ele ficava horrorizado comigo porque eu gostava.

 

DOMÊNICO DÁ UMA GARGALHADA E SAÍ. AO MESMO TEMPO PADRE EMERENCIANO CORRE ATÉ A PORTA E A FECHA BRUSCAMENTE. EM SEGUIDA DÁ UM SOCO NA PORTA E MORDE A OUTRA MÃO, COMO QUEM SEGURA UM GRITO QUE ECOARIA POR TODO O VILAREJO.


***

DORINHA (como se resistisse as carícias)

Não faça isso! Eu sou uma menina virgem...

 

ALMEIDA (continua as carícias)

E isso é o que me dá mais tesão!

 

ALMEIDA E DORINHA SE BEIJAM. ELE FAZ COM QUE A BEATA ENVOLVA A PERNA EM SUA CINTURA. ALMEIDA LEVA A MÃO ABAIXO DA CAMISOLA. DORINHA REVIRA OS OLHOS. ELE, ACHANDO MÃO AONDE NÃO EXISTE, CONSEGUE DESABOTOAR A BOTÃO DA CALÇA QUE USA, MAS DORINHA LHE EMPURRA.


***

MARINALVA (entre dentes)

Eu me arrependo de ter casado contigo. Você está sendo influenciado pelo demo, só pode! Eu tenho nojo de você!

 

FIGUEIRA

Você tem nojo? (Figueira levanta com dificuldade, segura com força Marinalva pelos ombros) E eu que nem sei mais direito o que é foder com a minha mulher... Você virou uma carola seca. Seca!

 

MARINALVA DÁ UM TAPA NO ROSTO DO MARIDO QUE QUASE CAI.

 

FIGUEIRA (se recuperando do tapa)

Seca e malcriada!

 

FIGUEIRA SEGURA MARINALVA PELO BRAÇO E LHE DÁ UM TAPA. ASSIM QUE VOLTA O ROSTO ASSUTADA COM A ATITUDE DO MARIDO, FIGUEIRA LHE DESFERE MAIS UM TAPA NA OUTRA FACE.

 

FIGUEIRA

É por isso, pelo que você se tornou, uma beata seca, uma carola de quinta; é por isso que eu procura mulher na zona. Lá elas dão até a traseira, sabia? Chifruda dos infernos...


***

DANIEL (olhando a mão estendida de Domênico)

Você então diz curar as pessoas? Eu já ouvi falar de história de quem é charlatão, mas nunca vi um de perto.

 

A FISIONÔMIA DE DOMÊNICO MUDA. ANTES O SEMBLANTE CONVIDATIVO, SE TORNA PERPLEXO E DURO. ALICE SE INCOMODA. DOMÊNICO RECOLHE A MÃO.

 

INOCÊNCIA (interrompe o momento constrangedor)

Gente, vamos deixar o doutor Daniel e a dona Alice se acomodarem, conhecerem a unidade de...

 

INOCÊNCIA PARA DE FALAR. PARECE FICAR TONTA. TENTA BALBUCIAR ALGO, MAS ACABA DESMAIANDO E, ANTES DE CAIR NO CHÃO, É AMPARADA POR DANIEL. TODOS SE ENTREOLHAM. CÂMERA FOCA EM CLOSE NO ROSTO DE DOMÊNICO.


***



1x03


CENA 1 / POSTO DE SAÚDE - CONSULTÓRIO / INT. DIA

INOCÊNCIA ESTÁ SENTADA NA MACA. DANIEL SENTADO EM SUA MESA, FAZENDO UM RECEITUÁRIO. ALICE ESTÁ NA PORTA DO CONSULTÓRIO, OBSERVA.

 

ALICE

Cê tá melhor?

 

INOCÊNCIA

O remédio tá fazendo efeito... Ainda me sinto um pouco zonza, mas daqui a pouco passa e eu posso trabalhar normalmente...

 

DANIEL

Fica tranquila! To te passando esse medicamento, você pega aí na farmácia do posto e passa a tomar. Tenho certeza que você vai melhorar. Mas, se por um acaso, as dores persistirem, você precisa me avisar. Estamos combinados?

 

INOCÊNCIA (levantando da maca e indo até o doutor e pegando a receita)

Obrigada, Doutor Daniel! (virando-se para Alice) Vê se pode: o primeiro paciente dele fui eu! A funcionária.

 

ALICE SORRI.

CORTA PARA

 

CENA 2 / RIQUEZA – RUA EM FRENTE AO POSTO / EXT. DIA


DOMÊNICO PERMANECE COM RAIMUNDA TONHO E ALMEIDA, PRÓXIMOS A ENTRADA DO POSTO.

 

ALMEIDA

O que será que aconteceu com a mulher, hein?

 

TONHO

Ela caiu durinha no chão.

 

RAIMUNDA OBSERVA DOMÊNICO, ELE ESTÁ COM O OLHAR NUM PONTO FIXO.

 

RAIMUNDA

Acha que ela tem alguma coisa grave?

 

DOMÊNICO (sem se virar para Raimunda)

Tenho certeza! Mas não posso dar detalhes, ela que tem que vir até mim.

 

RAIMUNDA

Só que ela tem o médico, né?

 

DOMÊNICO

Vá saber até quando ele vai conseguir ajudá-la. Quando eu disse grave, é GRAVE mesmo.

 

DOMÊNICO DEIXA O PONTO FIXO DE LADO E OLHA PREOCUPADO PARA RAIMUNDA.


CORTA PARA

 

CENA 3 / RIQUEZA – RUA EM FRENTE AO POSTO / EXT. DIA


PADRE EMERENCIANO, MARINALVA, DORINHA E FIGUEIRA ESTÃO REUNIDOS, DO LADO OPOSTO AO DE DOMÊNICO E OS DEMAIS. MARINALVA OBSERVA ELES.

 

MARINALVA

Aposto que esses urubus vieram para causar esse rebuliço todo, Padre! Foi só esse coisa ruim chegar, que a mocinha caiu de madura.

 

PADRE EMERENCIANO

Ele veio pra se mostrar, Marinalva! Vaidoso como o diabo! Não percebe? Aonde eu estiver ele vai estar. Só, acredito eu, que não contava com uma recepção tão dura do doutor...

 

PADRE EMERENCIANO ESBOÇA UM SORRISO. ENQUANTO MARINALVA E DORINHA RIEM, SEGUIDOS DE FIGUEIRA. QUANDO O PADRE PERCEBE QUE ELES ESTÃO RINDO ALTO, OS REPREENDEM COM UMA ONOMATOPEIA QUE PEDE SILÊNCIO.

 

PADRE EMERENCIANO

Vamos deixar de chacota e rezar pela Inocência...

 

FIGUEIRA

Mas que bela recepção, não foi? Só chegar e já sentem um gostinho do que é Riqueza.

 

DORINHA

Enquanto nós, com toda a classe e decência, os recepcionávamos; veio esse quarteto do apocalipse para desvirtuar tudo. É a intenção dele, Padre. Esse falso profeta é um ardiloso!

CORTA PARA

 

CENA 4 / RIQUEZA – RUA EM FRENTE AO POSTO / EXT. DIA


INOCÊNCIA SAI DO POSTO E DÁ DE CARA COM A “COMITIVA”, CADA GRUPO DE UM LADO. NA SEQUÊNCIA SAEM ALICE E DANIEL.

 

MARINALVA

Olha, já está bem melhor! Está até mais corada! (para Domênico) Tenho certeza que foi um remédio que o doutor receitou...

 

PADRE EMERENCIANO

Está melhor, Inocência?

 

INOCÊNCIA

Estou sim. Muito obrigado Padre.

 

DOMÊNICO (para Inocência)

Qualquer coisa, precisando, você sabe onde me achar. Melhoras, moça.

 

DANIEL SE APROXIMA DE INOCÊNCIA E FALA DIRETAMENTE PARA DOMÊNICO.

 

DANIEL

Ela não precisa lhe procurar. Já foi medicada, já receitei um remédio e, ela vai melhorar, sabia? Mas de verdade, não de mentira.

 

DOMÊNICO OLHA INCRÉDULO PARA DANIEL.

 

ALICE (para o marido)

Daniel! Não cata briga! Fica quieto!

 

INOCÊNCIA (sem graça)

Eu estou muito bem! Agradeço a todos pela preocupação.


CORTA PARA

 

CENA 5 / CASA DE DOMÊNICO – SALA DE ESPERA / INT. TARDE


MÚSICA ON: PROCISSÃO – GILBERTO GIL


VÁRIAS PESSOAS ESTÃO SENTADAS NA SALA DE ESPERA. DOMÊNICO PASSA POR ELAS, QUE O CUMPRIMENTAM. ALGUMAS ATÉ LHE BEIJAM AS MÃOS. ELE SORRI.


CORTA PARA

 

CENA 6 / IGREJA – NAVE / INT. NOITE


PADRE EMERENCIANO CELEBRA A MISSA. GESTICULA E TEM O OLHAR ATENTO DE SEUS FIÉIS. MARINALVA E DORINHA ESTÃO NOS BANCOS DA FRENTE, COM OLHOS BRILHANTES OBSERVANDO O SERMÃO.

CORTA PARA

 

CENA 7 / RUA DE RIQUEZA – EM FRENTE AO BAR DE DORIANO / EXT. DIA

LETREIRO: DIAS DEPOIS


FIGUEIRA E TONHO ESTÃO ENCOSTADOS NOS BATENTES DA PORTA DO BAR. DORIANO CHEGA PERTO DELES. NA SEQUÊNCIA, ALICE PASSA CAMINHANDO EM FRENTE AO BAR E É CUMPRIMENTADA PELOS HOMENS. ELA RETRIBUÍ COM UM ACENO LEVE DE CABEÇA.


MÚSICA OFF.

CORTA PARA  

 

CENA 8 / POSTO DE SAÚDE – RECEPÇÃO / INT. DIA

ALICE ESTÁ NO LOCAL E CONVERSA COM INOCÊNCIA.

 

INOCÊNCIA

O Doutor Daniel está atendendo. Logo, logo você fala com ele.

 

ALICE

Tá bom. (senta-se) Você não tá bem, né?

 

INOCÊNCIA

Deu pra perceber?

 

ALICE

Tá na sua cara. Você não está feliz... O que houve?

 

INOCÊNCIA

Olha, Alice, eu vou ser bem sincera contigo: não aguento mais! Minha cabeça doí demais! Eu estou tomando os medicamentos, o doutor já mudou e nada adiantou... Eu...

 

INOCÊNCIA FAZ UMA LONGA PAUSA.

 

ALICE

Você? Sim, o que foi?

 

INOCÊNCIA

Eu, eu acho que eu vou procurar o Domênico. Acho que vou vê-lo e, sei lá: vai que ele consegue me curar? Essa dor é insuportável...

 

ALICE

Mas você acredita nele?

 

INOCÊNCIA

Dona A...

 

ALICE (interrompe Inocência)

Não sou dona! Sou “você”. Me trate por você!

 

INOCÊNCIA

Então, Alice... Eu só quero que essa dor acabe, o mais rápido possível. Estou tentando de tudo. O Domênico é minha última alternativa, ou... Sei lá. Eu sou capaz de bater minha cabeça na parede até ela abrir, meter uma faca no meu crânio... Eu não aguento mais!

 

INOCÊNCIA COMEÇA A CHORAR. ALICE A ABRAÇA.

 

ALICE

Se você achar que isso pode lhe ajudar...

CORTA PARA

 

CENA 9 / IGREJA – SACRISTIA / INT. TARDE

PADRE EMERENCIANO ESTÁ LENDO, SENTADO A UMA MESA. UMA BATIDA NA PORTA.

 

PADRE EMERENCIANO (sem tirar os olhos da leitura)

Pode entrar!

 

RAIMUNDA (abrindo a porta, ainda sem entrar no local)

Posso falar com você? Quer dizer, com o senhor?

 

PADRE EMERENCIANO DESVIA O OLHAR DO LIVRO, O FECHA E O DEIXA EM CIMA DA MESA. OLHA PARA RAIMUNDA. FAZ UM ACENO MOSTRANDO UMA CADEIRA.

 

RAIMUNDA

Não preciso me sentar, não... É coisa rápida.

 

PADRE EMERENCIANO

Sente-se Raimunda. Nunca é rápido. A gente tem uma vida pela frente...

 

RAIMUNDA SENTA EM UMA CADEIRA. ELA OLHA SOLENE PARA O PADRE

 

PADRE EMERENCIANO

O que você quer?

 

RAIMUNDA

Eu queria saber o porquê dessa coisa toda com o Domênico... Antes as curas dele nem lhe importavam e, de uns tempos pra cá, você se tornou uma pedra no caminho dele.

 

PADRE EMERENCIANO

Pedra? Um padre ser um obstáculo? Raimunda, o Domênico é um pecado ambulante. Ele promete cura as pessoas...

 

RAIMUNDA

E cumpre. Ele cura as pessoas. Se isso não é uma dádiva, um dom de Deus, o que é então?

 

PADRE EMERENCIANO

Ele é um charlatão...

 

RAIMUNDA

Eu to lá do lado dele. A maioria das pessoas que o procuram, eu nunca nem vi. Você acha que eu, uma mulher tão devota, temente a Deus, ficaria do lado de um homem que mente? Que bota em xeque o nosso Senhor?

 

PADRE EMERENCIANO

Raimunda, eu lhe respeito demais, e você sabe. Mas eu não posso permitir, como padre desse lugar, que o Domênico passe por cima da fé do próximo...

 

RAIMUNDA

Mas ele não passa por cima da fé de ninguém. Domênico mesmo ora, reza... A gente não vem nem a igreja, a gente nem incomoda ninguém. Ficamos no nosso canto, quietos lá na saída da cidade, bem afastados de todos. Ninguém quer tirar os seus féis, Emerenciano. A gente não quer isso, não.

 

PADRE EMERENCIANO

Você sempre do lado dele, né? Quando criança, qualquer coisa que eu fizesse era motivo de levar uma bronca sua. Quando era ele, você passava a mão na cabeça... Raimunda, eu não posso permitir que um homem seja um verdadeiro deus na Terra, sem um sinal do Maior. Domênico é vaidoso...

 

RAIMUNDA

Você também é vaidoso. Na realidade, você nunca deixou de ser.

 

PADRE EMERENCIANO (sorri sem mostrar os dentes. Um sorriso de desprezo)

Por que meu pai deixava você e o seu afilhado morar lá em casa? O certo era só você, né? Minha babá... Até hoje, eu desconfio, na realidade, eu tenho certeza: você cuidava dele também, né? Daquele jeito.

 

RAIMUNDA SE LEVANTA DEVAGAR. DA A VOLTA NA MESA E SE APROXIMA DE EMERENCIANO. QUANDO CHEGA AO LADO DELE, ELE VIRA O ROSTO PARA ELA. RAIMUNDA DÁ UM TAPA NA CARA DELE. PADRE EMERENCIANO PARECE DESPERTAR, LEVANTA-SE DA CADEIRA NUM SALTO.

 

PADRE EMERENCIANO

Você está louca?

 

RAIMUNDA (mantendo a calma e toda paciência do mundo)

Não. Quem está ficando louco é você. Está ficando louco como sua mãe...

 

PADRE EMERENCIANO (aumenta a voz)

Minha mãe nunca foi louca!

 

RAIMUNDA (mantendo o tom de voz, parece baixar o volume, falar mais baixo. Um contraponto com o crescimento de tom de Emerenciano)

Sua mãe morreu louca. Mas antes foi cometendo loucuras... Você se lembra quando levava o Domênico na feira, lá na cidade, e cobrava para as pessoas verem ele curar? Lembra que aquilo começou a chamar a atenção e, sua mãe com medo, resolveu te por numa escola de padres, e ainda por cima insistiu para que eu deixasse o Domênico lá também? Lembra? Essa foi a primeira loucura, porque eu não deveria ter deixado ele ir. A fofoca das coisas que aconteciam por lá... (Raimunda começa a caminhar, indo em direção a porta) Depois ela insistiu em que você se ordenasse. Você nunca quis ser padre...

 

PADRE EMERENCIANO (de pé, olhando Raimunda indo em direção a porta. Aos berros)

Eu sempre quis ser padre!

 

RAIMUNDA (virando o rosto. Olhando fixamente para Emerenciano)

Você é um carcará, Emerenciano. Um lobo em pele de cordeiro. Reúne todos os pecados em um só ser.

 

RAIMUNDA VIRA PARA IR EMBORA, MAS ANTES DE SAIR VOLTA.

 

RAIMUNDA

Mas e o seu desejo? O teu fogo, o teu tesão... A sua paixão por ele? Como você faz para viver com isso?

 

PADRE EMERENCIANO DESABA NA CADEIRA. OLHOS FIXOS PARA A MESA. RAIMUNDA SAI E FECHA A PORTA. AGILMENTE, EMERENCIANO PEGA O LIVRO QUE ESTAVA LENDO E O ARREMESSA NA PAREDE.

CORTA PARA

 

CENA 10 / RIQUEZA / EXT. TARDE/NOITE

TIMELAPSE MOSTRANDO O ANOITECER NA CIDADE.


CORTA PARA

 

CENA 11 / CASA DE MARINALVA – QUARTO / INT. NOITE.

MARINALVA ESTÁ DORMINDO. A CENA MOSTRA ELA DEITADA NA CAMA. OUVIMOS UM BARULHO COMO SE ALGUÉM TIVESSE DERRUBADO ALGO NA SALA. MARINALVA SE MEXE. MAIS UM BARULHO, DESSA VEZ DE PORTA BATENDO. MARINALVA SE LEVANTA, SENTA NA CAMA.

 

MARINALVA

Figueira, é você?

 

FIGUEIRA (V.O)

Para de berrar, mulher! As crianças estão dormindo.

 

MARINALVA LEVANTA-SE DA CAMA E ACENDE A LUZ. ABRE A PORTA DO QUARTO. FIGUEIRA ENTRA CAMBALEANDO E SENTA NA CAMA.

 

MARINALVA

Pode levantar dessa cama...

 

MARINALVA TENTA LEVANTAR FIGUEIRA PELO BRAÇO. O LEVANTA UM POUCO, MAS ELE ACABA CAINDO.

 

FIGUEIRA

Me deixa mulher!

 

MARINALVA

Você tá fedendo! Vá tomar um banho pelo menos...

 

FIGUEIRA SE AJEITA NA CAMA, JÁ COMO SE FOSSE DORMIR. MARINALVA SOBE EM CIMA DELE.

 

MARINALVA

Acorde homem! Vá se lavar, você está imundo!

 

FIGUEIRA (empurrando a mulher violentamente)

Sai daqui, inferno!

 

MARINALVA ACABA BATENDO O ROSTO NUMA PARTE DA CAMA E CAI NO CHÃO.


MÚSICA ON: DRAMA – MARIA BETHÂNIA

 

MARINALVA (tentando se levantar, com a boca suja de sangue e a mão)

Meu Deus do Céu! Você me machucou homem!

 

FIGUEIRA SE ACOMODA NA CAMA E CONTINUA A DORMIR. MARINALVA, AGORA ESTÁ SENTADA NO CHÃO PERTO DA CAMA. ELA PEGA ALGO NO CHÃO, LEVA PRÓXIMO AO ROSTO. MARINALVA SE LEVANTA.

CORTA PARA

 

CENA 12 / CASA DE MARINALVA – BANHEIRO / INT. NOITE.

MARINALVA SE OLHA NO ESPELHO. DESCABELADA. ROSTO SUJO DE SANGUE, A BOCA. ELA OLHA NA MÃO O PEDAÇO DO DENTE QUE QUEBROU. LAVA A BOCA, BOCHECHA E COSPE A ÁGUA TINGIDA DE VERMELHO.

 

MARINALVA (se olhando no espelho)

Eu juro por Deus! Eu juro que isso vai acabar! Mais cedo, ou mais tarde...

 

CORTA PARA

 

CENA 13 / CASA DE DOMÊNICO – SALA DE ESPERA / INT. NOITE


MÚSICA ON: CIRANDEIRO – EDU LOBO E MARIA BETHÂNIA


INOCÊNCIA ENTRA NA CASA DE DOMÊNICO. ELA DÁ DE CARA COM RAIMUNDA QUE ESTÁ SE DESPEDINDO DE UM HOMEM.

 

RAIMUNDA (fechando a porta e se virando para Inocência)

Posso lhe ajudar?

 

INOCÊNCIA

Pode. Na realidade, eu acho que quem pode é o Domênico.

 

RAIMUNDA OBSERVA INOCÊNCIA.

 

INOCÊNCIA

Não me julgue, pelo amor de Deus! Eu não aguento mais de tanta dor...

 

RAIMUNDA (amparando Inocência)

Eu não sou ninguém para julgar, minha filha! Venha!

 

RAIMUNDA PASSA PELA RECEPÇÃO E CHEGA A SALA DE CURA. AMPARANDO A JOVEM MOÇA QUE COMEÇA A CHORAR. AGORA ELAS JÁ ESTÃO NA SALA DE CURA. DOMÊNICO ESTAVA DE PÉ CONVERSANDO ANIMADO COM TONHO E ALMEIDA, MAS PARA AO VER INOCÊNCIA. O CURANDEIRO SE APROXIMA DE INOCÊNCIA, ENQUANTO RAIMUNDA SAI DO RECINTO.

 

DOMÊNICO (segurando o rosto de Inocência com as duas mãos)

Continua a dor, né?

 

INOCÊNCIA FAZ SINAL DE POSITIVO COM A CABEÇA E CONTINUA A CHORAR.

 

DOMÊNICO

Eu vou te ajudar...

 

DOMÊNICO DÁ UM BEIJO SUTIL NOS LÁBIOS DE INOCÊNCIA. ELA É PEGA DE FORMA TÃO SURPRESA, QUE NÃO SE DESVENCILHA. O BEIJO DURA SEGUNDOS. QUANDO DOMÊNICO SE AFASTA. INOCÊNCIA CONTINUA A CHORAR. O CHORO SE EMENDA COM UM SORRISO QUE SE TRANSFORMA EM GARGALHADA.

 

INOCÊNCIA (eufórica)

Meu Deus! Isso é verdade! É real! Eu to curada! Eu não sinto mais dor nenhuma.

 

INOCÊNCIA GARGALHA DE FELICIDADE. ABRAÇA DOMÊNICO ESPALHAFATOSAMENTE.

 

INOCÊNCIA (abraçando também Tonho e Almeida)

Eu to curada! Eu não sinto mais dor! Ela sumiu, sumiu! (abraçando Raimunda) Dona Raimunda, é verdade! Dona Raimunda...

 

RAIMUNDA (abraçando Inocência)

É verdade minha filha! O dom do Domênico é real!

 

INOCÊNCIA (para Domênico)

Você salvou a minha vida! Você é um santo!

 

DOMÊNICO

Salvei. Se você não viesse pra cá você iria morrer. Você tinha um câncer no cérebro.

 

O SORRISO DE INOCÊNCIA SOME. OS OLHOS ARREGALADOS COM A NOTÍCIA.

 

CONTINUA...



autor
VITOR ZUCOLOTTI

elenco
DOMÊNICO (LÁZARO RAMOS)
RAIMUNDA (ZEZÉ MOTTA)
TONHO (TOMÁS AQUINO)
ALMEIDA (EMÍLIO FARIAS)
MARINALVA (CLAUDIA MISSURA)
DORINHA (BÁRBARA REIS)
PADRE EMERENCIANO (JOÃO MIGUEL)
DANIEL (EMILIANO D´AVILLA)
ALICE (ALICE BORGES)
INOCÊNCIA (LUCY RAMOS)
DORIANO (CLAUDIO JABORANDY)
FIGUEIRA (EDUARDO GALVÃO)

trilha sonora
PROCISSÃO – GILBERTO GIL
DRAMA – MARIA BETHÂNIA
EDU LOBO E MARIA BETHÂNIA


produção
BRUNO OLSEN
CRISTINA RAVELA


 

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO




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