Lembrete de um Guarda-Chuva Roxo
de Daniela S. Terehoff Merino
Naquela tarde cinza de
domingo, enquanto descia a ladeira em direção à estação de trem de Mauá após um
duro dia de trabalho, Jorge refletia sobre a situação desastrosa em que se
encontrava a padaria do mercado onde trabalhava. O gerente novo havia demitido
dois funcionários, não existiam quaisquer perspectivas de novas contratações e
agora, por conta disso, Jorge estava tendo de se desdobrar para lidar com tanto
serviço. Ademais, para ele era cada vez detestável trabalhar naquele local, com
tanta gente insuportável, numa rotina tão monótona onde todos reclamavam de
tudo o tempo inteiro. Tamanha era a concentração de Jorge nos próprios pensamentos,
acabou não reparando em como uma voz feminina, muito fina e melodiosa o chamava
ao longe:
— Ei! Moço!
Mais por um impulso corporal
do que por qualquer outra razão, Jorge acabou virando a sua cabeça para trás.
Qual não foi a sua surpresa ao perceber, portanto, como era justamente ele quem
estava sendo chamado por aquela voz delicada! Uma jovem bonita vinha em sua direção,
caminhando a passos largos sob um guarda-chuva roxo florido. Seu jeito de andar
era alegre e os olhos emanavam tamanho brilho, que apesar de estar usando a
máscara contra a Covid, Jorge tinha a sensação de conseguir enxergar o seu
sorriso.
— Desculpa chamar você de
moço. — pôs-se ela a falar, aparentemente tentando achar a melhor maneira de
entabular esse primeiro contato. — Você trabalha lá na Coop também, né? Quer
dizer, te vi esses dias no refeitório. —continuou ela, corando
inexplicavelmente. — Meio que está chovendo um pouco e...Tudo bem que é só uma
garoa, mas, mesmo assim... Aceita uma carona? Eu tô indo pegar o trem pra
Ribeirão. E você?
— Bom, acho que é meu dia de
sorte, então. Moro em Rio Grande.
E lá se foram os dois,
primeiramente sem saber muito sobre o que falar e, por essa razão, focando
inconscientemente em questões relacionadas ao trabalho. Logo, no entanto, foram
enveredando por tudo quanto é assunto, conversando como se fossem velhos amigos.
De modo que não demorou muito para Jorge descobrir que ela se chamava Rita, tinha
23 anos de idade, apenas 2 meses de empresa, trabalhava no Delivery e estava
bastante satisfeita com isso, embora o seu sonho mesmo fosse ser cantora. A
seguir, além de trocarem os números de whatsapp, passaram a falar sobre gostos
musicais, filmes, jogos, séries, artes... E ele se sentiu tão leve e contente,
que os 20 minutos de caminhada por aquela longa rua — tempo costumeiramente
sombrio e sem muita graça, totalmente desgastado pela rotina —, passaram voando!
Pela primeira vez em muito tempo ele se esqueceu de que tinha problemas e
quando menos se deu conta, os dois já estavam dentro do mesmo trem, sentados lado
a lado, com o guarda-chuva roxo encostado no chão escorrendo a água.
—
Eu também gostei muito da WandaVision, só que aquele final... Essa coisa de ter
dois Visões... Quer dizer, olha só que bizarro, Jorge: dois Visões, e a Wanda
terminou a série sozinha! E outra: se ela estivesse cara a cara com os dois em
algum momento, como é que teria escolhido com qual ficar se eles eram tão
parecidos...?
—
Escolher pra quê? Ficasse com os dois e ponto!
—
Tá doido? É um, ou outro.
—
Se a gente for pensar numa questão mais moralista, eu até concordo com você. Por
outro lado, a Wanda podia sugerir que eles se fundissem num só e ficar com os
dois.
—
Olha, a Wanda poderia até querer isso, mas, no fim das contas, ia acabar tendo
é que optar por um. A vida é assim: não dá pra a gente ter tudo. E ai dela se
demorasse demais pra escolher, porque quando a pessoa não sabe logo o que quer,
acaba ficando é sem nada. Além disso, pensa comigo: já viu alguém usando duas
alianças de uma vez? Ah, bom, talvez no Oriente Médio os homens usem, sei lá...
Mas, fora isso, a aliança é algo mágico e único e a prova disso é que só dá pra
usar uma por vez!
“Ah! Uma romântica!”, pensou ele sem dizer
nada. Em seguida, tendo ela finalizado aquele discurso, ficaram os dois em
silêncio. Ela, olhando pela janela e pensando sabe Deus sobre o quê. Ele,
olhando para a própria mão enquanto se lembrava de como apesar de casado há
cerca de 12 anos, jamais utilizara a própria aliança senão no dia do casamento.
A verdade é que além de nunca ter considerado aquele símbolo assim tão
importante, gostava muito de se sentir livre em vez de ser observado por todos como
alguém que “já tem dona”. Ele podia até, em tese, não ser livre para fazer o
que bem entendesse. Mas essa sensação de liberdade... Ah! Isso ele não gostaria
de perder jamais!
— Eu desço aqui. Até!
Dizendo isso, Rita se despediu
de Jorge com o toquinho de mão tão típico em tempos de Covid, levantou-se e
saiu, deixando o rapaz ainda bastante pensativo. Como é que ele havia passado
dois meses inteiros sem se dar conta de que uma moça tão bonita, simpática e
inteligente trabalhava ali, no mesmo horário que ele, bem debaixo do seu nariz?
Que moça alegre e agradável! E o melhor de tudo é que não havia falado nem uma
vez sequer sobre a Covid! “Putz, deu até pra esquecer que a pandemia existe...”,
pensou. Ela carregava todo um frescor de juventude, toda uma alegria que a própria
esposa um dia havia tido também e que tanto o encantara na época do namoro há
15 anos, mas que com o passar do tempo, por qualquer razão desconhecida, havia
se perdido em algum lugar no meio do caminho, entre as pedras cinzentas e duras
do dia a dia.
—
Estação, Rio Grande da Serra. Ao desembarcar...
Jorge
precisou ouvir a voz mecânica dessa gravação do trem para se dar conta de que
já estava na hora de descer. Foi quando notou, também, que Rita havia esquecido
o guarda-chuva ali, largado no chão. Talvez por uma distração comum, daquele
tipo que faz muita gente esquecer um objeto como esse o tempo todo em vários
lugares do mundo. Ou talvez ela estivesse tão encantada com esse encontro entre
ambos que... ”Não, Jorge... Para. Ela é só uma colega de trabalho que quis ser
gentil. Além disso, ela é nova demais, enquanto você é um...”, repreendia-se
ele mentalmente, ao mesmo tempo em que, de modo quase mecânico, pegava o
guarda-chuva para devolver a ela no dia seguinte e, a seguir, atravessava as
portas do trem. “Bom, ela não deve ser assim tão distraída, já que reparou em
você no almoço. E já que ela não é distraída, então esse esquecimento do
guarda-chuva só prova que... Ai, Jorge, deixa de bobagem! Você já tem mulher!
Realidade, camarada!”
Entre
um pensamento e outro, Jorge acabou seguindo em frente, praticamente no
automático. Ademais, como estava chovendo quando ele desceu do trem, acabou
abrindo o guarda-chuva florido e agora o utilizava sem se importar muito com o
fato de ele ter estampas tão femininas — algo com que teria se preocupado muito
em qualquer outra ocasião, alegando afetar a sua imagem masculina. Mas é que
agora estava tão feliz! Tão alegre que até sentiu vontade de parar em algum
lugar para tomar uma garrafinha de refrigerante bem gelada, como fazia nos
velhos tempos. Assim, entrou no Supermercado Serrano, abriu a geladeira e pegou
uma Coca-Cola. “Admite, Jorge. Você ficou caidinho por ela! Ah, se você não fosse
quase 20 anos mais velho e, ainda por cima, casado! Ai, bem que eu podia
trombar com ela por lá amanhã. Aliás, será que ela entra que horas? E se eu
mandar uma mensagem perguntando isso, será que ela vai achar ruim? “, pensou
ele e em seguida digitou: “Oi, td bem? Vc
deixou seu guarda-chuva no trem. Vou levar pra vc amanhã. Aliás, vc entra que
horas? A gente podia ir juntos pra lá. Bom, se vc quiser, claro! Dá um toque
qualquer coisa. Bj!”. Ao reler a mensagem, porém, sentiu receio de parecer ousado
demais e apagou tudo o que escrevera a partir do “aliás”, deixando apenas o
“Bjo!”, enquanto voltava a refletir: “Jorge, Jorge... Cuidado onde vai se
enfiar, antes que...”
— Ô meu filho!? — interrompeu
seus pensamentos uma mulher de semblante rabugento que estava atrás dele na
fila do caixa — Se não vai passar a Coca, me deixa ir na frente, faz favor, que
eu tô com pressa?
Ah, que mulher grossa! Se
Jorge estivesse em outro estado de humor, certamente teria sido tão grosso
quanto ela e respondido à altura, pois detestava levar desaforo para casa. Como
estava de bom humor, porém, apenas pagou a Coca, tomou-a e partiu para casa,
leve como uma pluma.
Assim que chegou em sua casa, pôs-se
a chacoalhar o guarda-chuva molhado antes de entrar e viu que a esposa o olhava
de longe com uma cara muito incomum. Ao observá-la, seu primeiro e ilógico
pensamento foi: “Putz... Eu devo estar com cara de quem conheceu uma pessoa legal
no trabalho hoje, só pode ser esse o motivo do olhar dela.” Mas essa sua conclusão
era tão sem sentido, que bastou a esposa abrir a boca para ele ver o quanto
seus receios eram infundados.
— Como você é fofo, amor!
Obrigada! — exclamou ela com um largo sorriso, primeiramente se aproximando e
parecendo desejar abraçá-lo, para em seguida, por alguma razão, voltar atrás —
Bom, melhor você tomar banho primeiro. Por causa do trem, né? Eu li na Uol hoje
que o corona está evoluindo no Brasil de um jeito assustador... Uma disgrama. Eu
sei que você não é muito ligado nisso, amor, mas a coisa está feia demais.
Imagina você que...
E a esposa pôs-se a despejar
sobre ele, como de costume, tudo o que assistia, via e ouvia sobre a Covid na Globo,
na Record, na CNN e nos grupos de whatsapp. Que Fulano morreu, que Beltrano chorou,
que Sicrano estava enlouquecendo... Ele fingia ouvir, mas no fundo estava era
até agora tentando entender o porquê desse “Como você é fofo, amor!”, que lhe
parecia tão sem sentido. Obrigada pelo quê?
— Bom, mas tirando isso,
adorei a surpresa! E ainda por cima você trouxe roxo! Faz tanto tempo que eu te
pedi, que pensei até que tinha esquecido!
Ah!
Era isso! O guarda-chuva!
“Putz!”, pensou ele ao se dar conta de que
agora, por causa dessa confusão da esposa, ele não poderia devolver o objeto
para Rita no dia seguinte. E o que faria com relação à mensagem enviada?
De
fato, a esposa havia lhe pedido há tempos para comprar um guarda-chuva, pois o
seu estava num estado caótico e ela não tinha condições de sair com ele quando
precisava. Mas Jorge sempre se esquecia de passar em alguma loja e comprar um
na volta do trabalho, o que deixava a esposa muito triste.
— Tudo bem que eu nem tenho
saído muito nos últimos tempos e esse ai vai acabar durando bem mais do que um
guarda-chuva normal, mas o que importa é que você se lembrou. Por isso você
demorou mais pra voltar hoje, né? Aliás... — parou ela de repente, levantando
as sobrancelhas, como se estivesse desconfiada de algo — Onde é que foi achar
lugar vendendo um em pleno domingo?
— C-c-comprei de um velhinho na
rua... — balbuciou ele, um pouco preocupado com o fato de não poder contar a
verdade para a esposa. — Mas por falar em “pleno domingo”, — continuou ele,
tentando mudar o rumo da conversa, antes que a sua situação piorasse — e se a
gente visse um filme hoje à tarde, como nos velhos tempos?
— Ih, amor! Tenho umas coisas pra
terminar do home-office. Eu me perdi aqui de manhã, sabe? Home office é uma
disgrama! Atrasa tudo o tempo todo. Pra mim é muito difícil manter a disciplina
sozinha. Foi mal..
Assim,
como se cada um falasse uma língua completamente diversa, a esposa ficou até às
22h em seu computador na sala trabalhando, enquanto ele se fechou no quarto —
após o banho, é claro — e passou o resto do dia vendo vídeos no youtube,
mexendo no celular e se divertindo na companhia dos heróis da Marvel. Claro que
tudo isso apenas após apagar a mensagem do guarda-chuva, a qual, felizmente, a
jovem Rita ainda não havia visto. No dia seguinte, caso ela mencionasse o
guarda-chuva esquecido, ele fingiria não ter se dado conta do objeto esquecido no
chão do trem.
Ao
contrário do que Jorge havia imaginado, porém, Rita sequer abriu a boca com
relação ao seu objeto perdido quando se cruzaram no dia seguinte em meio ao
corredor de chocolates. Jorge ia ao banheiro e tomou um delicioso susto ao ver
como o acaso os unia naquela manhã ensolarada de segunda-feira. Ela, por sua
vez, não parecia assustada, mas feliz. E aparentemente sem pensar muito, já foi
logo dizendo com sua voz de rouxinol:
—
Deus viu o que você apagou, hein? Foi vergonha do que escreveu? Eu sempre fico
muito curiosa quando apagam mensagens no whats...
Jorge
não soube o que dizer e apenas sorriu por trás de sua máscara. Em seguida, como
quem não quer nada, disse que ao meio dia em ponto ele costumava descer para
almoçar, ao que ela respondeu também costumar comer nesse horário. Assim, os dois
logo se encontraram na fila do refeitório com suas bandejas e outra vez
conversaram como se fossem velhos amigos, o que fez uma boa parte dos funcionários
presentes acharem aquilo realmente muito estranho, pois Jorge era dos mais
calados no mercado e costumava sempre almoçar sozinho num canto.
Após aquele dia, os dois passaram não apenas a
fazer as refeições no trabalho juntos, como também pegar o trem de ida e volta nos
mesmos horários. Fora isso, o contato por whats só aumentava. Os sorrisos e trocas
de indicações musicais, filmes e séries também e, como se não bastasse, toda
vez que Jorge estava em casa e por acaso pousava os olhos sobre o guarda-chuva
roxo a um canto, lembrava-se de Rita. De forma que a sua admiração pela moça se
ampliava a cada dia e, embora se conhecessem há apenas um mês, Jorge percebia suas
indiretas e já começava a notar como a jovem, boa romântica que era, se
mostrava na expectativa de que ele, a figura masculina, tomasse alguma atitude.
Sentindo isso, sua vontade era beijá-la ou pelo menos dizer tudo o que estava
sentindo para que ela entendesse. Falar, por exemplo, que estava muito a fim
dela, mas que era casado e que se não fosse por isso, apenas por isso... “Não,
Jorge, não... Vai estragar tudo! Ela não pode saber que você tem uma esposa!”
Para piorar a sua situação, no
trabalho já comentavam. Todos os dias havia algum burburinho acerca daquele
romance à vista: sobre o fato de ela ultimamente trabalhar cantando ou de ambos
passarem o horário de almoço inteiro conversando ou andando para lá e para cá
como adolescentes encantados. A ponto de um dos colegas da padaria encostar
Jorge contra a parede um dia:
— Por acaso a mina já sabe que
você é casado?
— Não sabe e nem vai saber. Fica
na sua!
— Está errado você ter esposa e
ficar dando esperança para a outra.
Logo Jorge começou a sentir
que talvez o melhor fosse falar com a esposa sobre tudo o que vinha
acontecendo. Dizer a ela que o relacionamento de ambos andava desgastado e que ele
havia se apaixonado por outra, “fazer o quê?”. Porém, ao mesmo tempo em que
pensava em dizer tudo isso, não via sentido em jogar toda uma vida fora, os 15 anos
de um casamento sólido em nome de algo tão incerto. Apesar do frescor da
juventude, do coração acelerado, da felicidade que ele sentia ao ver Rita... como
largar a esposa por uma chuva de verão? Ademais, é claro que ele já poderia ter
beijado Rita e estar vivendo uma vida dupla, traindo a esposa. Mas, embora
fosse essa a sua vontade mais profunda, não conseguia agir de forma a ferir a
moralidade que existia dentro de si e que lhe dizia constantemente ao pé do
ouvido: “Hey, homem. Se for pra ficar com a Rita, então fique por inteiro e
deixe a sua esposa viver a vida dela em paz.” O que lhe restava portanto, era
repetir constantemente para si mesmo em pensamentos: “Se eu pudesse ficar com
as duas! Se morasse no Oriente Médio! Se pudesse juntar ambas numa só!”
Tal confusão só começou a se
resolver de alguma forma quando um dos funcionários do açougue mais
encrenqueiros de todo o mercado sentou-se ao lado de Jorge e Rita durante um
almoço e disse:
— Tu gosta de carne mesmo, hein?
Deixa um pouco pros outros!
— Se quer mais, pede pra Bethânia
servir no seu prato.
— Não tô falando dessa carne.
— Tá falando de qual, então,
Elias? — perguntou Jorge com asco do colega, levando à boca o suco de groselha
ao mesmo tempo em que se perguntava se ele teria coragem de explicitar seu
comentário grosseiro em pleno refeitório, diante de tantas outras mulheres.
— A propósito, irmão... —
respondeu o açougueiro, aparentemente mudando de assunto — Como é que anda a
sua esposa? Nunca mais veio aqui...
Aquele comentário fez não
apenas Jorge engasgar com o suco, como Rita arregalar os olhos, visivelmente
surpresa. De modo que naquele instante, estivesse Jorge em outro local, teria
socado Elias bem na cara. Porém, sendo isso impossível agora que o estrago já
estava feito — “cedo ou tarde isso ia acontecer, eu sabia!” —, Jorge apenas respondeu
baixinho:
— Ela tem trabalhado muito.
Não sobra tempo.
Depois que Elias acabou a sua
refeição e se levantou da mesa, Jorge ficou esperando o chilique de Rita, o
choro ou frases como: “Quer dizer então que você é casado?”. No entanto, ela não
disse qualquer palavra sobre isso e, embora visivelmente afetada e com os olhos
lacrimejantes, apenas tentou falar sobre os assuntos de sempre até dar a hora
de voltarem a trabalhar.
A partir daquele momento,
embora a moça quisesse esconder sua afetação, foi como se um fio fino e frágil
tivesse se partido. Ela foi se afastando cada vez mais, deixando de sorrir e cantar
pelos corredores e, o pior de tudo, perdendo o brilho de seus olhos. Com o
passar dos dias pôs-se a dar desculpas claramente esfarrapadas para não se
encontrarem mais no trem; antes da semana acabar cancelou o seu whatsapp
alegando estar perdendo muito tempo de vida com conversinhas de redes sociais
quando poderia estar usando essas horas para lutar por seu sonho; e, por fim,
cerca de 10 dias após o incidente com Elias, Rita comunicou a Jorge, olhando
para o chão, que havia sido mudada de horário por decisão da empresa e que, por
isso, apenas por culpa do mercado, eles não poderiam mais pegar o trem ou
almoçar juntos.
A súbita mudança de Rita e seu
afastamento silencioso o afetaram de tal modo, que Jorge não conseguia mais
raciocinar nem no trabalho e nem em casa. E passou a se desentender tanto com a
esposa sem qualquer razão, que logo já sentia ser impossível viverem juntos. Ah,
se tivesse percebido isso antes! Havia demorado tanto para se decidir por uma
das duas que acabara incompleto: sem a esposa e sem o flerte. Pois bastava
olhar para a esposa, que ele logo se lembrava de como ela era indiretamente a
culpada por ele ter perdido a companhia tão adorável da outra. E o pior: sem
sequer ter chegado a dar-lhe um beijo! O que o fazia com que tivesse o tempo
inteiro a sensação do “Poderia ter sido e não foi”. Ademais, ele se sentia
surpreendentemente tão deprimido por não ver mais a jovem, que tudo ao redor
lhe parecia cinzento e ele tinha a sensação de estar todos os dias descendo uma
infinita ladeira escorregadia. Por causa disso, já não pensava senão em abrir-se
com Rita de vez! Sim... No dia seguinte. Falaria com ela, explicaria tudo!
Levaria o guarda-chuva ao mercado em sua mochila e devolveria para Rita,
contando como havia existido uma grande confusão desde o início. Diria a ela
que agora, depois desse breve afastamento, ele estava certo do que queria e que
bastaria a ela, Rita, dizer-lhe uma única palavra, uma só, para ele largar a
esposa e ingressar nessa aventura, nessa tempestade incerta. Ele havia repentinamente
perdido o medo. Faria essa escolha e colocaria até uma aliança em seu dedo se
ela assim o desejasse! Louco ou não, largaria tudo por ela! Tudo! Talvez assim,
quem sabe, após esse seu discurso planejado, uma chuva viesse para limpar suas
almas e os dois pudessem andar abraçados debaixo daquele guarda-chuva outra
vez.
No dia seguinte, porém, nada do que ele havia imaginado aconteceu. Já no trabalho e com o guarda-chuva em mãos, tudo o que soube de Rita foi que ela havia pedido as contas sem nenhum motivo concreto na tarde anterior. Ao ouvir essa notícia, apertou bem o objeto entre seus dedos sem saber o que dizer e, como se houvesse no guarda-chuva um lembrete, olhou para ele e recordou-se inexplicavelmente de Wanda, dos 2 Visões e da curta conversa que haviam tido no trem em seu primeiro encontro.
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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