QUANDO ANA OLHOU PARA A DIREITA - CAPÍTULO 01
Perdida
em seus pensamentos, Ana ouvia várias vozes passando por sua cabeça. Em meio a
discussões e risos, uma das vozes chamou pelo seu nome. Não era nenhum tipo de
esquizofrenia ou devaneio, apenas sua mente desligada durante um almoço de
domingo em família.
Após
retomar sua atenção ao que acontecia ao seu redor, Ana, que tinha ótima
percepção, começou a notar todas as conversas que aconteciam simultaneamente
naquela mesa de almoço dominical.
— Você
fica defendendo esses comunistas! — dizia Andreas, que estava sentado à direita
da mesa, em tom ofensivo a Antero.
— Não
vou entrar nessa discussão com você, Andreas. Suas falas são totalmente sem
fundamento, apenas com intenção de causar atrito — retrucou Antero, enquanto
dava de ombros para o irmão.
—
Vocês parecem duas crianças. Não importa seu lado político, mas ser um cidadão
de bem que não se mete nessas picuinhas. Isso é tão classe-média! — interrompeu Konstantinos, o patriarca da família.
Os
irmãos mais velhos de Ana sempre foram como água e fogo. Um encontro de família
sem que houvesse uma discussão política entre os dois, somente nos dias em que
um deles não estava presente. Normalmente, Andreas era o centro de todas as
discussões da família. Provocador nato de confusões, Ana preferia se esquivar
de qualquer conversa com o irmão militar e defensor da violência gratuita.
Continuando
seu tour pela mesa, observava como Gabi, esposa de Andreas, preferia se
fotografar em todos os ângulos possíveis, até encontrar a foto perfeita para
que seus seguidores pudessem apreciar toda sua inquestionável beleza. Ana dava
razão à cunhada em se desligar do mundo real, pois suportar seu irmão, Andreas,
não era uma tarefa fácil.
No
canto esquerdo daquela grande mesa de doze lugares, estava a mãe de Ana,
brincando com seu neto, Eros. Aquele lindo bebê, que trouxe um pouco de paz
para a família, teve a sorte de herdar a beleza da mãe blogueira. A esperança era
que ele não desenvolvesse a hostilidade do pai.
Ana
observava como a mãe acabava deixando de lado os problemas da família Torosídis,
mesmo que por alguns momentos, enquanto se divertia com o único neto. Ana
preferia também dedicar sua atenção apenas ao sobrinho, pois aquele bebê
irresistível merecia alguns beijos e apertões. Então ela se levantou e se
aproximou da mãe, dizendo:
— Como
pode uma pessoinha tão pequena deixar todo mundo com os olhos brilhando e não
conseguir olhar para outra coisa?
E,
usando aquela tradicional voz que os adultos fazem para conversar com bebês,
Ana já estendia os braços para o sobrinho, que respondia com a mesma ação.
— Oi,
meu amor! Vamos passear com a titia! — dizia Ana, em tom carinhoso.
Em um
monólogo com o sobrinho, Ana andava pela sala de jantar em direção à porta que
dava acesso ao jardim, enquanto Eros brincava com os cabelos ondulados da tia.
— Você
é o bebê da titia? Você é o único Torosídis que não tem problemas? — dizia Ana
para o sobrinho, sentado em seu braço.
Enquanto
aqueles grandes olhos azuis a encaravam, como quem tentava entender suas
palavras, um belo sorriso de dois dentes se formou em seu rosto. Não havia quem
resistisse a esse belo sorriso banguela. Como prometido, Ana respondeu com
muitos beijos e apertões.
Enquanto
apontava para que o bebê visse alguns pássaros que voavam livres por aquele
grande e belo jardim, Ana viu sua tia, Zoé, chegando em direção a eles, já com
um sorriso no rosto. Ela já esperava o comentário preferido da família, referindo-se
à sua vida pessoal.
— Você
se dá bem com crianças! Não pensa em se casar e dar mais algum neto para seus
pais? — perguntou Zoé.
Mesmo
cansada desse tipo de brincadeiras, Ana sorriu para a tia, que ela adorava, e
respondeu:
— Estou deixando isso por conta do destino. A
senhora não se casou e está muito bem! — retrucou Ana, com um sorriso de canto
e fazendo um carinho nos cabelos grisalhos da tia.
— É
verdade! O casamento não é para todos, minha filha — sussurrou Zoé. — Às vezes,
o melhor que se pode fazer é se dedicar a uma coisa maior, como encontrar vidas
melhores para outras pessoas — finalizou, já com um tom mais sério.
—
Falando nisso, como vão as coisas no orfanato? — perguntou Ana, dando sequência
à conversa enquanto mudava o sobrinho para o braço descansado.
Há
muitos anos, Zoé gerenciava o orfanato Arquiem. Uma instituição muito
respeitada na cidade de São Paulo. O orfanato era mantido pela Família
Torodídis há anos. Inclusive, foi o primeiro lar de Ana, adotada pelos
Torosídis ainda bebê.
— Vai
indo muito bem! Esse mês, duas crianças foram adotadas por boas almas —
respondeu Zoé com um sorriso de felicidade. — Depois de certa idade, fica
sempre mais difícil que essas encontrem famílias — completou, desmanchando a
expressão de alegria do rosto.
— Fico
feliz pelas crianças que conseguiram novos lares. Pelas que ainda ficaram no
orfanato, sei que serão muito bem cuidadas até que encontrem boas famílias — comentou
Ana, com um sorriso em direção à tia.
—
Agora, preciso ir pra casa! — exclamou Ana enquanto olhava as horas no
telefone.
—
Claro, meu bem! — respondeu sua tia. — Fico esperando sua visita qualquer dia
desses.
Ana
acenou com a cabeça em sinal positivo, despedindo-se da tia com um beijo no
rosto, e voltou para a sala de jantar da família. Como uma boa família
grego-brasileira, eles continuavam suas discussões. Entregou o sobrinho e se
despediu com um forte abraço e um beijo na testa da mãe, que continuou ali
sentada.
Ana
pegou um pouco de pudim servido na sobremesa e o comeu em apenas três
colheradas, devolvendo sua taça vazia para a mesa e pedindo que a empregada
separasse um pouco de pudim em um potinho para ela levar pra casa. Antes de
sair, brincou com a cunhada Gabi, posicionando-se atrás da blogueira fazendo um
sinal de paz e amor com os dedos enquanto ela se fotografava. A cunhada ficou
super empolgada e disse que iria postar a foto.
—
Gente, que linda a nossa foto! — exclamou Gabi com um belo sorriso no rosto. —
Vou postar agora mesmo, vamos arrasar!
Com a
atenção da cunhada agora dedicada ao melhor filtro para a foto, Ana se afastou,
já despendido da família à distância.
— Até
mais, pessoal! Já vou indo — disse Ana, acenando com o braço para todos de uma
vez.
—
Espere, filha! — ordenou Konstantinos, já se levantando.
Ao se
aproximar, já envolveu a filha em seus braços enormes, dizendo que estava cedo
demais, que deveria ficar mais tempo com a família. Konstantinos era um homem
alto e estava sempre impecável. Seus cabelos brancos bem penteados se
misturavam com sua barba volumosa, não abria mão de estar bem vestido, mesmo
que para um simples almoço de família.
—
Preciso mesmo ir, pai! — respondeu Ana. — Preciso resolver umas coisas ainda,
e como é domingo, eu prefiro dormir cedo.
Ana
sabia que não podia se prender a uma conversa com seu pai naquele momento. As
cobranças sobre se casar, criar uma família começariam logo e ela já tinha
gastado sua cota sobre o assunto com sua tia.
— Está
precisando de alguma coisa, filha? Algum dinheiro ou algo do tipo? — perguntou
o pai em tom sério — Você é igual ao seu irmão, Antero, tão autossuficiente.
Não pedem nada ao pai — completou Konstan, com um certo drama irônico na sua
fala.
— Obrigada,
pai! Não preciso de nada no momento. Está tudo ótimo — respondeu Ana,
acariciando a barba branca do pai e já se desvencilhando do abraço.
— No
próximo fim de semana, passo por aqui novamente. Até logo! — Ana se despediu
andando em direção à porta de saída.
Com o
trânsito bem tranquilo e sua playlist favorita tocando, Ana dirigiu por cerca
de trinta minutos de volta pra casa.
Ela
morava em um apartamento da família, no centro da cidade. Acabou aceitando utilizar
o apartamento oferecido pelo pai, já que encontrar um apartamento próximo ao
trabalho era algo raro em São Paulo. Era um ótimo apartamento, longe do
conforto que ela teve enquanto morava na casa dos pais, mas eram 96m² de
liberdade para seguir sua vida e seus sonhos.
Ao
chegar no prédio, Ana cumprimentou o porteiro.
— Olá,
‘Seu’ Pedro! Acho que o senhor vai gostar — disse Ana, sorrindo e colocando
um potinho de plástico em cima do balcão da recepção.
— Obrigado,
milha filha! — respondeu o homem, abrindo o pote. — Esse pudim está com uma
cara ótima.
Com um
tapinha no balcão e um sorriso, Ana se despediu e continuou seu caminho em
direção ao elevador. Ao entrar no apartamento, experimentou aquela sensação de
prazer ao tirar os sapatos, que já incomodavam. Ela ainda tinha uma missão
importante naquele fim de domingo, ligar a Netflix e terminar de
maratonar a sua série preferida. Faltavam apenas 3 episódios para ela saber o
destino de Walter White em Breaking Bad.
Ana desligou
seu telefone, aconchegou-se com seu companheiro de apartamento em meio a
almofadas e um cobertor bem macio. Perseu adorava assistir TV com Ana, mesmo
que aquele Buldog inglês não fizesse ideia do que do que estava acontecendo, mas
ficar deitado no sofá com a dona era seu passatempo preferido.
Encerra com a música: (Rosas - Ana Carolina).
CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO
Meio
sem graça, Letícia desligou e disse a Ana que o delegado queria vê-la em sua
sala.
— Droga!
Aposto que é sobre o caso da joalheria — reclamou Ana, já se levantando.
— Vai
lá. Vou organizando essa papelada pra você — disse Letícia.
— Obrigada! — agradeceu Ana, e alinhou sua roupa — Ah! E é Senhorita Torodídis, por favor! — exclamou com um sorriso e o dedo apontado para a assistente.
— Feche
a porta e se sente! — ordenou o Delegado Belfort com sua voz que o gabaritava
para ser um locutor de rádio.
— Pois não, senhor! — disse Ana, já arrastando a cadeira para se sentar.
— Vou direto ao assunto, Ana!
NÃO PERCA, DIA 22, O SEGUNDO CAPÍTULO:
— Mas,
chefe...
— Ouça,
Ana: você é uma das melhores detetives que tenho, mas você precisa entender que,
algumas vezes, você precisa abrir mão de alguns casos e deixar nas mãos de
outro — disse o delegado em um tom reconfortante.
elenco
Larissa Manoela como Helena Torosídis
Rosas - Ana Carolina
Cristina Ravela
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Uma trama interessante, com início ágil e repleto de bons diálogos. Ana parece ser enigmática. Muita intriga ainda vai rolar, pelo que parece... Apreciei bastante o clip de abertura!
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