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Cine Virtual: A Lenda de Indaiá

Conto de Ana Paula Andrade
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Sinopse: Indaiá é uma Índia corajosa que luta para salvar seu povo em uma tribo onde mulheres não podem ser guerreiras.


A Lenda de Indaiá
de Ana Paula Andrade

  

Conta uma história indígena, que há muitos e muitos anos, antes da chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil, habitava uma tribo de etnia Guarani Mbya¹, em meio à Mata Atlântica, na divisa dos municípios que atualmente são Praia Grande e São Vicente. Nesta tribo vivia uma bela índia chamada Indaiá, de pele morena, longos cabelos negros e olhos cheios de paixão pela vida.

Ela encantava a todos por onde passava. Seu pai era o grande Cacique Embiá e sua mãe era uma excelente artesã. Lá, seu povo vivia em paz e harmonia. Indaiá era conhecida como a “Deusa do Rio Piaçubuçu”, pois costumava cantar pela sua margem, com sua voz doce e suave:

“Oreru Nhamandú Tupã Oreru²

Oreru Nhamandú Tupã Oreru

Nhamandú Tupã Oreru”.

Durante suas andanças hipnotizava as aves coloridas e os peixes do rio, que pulavam felizes dando cambalhotas, só para vê-la passar.

Certo dia, caiu uma forte tempestade. A tribo sofreu inundações e as enxurradas acabaram por transbordar o Rio Piaçabuçu. A enchente arrastou as ocas, devastando as plantações de palmito, mandioca e milho. Perderam toda a sua colheita, suas cerâmicas, arcos e flechas.

O cacique, preocupado, reuniu os melhores guerreiros para uma expedição às margens do rio. Chegando lá, eles montaram um acampamento para a construção de uma barragem que serviria de armadilha de pesca, já que estavam há dias sem alimento.

Indaiá sabia do seu poder hipnotizador sobre os peixes e implorou ao pai para que pudesse ir junto, porém foi impedida por ele. A pescaria só era permitida aos homens.

Inconformada e desesperada em não poder ajudar a sua tribo que passava fome, ela decidiu pedir ajuda ao pajé. Ele começou a pajelança e invocou o grande Deus Tupã para que desse uma resposta ao dilema da pobre índia. Os céus atenderam aos seus pedidos e com a bênção do pajé da tribo, protegida por Tupã, Indaiá adentrou pela mata fechada, na calada da noite.

Seguindo com sua missão, durante todo o trajeto até o acampamento ela ia cantando a sua doce canção, enquanto seus amigos animais a protegiam de todos os perigos:

“Oreru Nhamandú Tupã Oreru

Oreru Nhamandú Tupã Oreru

Nhamandú Tupã Oreru”.

O cacique e os guerreiros permaneciam lá acampados. Muito fracos e debilitados, estavam há dias sem comer e sem conseguir pescar, já que os peixes estavam assustados por conta da grande tempestade.

Após enfrentar muitas dificuldades no caminho, Indaiá finalmente conseguiu chegar ao acampamento. Desesperada com o estado agonizante do seu amado pai e de seus amigos, ela elevou seus lindos olhos negros aos céus e assim, se pôs a cantar:

“Oreru Nhamandú Tupã Oreru

Oreru Nhamandú Tupã Oreru

Nhamandú Tupã Oreru”.

De repente, ela mergulhou no Rio Piaçabuçu, foi levada pela forte correnteza e sumiu nas águas para nunca mais voltar.

Naquele mesmo instante, os cardumes se amontoaram nas armadilhas de pesca e dizem que nunca houve um volume tão grande de peixes por ali. Porém, a tristeza tomou conta do cacique Embiá, que ficou completamente arrasado pela perda da filha.

Após chorarem lamentando a morte daquela corajosa índia, o grupo voltou à tribo. E eram tantos, mas tantos peixes que levaram, que a comunidade foi alimentada por vários dias.

Tempos depois, quando as águas do rio baixaram, o cacique Embiá e seus guerreiros entraram pela mata para recolherem gravetos e algumas folhagens, que ajudariam na reconstrução das ocas. Ao passarem pelo rio não acreditaram no que os seus olhos viram: ao longo de toda a margem do Rio Piaçabuçu havia nascido inúmeras palmeiras, todas lindas, repletas de folhas e cheias de frutos.

Decidiram, em homenagem àquela bela e guerreira índia e como agradecimento ao grande Tupã, dar o nome de Indaiá, às palmeiras que haviam brotado milagrosamente. E foi assim, desse jeitinho, que contam por aí, que surgiu a palmeira Indaiá³.

 ______________

1. Uma homenagem às tribos de etnia Guarana Mbya, que fazem parte da história de Praia Grande e São Vicente.

2.Tradução Guarani: Oreru Nhamandú Tupã Oreru (Nossos pais são o Sol e o Trovão).

3. Palmeira Indaiá: nasce na floresta pluvial da encosta atlântica; de porte baixo e ciclo de crescimento lento, dá cachos de frutos (chamados coquinhos) rentes ao chão.

Conto escrito por
Ana Paula Andrade

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima Eliane Rodrigues
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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