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A Marca do Primogênito: 1x07

Série escrita por Anderson Silva, Gabo Olsen e Marcos Vinicius
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A MARCA DO PRIMOGÊNITO


FADE IN: 

Tela escura. 

LETREIRO:

 

O sacrifício dos ímpios já por si só é detestável;
tanto mais quando oferecido com más intenções.”

(Provérbios, 21:27)

 

FADE OUT. 

INÍCIO DO TEASER. 

CENA 01. MANSÃO DE CAIM. BIBLIOTECA. TARDE. INT. 

Legenda: Londres, Inglaterra. 1429 d. C. 

Visão geral do ambiente. Caim está sentado à frente de Áureo (33 anos, moreno, alto). Ao lado, está Charlie (28 anos, moreno). O livro dos primogênitos está aberto no centro da mesa. CAM destaca o título da página: “Feitiço para capturar a bruxa”.

 

CAIM (v.o.)

Quanto mais eu me aproximava dos meus descendentes, mais fascinados por eles eu ficava. (CAM destaca Áureo) O irmão mais velho é caçador e foi o primeiro que conseguiu enfrentar Serafine. (CAM destaca Charlie) O irmão mais novo nasceu com habilidades para magia, herdado de sua mãe. A história desses rapazes é triste! Na infância, ambos presenciaram seus pais serem mortos por Serafine. Isso foi uma resposta da bruxa, por Áureo tê-la desafiado aos 12 anos de idade. Desde então, um sempre esteve ao lado do outro e juraram acabar com a mulher que destruiu sua família.  Ambos formavam uma ótima dupla, da qual eu acreditei que poderiam vencer no final. 

 

CAIM

Vocês são os primeiros que estão vendo este feitiço. Se ele realmente funciona, isso eu não sei. Mas se conseguirmos neutralizar o poder da bruxa, já será uma vitória nossa.

 

Áureo pega o livro e o aproxima de si. Charlie chega mais perto do irmão, observa a página.

 

CHARLIE

Isso é um feitiço complexo. Exige muitos ingredientes. (retorna para a sua posição inicial)

 

CAIM

Tenho todos aqui, neste local. Precisamos apenas da bruxa.

 

ÁUREO

E como vamos fazer isso? (coloca o livro sobre a mesa).

 

CAIM

Serafine precisará de almas para se fortalecer. Ela fará seu ritual em alguns dias, precisamos saber onde será. 

 

ÁUREO

Aquela bruxa tem uma legião de seguidores. Almas é o que não vai faltar pra ela.

 

CAIM

Essa é a nossa vantagem. 

 

A cena continua em off. Caim volta a narrar.

 

CAIM (v.o.)

Os seguidores de Serafine iriam nos levar até ela. Rapidamente Charlie conseguiu encontrar um e com a ajuda de um dos seus feitiços, descobrimos o local onde a bruxa faria o seu ritual.

 

CENA 02. FLORESTA. NOITE. EXT. 

Serafine caminha por uma trilha, usando um capuz de coloração vermelho vinho. Em passos lento, vai em direção a vozes femininas, repetindo palavras em uma língua estranha. 

CAM corta para um altar montado em uma área aberta. É mostrado um grande número de mulheres usando capuz semelhante ao de Serafine. Todas estão dando voltas em torno do altar, de cabeça baixa, fazendo movimentos repetitivos, ambas em sincronia.  

Ao se aproximar do grupo, Serafine retira o capuz de sua cabeça e observa o grupo de mulheres. Imediatamente, todas param de andar, se ajoelham no chão e abrem caminho para ela, que vai até ao altar, onde é revelado uma garota de estatura média, pele clara e cabelos pretos. CAM revela que trata-se de Ayla, que está deitada sobre uma mesa de mármore, usando um longo vestido branco e com braços e pernas acorrentados à mesa. 

Distante dali, em um outro ângulo, CAM destaca Charlie e Áureo por trás de alguns arbustos, observando o ritual. O irmão mais velho está segurando um rifle Ferguson, enquanto o mais novo, segura um livro de magia e uma bolsa de couro no ombro.  

CAM destaca o altar.

 

SERAFINE

Minha, menina... (acaricia o cabelo da garota) seu sacrifício servirá para o bem maior! 

 

Ayla a observa, com um semblante feliz no rosto.

 

SERAFINE

Sua alma servirá como energia para mim, assim como as de suas irmãs me serviram. 

 

AYLA

Tudo para o bem maior!

 

SERAFINE (sorri)

Tudo para o bem maior!

 

A bruxa se distancia da mesa, indo em direção a outra menor, com algumas velas, livros, itens de magias e uma adaga de prata. Ela pega o item, enquanto pronuncia algumas palavras. As mulheres ao redor continuam ajoelhadas no chão, e voltam a recitar palavras estranhas.

 

ÁUREO

É agora, irmão! Chegou a hora de colocarmos um ponto final nessa história.

 

Os dois irmãos se entreolham, parecem esperançosos. Charlie senta-se no chão, coloca a bolsa de couro ao lado e retira alguns itens mágicos. Abre o livro entre suas pernas e começa a preparar um pequeno feitiço.

 

SERAFINE (tom alto)

Alegram-se minhas meninas! (vira-se para a multidão de mulheres) O momento chegou!

 

Todas as mulheres erguem suas cabeças e revelam-se seus rostos. Todas com uma faixa etária de 16 a 20 anos. 

 

SERAFINE (a Ayla)

Em breve, você será parte de mim, jovem menina! 

 

Se aproxima da garota, empunha a adaga e se prepara para enfiar no peito de Ayla. 

 

AYLA (sorri, fecha os olhos)

Que seja feita a sua vontade! 

 

Serafine ergue os braços para o alto, impunha firme a adaga e antes que enfiasse no corpo da garota, um tiro é acertado no objeto, o fazendo cair da mão da bruxa.

 

SERAFINE (surpresa)

Mas o que? (vira-se) Vejo que vocês conseguiram me encontrar! (sorri) 

 

A multidão de garotas se assustam ao ver Áureo e Charlie. Ambas se levantam e os observam com uma expressão séria no rosto.

 

ÁUREO

É, irmão, pelo visto conseguimos chamar a atenção do ninho de bruxas.

 

CHARLIE

Essas mulheres não são nosso problema. A bruxa no altar, sim.

 

Áureo logo se atenta a Serafine, aponta sua arma para ela.

 

SERAFINE

Meninos, porque vocês insistem em fazer isso? (se afasta de Ayla) Eu sei muito bem como essa história irá terminar. E ela não acabará bem para um de vocês. 

 

ÁUREO

Também sabemos como esse seu ritual irá terminar. Você precisa de cinco almas para renovar sua magia, bruxa. (exibe seu punho) Afinal, manter essa marca sedenta por sangue durante séculos, não é uma tarefa fácil, até mesmo para uma bruxa idosa como você. (ri)

 

SERAFINE

Como vocês sabem do meu ritual? Já sei! Caim contou a vocês, não foi?

 

CHARLIE 

Ele contou bem mais que isso! (ergue a mão direta a sua frente) Quod Videtur! (a adaga de prata aparece em sua mão) Sem arma, sem ritual!

 

Serafine não demonstra surpresa com aquilo, começa a rir.

 

SERAFINE (gargalhada)

E quem disse que eu preciso disso? Há inúmeras formas de se matar alguém. (a Ayla) Mortem Sine Aere

 

Ayla sente-se sufocada. Sem ar, ela começa a se contorcer sobre a mesa de mármore. 

 

SERAFINE (a Charlie)

Viu, só? Eu só preciso da alma dela! 

 

Áureo olha para o irmão, tenso.

 

ÁUREO

Promete que não vai deixar ela te pegar.

 

CHARLIE (confiante)

Não se preocupe, irmão. Não sou mais aquele garotinho, que precisa da proteção do irmão mais velho. (a Áureo) Vamos vencer essa luta juntos.

 

Charlie retira de sua bolsa o livro que segurava momentos atrás. O abre em uma página específica, encara Serafine. Ayla continua sentindo-se sem fôlego ao lado.

 

ÁUREO

A gente se vê em breve. (se prepara para alguma coisa)

 

CHARLIE

Sabe de uma coisa, bruxa? Também existem mais de uma forma de desaparecer com uma pessoa! Vamos brincar de esconde-esconde, bruxa?! (sorri, olha para o livro) Munus Mutatio

 

Áureo e Ayla desaparecem dali. Serafine olha para a mesa de mármore e não vê a garota. Isso a deixa furiosa.

 

SERAFINE

O que você fez? Para onde você mandou a garota?

 

CHARLIE

Por que não vem você mesmo descobrir? Ignis Aeternus Circulus!

 

Imediatamente um imenso círculo de fogo com chamas azuis e alcançado um metro de altura, é formado ao redor de Serafine e de suas seguidoras. A bruxa fica irritada com aquela provocação do rapaz. Charlie a encara por alguns segundos, sorri e sai correndo dali.

 

SERAFINE (furiosa)

É isso mesmo que vocês querem? Brincar comigo? Então vamos brincar, meus ratinhos! 

 

CAM destaca seu sorriso maquiavélico. Sem fazer nenhum gesto ou feitiço, Serafine desaparece do local. Corte para uma visão superior do local. O círculo de fogo continua alto, as seguidoras de Serafine se mantêm presas e parecem desesperadas. 

 

CAIM (v.o.)

Nesse momento, meu coração encheu de alegria ao ver que os rapazes haviam começado bem. Entretanto, o que acontece a seguir, só confirma o quão cruel é Serafine. 

 

CAM destaca Charlie correndo entre a floresta o mais rápido que pode.  

FIM DO TEASER. 

CENA 03. CASA. NOITE. EXT. 

Uma mão de criança pousa sobre a campainha ao lado da porta branca e aperta. O sinal ecoa. Acima da porta o número 413 em dourado. 

A porta é aberta e Abner (19 anos, cabelos pretos espetados, usando jaqueta de couro e calça jeans) aparece com um copo de cerveja na mão. Se espanta. 

POV de Abner: duas crianças - uma menina (10 anos, loirinha, fantasiada de bruxa) e um menino (9 anos, pele clara, gordinho, com uma fantasia de Batman).

 

MENINO/MENINA

Doces ou Travessuras?

 

Eles estendem os braços, cada um com um cestinho.

 

ABNER

Deram sorte! Hoje tem muitos doces por aqui.

 

Abner larga o copo de cerveja sobre um balcão ao lado da porta e pega balas e chocolates de dentro de um frasco de vidro, os colocando nos cestinhos das crianças, que se olham sorrindo.

 

MENINO/MENINA

Obrigado, tio.

 

Abner sorri enquanto as crianças dão as costas se dirigindo para a casa vizinha. 

Verônica (19 anos, loira de cabelos cacheados e maquiagem pesada, usando trajes curtos e pretos) aparece abraçando Abner por trás. Suas mãos se entrelaçam no peito do rapaz.

 

VERÔNICA

Quem era?

 

ABNER

Crianças pedindo doces.

 

Abner acaricia as mãos de Verônica sobre seu peito.

 

ABNER

Espero que eles cheguem logo. Senão mais crianças aparecem e os doces estão acabando.

 

Verônica se desfaz do abraço. Olha as horas no seu relógio de pulseira de couro.

 

VERÔNICA

Já devem "pintar" por aí a qualquer momento.

 

Ela se aproxima colocando a mão e virando o rosto de Abner lhe dando um beijo.

 

VERÔNICA

Vou buscar minha bolsa.

 

Abner se distrai olhando para a rua. 

POV de Abner: várias crianças fantasiadas passando de casa em casa na vizinhança pedindo doces.  

Uma batida de música eletrônica parece estar cada vez mais próxima. Abner olha para a esquina e vê um carro preto conversível se aproximando. O veículo estaciona na rua em frente. 

Dentro estão o motorista Lucca (20 anos, loiro alto de corpo atlético, usando jaqueta e calça jeans). Ao seu lado está Stefhany (18 anos, cabelos lisos e pretos e pele clara, usando um vestido preto colado no corpo) e, no banco de trás, está Jeffy (17 anos, moreno de cabelo Black Power e camisa xadrez). Ele está sério e preocupado, diferente de Lucca e Stefany que gritam chamando Abner e Verônica. 

Verônica surge na porta com sua bolsa já puxando Abner pela mão. Ele passa a chave na porta. Correm e saltam para o interior do veículo que sai cantando pneu. 

A batida eletrônica aumenta gradativamente enquanto a CAM sobe lentamente. 

Surgem os caracteres em letras de sangue: DIA DE HALLOWEEN. 

A risada assustadora de uma bruxa predomina sobre a batida eletrônica.

CORTA PARA 

 

1x07 - SACRIFÍCIO - PARTE 1

 

CENA 04. RODOVIA. NOITE. EXT. 

O carro preto conversível surge após a curva entrando em uma grande reta em alta velocidade. 

Escuta-se a batida eletrônica da música a todo volume e os gritos eufóricos de quatro jovens no interior do veículo, exceto de Jeffy, que mantém o olhar fixo pro lado de fora e a expressão fechada.  

O carro passa em alta velocidade pela rodovia deserta. 

CENA 05. CARRO. NOITE. INT. 

Verônica, sentada no meio de Jeffy e de Abner, cutuca o jovem de Black Power.

 

VERÔNICA

Que houve, Jeffy? Não tá animado com a noite de hoje?

 

Stefhany olha para trás sorrindo.

 

STEFHANY

O Jeffy tá com essas manias de mal pressentimento.

 

Lucca mantém as mãos fixas no volante e olha pelo retrovisor para Jeffy, no banco atrás dele.

 

LUCCA 

Fala pra eles, Jeffy! Conta o que você nos contou antes de sairmos de casa!

 

Stefhany baixa o volume do rádio.

 

ABNER

Estamos curiosos agora. Conta aí, Jeffy.

 

Jeffy, pela primeira vez durante todo o percurso, tira os olhos da janela e encara os amigos.

 

JEFFY

Foi um sonho que tive ontem à noite. Um sonho não, um presságio.

 

Ele consegue a atenção de todos.

 

JEFFY

Vocês podem não acreditar, acharem que eu tô louco, mas nós não deveríamos fazer isso. Essa casa que vamos é um lugar mal assombrado.

 

Lucca diminui a velocidade entrando em uma curva e logo depois volta a pisar fundo.

 

LUCCA (rindo)

Acredita em fantasmas, Abner?

 

Todos caem na gargalhada. Jeffy permanece sério.

 

STEFHANY

É sério isso, Jeffy? Não gosto de mexer com essas coisas.

 

LUCCA 

Ahh, amor. Não pode ser que tu vai ficar com medinho agora?

 

Lucca troca a marcha e coloca a mão sobre a coxa da namorada ao seu lado.

 

LUCCA

Relaxa.

 

Ele acelera mais. 

POV de Lucca: a reta que parece não ter fim da estrada deserta à frente. 

Quando Stefhany olha para a frente segura-se com ambas as mãos embaixo do banco e grita apavorada. Todos se assustam.  

Lucca freia bruscamente e o veículo desliza até parar.

 

ABNER

Que foi isso?

 

Todos se olham.

 

STHEFANY

Vocês não viram?

 

LUCCA 

Ver o quê, amor? Você tá louca?

 

VERÔNICA

Meu Deus! Estão todos bem?

 

Jeffy está paralisado olhando para fora.

 

STEFHANY

Tinha um bode preto de olhos vermelhos no meio da estrada. Não é possível que vocês não viram!

 

LUCCA 

Você tá louca! (abrindo a porta e saindo) Não tem bode nenhum aqui.

 

Todos saem do veículo, menos Jeffy que continua paralisado. 

Lucca abre o capô verificando se está tudo ok. Os outros três observam a estrada e a mata fechada de ambos os lados.

 

JEFFY

Pessoal?

 

Ninguém lhe dá bola.

 

JEFFY 

Pessoal? Entrem. Vamos seguir. Entrem rápido!

 

Stefhany é a primeira a atender o pedido do amigo. 

 

STEFHANY 

Gente, entrem de uma vez. Não vamos ficar parado aqui no meio do nada.

 

Lucca bate fechando o capô e sua expressão congela olhando em direção à estrada atrás do veículo.

 

LUCCA

Abner. Verônica. Entrem rápido. Vamos. Vamos!

 

Todos entram no carro e Lucca dá a partida. O carro segue adiante enquanto a CAM sobe lentamente mostrando um bode preto parado na estrada. Ele bate os cascos no chão e, quando levanta a cabeça, revela seus olhos vermelhos.

 

CORTA PARA

 

CENA 06. CASA ABANDONADA. NOITE. EXT. 

Uma casa antiga feita de pedra no alto de uma colina, rodeada por uma densa floresta e uma estrada de terra, que mais parece que nunca foi atravessada por carro nenhum.

Um clarão na colina atrás da casa e o barulho ensurdecedor de um trovão assusta um bando de corvos que levantam voo ganhando o céu escuro. 

Escuta-se o ronco do motor do carro conversível se aproximando pela estrada de terra. Lucca, o motorista, estaciona há alguns metros da entrada da casa. Os cinco jovens descem do veículo e ficam perplexos olhando a construção antiga.

 

STEFHANY

Não se parece em nada com a foto. (segurando e olhando uma foto)

 

Lucca arranca a foto da mão da namorada e olha.

 

LUCCA 

É muito mais assustadora!

 

Abner abraça Verônica.

 

ABNER

Lugar ideal pra nossa noite de Halloween, não acha amor?

 

Verônica sorri se aconchegando nos braços do namorado.

 

VERÔNICA

Com certeza. E eu quero beber, fumar e aproveitar cada segundo. Mas olhando bem, este lugar me dá arrepios. (se vira e encara Abner). Me lembra muito aquele internato daquela história que lemos: o Santa Helena.

 

ABNER

Ahhh, você tem razão. Mas acho que aí não tem nenhum menino raquítico de cabelos encaracolados, não.

 

Ambos sorriem. Verônica lhe dá um beijo. 

Jeffy está quieto observando ao redor. Lucca se vira para ele.

 

LUCCA 

Que acha, Jeffy? Já passou a paranoia?

 

Todos riem.

 

JEFFY 

Ainda acho que estamos fazendo merda. (olha para a estrada e para a floresta). Mas agora já é tarde demais pra voltar atrás.

 

LUCCA 

Relaxa brother. Pega as cervejas no porta-malas e vamos entrar.

 

Lucca puxa Stefhany pela mão e ambos saem correndo em direção à casa.

 

LUCCA 

Uhuuuu! Esta noite é nossa!

 

Abner e Verônica acompanham eles. Jeffy balança a cabeça negativamente, sente um arrepio percorrer seu corpo e olha em direção à floresta. 

POV de Jeffy: o topo das árvores balança e o uivo do vento quebra o silêncio daquele lugar. 

Jeffy abre o porta-malas, pega rapidamente uma caixa de isopor com as bebidas, fecha novamente o porta-malas e sai em direção aos amigos. 

CENA 07. CASA ABANDONADA. NOITE. INT. 

Escuridão total. A porta principal se abre deixando a luz do luar entrar revelando um amplo salão aberto com armários antigos e sofás empoeirados. Pelas paredes quadros antigos pendurados, todos exalando o cheiro de pó. 

Lucca e Stefhany adentram o recinto impressionados com o que veem. Mais atrás surgem Abner e Verônica. Também impressionados observam cada detalhe.

 

LUCCA 

Olhem esse lugar!

 

ABNER 

Meu irmão, olha isso!

 

Abner fica em frente a um quadro antigo pintado à mão. 

POV de Abner: um quadro com moldura de madeira onde há uma família toda de preto posicionada estrategicamente em frente àquela mesma casa que eles estão. No céu, atrás, nuvens carregadas. 

Verônica se aproxima abraçando Abner.

 

VERÔNICA

Este lugar me dá arrepios!

 

LUCCA (grita do outro lado do salão)

Ei, Abner. Olha aqui!

 

Abner se desfaz do abraço de Verônica e vai pro outro lado. Ela, por sua vez, fica olhando para o quadro, curiosa. Devagar, aproxima seus olhos da pintura assustadora. 

Jeffy chega na porta, larga o isopor com as bebidas e esbarra em um cabideiro ao lado da mesma, derrubando-o. O estrondo assusta os demais que logo se viram para ele.

 

STEFHANY 

Está tudo bem, Jeffy? Que susto!

 

Ela o ajuda a levantar o cabideiro de madeira.

 

LUCCA 

Aí Jeffy! (se aproxima) Relaxa, meu amigo. Esse lugar tá cem por cento seguro!

 

Jeffy sorri sem jeito enquanto lança seu olhar atento para tudo ao seu redor. Nota que Verônica está incomodada com aquele quadro na parede, pois mesmo com o susto, ela volta sua atenção para ele.

 

JEFFY 

Você também viu, né? (se aproxima de Verônica)

 

Ela o encara. Passa a mão nos cabelos enquanto sorri um sorriso amarelado de preocupação.

 

JEFFY 

É o mesmo quadro que apareceu em um dos meus sonhos. E ela está ali, você viu, não é?

 

Verônica está apreensiva. Olha novamente para a pintura e, com a mão trêmula, aponta com o dedo indicador para além da família no quadro. Aponta para uma janela no andar superior, onde há, claramente, a figura de uma mulher de preto com um véu na cabeça. Ela parece estar sorrindo enquanto a família tira fotos felizes.

 

CORTA PARA

 

CENA 08. CASA DE AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

Ayla entra em seu quarto simples e aconchegante e fecha a porta ficando parada alguns segundos escorada na mesma, pensativa.

Decidida, caminha firme até seu roupeiro de portas grandes e duplas e as abre. 

POV de Ayla: vários casacos pendurados. 

A mão de Ayla retira os cabides, sem se preocupar com as roupas, e os joga em cima da cama. 

À sua frente, posterior às roupas, um pequeno altar com uma vela preta acesa. 

Ayla fecha os olhos debruçando-se sobre o altar com as mãos entrelaçadas. Ela pronuncia algumas palavras indecifráveis e um clarão se faz presente no fundo do roupeiro abrindo uma grande esfera. 

Ayla levanta o corpo, abre os olhos, ergue para o alto as duas mãos e... 

CLOSE no rosto de Ayla: ...um sorriso abstruso estampa sua expressão.

 

CORTA PARA

 

CENA 09. CASA ABANDONADA. QUARTO. NOITE. INT. 

Lucca e Stefhany entram no quarto escuro aos beijos e abraços. Ele bate com a mão no interruptor acendendo a luz amarelada que ilumina um cômodo simples com uma cama de casal, uma cômoda velha e um roupeiro caindo aos pedaços.  

Stefhany arregala os olhos e empurra Lucca.

 

LUCCA 

Ahhh, que foi amor?

 

Ele ainda tenta abraçá-la novamente, mas ela o empurra novamente.

 

STEFHANY

Olha esse lugar, Lucca!

 

POV de Stefhany: o roupeiro com uma das portas entreaberta e torta.

 

LUCCA 

Não achou que estávamos vindo pra um hotel cinco estrelas, não é?

 

STEFHANY 

É claro que eu sei. Mas também não imaginei que estaria vindo pra um muquifo destes...

 

POV de Stefhany: se aproximando lentamente do roupeiro, quando de repente um gato preto mia e salta de dentro do roupeiro fazendo com que a porta velha vá ao chão. 

Stefhany grita assustada enquanto o bichano pula por uma fresta na janela. Lucca se aproxima e abraça a namorada, conformando-a.

 

FUSÃO PARA

 

CENA 10. CASA DE AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

Um gato preto salta no parapeito da janela e mia. Ayla sorri.

 

AYLA 

Bem na hora, gatinho.

 

Ayla pega o felino no colo acariciando-o. Vai até o altar dentro do roupeiro e pega uma tesoura pontiaguda. Acaricia carinhosamente a cabecinha do gato.

 

AYLA 

Você me entende, não é mesmo? É por ela. É pelos descendentes de Caim.

 

O gato, com os olhos arregalados, encara Ayla enquanto mia já parecendo saber o seu fim.

 

CORTA PARA

 

CENA 11. CASA ABANDONADA. QUARTO. NOITE. INT. 

Lucca está deitado nu enquanto Stefhany, também nua, cavalga e geme sobre ele com os olhos fechados. Ele apalpa seus seios e o seu gemido vai se tornando mais forte e alto, quase como um uivo de dor. 

Stefhany abre os olhos e grita apavorada. 

POV de Sthefany: cortes feitos por garras afiadas começam aparecer no peito e barriga de Lucca. Ele uiva de dor e chora. Ela se afasta e cai ajoelhada próxima à cômoda. 

Lucca estende uma mão como se pedindo ajuda, mas os cortes não param de aparecer, até que suas forças se acabam e ele apaga.

 

STEFHANY

Nãaaaaaaaaaoo!

 

CORTA PARA

 

CENA 12. CASA ABANDONADA. SALA. NOITE. INT. 

Verônica está sentada no colo de Abner e ambos estão bebendo, cada um com uma garrafa em mãos. Jeffy está de pé próximo da janela segurando uma latinha de cerveja e olhando para o nada lá fora. 

O grito apavorado de Stefhany desperta a atenção dos três que correm em direção à escada e se deparam com a amiga descendo, chorando, cambaleando, enrolada em um cobertor.

 

VERÔNICA

O que foi, Stefhany?

 

Verônica sobe alguns degraus para amparar a amiga. Abner passa por elas e sobe. Jeffy está confuso, não sabe se ajuda elas ou se acompanha Abner.

 

STEFHANY

Lucca! Ele… ele está morto, Verô!

 

VERÔNICA

Morto? Como assim?

 

Verônica coloca Stefhany sentada em uma poltrona e se ajoelha à sua frente.

 

VERÔNICA

O que aconteceu lá em cima?

 

Jeffy, escorado no corrimão da escada, olha para as duas.

 

JEFFY

Já tá acontecendo, não tem mais como fugirmos.

 

Escuta-se o grito de Abner lá em cima.

 

ABNER

Ohh céus! Que merda é essa?

 

CORTA PARA

 

CENA 13. CASA DE AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

CLOSE em um cesto de lixo. O pé de Ayla pisa abrindo a tampa. O gato preto ensanguentado cai dentro da lixeira. Ayla tira o pé e a tampa se fecha. 

Ayla passa as mãos nos cabelos. Sorri satisfeita. Suspira fundo. Vai até a janela entreaberta por onde entra uma brisa que balança as cortinas e fecha os olhos respirando profundamente. 

Um outro gato preto salta no parapeito e começa a se esfregar em Ayla, que abre os olhos e logo o pega no colo.

 

AYLA

Vamos, meu amiguinho. Chegou tua vez de ajudar nessa missão.

 

O gatinho mia em seu colo enquanto ela se vira e fecha a cortina.

 

CORTA PARA

 

CENA 14. CASA ABANDONADA. SALA. NOITE. INT. 

Abner vem da cozinha com um copo de água e entrega para Stefhany, que ainda chora sentada na poltrona. Verônica caminha de um lado para o outro e Jeffy está pensativo novamente na janela.

 

VERÔNICA

Droga! Droga! Droga! Que nós vamos fazer agora?

 

Abner se aproxima e a abraça tentando acalmá-la. 

Um trovão rasga o céu e as luzes começam a piscar uma, duas, três vezes, até se apagarem por completo.

 

ABNER

Ahh, não. Mais isso agora! Eu vi uma porta debaixo da escada. Se não me engano ali fica os disjuntores.

 

Abner liga a lanterna do celular, coloca Verônica sentada perto de Stefhany e sai. Jeffy permanece imóvel na janela.

 

VERÔNICA

Jeffy, tá tudo bem?

 

Sem respostas.

 

VERÔNICA

E você, amiga? 

 

STEFHANY

Eu tô em choque, Verô. A gente tava transando, porra! E ele morreu como se alguém estivesse arranhando ele!

 

Stefhany chora. Deita a cabeça no ombro de Verônica. Escutam umas batidas.

 

VERÔNICA

Abner? 

 

Silêncio constrangedor.

 

VERÔNICA

Amor? Tá tudo bem?

 

ABNER

Sim! (toma mais alto) Porta tá emperrada. Tô tentando abrir.

 

Escuta-se ele fazendo força para abrir.

 

ABNER

Jeffy? Pode dar uma mão aqui?

 

FUSÃO PARA

 

CENA 15. CASA DE AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

Ayla está diante do altar dentro do roupeiro. À frente dela uma corda grossa trançada e o gatinho preto deitado, em paz, cochilando. 

Ayla balbucia algumas palavras indecifráveis. Levanta ambas as mãos para o alto e fecha os olhos por alguns segundos. As velas pretas acesas ganham uma chama mais intensa. O felino desperta e se espreguiça. Ayla abre os olhos e sorri. Pega o gatinho no colo. 

O felino se aconchega no ombro de Ayla enquanto ela, com uma mão, pega a corda grossa. Vai balbuciando algo baixinho e acariciando o pêlo do bichano e, ao mesmo tempo, colocando a corda sobre o pescoço do gatinho. Ele se agita e ela aperta um pouco a corda. Larga-o no chão e deixa ele caminhar um pouco pelo quarto.

 

FUSÃO PARA

 

CENA 16. CASA ABANDONADA. SALA DEBAIXO DA ESCADA. NOITE. INT. 

Com a lanterna do celular, Abner ilumina a pequena salinha com várias prateleiras com frascos vazios e empoeirados e algumas quinquilharias pelo chão. Jeffy o segue de perto. 

Abner joga a luz da lanterna do celular para uma parede atrás de uma prateleira ao fundo, onde há uma pequena abertura com uma portinha de ferro com trinco.

 

ABNER

Ahh, deve ser ali.

 

Abner começa a tirar do caminho os frascos.

 

ABNER

Jeffy, me ajuda aqui.

 

Não tem resposta nenhuma.

 

ABNER

Quem é que guarda tanta porcaria e tanto vidro vazio. Gente maluca!

 

Silêncio.

 

ABNER

Jeffy?(se vira) Tá me ouvindo cara?

 

Ele aponta a luz do celular e não vê mais o amigo.

 

ABNER

Porra, Jeffy! Nem pra ajudar aqui.

 

Se vira novamente para a prateleira e, sem querer, esbarra em um frasco de vidro que se espatifa no chão.

 

ABNER

Merda! Merda! Merda!

 

Ele aponta a luz da lanterna do celular para o chão onde há vários cacos de vidros. A lanterna se apaga de repente.  

Tudo escurece por longos segundos agoniantes. 

CENA 17. CASA ABANDONADA. SALA. NOITE. INT. 

Jeffy aparece na sala. Verônica consola Stefhany na poltrona. Celulares com as lanternas ligadas em cima da mesa de centro.

 

VERÔNICA

Acharam, Jeffy? Cadê o Abner?

 

Jeffy passa por elas e se escora na janela novamente.

 

JEFFY 

Ele tá lá dentro. Já vai acabar.

 

CENA 18. CASA ABANDONADA. SALA DEBAIXO DA ESCADA. NOITE. INT. 

Tudo escuro. Escuta-se o murmúrio de Abner. 

A luz forte do lugar se acende de repente e revela Abner com uma corda amarrada em volta do pescoço. Ele está suspenso pela corda que está presa em uma viga no teto. Com as mãos ele tenta tirar a corda enquanto a ponta dos seus pés tocam o assento de uma pequena banqueta. 

CENA 19. CASA ABANDONADA. SALA. NOITE. INT. 

A luz voltou. Verônica se levanta.

 

VERÔNICA

Fica aqui, amiga. Eu vou lá ver se o Abner precisa de ajuda.

 

Ela se vira para Jeffy, que continua no mesmo lugar.

 

VERÔNICA

Porque pelo jeito o Jeffy não tá nem aí pra o que tá acontecendo.

 

Verônica caminha até a portinha debaixo da escada. Sente um arrepio e se encolhe em seus braços. 

CLOSE em sua mão pousando sobre a maçaneta da porta e a girando. Lentamente empurra a porta que range.

 

VERÔNICA

Abner? (T) Amor?

 

POV de Verônica: a sala toda escura. Ela tateia a parede interior à procura do interruptor. A luz se acende.

 

VERÔNICA

Amorrr! Nãaaaaaaao!

 

A banqueta está caída e o corpo de Abner está suspenso pendurado pela corda. Seus olhos esbugalhados e a cabeça inclinada para a esquerda.

 

CORTA PARA

 

CENA 20. CASA DE AYLA. NOITE. EXT. 

O vento sopra pela calçada de pedra levantando algumas folhas secas enquanto se escuta o seu uivo. A CAM acompanha uma folha amarelada que voa há alguns centímetros do chão até se chocar contra a parede externa da casa. 

Escuta-se um forte estrondo e o corpo de um gato preto aparece suspenso por uma corda amarrada ao seu pescoço. 

CAM sobe até chegar na janela do quarto de Ayla, onde ela debruça-se no parapeito olhando o felino lá embaixo com um sorriso estampado em seu rosto. 

Ayla olha para o céu carregado.

 

AYLA

Está saindo tudo como o planejado. Logo tudo estará nos seus devidos lugares. Ainda restam três almas e...

 

Ayla olha para a rua deserta onde um outro felino preto, todo peludo, sai de trás de um arbusto e caminha em direção à residência.

 

AYLA

...Serafine será cada dia mais forte!

 

CORTA PARA

 

CENA 21. QUARTO DE HOTEL. NOITE. INT. 

Caíque mexe no notebook sentado diante de uma mesa pequena de madeira. Está concentrado em alguma página de internet enquanto Alexandre está deitado de olhos fechados em uma das duas camas de solteiro no quarto.

 

CAÍQUE

Olha isso! Halloween! Lembro de muitas histórias que Domeni contava quando eu era pequeno. Sempre acreditei que pudesse ser verdade.

 

ALEXANDRE

E são. (sem abrir os olhos) Todas têm um fundo de verdade.

 

CAÍQUE

Você não vai acreditar. Olha só isso que encontrei! casossinistros.com.

 

Alexandre abre os olhos.

 

ALEXANDRE

Eu acredito.

 

Ele ri e senta na cama.

 

ALEXANDRE

Sou cadastrado neste site. Ainda não fui verificar nada que tenha sido colocado aí, mas tô por dentro de tudo que colocam.

 

Caíque está surpreso com o que lê na tela do notebook.

 

CAÍQUE

Então quer dizer que tem vários como nós por aí e, aqui neste site, se comunicam para compartilhar estes casos?

 

ALEXANDRE

Sim! O mundo está cheio de caçadores de sobrenatural. Pessoas que buscam levar algum alento para quem sofre com alguma entidade ou algo assim.

 

Alexandre levanta, vai até a geladeira, abre e pega uma garrafa de água. Tira a tampa e bebe.

 

ALEXANDRE

Agora vou tentar dormir um pouco. Tô precisando.

 

Alexandre volta para a cama e se deita.

 

ALEXANDRE

Você deveria fazer o mesmo.

 

Caíque não dá bola. Está vidrado na página que encontrou. Rola a tela e vai lendo o conteúdo do site.

 

CORTA PARA

 

CENA 22. CASA ABANDONADA. SALA. NOITE. INT. 

Os corpos de Lucca e de Abner estão lado a lado no meio da sala. Verônica anda de um lado pro outro angustiada, roupa ensanguentada. Stefhany chora com ambas as mãos no rosto e Jeffy está de pé olhando compenetrado para os corpos dos amigos mortos, também com a roupa ensanguentada.

 

VERÔNICA

Eu já não sei nem o que pensar.

 

Stefhany limpa os olhos vermelhos de tanto chorar.

 

STEFHANY

Nós temos que ir embora daqui.

 

JEFFY 

Não tem como.

 

No que ele termina de falar um trovão rasga o céu fazendo um tremendo barulho e as luzes começam a piscar até tudo se apagar. Stefhany e Verônica se assustam e gritam. Jeffy tateia os móveis e caminha até a janela.

 

JEFFY 

Há uma força muito maior que não nos deixará sair daqui. Ou melhor, não nos deixará vivos.

 

STHEFANY

Jeffy, para com isso! Tu tá me deixando com medo de verdade agora.

 

Escuta-se passos na escada. Algo que intriga a todos, pois não é para ter mais ninguém na casa além deles três.

 

VERÔNICA

O que é isso? Quem tá aí?

 

E seus dois braços se estendem lateralmente de uma forma brutal fazendo a jovem gritar de dor, enquanto um clarão se posiciona somente sobre ela.  

Com os olhos arregalados, ela vê o seu corpo começar a levitar. Tenta mexer os braços, mas parece que eles estão amarrados. Jeffy, incrédulo, se aproxima da cena devagar. Stefhany se agarra nele e começa a chorar.

 

STHEFANY (assustada)

O que tá acontecendo aqui, Jeffy?

 

JEFFY (assustado)

Eu… eu não faço a menor ideia.

 

Ambos viram os rostos quando ambas as pernas de Verônica também foram forçadas lateralmente como se estivessem amarradas e sendo puxadas com força. Seu grito de dor é assustador. Ela chora olhando para os amigos. 

CLOSE do seu ombro direito, onde a carne começa rasgar. Uma risada amedrontadora toma conta do ambiente vindo da escada. Tudo escurece e o grito de dor de Verônica e o choro soluçado de Stefhany se misturam com as risadas.

 

CORTA PARA

 

CENA 23. CASA DE AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

O pobre felino preto está em cima da mesa do altar, desacordado, de barriga para cima e as quatro patas amarradas com uma corda bem esticada lateralmente.  

Ayla derrama um óleo sobre ele enquanto balbucia algumas palavras. Na medida em que ela fala e o óleo é derramado, uma força sobrenatural puxa as quatro amarras.  

CAM DESFOCA da imagem do gato.

 

CORTA PARA

 

CENA 24. CASA ABANDONADA. SALA. NOITE. INT. 

Tudo está em silêncio absoluto. Sthefany está desesperada batendo com os punhos cerrados contra a porta fechada. Jeffy apenas a observa. 

Jeffy olha para o outro lado onde está os corpos de Lucca e de Abner ainda no chão da sala. 

Ele vira novamente a cabeça e se depara agora com o tronco de Verônica estirado no chão. Lentamente vai girando a cabeça e vê seus membros superiores e inferiores, um em cada canto. Há muito sangue por todos os lados.

 

CLOSE nos olhos arregalados de Jeffy. Está incrédulo. Demora para voltar a si. Aos poucos vai se ouvindo o desespero de Sthefany. Ela chora e desliza as mãos pela porta até cair ajoelhada. 

Jeffy volta à realidade e corre para ajudá-la quando é surpreendido com uma parede invisível que lhe impede de seguir adiante. Ele estranha aquele fato. Stefhany também repara e se aproxima tentando alcançar a mão de Jeffy em vão. 

CENA 25. CASA DE AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

Ayla está apreensiva. Sente uma tontura e senta na cama. Fecha os olhos por alguns instantes. 

No altar dentro do roupeiro há muito sangue e um pano vermelho cobre o felino, desmembrado, morto. Escuta-se um miado e um outro gato preto salta sobre o altar e começa cheirar o outro. 

Ayla abre os olhos e sorri satisfeita. Parece estar melhor. Levanta e vai até o altar.

 

AYLA

Aqui está você.

 

Ela pega o felino no colo e o acaricia. Ele parece incomodado, tenta fugir do colo e Ayla o segura firme.

 

AYLA

Fique tranquilo, meu amigo… logo, logo tudo estará terminado.

 

Ayla o coloca dentro de uma gaiola, se aproxima de uma gaveta do roupeiro e tira uma grande faca de dentro. Larga-a sobre o altar. Renova as velas reacendendo-as enquanto o gatinho mia querendo sair da gaiola.

 

CORTA PARA

 

CENA 26. CASA ABANDONADA. SALA. NOITE. INT. 

Sthefany e Jeffy estão frente a frente com uma parede invisível entre eles.

 

STHEFANY

Eu tô assustada, Jeffy. O que isso significa?

 

JEFFY 

Eu não sei. Eu não faço ideia do que tá acontecendo. Como isso pode acontecer?

 

Jeffy passa a mão na parede invisível. Sthefany repete o gesto. Suas mãos se encontram como que se tocando, mas há aquela parede. 

De repente, uma força descomunal e sobrenatural arrasta Sthefany para trás até ela se chocar contra a porta. Ela grita desesperada. Jeffy empurra a parede invisível tentando ultrapassá-la.

 

JEFFY (desesperado)

Que droga! Que isso? Sthefany?

 

STHEFANY (apavorado)

Jeffy! Socorro! Me ajuda!

 

CLOSE nos olhos de Sthefany, que se arregalam. Ela engole a seco. 

POV de Sthefany: uma mulher alta e magra com um longo vestido preto se aproxima dela segurando uma grande faca.

 

STHEFANY (apavorada)

Jeffy! Ela vai me matar! Faz alguma coisa!

 

JEFFY (angustiado)

Ela quem, Stefhany? Não tem ninguém aí!

 

STHEFANY (apavorada)

Por favor, não. Por favor…

 

Ela começa a chorar baixinho, soluçando. A mulher levanta a faca na diagonal e os olhos de Sthefany acompanham o movimento.

 

JEFFY (desesperado)

Nãaaaaaaaaaaaoo!

 

E a cabeça de Sthefany rola até os pés de Jeffy diante da parede invisível.

 

CORTA PARA

 

CENA 27. CASA DE AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

CLOSE nas mãos de Ayla, que embrulham algo em um jornal e colocam dentro de um saco plástico. 

As mesmas mãos se encaminham para o altar onde desfocada se vê a imagem do felino deitado. Há sangue por todo lugar e não dá pra ver a cabeça dele.

 

AYLA 

Está feito. Agora só precisamos das cinzas de alguém.

 

Neste momento um outro gato preto salta para dentro do quarto pela janela. Mia e se aproxima roçando nas pernas de Ayla. Ela se agacha e o pega no colo. 

Ayla caminha até o altar com o felino no colo. Abre um livro e fixa os olhos em uma página.

 

AYLA

O fogo o consumirá até não restar mais carne. Tudo se transformará em cinzas e Ela então, estará mais forte. Suas raízes se tornarão robustas neste mundo e tudo que Ela desejar vai conseguir.

 

CORTA PARA

 

CENA 28. CASA ABANDONADA. NOITE. EXT. 

A fumaça preta toma conta de todo o casarão.  

A porta é aberta e Jeffy, cambaleando e tossindo, sai para fora. Ele tropeça e cai de joelhos. Olha para trás e vê o fogo que consome o lugar. Levanta com dificuldade e se afasta o máximo que consegue. 

Jeffy chega na estrada, já seguro das chamas. Retira do bolso o seu celular. 

CLOSE na tela do aparelho: NO SIGNAL. 

Jeffy caminha mais alguns metros e olha de novo. Agora tem sinal. Senta na beira da estrada escura e deserta escorado no tronco de uma árvore. Disca e, com a mão trêmula, coloca o celular no ouvido. 

Escuta-se a chamada sendo completada. Alguém atende.

 

JEFFY (apavorado)

Alô! Eu... eu preciso de ajuda. (T) Tá acontecendo alguma coisa. Meus amigos estão mortos. (olha para os lados) Eu tô na rodovia leste. Tô no meio da estrada. (T) Eu estou com medo. A casa pegou fogo de repente... eu...(começa a chorar).

 

CORTA PARA

 

CENA 29. RODOVIA NORTE. NOITE. EXT. 

Uma estrada deserta. Uma reta sem fim costeada por dois grandes paredões de pedra. Um Maverick preto surge na estrada com os faróis ligados e em alta velocidade. 

CENA 30. MAVERICK. NOITE. INT. 

O motorista é Reich (homem maduro de barba rala e cabelos compridos amarrados em um rabo de cavalo). Usa uma jaqueta de couro preta e camisa xadrez com a gola levantada. Batuca com os dedos no volante enquanto dirige e canta junto com a música que toca no rádio: THIS HOUSE IS NOT FOR SALE - BON JOVI.

 

REICH 

This house is nota for saleee!

 

Um chiado dá interferência na música. Reich mexe trocando a estação e o chiado só aumenta até que escuta-se um choro.

 

VOZ MASCULINA (v.o)

Eu preciso de ajuda (choramingando).

 

VOZ FEMININA (v.o.)

Eu vou passar a chamada para a viatura mais próxima. Logo um policial chega até você. Só te peço que não saia de onde está...você pode repetir o que aconteceu?

 

VOZ MASCULINA (v.o.)

Meus amigos morreram de uma forma estranha. Algo tá acontecendo. A casa pegou fogo de repente. Nós ouvimos passos, mas não tinha mais ninguém além de nós.

 

As palavras chamam atenção de Reich. 

 

VOZ FEMININA (v.o.)

Você está exatamente onde?

 

VOZ MASCULINA (v.o.)

Rodovia leste. Perto do KM 33. Estávamos na casa abandonada...

 

Imediatamente, Reich pega o celular sobre o banco do caroneiro enquanto vai estacionando devagar no acostamento. 

CLOSE na tela do seu celular: Abre uma página de internet. Digita casossinistros.com. Faz login e vai na aba Registrar Ocorrência de Caso. Uma nova aba se abre.  Seus dedos digitam depressa.

 

REICH

Droga! Eu tô longe. Espero que alguém veja e esteja perto.

 

CLOSE na tela do celular. Ele clica em enviar e, logo, aparece escrito: Caso Registrado com Sucesso. 

Reich larga o celular novamente no banco do caroneiro. Respira fundo. Liga  o carro e dá a partida. 

CENA 31. RODOVIA NORTE. NOITE. EXT. 

O Maverick preto segue seu destino cortando a reta daquela estrada deserta.

 

CORTA PARA

 

CENA 32. QUARTO DE HOTEL. NOITE. INT. 

Alexandre dorme profundamente na cama enquanto Caíque pegou no sono na mesa deitado com a cabeça sobre o teclado do notebook. 

Um sinal sonoro acorda Caíque que desperta sonolento, levanta a cabeça devagar e se depara com uma mensagem na tela do notebook, na página casossinistros.com: NOVO CASO REGISTRADO. 

Caíque esfrega os olhos. Encara o irmão roncando enquanto dorme. Tenta clicar para abrir a ocorrência e um bip é emitido seguido de uma outra mensagem. 

CLOSE na tela do notebook: Esta mensagem só pode ser aberta por usuário cadastrado.

 

CAÍQUE

Droga!

 

Caíque olha novamente para o irmão.

 

CAÍQUE

Alexandre? Alexandre?

 

Alexandre desperta devagar, sonolento. Esfrega o dorso da mão nos olhos. Senta na cama.

 

ALEXANDRE

Que foi dessa vez, Cay?

 

CAÍQUE

Olha isso aqui! Novo caso registrado. Abre aqui pra gente ver.

 

Alexandre levanta a contragosto e fica atrás do irmão.

 

ALEXANDRE

Digita ali: alexandre.amarca. A senha é 186600.

 

Caíque digita e a mensagem se abre. Ambos lêem atentamente. Caíque olha para trás na direção de Alexandre.

 

CAÍQUE

Podíamos verificar, o que acha?

 

Alexandre fica pensativo por alguns instantes.

 

ALEXANDRE

Hummmmm. Caso de Halloween numa noite dessas? Porque não?

 

CORTA PARA

 

CENA 33. ESTRADA. NOITE. EXT. 

As motos de Alexandre e Caíque cruzam a estrada curvilínea. Param em uma encruzilhada lado a lado. Alexandre e Caíque levantam os visores dos capacetes.

 

CAÍQUE

Posso chamar Ayla pra ir com nós? Assim é um modo de vocês se conhecerem um pouco mais. 

 

ALEXANDRE

Claro que não, Cay! Ficou maluco?!

 

CAÍQUE

Poxa, irmão. Essa talvez seja a forma de colocarmos ela no nosso grupo. O que acha?

 

ALEXANDRE

Eu ainda não confio naquela garota. E o caso parece ser sério. Não acho bem envolvemos uma terceira pessoa nesse trabalho.

 

CAÍQUE

É, talvez você tenha razão.

 

Alexandre e Caíque abaixam o visor. Olham para os lados e aceleram suas motos seguindo a estrada.

 

CORTA PARA

 

CENA 34. CASA DA AYLA. QUARTO. NOITE. INT. 

Ayla está de pé diante do altar. Olhos fechados e mãos para o alto. À sua frente uma fumaça preta levanta de uma maquete de madeira quando o gato preto salta de trás da maquete enfumaçada para o chão desconcentrando Ayla que abre os olhos.

 

AYLA

Droga!

 

O gato pula a janela e some. Ayla corre para tentar vê-lo e se debruça no parapeito.

 

AYLA

Não acredito que o último fugiu. Preciso encontrá-lo e finalizar o ritual. (volta para o roupeiro)

 

Ayla olha para a maquete em cinzas sobre o altar, fecha os olhos por um breve momento, pronuncia algo em latim. Sorri novamente, abre os olhos, que brilham intensamente.

 

AYLA

Achei você amiguinho! 

 

CORTA PARA

 

CENA 35. ESTRADA. NOITE. EXT. 

SONOPLASTIA: (Trouble - Wershly Arms) 

Jeffy caminha cambaleando pela estrada deserta e escura. Avista um clarão que se aproxima rapidamente dificultando sua visão e fazendo ele esfregar os olhos. Escuta o ronco do motor de duas motos que se aproximam e o cercam. Os motoqueiros retiram os capacetes: são Caíque e Alexandre.

 

ALEXANDRE

Foi você que pediu ajuda?

 

Jeffy respira aliviado, mas antes de responder desmaia e cai ao chão sendo amparado pelos dois irmãos. 

Mais um clarão surge na estrada. É os faróis de um veículo que diminui a velocidade na medida em que se aproxima. 

Os faróis se apagam. O motor desliga. A porta do motorista se abre e Ayla, toda sorridente e imponente desce. Caíque observa a namorado, surpreso por encontrá-la ali. Alexandre está ao lado do irmão, desconfiado.

 

CAÍQUE

Ayla? O que está fazendo aqui?

 

AYLA

Eu explico depois, Cay. Tô vendo que vocês estão precisando de ajuda. Me ajudem a colocá-lo no carro. Eu levo ele para um lugar seguro.

 

Ayla se aproxima até o corpo de Jeffy caído no chão. Caíque vai até a namorada. Alexandre continua imóvel, atento às ações de Ayla.

 

CONTINUA...

série criada por
Anderson Silva
Gabo Olsen
Marcos Vinicius

episódio escrito por
Anderson Silva
Marcos Vinicius

revisão de texto
Gabo Olsen

elenco
Chirs Wood...................................Alexandre
Matt Dallas.....................................Caíque
Danielle Campbell.................................Ayla

participação especial
Ruth Connell..................................Serafine
Jeffrey Dean Morgan...............................Caim

música
This House is Not For Sale - Bon Jovi
Trouble - Wershly Arms

produção

BRUNO OLSEN
CRISTINA RAVELA


 

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO




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Proibida a cópia ou a reprodução


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