Stregoneria
de Igor Ferreira Komar
1842. No alto do céu noturno dos
pampas não se via estrelas, nem mesmo o menor resquício do luar. O astro estava
lá, imponente, mas completamente enegrecido. Porta dei Morti, como
Chiara conhecia. Um convite aos mortos para retornar a terra dos vivos. Para
alguns somente as raízes do paganismo vil dos vilarejos do interior da Europa,
para outros eram apenas superstições sem valor. Para ela, vinda dos açores com
sua família até se casar e se mudar para o interior dos pampas gaúchos, mas
ainda com sua mente e fé enraizadas na sua origem toscana, eram mais do que
simples histórias contadas pelas nonni para assustar crianças. Havia
muito mais verdade nas “superstições” do que as pessoas estavam dispostas a
acreditar.
Mas, naquele momento, parada em frente a seu
casebre de madeira rústico, algo a preocupava mais do que os mortos. A lua
negra não era um convite apenas para que as almas penadas vagassem no mundo dos
mortais, mas também para coisas que se escondiam nas sombras. Histórias
obscuras que os anciões da vila em que morava, ainda nos Açores, evitavam
comentar em voz alta. Le ombre sussurranti, eles diziam. As sombras que
sussurram. Ela cresceu em vilas afastadas da civilização e do contato com a fé
católica. Viu coisas que não sabia explicar, e sobre as quais jamais falou com
seu marido. Não cabia a ela questionar a fé dele. Ademais, ele já tinha muito
com o que se preocupar.
Como um homem do campo, um homem que almejava
ser um estancieiro, era incapaz de permanecer em casa quando a revolta se
conflagrou. Ele só não se juntou aos farroupilhas nos dois primeiros anos da
guerra pois seu filho era recém-nascido, e sua casa, que ele mesmo estava
construindo, ainda não havia sido terminada. Mas tão logo seu pequeno Érico
completou três anos, e a sua casa enfim ele terminou, pegou em armas, apeou o
cavalo, e com a promessa que retornaria tão logo a revolução fosse vitoriosa, Antônio
partiu a galope para pegar em armas contra o Império, deixando para trás sua
esposa Chiara, sua filha Dora, então com dez anos completos, e seu filho Érico.
Isso tinha acontecido há seis meses.
Não havia vizinhos com os quais Chiara pudesse
contar ou pedir ajuda. Não que fosse mulher de recorrer aos outros. De
temperamento forte e decidido, jamais pedira ajuda para o que quer que fosse,
se virando como podia, especialmente agora na ausência do marido. Desde que
tinha vindo para o Brasil, ainda moça recém feita, ela vinha pouco a pouco
esquecendo partes de sua herança açoriana e toscana. Se mudar enquanto se ainda
é uma criança costuma embaralhar as memórias um pouco. Mas a visão daquela lua,
o vento frio do final do outono que soprava varrendo os campos e lhe gelava as
faces, aquela atmosfera pesada que a muito não sentia, tudo isso despertou nela
memórias amargas, histórias tristes e lendas antigas. Coisas do tempo de
criança que desejava esquecer. Ricordi oscuri, eredità maledette. Os
ditados e mesmo a língua toscana lhe vinham à mente.
Ela suspirou, enquanto corria o olhar em torno
da mata que cercava sua fazenda, a mesma mata que ainda havia de ser derrubada
para então dar lugar ao pasto para o gado que seu marido compraria. E que por
causa da revolução, tinha ficado por cortar. Mato fechado. Mato ruim. Mesmo as
pessoas da região, de vilas a alguns quilômetros dali, diziam isso daquela
pequena floresta que se fazia de jardim para Chiara. Mas claro que Antônio,
homem devoto e católico fervoroso, homem do campo, mas desapegado da terra, não
deu ouvidos a histórias de estancieiros velhos e anciãos caducos. Terra era
terra, ele dizia. Depois que derrubasse o tal mato, não teria mais nada de ruim
pra ameaçá-los, se é que um dia tivesse existido. Mas ele não derrubara o mato.
O mato estava ali, mais fechado do que nunca, mais escuro e sombrio do que
Chiara se lembrava.
A luz do lampião que ela carregava nas mãos
tremia, fazendo as sombras nas árvores parecerem dançar de forma ameaçadora,
como se quisessem agarrar a pequena casa de pau a pique e engoli-la por
inteiro. Um arrepio percorreu a espinha dela, e, ajeitando o casaco, se
recolheu para a casa. Já havia acomodado as crianças no quarto que lhes cabia,
e agora só lhe restava aguardar o dia nascer para ter certeza de que estariam
em segurança. Passou em frente a um espelho posicionado na parede, e se olhou.
Ainda era jovem, não mais que vinte e nove anos, e mesmo os anos de labuta ao
lado do esposo não tinham lhe tirado o rosto juvenil de traços fortes, ou embranquecido
seus longos cabelos negros. Mas aqueles últimos meses tinham sido mais
desgastantes que todo o trabalho na fazenda. Tinha olheiras profundas, marcas
de desgaste na pele, e seu cabelo estava todo ressecado e quebradiço. Não era
uma pessoa muito vaidosa, mas não podia deixar de notar o estado lastimável que
se encontrava.
Caminhou por toda a casa, indo de janela em
janela, checando se todas estavam trancadas. Apagou a maior parte das luzes e
manteve apenas o lampião aceso por perto. Então, dirigiu-se para uma peça mais
reservada, um pequeno cômodo onde, em um armarinho de madeira nobre, herança do
marido, havia um crucifixo de madeira com a imagem de Jesus Cristo, um terço
pendurado, e algumas pequenas imagens de santos, algumas de gesso, mas a maioria
de madeira. Uns tantos destes santos tinham vindo com ela da casa de sua
família, em Santa Catarina. Um presente de sua madre para protegê-la neste
local ainda tão inóspito. Ela ajeitou o vestido puído, se ajoelhou em frente ao
armarinho, e começou a rezar com as mãos envoltas no terço.
O vento minuano soprava nos quatro cantos da
casa, e toda a estrutura de madeira rangia sob o efeito do vento. Mas o casebre
era forte, não seria um vento de outono que o derrubaria. E certamente não era
por causa do vento que Chiara rezava. Foi então, em meio a suas orações, que
ela ouviu. Não o vento soprando, não as madeiras estalando, não o cacarejar de
suas galinhas ou o ronco de suas crianças, mas um uivo. Um uivo misturado a um
grito humano, como se fosse um homem em agonia, ao mesmo tempo que um cão ou
lobo uivava para a lua negra no céu. Longo e cavernoso, aquele uivo reverberou
por toda a casa e por todo o seu corpo, fazendo estremecer suas carnes e abalar
sua alma. Ainda de olhos fechados, ela apertou o terço com tanta força que
quase furou as mãos com a madeira dele. Olhou para cima, para a cruz de madeira
que jazia no armarinho. Seus olhos lacrimejaram. E mais uma vez o uivo se fez
ouvir por toda a casa.
-Mammina! - uma voz fina e infantil
chegou aos ouvidos dela. Como se movida por uma mola ela se colocou de pé e
correu para o corredor. Sua filha estava lá, parada em pé, na porta do quarto,
pálida como um fantasma e tremendo dos pés à cabeça. Chiara abraçou sua filha
com força e carinho, tentando ao máximo tranquilizá-la. Acariciando a cabeça da
menina, lhe falou: - É apenas o vento, minha pequena... não se preocupe, logo
ele passa. Volte a dormir. Eu não vou deixar nada de mal acontecer a vocês.
Apenas volte a dormir, e se sentir medo de novo, ore com fervor e peça a Deus
por proteção, que logo o sono virá e você vai viajar nos seus sonhos.
Ela beijou a testa da filha e a acompanhou até a
cama novamente. Olhou para o pequeno que dormia profundamente e agradeceu por
ele não ter se acordado. Antes de deixar o quarto chegou mais uma vez até a
janela, para ver se estava bem presa mesmo, e, fechando a porta com cuidado,
voltou para a peça com o armarinho e a cruz. Dobrou os joelhos e começou a
rezar, mais uma vez. Rezava mais por tradição e costume do que por fé. Mais
porque não queria pensar no que estava lá fora, do que por acreditar que estava
protegida. Que seu marido não lesse seus pensamentos, nem lhe ouvisse dizendo
tal coisa, pensou ela. Mais uma vez o uivo retumbou pela casa. Finalmente ouviu
a algazarra vinda do galinheiro. A confusão durou alguns minutos, e então se
fez silêncio. Só era possível ouvir o som do minuano soprando sobre o casebre,
e nada mais.
Quando finalmente raiou o dia, só então ela
criou coragem de sair de casa. Não havia dormido, estava cansada. Não deixou as
crianças saírem enquanto não desse uma olhada no estrago que aquilo tinha
causado. Levou um susto logo ao abrir a porta, pois havia sangue e penas por
toda a parte. Conforme foi caminhando pelo terreno foi encontrando mais e mais
rastros de destruição e morte. O galinheiro estava destruído, em pedaços. E não
havia nem sinal de uma só penosa que fosse. Todas mortas ou mutiladas, feitas
em pedaços, de uma forma tão debochada, que parecia que a coisa zombava dela.
Havia sangue e restos até nas paredes. E claro, havia as pegadas. Dezenas
delas, espalhadas pelo solo. Várias ao redor da casa. Uma das janelas, mais
afastada, tinha marcas de arranhões, onde a madeira estava lascada.
Ocupou-se o dia inteiro junto de seus filhos,
preparando uma refeição para todos, e limpando o pátio de todos aqueles restos
e do sague espalhado. Sabia que limpar o sangue era inútil, que aquilo já tinha
farejado a ela e seus filhos. Todos eles estavam marcados pela besta. Limpava
somente por que o cheiro de sangue a nauseava, e por que não queria que as
crianças vissem aquela cena de mortandade. Em um dado momento, quando o pequeno
havia se entretido dentro de casa, Dora se aproximou de sua mãe e lhe
perguntou:
- Mammina... o que era aquilo ontem à
noite? Não era o vento, não é?
Chiara olhou para os olhos da menina, tomados
pelo medo, mas mesmo assim resistindo à tentação de se entregar a ele, e
ponderou o que poderia lhe responder. Por fim, decidiu contar a verdade a
menina:
- Era um mannaro.
Uma coisa ruim. Um espírito perturbado da floresta.
A menina, com os olhos lacrimejando, após pensar
um pouco, voltou a perguntar a sua mãe:
- Nós vamos ficar bem?
- Sim amore mio, nós vamos. Não se
preocupe. Dios vai nos proteger de todo o mal. - esta foi a resposta que
Chiara conseguiu dar a filha, mas não era a que queria ter dito. No fundo, ela
não tinha certeza. Na verdade, duvidava que passariam daquela noite. Mas não
tinha coragem de dizer isso a menina.
A noite veio mais uma vez, e, de forma que só
poderia ser descrita como sobrenatural, a lua sem cor mais uma vez se fez
presente, em uma noite sem estrelas, e desta vez, sem nem mesmo o vento
minuano. Nem os grilos, nem os pássaros em seus últimos voos do fim do dia
antes de se recolherem, nada podia ser ouvido. A mata ao redor estava tomada
por um silêncio sepulcral, como a calmaria antes da tempestade. Chiara recolheu
suas crianças assim que o sol se pôs. Trancou sua casa e, no desespero, pregou
as janelas com as poucas tábuas que pôde encontrar rolando pelo pátio,
provenientes do galinheiro destruído. Por fim, barrou a porta com uma mesa
pesada, levou as crianças para a peça onde ficava o armarinho e a cruz, a única
peça sem janelas do casebre, e ordenou que não saíssem de lá sem que ela
mandasse. Então, com o terço na mão, se ajoelhou no meio da cozinha e começou a
rezar.
Não tardou a escutar aquele uivo cavernoso
novamente. A criatura rondava a casa, e Chiara podia ouvir seus passos, as
garras raspando na madeira e a respiração pesada do monstro. As palavras da oração
saiam de sua boca, mas ela não sentia nada. Não havia peso em sua reza, nem
comoção. Ela não tinha fé. Era uma oração vazia. Ouviu a madeira de um dos
quartos estalar mais forte que o normal. Era a criatura tentando entrar na
casa. Ela abriu os olhos, olhou para o terço nas mãos e com raiva atirou o
objeto longe. Correu para seu quarto e viu que a tábua quebrada tinha sido da
sua janela, mas a criatura estava novamente caminhando ao redor da casa, como
se brincasse com eles, os provocando, causando terror antes de enfim matá-los.
Por um momento ela hesitou, olhando para a cama, mais precisamente para baixo
dela, como se pensasse se deveria fazer o que estava prestes a fazer. Um novo
urro da criatura a fez tomar uma decisão. Chiara correu até sua cama e retirou
uma mala marrom de debaixo dela. Sem se importar com a quantidade absurda de
poeira ela abriu a antiga mala. Haviam diversos objetos ali, entre fotos
antigas, livros e fracos de vidro com pós e ervas dentro. Enfim, apesar da
pouca luz fornecida pelo lampião, encontrou o que procurava.
Mais um uivo se ouviu, e novamente as tábuas
sendo quebradas, desta vez em outro cômodo da casa. Sem perder tempo ela pegou
um livro e um frasco com um pó metálico. Correndo o mais rápido que podia ela
voltou para a cozinha, jogando o livro sob a mesa e folheando-o furiosamente.
Depois de folhear algumas dezenas de páginas finalmente encontrou o que queria.
Revirou sua cozinha até encontrar uma haste de ferro pontiaguda, colocando-a
sobre a mesa. Em seguida, munida de uma faca, ela cortou a palma da mão direita
e deixou o sangue escorrer pela haste, enquanto proferia:
-Accetta questo sacrificio nel tuo nome...accipe
sacrificium nomini tuo...accipe sacrificium nomini tuo... - conforme
o sangue escorria, encharcando a haste com o líquido carmesim, com a mão que
não havia sido cortada ela começou a despejar o pó que havia no fraco de vidro,
sobre o sangue derramado. Passados alguns segundos, ela apertou a mão com
força, e em seguida a enfaixou com um pano qualquer. Munida com a haste afiada,
agora embebida em sangue e com o pó metálico misturado a ele, ela se dirigiu
para a porta, removendo a barreira que tinha feito com a mesa... e a abrindo.
Uma neblina anormal invadiu a casa, junto do cheiro de podridão e carne rançosa,
que ela já conhecia tão bem. Com a haste na mão direita e o lampião na mão
esquerda, ela saiu de casa, seus pés encobertos pela neblina gélida, tão gélida
que não parecia ser deste mundo. Podia sentir as pontas dos dedos congelando.
Ela não precisou esperar ou mesmo chamar a
criatura. O monstro veio até ela a passos largos. Mesmo na penumbra e com a
névoa, ela pode vê-lo muito bem. Com dois metros de altura, o corpo coberto de
pelos negros, patas e garras como as de um lobo, o focinho de um também, mas tinha
um par de chifres galhados na cabeça, além de um focinho anormalmente grande e
carregado de dentes afiados. Os olhos vermelhos da criatura brilhavam na
escuridão como duas brasas. Quando a coisa se aproximou mais dela, pode ver que
não tinha olhos, mas somente as orbes vazias onde de fato duas chamas queimavam
tão intensamente quanto rubis. Incrivelmente, a criatura parecia calma. Talvez
tranquila em saber que sua refeição tinha vindo até ele, sem que precisasse
quebrar a casa inteira e catar a carne em meio aos destroços.
Quando o monstro se aproximou, Chiara apontou o
ferro para ele e começou a proferir a plenos pulmões: - Et tu iubes spiritum
immundum, et basis, id relinquere domum! Relinque furorem
meum feres solis silvis dominam! Relinquere domum meam et
sacrificaverunt et erubescetis super conturbant, quia secutus est silva!
- a cada novo verso proferido, a voz de Chiara se tornava mais forte e menos
parecida com sua própria voz. Era quase como se fosse outra pessoa proferindo
aquelas palavras cabalísticas. A criatura, inicialmente sem parecer dar ouvidos
a ela, ergueu ameaçadoramente uma das patas e a desceu com força na direção
dela, com as garras arqueadas e a boca aberta, urrando. Tão logo sua pata a
alcançou, apenas tocou na ponta do ferro que ela, habilmente, colocou entre si
e o monstro. A criatura sangrou, recuando e grunhindo de forma confusa. Olhava
para a própria pata, como se não acreditasse no que estava vendo. Sangue
escuro, espesso, jorrava do ferimento do monstro, com um cheiro de podre ainda
mais acentuado. Onde aquele sague caía, o solo parecia se tornar venenoso tal
era a coloração que se tornava.
Confusa e ferida, a criatura recuou, vendo
aquela mulher parada em sua frente, ainda lhe apontando o ferro pontiagudo, com
um olhar determinado, carregado de ódio... e poder. A própria Chiara não
poderia ter visto, mas uma aura negra havia se formado a sua volta, como se,
por alguns instantes, ela estivesse mesclada às sombras. Agora com os cabelos
soltos e armados, a impressão era ainda maior. O monstro uivou mais uma vez e
correu na direção da mata, sumindo de vista. A névoa ao redor da casa se
dissipou, e Chiara podia jurar que a noite se tornara mais clara também.
Permaneceu de vigia na frente de sua casa até o amanhecer, só então entrou
novamente e, depois de esconder o ferro e o livro, e de fazer um curativo
melhor, abraçou seus filhos com ternura, elogiando a coragem deles por não
terem a desobedecido.
Na tarde daquele dia, enquanto seus filhos a
ajudavam a arrumar a casa, ela espalhava pequenos saquinhos com sal pelos
cantos da casa, enquanto proferia baixinho algumas palavras que tinha conferido
no livro. Suas olheiras tinham sumido. Sentia-se mais leve. Sabia que o mal, a
criatura, ainda estava lá fora. Sabia que a noite ainda escondia muitos
perigos. E sabia que no fundo, só podia contar consigo mesma e com sabedoria
que lhe fora passada por sua vó, e que sua mãe tinha feito o possível para que
ela não aprendesse. Ela agradeceu a insistência de sua nonna em ter lhe
ensinado as artes da floresta. Agora ela podia proteger seus filhos, mesmo que
Antônio não retornasse. Enquanto trabalhava, olhou atentamente para Dora, e
pensou consigo mesma, que era hora de passar aquele conhecimento adiante.
Afinal, ela não estaria ali para sempre para protegê-los.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Cristina Ravela
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