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Cine Virtual: Desejo

Conto de Maria de Fátima Saraiva de Morais
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Sinopse: Narra o desejo do falar da dor de um amor rompido sem entendimento e qualquer lógica. O desejo de não calar e sim de falar o que a dor da separação trás.


Desejo
de Maria de Fátima Saraiva de Morais

 

O sol das 11hs é escaldante. O calor invade e deixa uma onda de descontentamento, preguiça, principalmente na academia.

Como de costume, nesse horário estava na academia, antes de ir para a esteira, faço alongamento em companhia de minhas selecionadas trilhas sonora.

 Levo comigo água como é recomendado e ouvindo minhas baladas e concentrando-me em pensamentos bons, assim reforço também a mente, para que expila o que tem de ruim através do suor do corpo e da alma.

Hoje vim com um especial desejo de vim para a academia, não sei explicar, mas deixei-me embalar por esse desejo.

Lembro que minha filha reclamou pelo tardio horário mais uma vez por causa do calor.

Sei que vim, e suada, encontrava-me na esteira, acelerando em uma velocidade bem maior do que costume, pois meu coração de tristeza completa encontrava-se.

Canso o corpo para que deixe a mente mais calma e em devaneios percorria a minha mente a saudade e vagando em lembranças de um amor há muito perdido pelo tempo, calado pelo medo e sufocado pelo desejo.

Um amor distante de mim e a todo instante o desejo de um encontro, um telefonema, mas nada havia acontecido, só o silêncio e o abismo da minha solidão.

Não lembro em que momento meus olhos percorreram além da janela da academia e ali o vi, estacionando o carro e atravessando a rua.

Falta-me o ar.

Acelera o coração.

Paralisa o pensar.

Que segundo o relógio apontou, não sei, mas ali estava ele, bem na minha frente.

O suor antes era quente, percorria em meu corpo frio e petrificada me sentia.

Velocidade da esteira? Caminhava ou corria? Nem esse sentido fez-se em minha tão alarmada mente.

Tremula em pensamentos permaneci. Senti meus lábios secos, o suor aumentava mais do que deveria e sem saber o que fazer, falar.

 Paro o tempo?

 Grito de alegria?

Salto da esteira e percorro através da porta até onde ele se encontra?

Perguntas e perguntas ecoavam em minha mente.

Tremulas mãos e suadas seguram-se na esteira.

Confusão em meus pensamentos.

 Abrigo à saudade e a tristeza do amor partido sem nada a declarar e agora ali está.

Ele tentava atravessar a rua, não sei o que faz, ou por aonde vai, mas é ali que ele está.

E eu? Ah! Estou cá, perdida em meu desejo de com ele falar.

Perdida no meu medo para com ele calar.

Lembro-me de olhar apenas o botão vermelho que para a esteira de uma só vez. O botão da cor da decisão: Ir até ele.

Tocar no botão é uma emergência... E de uma só vez pulei da esteira percebendo-me lá fora.

Não mais cá, mas lá com ele, bem perto, em frente.

De frente!

Olhos encontram-se em olhar de surpresa.

O que é possível então falar no agora?

 Deixo o temer calar-se e de minha alma soa as palavras que circulam em ondas tonalizando um cântico de amor e saudade:

 

Oh! Amor meu, por que nos deixaste separar?

Diz-me então por que teu corpo percorre tão rápido

 Sem o meu para aquietar-te?

Percebo que tens em mais profundo olhar o meu amor em ti.

Percebo que em teus lábios ainda tens contido o gosto sabor dos meus.

Ah! Amor meu!

Está em ti meu calor

Está em ti, meu amor!

Sinto em tuas mãos

As linhas que delineaste ao meu corpo tocar.

Sei que teus dedos dedilham em saudades

 O desejo da minha pele sentir.

Sinto que teu ofegar é maior agora,

Pois o meu cheiro tua saudade quer furtar.

 

Estás a absorver o ar que me cerca.

Sei que meu cheiro queres sentir em ti.

E meu respirar furtar de mim.

 

Ah! Amor meu!

O que queres então de mim esconder?

Permites de vez esse amor florar,

De todo a saudade partir

E vens aqui, comigo ficar!

 

Chorastes não por uma vez

Mas chorastes por muito em meus braços.

Vi lágrimas a percorrer em teu rosto,

E o fizeste por profetizar a dor da nossa separação!

E o fizeste por saber que não poderia ter-me

Como teu coração e teu corpo pediam.

 

Ah! Amor meu!

Sim! És o meu amor!

És o que busquei em todos meus dias de existência.

És o homem que encaixa em todo meu ser.

O homem que cobre o meu corpo e deixa-o quieto em paz.

És o homem que meus lábios percorrem por todo.

Meu corpo molhado de saudades

Tem por ti completa plenitude de prazer.

 

Contemplo-me em ti...

Amor meu! 

Sou a tua mulher.

A mulher dos teus sonhos.

Sonhos que não mais queres lembrar.

Sonhos que deixastes partir

E perder-se do teu querer.

 

Sei qual teu sonho de amor, sabes que sei!

Sei que em tuas orações

 Pediste à mulher que em mim encontrastes!

E sabes ao ver-me,

Sim! Sabes!

Sabes ao ler-me em corpo e alma.

Sabes ao penetrar em minha alma,

Meu corpo,

Meu todo.

 

Sabes amor meu!

Sabes que te amo.

Sabes que me amas.

Calas então, é o que fazes melhor.

Teu silêncio é por nós conhecido e presente.

Sabes a causa do teu silenciar,

Pois em ti é latente o medo.

Tua alma quer!

Teu corpo quer!

Tua coragem foge!

O que vês então?

É difícil então para dizeres?

Afinal, a busca do coração satisfazer 

Não é por ti permitido.

Cansas teu corpo na corrida do dia a dia.

Cansas em luta constante

 Esconder-te de mim.

Fostes um belo jovem sonhador.

Desbravador de tuas fantasias.

Destemido aventureiro de teus próprios sonhos.

Mas hoje, o que te resta?

O que restas para essa alma que silencia?

O que resta para esse corpo que foge?

Ah! Amor meu!

Corpo tão conhecido por minhas mãos

Por meus lábios.

Por meus beijos.

Ah! Saudades de teu corpo.

Saudades de tua tão gostosa voz.

Rouca a pedir mais amor.

A pedir por meus abraços a te sufocar

A pedir por meu calor a te possuir.

O que então te resta?

Sei!

Sabes!

Sabemos!

O silêncio é tua armadura fácil.

O silêncio é protesto tão por ti conhecido.

Deixaste- me!

Deixaste-nos!

Afogaste no abismo de tua alma.

Teu amor.

Meu amor.

Nosso amor.

Segues então...

Não buscas mais ser amado.

Vives hoje na linha do ser tolerado.

Toleras a vida.

Toleras o dia a dia.

Toleras e bem o sabes: És tolerado

Ah! Amor meu!

Deixas então no esquecimento tão grande amor.

Deixas sem nada falar.

Deixas sem nada mais registrar.

É, sem mais nada a registrar.

Resta-me então despedir-me de ti...

Despedir-me de nós...

Despeço-me com um selo.

Sim! Amor meu!

Selo esse encontro.

Não com um beijo,

Ou meu olhar.

Mas selo nosso adeus,

Levando a saudade em minha alma cravada.

Deixo em ti o vazio que em tua alma permanecerá.

Vazio da ausência de um amor...

Vazio da ausência do meu amor.

Do nosso amor...

Vazio em todos os teus dias que percorreres em busca de carinho.

Em busca do calor da paixão.

Vazio em todos os teus dias que percorrerás

 Em busca de meu calor, meu respirar por ti

E não mais me encontrares.

Sim!

Meu amor

Selo esse encontro

Partindo de ti

No tempo do agora

E deixando contigo

Para tua eternidade

O vazio de uma vida sem nós.

Sessam em mim as palavras.

Torna-se mudo o meu falar e percebo o quanto estava suada, as pernas cansadas, corriam. Mas por que estava eu então suada a caminha mais rápido e cansada?

Volto ao sentido de mim, do tempo e do espaço e percebo que minhas pernas ali permaneceram paradas no espaço da esteira.

Não havia saído do lugar, só na minha imaginação, em meus pensamentos a falar o que do meu peito dói por calar.

Outrora os passos que percorri ficaram ali no mesmo ponto, sem pontuar em nada o que preencheu meus pensamentos.

Não sei calar, não sei silenciar! O que foço então?

“Oh! Que fiz? Penso na busca de uma explicação.

O procuro pela janela. Meus olhos percorrem além do que a possível visão alcança e o carro já havia partido, ele não estava mais ali.

Só eu cá permanecia sem saber por onde ele esteve além do que a mera ilusão me permitiu ter.

Olho o relógio, já havia passado 55minutos, tinha ido além do meu tempo na esteira, e no espaço do meu desejo de o encontrar e falar.

Não há para quem falar mais, ele se foi e de mim, deixou a saudade.

Ele se foi, mas com ele segue o medo de amar.

Medo de ter o amor sonhado.

Fica comigo o peso das palavras que não foram ditas, dos meus sonhos que com ele não foram vividos.

Segues então, segues tua vida sem a cor e o brilho que meu toque em ti registrava.

Segues então!

Com alma solitária permanecerás.

Alma que de si o amor negou.

Sigo com a certeza que em tua alma o vazio ficará.

A certeza que não terá mais os braços de um amor a lhe acolher.

Ah! Quantas tantas formas me pedistes um abraço de amor.

Sentias o desejo de ser amado.

Não perturbarei mais o meu pensar com o pesar de tua ida.

Seguirei e findarei esse meu falar.

Encerra a minha caminhada na esteira.

Suo do calor que na sala permanece, mas a alma em dor, finda seu pesar.

Finda meu pensar por ele, mas só por hoje.

Sigo meu costumeiro caminho, sem entender o que faz um amor tão belo findar-se.

Sigo minha caminhada em direção a minha casa.

Minha filha a esperar por mim, temos um almoço marcado.

Ele segue o seu caminho, quem sabe com o mesmo desejo de ter comigo falado.

Segue ele em sua rotina de vida.

Sigo eu em minha rotina de saudade.

Fica eu sem nós.

Fica ele sem mim.

Em meus lábios projeta-se um leve traço de sorriso.

Sorriso de esperança.

Sorriso costumeiro de quem sabe o que é amar sem medo.

Sorriso costumeiro de quem trás o fogo da paixão e sabe quem ela encontrar fará pulsar de desejo e gemer de prazer.

Mas com ele segue o grito da dor que minha ausência deixará.

Grito que a ele só poderá expelir pelos lábios em sutil gargalhada a ironizar a tão vazia e sem cor vida escolhida por ele.

Segue ele então.

Sigo eu então.

Findo meu pesar, mas só por hoje.  

Conto escrito por
Maria de Fátima Saraiva de Morais

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima Alex Xela Lima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO



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