NO QUINTO EPISÓDIO
DOMÊNICO
Acho que o seu silêncio responde a minha
pergunta.
ALICE
Eu não sei se tenho fé. Eu estou há espera de
um milagre já faz um tempo.
DOMÊNICO
Então eu posso lhe ajudar.
***
MARINALVA
Sou uma mulher casada, todo mundo sabe disso,
e sabe também que eu nunca trai meu esposo. Sempre fui uma esposa honesta e
dedicada. Sempre consegui conduzir as atividades de casa e conciliar com a
igreja. Sou uma serva do senhor atuante, sempre disposta...
EMERENCIANO (interrompe)
Eu sei! Diga logo o seu pecado! Não tenho
todo o tempo do mundo, Marinalva.
MARINALVA
Eu, ultimamente, estou tendo um desejo
incontrolável de acabar com a vida do meu marido. (Marinalva se segura, mas explode em choro) Eu não aguento mais! Eu estou a ponto de
matar o Figueira, Padre! Me ajude!
***
FIGUEIRA LEVA DORINHA ATÉ O LOCAL. NÃO HÁ PORTAS, MAS UMA PAREDE
CONSEGUE CRIAR UM ABRIGO QUE NINGUÉM QUE PASSA OS VEJA.
FIGUEIRA
Ajoelha de novo!
DORINHA AJOELHA.
FIGUEIRA (olhando para baixo, nos olhos de Dorinha)
Então faça comigo o que você faz com ele! Me
chupe! E direitinho. Porque eu sei que você consegue. Com aquele preto
conseguiu...
DORINHA, AJOELHADA DE FRENTE PARA FIGUEIRA, ESTÁ CHORANDO. ELA LEVA A
MÃO ATÉ A BRAGUILHA DA CALÇA DO HOMEM. ANTES DISSO, COMEÇA A CHORAR
COMPULSIVAMENTE. FIGUEIRA LHE DÁ UM TAPA NA CARA.
FIGUEIRA
Faz o que eu to mandando e sem chorar, sua
imunda! Ou todos vão saber que você é uma puta!
***
DOMÊNICO
Eu posso te ajudar com isso.
ALICE
Como?
DOMÊNICO LEVA A MÃO ATÉ O ROSTO DE ALICE E LHE DÁ UM BEIJO. ELA RETRIBUI
MAS, DEPOIS PARECE DESPERTAR E INTERROMPE O BEIJO.
ALICE
Não! Não isso...
DOMÊNICO
Eu posso lhe ajudar! Eu posso te ajudar a ter
um filho, mas você precisa me deixar entrar. Precisamos fazer amor. Depois do
sexo, eu lhe garanto: você vai conseguir o teu milagre. Você vai conseguir o
seu filho.
1x06
CENA 1 / CASA DE DOMÊNICO – SALA DOS MILAGRES
/ INT. NOITE
ALICE
Não! Eu sou casada, eu amo meu marido...
DOMÊNICO
Eu posso lhe dar o que você quer. Escute bem:
eu posso lhe dar um filho!
ALICE
Mas...
DOMÊNICO (tocando a barriga de Alice)
Eu preciso lhe tocar. O milagre só acontece
quando eu toco...
ALICE (se desvencilhando)
Mas é algo íntimo. É algo que envolve muito
mais...
DOMÊNICO
Deixe eu tentar. Tente se desligar! Não pense
em nada. Só pense no seu filho. Ele vai chegar...
ALICE SUSPIRA, VIRA-SE PARA DOMÊNICO. ACENA A CABEÇA POSITIVAMENTE.
DOMÊNICO SE APROXIMA. BEIJA A TESTA DE ALICE. EM SEGUIDA AS PALPEBRAS DOS
OLHOS. A BOCA.
ALICE (olhando ao redor)
Aqui? Alguém pode aparecer.
DOMÊNICO PEGA ALICE PELA MÃO. NO PLANO SEQUÊNCIA, SOMOS LEVADOS A UM
OUTRO CÔMODO, UMA ESPÉCIE DE SALA. ELE ABRE UMA PORTA E ENTRA JUNTO COM ALICE. FECHA
A PORTA. ALICE OBSERVA O ESPAÇO, DE COSTAS PARA DOMÊNICO. O CURANDEIRO TIRA AS
ROUPAS. FICANDO NU. ALICE O OBSERVA.
DOMÊNICO
Lembre-se: eu posso lhe dar um filho...
DOMÊNICO VOLTA A BEIJAR ALICE, DESSA VEZ NO PESCOÇO, DESCENDO PELO CORPO
DA MULHER E TIRANDO-LHE O VESTIDO. ENQUANTO ELE ‘DESCE’ A CAM FOCALIZA O ROSTO
DE ALICE. NA EXPRESSÃO FACIAL UM MISTO DE DESEJO E APREENSÃO (IMAGINEM ESSA
‘EXPRESSÃO’ COMO QUISEREM CAROS LEITORES)
CORTA PARA
CENA 2 / CASA DE MARINALVA – SALA / INT.
NOITE
FIGUEIRA CHEGA EM CASA. HOJE MENOS BÊBADO QUE DE COSTUME, MAS CLARO,
BEBEU. MARINALVA ESTÁ NO QUARTO.
MARINALVA (em off)
Chegou cedo hoje! O que aconteceu... (chegando na sala. Se depara com o marido
deitado no sofá, de qualquer jeito) Eu,
por um instante, imaginei que você ia chegar sóbrio, hoje.
FIGUEIRA
Não me atente, mulher! Eu to varado de fome.
Faz um prato pra eu comer!
MARINALVA
Faço sim. Preciso esquentar a comida...
FIGUEIRA (se levanta)
Apesar que... (se aproxima da esposa. A abraça) Hoje eu posso comer outra coisa.
MARINALVA (se desvencilhando dos braços do marido)
Me respeite, homem! Vê se isso é linguajar
pra falar comigo!
FIGUEIRA
Você é uma mocreia mesmo, né? To tentando
fazer um esforço. Há quanto tempo que a gente não namora, hein? Depois que você
teve os meninos só a força. É na base da marretada que eu consigo me aliviar...
MARINALVA
Você anda muito indecente!
FIGUEIRA
E você virou uma carola insuportável! Quando
eu me casei você era diferente, lembra? A gente não podia chegar perto um do
outro. Era faísca pura.
MARINALVA SENTA-SE NO SOFÁ, ENQUANTO ESCUTA O MARIDO FALANDO, CHEGA
ESBOÇAR UNS SORRISOS, LEMBRANDO DA JUVENTUDE.
FIGUEIRA (permanece de pé. Observa a esposa)
A gente era fogo puro! Não havia tempo ruim.
Qualquer canto era lugar pra gente se amar...
MARINALVA
Se amar...
FIGUEIRA
Cê lembra? Até por trás você deixava!
MARINALVA (repreende)
Figueira, as crianças estão em casa!
FIGUEIRA (vai para o sofá, abraçando os ombros da esposa)
Deixe as crianças! Elas estão quietas no
canto delas. Vamos relembrar os velhos tempos, o que me diz, hein?
FIGUEIRA COMEÇA A BEIJAR O PESCOÇO DE MARINALVA, A ORELHA. A BEATA
PARECE CEDER, SE DERRETER EM MEIO AOS CARINHOS DO MARIDO MAS, NUM IMPULSO, SE
LEVANTA O REPELINDO.
MARINALVA
Pare! Que sem vergonhice! Você me bateu,
Figueira! Me fez perder um dente!
FIGUEIRA
Você é mesmo uma seca! Diabo! Maldita hora
que eu me casei com você! E ainda por cima fiz filhos. Eu deveria era te
abandonar, deixar essa casa aqui e procurar alguém melhor, sabe?
MARINALVA
E quem iria lhe querer, hein?
FIGUEIRA
Qualquer moça mais jovem, mais viçosa... Que
queira um homem de fibra, um homem estabelecido na vida. Sabe a Dorinha?
MARINALVA
O que tem Dorinha nessa história? O que ela
tem com isso?
FIGUEIRA
Seria uma ótima esposa. Quieta e sonsa. Com
carinha de santa, acompanhando a missa... Mas deve ter um fogo daqueles. E se bobear
deve liberar até atrás!
MARINALVA
Ela é virgem, seu tarado! Não fale isso da
menina!
FIGUEIRA (gargalha)
Pode até ser, mas eu vou lhe dizer: aquela
carinha de santa não me engana. Aquela roupa toda esconde uma mocinha cheia de
curvas. Uma mulher que daria de dez a zero em você, sua beata de quinta. Eu
comeria aquela sua amiguinha todinha!
MARINALVA (avançando pra cima de Figueira)
Não fale assim...
MARINALVA ANTES DE PENSAR EM DAR UM TAPA NA CARA DO MARIDO, LEVA UM.
DEPOIS O MARIDO A EMPURRA DERRUBANDO A BEATA NO CHÃO.
FIGUEIRA (olhando a esposa no chão)
Inferno! Vá preparar meu prato que eu vou
tomar banho! E nunca mais tente levantar essa sua mão pra mim, entendeu?
MARINALVA FICA MUDA. FIGUEIRA CUTUCA A ESPOSA COM O PÉ.
FIGUEIRA
Entendeu, sua peste? Me responde, praga!
MARINALVA
Entendi.
FIGUEIRA VAI PARA O BANHEIRO. MARINALVA SE LEVANTA. ENQUANTO COMEÇA A SE
PREPARAR PRA BOTAR A COMIDA PARA ESQUENTAR REZA.
MARINALVA
Ave Maria, cheia de graça! O senhor é
convosco...
CORTA PRA
CENA 3 / CASA DE DANIEL E ALICE – SALA / INT.
NOITE
MÚSICA ON: SINAL FECHADO – CHICO BUARQUE
ALICE CHEGA EM CASA. DANIEL ESTÁ SENTADO NO SOFÁ. ELE PERCEBE A CHEGADA
DA ESPOSA, MAS PREFERE FICAR EM SILÊNCIO. ELA SENTA-SE DO SEU LADO. PEGA NA MÃO
DO MARIDO. PUXA-LHE A MÃO. CHUPA O DEDO INDICAR, O PROVACA. DANIEL PARECE
DESPERTAR. VOLTA-SE PARA A ESPOSA A BEIJA DE FORMA TERNA. ALICE CORRESPONDE AO
BEIJO DE FORMA SELVAGEM. MONTA EM CIMA DO ESPOSO E COMEÇA BEIJA-LO. TIRA A
BLUSA, EM SEGUIDA O SUTIÃ.
DANIEL
O que você tem...
ALICE (botando o indicador nos lábios do marido. Pedindo silêncio)
Não fala nada! Me beija. Lambe os meus
peitos! Mete em mim! (agora no
ouvido do marido) Me come!
DANIEL, DEPOIS DO PEDIDO DEIXA A TERNURA E CARINHO DE LADO E SE TORNA
SELVAGEM COMO A ESPOSA. UM SEXO FORTE. UM SEXO VIOLENTO. OS DOIS TIRAM AS
ROUPAS ALI MESMO NA SALA. NUM DADO MOMENTO ALICE VIRA DE COSTAS.
DANIEL
O que você quer?
ALICE (de quatro)
Minha bunda!
DANIEL (nesse momento é a voz de Domênico que Alice ouve)
Tem certeza?
ALICE VIRA O ROSTO ASSUSTADA. NO LUGAR DO
MARIDO, VÊ DOMÊNICO.
DOMÊNICO
Você quer mesmo por trás?
ALICE BALANÇA A CABEÇA, COMO QUEM QUER ESPANTAR UMA MOSCA. FECHA OS
OLHOS E OS ABRE NOVAMENTE. DANIEL É QUE ESTÁ NA FRENTE DELA. ELA SORRI. OS DOIS
SE BEIJAM E TRANSAM ALI MESMO, NO CHÃO DA SALA.
MUSIC OFF.
CORTA PARA
CENA 4 / CASA DE TONHO E RITINHA / INT. NOITE
DOMÊNICO CHEGA A CASA DE TONHO E RITINHA. OS DOIS ESTÃO NA MESA. ELE
ENTRA E SE SENTA. TONHO VAI ATÉ ELE. DE PÉ, O ABRAÇA E LHE DÁ UM BEIJO NO
PESCOÇO, ELE RETRIBUI COM OUTRO NA BOCA. RITINHA OLHA CRUZANDO OS BRAÇOS E
FAZENDO BEIÇO.
DOMÊNICO (PARA TONHO)
O que deu nela?
TONHO
Nada, não! Não conhece a peça?
DOMÊNICO
O que cê tem, hein?
RITINHA
O que eu tenho eu deveria lhe contar lá...
DOMÊNICO (LEVANTA-SE VAI ATÉ RITINHA)
Você sabe que o local é para os atendimentos.
Assuntos pessoais a gente resolve aqui. De preferência li na cama.
DOMÊNICO DÁ UM SORRISO MALICIOSO PARA RITINHA. TONHO, MAIS UMA VEZ SE
APROXIMA DE DOMÊNICO E O BEIJA NA BOCA. OLHA PRA RITINHA.
TONHO
Vem meu amor! Vamos pra cama...
RITINHA (SE EXALTA)
Vocês querem sexo? Tonho, você sabe muito bem
da minha situação! Domênico, eu to muito chateada.
DOMÊNICO
Tá bem! Vou me sentar aqui na mesa. Sente-se
por favor (Ritinha senta) E me conte: o que, cargas d´água, te aflige?
RITINHA
Eu to grávida, meu Dom! Nós vamos ter um
bebê!
RITINHA SORRI, TONHO A ABRAÇA. DOMÊNICO SE LEVANTA E ABRAÇA A MOÇA. OS
TRÊS SE ABRAÇAM.
DOMÊNICO
Fico muito feliz por vocês dois! Um filho de
vocês dois. Uma família.
O SORRISO NO ROSTO DE RITINHA SOME. TONHO TAMBÉM MUDA O SEMBLANTE.
DOMÊNICO
O que houve? Por que estão com essas caras?
RITINHA
Eu, eu não sei de quem é o filho. A criança
pode ser do Tonho, como pode ser teu também!
TONHO
É um filho nosso, meu Dom. É uma cria de nós
três!
DOMÊNICO
Não. Esse filho é de vocês. Eu não tenho
família e nem vou ter. Eu amo vocês, amo muito. Mas o casamento é de vocês.
RITINHA
Eu pensei que nós fossemos a sua família.
Essa criança pode ser o elo entre nós três! Vai ser lindo!
DOMÊNICO
Não! Vocês não entenderam: eu não quero
filhos! O filho é de vocês!
TONHO E RITINHA FICAM CABISBAIXO. DOMÊNICO PERCEBE A SITUAÇÃO.
DOMÊNICO
Eu acho melhor ir embora...
RITINHA
Não! Por favor, fica?
RITINHA VAI ATÉ DOMÊNICO E O BEIJA. ELA CHAMA TONHO E OS TRÊS COMEÇAM A
SE ACARICIAR. NESSE MOMENTO A CAM FOCA NO ROSTO DE RITINHA. AO MESMO TEMPO QUE
SE DERRETE PELAS CARÍCIAS DOS DOIS, A SENSAÇÃO QUE PASSA É DE, TAMBÉM,
DECEPÇÃO.
CORTA PARA
CENA 5 / RIQUEZA / EXT. DIA E NOITE
MÚSICA ON: PROCISSÃO – GILBERTO GIL
VEMOS A NOITE PASSAR E O DIA CHEGAR. STOCK SHOTS DA LOCALIDADE SE
MOVIMENTANDO. PESSOAS ANDANDO NAS RUAS. DORIANO ABRINDO O BAR E RECEBENDO
FIGUEIRA E ALMEIDA. MAIS UM DIA QUE SE VAI E A NOITE CHEGA. DOMÊNICO DEIXA A CASA
DOS MILAGRES E SE ENCONTRA COM TONHO E RITINHA. NA IGREJA, EMERENCIANO REZA A
MISSA COM DORINHA E MARINALVA E OUTROS MORADORES.
CORTA PARA
CENA 6 / CASA DE DANIEL E ALICE – BANHEIRO /
INT. DIA
ALICE CHEGA CORRENDO NO BANHEIRO. ABRE A TAMPA DA PRIVADA E VOMITA.
DANIEL CHEGA PARA AJUDAR A ESPOSA.
LETREIRO INDICA: TEMPOS DEPOIS.
MUSIC OFF.
CORTA PARA
CENA 7 / POSTO DE SAÚDE – SALA DE ATENDIMENTO
/ INT. DIA
DANIEL ESTÁ COM A ESPOSA NO POSTO. INOCÊNCIA TAMBÉM ESTÁ COM ELES.
DANIEL (SEGURANDO O EXAME)
Tudo indica que sim, mas esse exame vai dar a
certeza.
ALICE
E o que você está esperando pra abrir?
DANIEL
Eu to nervoso!
INOCÊNCIA (PEGANDO O RESULTADO DA MÃO DO MÉDICO)
Deixa comigo, então! Vocês dois que se
segurem.
INOCÊNCIA ABRE O EXAME. DÁ UMA LIDA. SORRI E BALANÇA A CABEÇA EM SINAL
DE POSITIVO.
DANIEL
Sério?
ALICE
É claro que é sério, meu amor!
DANIEL (PEGANDO O EXAME DAS MÃOS DA SECRETÁRIA. LÊ)
É isso mesmo! Nós estamos grávidos, meu amor!
DANIEL ABRAÇA A ESPOSA. ALICE RETRIBUI. ELES SE BEIJAM. EM SEGUIDA
INOCÊNCIA OS CUMPRIMENTA.
ALICE
Um bebê, meu amor! O nosso filho! Nosso!
OS DOIS SE BEIJAM MAIS UMA VEZ.
CORTA PARA
CENA 8 / IGREJA / INT. DIA
MARINALVA E DORINHA ESTÃO REZANDO NA IGREJA. ELAS ENCERRAM AS ORAÇÕES E
SE LEVANTAM.
MARINALVA
Vamos até o padre.
DORINHA
Eu já me vou, Marinalva...
MARINALVA
O que aconteceu com você, hein?
DORINHA
Nada! Por que?
MARINALVA
Você está estranha, e não é de hoje. Anda
mais quieta do que o normal. O que aconteceu?
DORINHA
Nada! Eu devo está um pouco lesada por conta
do calor...
MARINALVA
Lesada você já é! Vamos logo falar com o
padre.
MARINALVA E DORINHA VÃO SEGUINDO PELA IGREJA. QUANDO RAIMUNDA PASSA POR
ELAS.
MÚSICA ON: BORANDA – GAL COSTA
MARINALVA
Se não é a serva do Diabo! E na casa do
senhor?
RAIMUNDA PARA. SE VIRA PARA AS DUAS MULHERES E SORRI. MARINALVA SE
APROXIMA.
MARINALVA
Você veio buscar ajuda? Acho que você tá
muito velha pra se redimir.
RAIMUNDA
Me redimir do que?
MARINALVA
De estar do lado do capeta!
RAIMUNDA DÁ UM TAPA NO ROSTO DE MARINALVA QUE SE APOIA EM DORINHA.
MARINALVA
Essa mulher me agrediu!
RAIMUNDA
E se vocês duas não saírem daqui agora, eu
volto a bater!
MARINALVA
Mas...
RAIMUNDA
Saiam daqui!
DORINHA PUXA MARINALVA PELO BRAÇO, SAINDO DA IGREJA.
DORINHA
Vamos embora, Marinalva. Eu não quero levar
tapa na cara, não.
CORTA PARA
CENA 9 / IGREJA – CONFESSIONÁRIO / INT. DIA
RAIMUNDA ENTRA NA CABINE DE CONFISSÃO. EMERENCIANO ABRE A PORTINHOLA.
EMERENCIANO
Acho que você tem que rezar pelo resto da sua
vida e ainda não vai conseguir redimir de seus pecados.
RAIMUNDA
Eu sou filha de Deus. Deixe seus achismos de
lado, comigo.
EMERENCIANO
O que você quer?
RAIMUNDA
Eu acho que pequei, padre. Preciso me
confessar.
EMERENCIANO (SEGURANDO UMA GARGALHADA)
Então fale minha filha. Duvido muito que vou
me horrorizar com qualquer coisa que você diga...
RAIMUNDA
Há tempos atrás, quando eu era mais jovem, eu
trabalhei numa fazenda. Eu era bonita, sabe? Chamava atenção. Eu trabalhava
cuidando da casa, da cozinha, sabe? E nessa eu acabei encantando o dono da
casa. Ele tinha uma mulher, claro. Ela tava grávida. Enquanto a esposa vivia os
desejos da gravidez, dos quais eu realizei muitos na cozinha, o marido dela não
se importava em passar a mão em mim quando podia. De início, eu fiquei
preocupada, mas depois que me apaixonei por aquele homem, principalmente quando
ele me beijou. Eu me entreguei a ele, várias vezes...
EMERENCIANO
O que você quer, ou melhor, do que você está
falando?
RAIMUNDA
Da última vez que lhe encontrei você acertou:
eu dormia sim com o patrão. Eu cuidava dele. Eu amava aquele homem. Mas você
não sabe da outra parte da história.
EMERENCIANO
Você é adultera...
RAIMUNDA (INTERROMPE EMERENCIANO)
Eu engravidei!
EMERENCIANO EMUDESSE. RAIMUNDA PARECE TENTAR VER A EXPRESSÃO NO ROSTO DO
PADRE.
RAIMUNDA
Eu engravidei e, quando a barriga começou a
aparecer demais, eu tive que me afastar do serviço. A esposa do patrão tinha
muitas teorias na cabeça dela. Muita gente veio me dizer que essa mulher queria
acabar com o meu filho. Que iria buscá-lo aonde fosse pra matar ele. Sabe o que
eu fiz? Eu dei à luz, fiquei mais cinco, seis meses com meu bebê e o deixei aos
cuidados de uma prima. Meu medo era a esposa do patrão tentar algo contra o meu
filho. Mas daí, pra não dar bandeira, e também para ver o patrão, por quem eu
me apaixonei, eu voltei pra fazenda. Disse que a criança não tinha vingado. O
bebê deles, claro, já tinha nascido. Era uma criança linda. Enquanto eu via
esse menino crescer, de mês em mês eu ia procurar ver meu filho. Até que um dia
a minha prima morreu. Eu não tinha onde deixar meu filho e o levei comigo. Lá
na fazenda eu disse que a criança era meu afilhado, na realidade, até meu filho
acreditava nisso. Sabe por que ele acreditava nisso? Porque eu tinha medo da
esposa do patrão descobrir que o meu filho, na realidade, era também filho no
marido dela.
EMERENCIANO SAÍ DO CONFESSIONÁRIO, VAI ATÉ RAIMUNDA E A TIRA DO LOCAL. A
SEGURA PELOS BRAÇOS, A SACUDINDO.
EMERENCIANO
Que mentira é essa? Que história é essa que
você ta falando?
RAIMUNDA
autor
VITOR ZUCOLOTTI
elenco
DOMÊNICO (LÁZARO RAMOS)
RAIMUNDA (ZEZÉ MOTTA)
TONHO (TOMÁS AQUINO)
MARINALVA (CLAUDIA MISSURA)
DORINHA (BÁRBARA REIS)
PADRE EMERENCIANO (JOÃO MIGUEL)
DANIEL (EMILIANO D´AVILLA)
ALICE (ALICE BORGES)
INOCÊNCIA (LUCY RAMOS)
RITINHA (JENNIFGER NASCIMENTO)
FIGUEIRA (EDUARDO GALVÃO)
CRISTINA RAVELA
REALIZAÇÃO
Copyright © 2021 - WebTV
www.redewtv.com
Comentários:
0 comentários: