TERRA DA GAROA - CAPÍTULO 01
CENA 01. TAKES FAZENDA QUEIRÓS. EXT. DIA.
(música “Disparada” – Jair Rodrigues) Vista aérea, plano aberto. CAM percorre um vasto campo onde aos poucos começa a aparecer uma imensa plantação de oliveiras.
Mostra as aves cruzando o céu, um rebanho de gado percorrendo o pasto. Corta para um rapaz, moreno, cabelos curtos e cacheados, porte atlético, cerca de 30 anos, a cavalo, galopando, por um gramado verdejante. O vento bate em seu rosto, o sol o ilumina. Ele cavalga em direção à uma grande casa de estilo colonial, imponente.
O rapaz desce do cavalo, entrega o animal para um outro homem, capataz da fazenda, e entra na casa. (fade out trilha “Disparada” – Jair Rodrigues)
CENA 02. CASA DA FAZENDA. INT. DIA.
O rapaz entra na casa, chegando à sala de estar. O ambiente mistura decoração antiga com objetos modernos. Há duas pessoas reunidas no local. Uma mulher, acima dos 60 anos, cabelos curtos, cacheados, louro escuro, “ar” risonho, se aproxima dele, o abraçando.
MULHER: - E então, meu filho, deu pra curtir o ar puro da fazenda?
RAPAZ: - Deu sim, mamãe. É maravilhoso quando a gente volta pra cá e sente a natureza de perto. É uma pena que São Paulo tenha tão pouco dessa natureza.
Um outro homem, moreno, cerca de 30 anos, cabelos curtos, pretos, expressão mais séria, se manifesta, sentado numa poltrona de couro de encosto alto. É Humberto.
HOMEM: - Sentir a natureza é ótimo, mas não troco a cidade pela vida no campo.
RAPAZ: - Todos sabemos que você é cem por cento cosmopolita, Humberto.
HUMBERTO: - Henrique, eu gosto da natureza, mas assim, cada um no seu lugar. Eu no meu e ela no lugar dela.
MULHER: - Não esqueça que vem da natureza o sustento dessa família, Humberto. Não podemos ignorá-la assim.
HUMBERTO: - Eu não a ignoro, dona Maria Alice.
HENRIQUE: - O Humberto está brincando, mamãe. Ele sabe o quanto é importante esse lugar... E o papai, onde está?
MARIA ALICE: - Está mostrando o escritório novo para o Barreto e a Tarsila.
HENRIQUE: - Eles estão aí é?
MARIA ALICE: - Sim, estão.
Ouve-se risadas.
Gurgel (acima dos 70 anos, cabelo curto, escuro),
acompanhado de Barreto (cerca de 50 anos, negro, cabelo
grisalho), Tarsila (cerca de 50 anos, negra, cabelos
crespos, volumosos, com vestido esvoaçante, elegante) e
Nuno (cerca de 20 anos, negro, óculos de grau, trajando
calça e suéter) entram na sala.
MARIA ALICE (sorridente): - Qual o motivo da piada?
TARSILA: - Gurgel equipou o escritório com tudo de alta tecnologia. Mas não sabe nem ligar o computador... (risos)
GURGEL: - Isso eu deixo para os rapazes. Eu tenho a experiência e o controle na cabeça. A parte operacional eles cuidam.
BARRETO: - E cada dia chega uma novidade no mercado. E o computador de hoje amanhã já está ultrapassado.
TARSILA: - Como vai, Henrique? Precisamos sair de São Paulo para nos encontrar, é isso?
HENRIQUE: - São tantos compromissos, Tarsila... Barreto, como está?
BARRETO: - Tudo em ordem. Esperando você para o turfe. Está me devendo uma visita ao Jockey.
HENRIQUE: - Eu sei! E vou pagar essa dívida!
GURGEL: - Falando em dívida... Humberto, temos uns acertos a fazer, não temos?
HUMBERTO: - Papai, fazendo cobranças na frente das visitas?
MARIA ALICE: - Tarsila, Barreto e o Nuno não são visitas. São praticamente da família.
HUMBERTO: - Mesmo assim... (sem jeito) Mais tarde conversamos sobre isso...
HENRIQUE: - E você Nuno, tão quieto aí.
MARIA ALICE: - Nuno sempre foi quietinho, desde garotinho. Bem ao contrário da irmã! (risos)
TARSILA: - Stefany parece ligada na tomada! Movida à pilha, sei lá! (risos) não sei de onde ela tira tanta energia!
NUNO: - Stefany é movida à compras, mamãe.
HUMBERTO: - Me diga qual mulher não é assim, Nuno?
Num outro ponto, Gurgel e Barreto conversam.
GURGEL: - Nós ainda estamos um pouco atrás do Rio Grande do Sul em termos de cultivo de oliveira. Mas acredito que em pouco tempo essa diferença seja ainda menor.
BARRETO: - E a empresa está crescendo, Gurgel. Se expandindo para todo o país e logo mais para o exterior.
GURGEL: - Já estamos no exterior. Pequenos ainda, tímidos. Apenas na América do Sul. Mas eu quero Europa, Barreto. Sei que temos potencial pra isso...
Henrique se aproxima.
HENRIQUE: - Sempre falando de negócios. A pauta nunca muda nem aqui na fazenda?
GURGEL: - Como eu posso não falar daquilo que me fez ser quem eu sou hoje, meu filho? O plantio e o cultivo das oliveiras salvaram nossa família de um grande abismo.
BARRETO: - Falando em abismo, alguns concorrentes fecharam as portas. Li no jornal.
HENRIQUE: - A crise econômica ainda causando vítimas.
GURGEL:
- E para que a gente não sofra, eu estive tendo várias
ideias. E acho que agora é a hora de abrir para vocês.
Vamos voltar para o escritório.
Henrique, Gurgel e Barreto saem. Humberto, da poltrona,
observa tudo. Enquanto Tarsila conversa com Nuno, Maria
Alice se aproxima do filho.
MARIA ALICE: - O que foi, Humberto? Tá com uma cara...
HUMBERTO: - Papai, pra variar, me ignorando.
MARIA ALICE: - Não diga uma coisa dessas, meu filho. Seu pai jamais (pausa)
HUMBERTO (interrompendo): - Não venha colocar panos quentes, mamãe. Ele acabou de ir para o escritório com o Barreto e com o Henrique e não fez questão nenhuma de me chamar. Ele está com raiva de mim porque ainda não devolvi o dinheiro que ele me emprestou. Mas eu vou pagar, mãe!
MARIA
ALICE: - Não é isso, Humberto! Não pense assim,
meu filho... Você sabe como seu pai é, agitado,
esquecido. Não leve a mal. Vá pra lá também. Ele não vai
impedir sua entrada.
Humberto levanta-se, firme e sai da sala. Maria Alice
fica a observá-lo. Tarsila se aproxima.
TARSILA: - O que foi com ele?
MARIA ALICE: - Desde pequeno sempre foi assim. Ele acha que é preterido pelo Gurgel. Imagina! O pai ama os dois filhos da mesma forma.
CENA 03. IMAGENS GERAIS DE SÃO PAULO / SHOPPING.
INT.DIA.
Imagens aéreas e planos abertos de diversos pontos da
cidade de São Paulo: a Marginal Pinheiros, o Parque do
Ibirapuera, a Avenida Paulista.
Corta para um shopping Center. (sobe trilha “Fica
Só Olhando” – Anitta) Uma jovem loira, magra,
cabelos ondulados, compridos, cerca de 20 anos e uma
jovem negra, cabelos ondulados escuros, cerca de 20
anos, caminham lado a lado, com sacolas de compras e
roupas de marca. Sequência de várias imagens das duas
entrando e saindo das lojas, comprando mais e mais
coisas.
As duas sentam-se em uma mesa na praça de alimentação.
LOIRA: - O vestido que você comprou por último é lindo, Stefany!
STEFANY: - Carol eu adorei! Perfeito pra usar na festa da Laurinha.
CAROL: - Você vai?!
STEFANY: - Eu vou.
CAROL: - Mas a Laurinha te odeia! Te entregou o convite por puro deboche. Ela ta certíssima de que você não vai nem chegar perto da rua onde ela mora...
STEFANY: - Aí é que ela se engana. Se não queria que eu fosse, não me entregasse o convite. Agora é tarde. Eu quero entrar nessa festa arrasando, Carol. E você vai comigo.
CAROL: - Eu?! Mas eu também não suporto essa garota!
STEFANY: - Vai sim. Eu preciso de testemunhas para ver o quanto eu vou arrasar com aquela patricinha chata.
CAROL:
- Uma patricinha falando da outra. (risos)
As duas riem.
CAROL: - Vamos lá na loja da mamãe?
STEFANY: - Vamos sim. Já vou dar uma olhada nuns sapatos também.
CAROL: - O quarto sapato só hoje.
STEFANY:
- Nunca é demais...
As duas seguem caminhando pelo shopping (fade in
trilha “Fica Só Olhando” – Anitta). Elas chegam
à loja. É um ambiente requintado, muito bem decorado.
(baixa trilha)
CAROL:
- Oi mãe!
Uma mulher,
40 anos, magra, alta, cabelos castanhos escuros, andar
elegante, se aproxima delas.
MULHER: - Fazendo compras, meninas?
STEFANY: - É, só umas comprinhas, Paula.
PAULA: - Você foi muito generosa dizendo comprinhas, Stefany. (risos)
CAROL: - Passamos só pra dar um oi. Ainda tem salão de beleza.
PAULA: - E posso saber o porquê dessa produção toda?
STEFANY: - Temos uma festa imperdível hoje e não podemos chegar simples.
PAULA: - Nem se vocês quisessem, não chegariam a lugar algum simples, meninas. (risos)
STEFANY: - Gente, que sapatos lindos são esses? Minha mãe não falou nada pra mim!
Stefany vai ate a prateleira olhar os sapatos.
CAROL: - E o papai?
PAULA: - Reunião na empresa. Tínhamos até combinado de almoçar juntos, mas ele ligou, desmarcando.
CAROL: - E você ficou chateada...
PAULA: - Eu? Claro que não. Seu pai é um homem muito dedicado ao trabalho, eu entendo perfeitamente.
CAROL: - Eu e a Stefany ainda não almoçamos. Se quiser, pode almoçar com a gente. Que tal? As três juntas?
PAULA: - Eu adoraria!
STEFANY:
- Eu também adoraria ter esse sapato nos meus pés! Tem
36?!
Carol e Paula riem.
CENA 04. HMÓVEIS. SALA DE REUNIÕES. INT. DIA.
Enquanto um homem loiro, porte atlético, cabelos curtos,
30 anos, apresenta o projeto de móveis para um novo
condomínio, um homem moreno, cabelos curtos, porte
elegante, cerca de 35 anos e um homem cabelos grisalhos,
aparência mais fechada, 55 anos observam com atenção.
Além deles, uma mulher loira, corpo escultural, cabelos
ondulados, 25 anos, está presente, fazendo as anotações.
Outros diretores estão presentes na reunião.
HOMEM LOIRO (mostrando no telão): - Este tipo de sofá tem revestimento
impermeabilizante, além de um designer que combina com
qualquer ambiente.
O celular do homem moreno toca, interrompendo a
apresentação. O homem se apressa para atender.
HOMEM MORENO: - Desculpa pessoal. (atende o telefone, discretamente) Alô? (Tempo) Rita, eu estou numa reunião importante, não posso falar agora. (PAUSA) Diz pra ele obedecer, senão não vai ganhar festa de aniversário...
O homem loiro observa o homem grisalho, que faz cara de poucos amigos diante da interrupção. O homem loiro pigarreia para chamar a atenção do homem ao telefone, que percebe.
HOMEM MORENO (ao telefone): - Rita, fala com a Lenara, dá um jeito aí. Agora eu realmente não posso. (desliga o telefone)
HOMEM GRISALHO: - Podemos prosseguir, Ulisses?
ULISSES: - Claro Santiago. Robson, Desculpe pode prosseguir.
ROBSON:
- Pois bem, continuando... A seguir temos esta
prateleira toda em aço inox e acrílico, com um visual
moderno e sofisticado...
O telefone de Ulisses toca novamente. Ele, já
constrangido, atende.
ULISSES (ao telefone, fala baixo): - Rita! Agora eu não posso!... (PAUSA) Mas e a Lenara, não está aí? (PAUSA) (suspira, com enfado) Tá certo. Eu estou indo. (desliga)
Ulisses se levanta da mesa de reuniões.
ULISSES: - Eu preciso (pausa)
SANTIAGO (interrompe): - Pode ir, Ulisses. Mais tarde você recebe o relatório da senhorita Keylla Mara.
Keylla Mara sorri para Ulisses.
ULISSES:
- Obrigado. Desculpem o incômodo.
Ulisses sai da sala de reuniões.
ROBSON: - Prosseguir?
SANTIAGO:
- Acho que podemos dar uma pausa para o café. Depois
continuamos. Só espero que ninguém mais interrompa.
Os diretores se dirigem até uma mesa próxima, onde estão
dispostos café e biscoitos. Robson se aproxima de Keylla
Mara.
ROBSON: - Está conseguindo pegar todas as informações do projeto?
KEYLLA MARA: - Estou sim. Depois que eu terminar, já mando uma cópia para o e-mail do doutor Ulisses... Será que aconteceu alguma coisa séria?
ROBSON: - Ele estava falando com a Rita, que é a pessoa que cuida do Otávio, filho dele. Pra ele sair assim, no meio da reunião... Só espero que não seja nenhum problema grave.
CENA 05. CASA DA FAZENDA QUEIRÓS. COZINHA. INT. DIA.
Maria Alice e Tarsila conversam na cozinha, enquanto as
panelas cozinham o almoço no fogão.
TARSILA: - É sempre tão agradável passar o tempo aqui na fazenda.
MARIA ALICE: - Eu adoro esse lugar. Gosto da casa de São Paulo, mas a fazenda tem um ar puro incrível, uma aura bacana. Gurgel também adora esse lugar. Por ele, vivia só aqui.
TARSILA: - Henrique puxou um pouco isso do pai. Vejo que ele gosta muito da fazenda, dos cavalos, dos cuidados com a terra, mesmo não deixando de lado seu gosto também pela cidade.
MARIA ALICE: - Já o Humberto é totalmente o oposto. Humberto não veio do barro, como nós humanos. Ele saiu direto do concreto, do aço, do ferro... (risos)
Aos poucos, o sorriso de Maria Alice se esmaece. Tarsila percebe.
TARSILA: - O que foi?
MARIA ALICE: - O de sempre... A relação entre Gurgel e Humberto. Sempre numa linha tênue, frágil. Parece que a qualquer momento ela se rompe de vez.
TARSILA: - Aquela ideia de uma empresa nova, que ficaria sob os cuidados do Humberto...
MARIA ALICE: - Nada saiu do papel. E o Gurgel toda vez cobra o filho por isso. É impossível para uma mãe escolher entre um filho e outro... E eu detesto pensar dessa forma, mas acho que o Gurgel já escolheu bem qual o seu preferido.
TARSILA: - Isso é péssimo... Humberto deve se sentir muito rejeitado.
MARIA ALICE: - Eu me esforço muito para fazer com que ele não se sinta assim. E até cobro o Gurgel por isso. Sei que ele não faz por mal, mas acaba fazendo mesmo assim. Eu rezo todos os dias para que eles tenham uma amizade forte mesmo. Um amor verdadeiro de pai e filho.
CENA 06. CASA DA FAZENDA QUEIRÓS. ESCRITÓRIO. INT. DIA.
Henrique, Gurgel, Humberto e Barreto no escritório.
GURGEL:
- E graças ao Henrique, nós conquistamos o prêmio
latino-americano de inovação tecnológica no cultivo das
oliveiras.
Humberto encara Henrique com expressão fechada.
BARRETO: - Foi uma ideia incrível. E que inclusive já está sendo copiada por outras empresas.
HENRIQUE: - É vantajoso para todos. Eliminar cada vez mais o uso de agrotóxicos nas lavouras e prolongar a vida dos produtos é o que todo mundo busca.
GURGEL:
- Esse meu filho é ou não é um homem de visão, Barreto?
Barreto sorri. Gurgel feliz ao lado de Henrique.
Humberto sentado na cadeira, calado, cara fechada.
CENA 07. APTO LENARA. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
O apto é amplo, muito bem decorado e claro. Uma mulher
magra, cabelo preto, liso e curto, pele clara, 20 anos,
deixa a bandeja com lanche sobre a mesa de centro.
MULHER:
- Otávio!... Tavinho!
Otávio (cabelo preto, curto, magro, 6 anos) chega na
sala correndo, se aproxima de Rita.
MULHER: - Agora, por favor, Tavinho, faz esse lanche! Você não quis tomar café e me pediu esse lanche. Agora come, por favor!
OTÁVIO: - Rita, você fez tudo o que eu pedi?
RITA: - Fiz, ta tudo aí. Agora você precisa comer, depois escovar os dentes, arrumar sua mochila e sair, porque hoje tem atividade na sua escola. Entendeu?
OTÁVIO: - Aham.
Rita se afasta. Otávio senta-se no tapete, próximo da mesa de centro para lanchar. A TV está ligada e está passando um desenho de aventura. Otávio fica impressionado com o desenho. Ele aumenta o volume da TV e se imagina como personagem do desenho. Ele sobe na mesa de centro, pula no sofá, bagunça a sala. Rita retorna, surpresa.
RITA: - Tavinho! O que está acontecendo aqui?!
OTÁVIO: - É a aventura, Rita!
RITA: - Você vai se atrasar, menino!... Eu já não sei mais o que fazer. Nem seu lanche você comeu! Não fez nada do que eu pedi!
De repente, Uma mulher magra, alta, 30 anos, cabelos louros, curtos, vestindo camisola, cara de sono, chega na sala a passos firmes, pega o controle da TV e a desliga.
MULHER (grita): - Não se pode mais dormir em paz aqui?!
Otávio para de pular no sofá. Rita fica sem jeito diante do grito da mulher.
MULHER: - Que bagunça é essa aqui?
RITA: - Dona Lenara, eu pedi para o Tavinho comer o lanche, e arrumar as coisas dele para sair, mas ele se distraiu com a TV e... (pausa)
LENARA: - E aí a sua incompetência deixou que ele fizesse esse carnaval todo na minha sala, é isso?
RITA: - Desculpe.
LENARA: - Desculpa, desculpa. Tá sempre pedindo desculpas, não é, Rita?... (se aproxima de Otávio, pega ele pela orelha)
OTÁVIO: - Ai mãe!
LENARA: - Isso é pra aprender a se comportar como um menino decente e não um marginal, destruindo toda casa!
Lenara solta Otávio, que se abraça em Rita, assustado.
RITA: - Não precisava fazer isso com o menino, dona Lenara...
LENARA: - Quer me ensinar a criar uma criança, Rita? Me poupe! O que é que você entende da vida, garota? De criar um filho?
De repente, Ulisses chega no local.
ULISSES: - Certamente mais paciência e carinho do que você ela tem.
LENARA: - Ulisses? O que você está fazendo aqui? Ou melhor, como entrou aqui?!
ULISSES: - A Rita me ligou, pedindo pra vir pra cá. O garotão aí estava muito agitado. E eu entrei aqui simplesmente porque esse apartamento é meu. Ou esqueceu que já era para você ter saído daqui há muito tempo?
LENARA: - Quer deixar a mãe do seu filho na rua, é isso? Por isso que essa criança é complexada! Olha o pai que ela tem!
ULISSES: - Não fala assim na frente do garoto!
OTÁVIO (a Rita): - O que é complexada?
RITA:
- Nada não, Tavinho. Vem, vamos lá pra dentro.
Rita sai com Otávio.
ULISSES: - Olha o jeito que você trata nosso filho, Lenara!
LENARA: - Quem vê você falando assim acredita que você é um pai muito preocupado com ele...
ULISSES: - Eu sou sim! Otávio é tudo pra mim e você sabe disso! Tanto é que eu deixo você ficar aqui ainda por causa dele. Aliás, acredito que nem um outro apartamento você esteja procurando.
LENARA: - Com que tempo eu vou fazer isso, Ulisses? Quando der, eu faço. Agora chega! Cobranças, brigas, logo agora? À essa hora da manhã?
ULISSES: - Já está quase na hora do almoço, Lenara... Eu estava no meio de uma reunião importante na empresa, tive que vir correndo pra cá a pedido da Rita, porque ela falou que você não podia atender o Otávio.
LENARA: - Estava dormindo. Não podia mesmo. Mas infelizmente eu tive que acordar. A TV estava a todo volume!
ULISSES: - Para de ser tão fútil e cuida mais do Tavinho, Lenara. Ele ta crescendo, precisa de atenção.
LENARA: - Ai, Ulisses! Você sabe que eu não tenho paciência pra essas coisas, de ficar mimando a criança...
ULISSES: - Não é questão de mimar. É apenas dar atenção que ela precisa... Os pais são os espelhos dos filhos.
LENARA (se joga no sofá): - Ótima a sua filosofia. Prometo pensar no teu caso.
ULISSES:
- Impressionante como você não muda... Eu vou voltar
para a empresa.
Ulisses sai. Lenara faz careta para ele. Em seguida, seu
telefone dá sinal de mensagem. Ela lê, se anima.
LENARA: - Que tudo! Almoço com as meninas! Raquel sempre com esses encontros. (responde SMS) Topo!... (grita) Rita!
Rita chega na sala, apressada.
RITA: - Chamou, dona Lenara?
LENARA (levanta-se do sofá): - Chamei sim, Rita. Essa vai ser a última vez que você vai ligar para o Ulisses vir aqui em casa tentar resolver alguma coisa, está ouvindo?
RITA: - Eu só chamei ele porque (pausa)
LENARA (interrompe): - Não me interessa! Eu não tenho saco para ficar aturando os sermões dele, ta legal? Da próxima vez, prende o Otávio no quarto, no banheiro, joga pela janela, faz o que for! Eu só não quero mais ser perturbada por causa dessa criança. Estamos entendidas?
RITA: - Tudo bem.
LENARA: - Agora me deixa tomar um banho de banheira bem gostoso e cancela o cliente de daqui a pouco. Vou almoçar com as minhas amigas e quero ter tempo livre. Resolvo os compromissos do trabalho mais tarde.
RITA:
- Como quiser, dona Lenara.
Lenara sai.
CENA 08. PASSAGEM DE CENA. EXT. DIA.
(sobe trilha “Sunday Morning” – Maroon Five) Vista aérea da cidade de
São Paulo, mostrando os prédios e toda movimentação da
metrópole. Corta para a Avenida Paulista. CAM percorre
toda a via até chegar ao MASP.
CENA 09. MASP. EXT. DIA.
Na parte de baixo do prédio, há uma exposição de quadros
de Tarsila do Amaral. Ao fundo, um painel indica
“Exposição Simplesmente Tarsila”. Há várias pessoas
observando os quadros, dispostos por todo o lugar.
Entre essas pessoas, está uma mulher cerca de 30 anos, cabelos pretos, ascendência oriental, magra, que olha com encanto os quadros da artista. (fade out trilha “Sundey Morning” – Maroon Five) De repente, o celular dela avisa o recebimento de uma mensagem. Ela visualiza.
MULHER: - Encontro com as amigas! É claro que eu vou. Aliás, vou pra lá agora!
CENA 10. RESTAURANTE GOURMET PAULISTA. INT. DIA.
A mulher da cena anterior entra no refinado restaurante
Gourmet Paulista, um dos mais famosos da cidade,
localizado justamente na Avenida Paulista. O ambiente é
agradável e o local está com bom movimento. Assim que
entra, ela encontra Lenara em uma das mesas e se
aproxima da amiga.
MULHER: - Lenara!
LENARA:
- Oi Jaque! Que bom que veio!
As duas se cumprimentam. Jaqueline senta-se ao lado de
Lenara.
JAQUELINE: - E eu ia perder esse encontro incrível?
LENARA: - Eu fiquei animada com o convite. Tomei um banho e vim direto! (risos)
JAQUELE: - E onde está a responsável por unir a gente aqui?
Uma moça negra, cerca de 30 anos, magra, bonita, cabelos cacheados, se aproxima das duas, trazendo uma bandeja com canapés. Jaqueline e Lenara se surpreendem com a entrada. A moça abre um enorme sorriso para as amigas.
RAQUEL: - Surpresa!
LENARA: - Gente! Dá pena até de comer! Que lindos, Raquel!
JAQUELINE: - O Claude está se puxando na decoração dos pratos hein!
RAQUEL: - Ei, só uma correção. Não foi o Claude quem fez isso não. Foi eu!
LENARA: - É mesmo?!
RAQUEL: - Chamei vocês aqui porque estou sendo responsável pela inserção de 3 novos pratos no cardápio do restaurante!
As três vibram. Raquel senta-se à mesa.
LENARA:
- Que ótimo amiga! Isso merece um brinde!
Lenara chama o garçom, pede champanhe.
JAQUELINE: - Garota, que bacana isso!
RAQUEL: - Fiquei tão feliz quando o Claude me falou que eu seria responsável por criar três pratos novos para o restaurante. Imagina, meus pratos no Gourmet Paulista!
JAQUELINE: - Você merece, Raquel. Batalhou tanto pra isso. E cozinha super bem! Tenho certeza que os pratos vão ser um sucesso!
LENARA: - Já é o caminho para virar uma grande cheff!
RAQUEL: - Claude disse a mesma coisa... Vocês sabem que meu sonho é abrir meu próprio restaurante, né?
JAQUELINE: - E você conseguir! Pode ter certeza!
O garçom traz o champanhe e as taças, servindo as três. Elas brindam ao sucesso de Raquel, e também provam as entradas preparadas pela moça.
(sobe trilha “PDA (we just dont care)” – John Legend)
LENARA: - Está dos deuses!
RAQUEL: - São torradinhas com pasta de carne de faisão.
JAQUELINE: - Carne de faisão?! Nossa! Nunca comi isso na minha vida! (risos)
LENARA: - Só ouço falar em faisão no carnaval! (risos)
RAQUEL: - Posso mandar trazer os outros pratos?
JAQUELINE: - Claro!
LENARA: - Só quero ver a conta depois!
RAQUEL: - Não precisa se preocupar com a conta. Vocês são minhas convidadas de honra. Tudo liberado.
LENARA:
- VIP! Adoro!
As três riem, animadas. (fade out trilha “PDA (we
just dont care)” – John Legend)
CENA 11. IMAGENS DA ZONA LESTE. ITAQUERA / CAMPO DO ITACLUBE. EXT. DIA.
(sobe trilha “Magalenha” – Leandro Lehart) Imagens gerais da zona leste da cidade de São Paulo, mais precisamente do bairro de Itaquera. Corta para o campo de futebol do Itaclube. Treino no time. No campo, os jogadores jogam em duas equipes, titulares e reservas. Entre os jogadores do time titular, está um jovem negro, porte atlético, cerca de 25/26 anos e jovem branco, cabelos curtos e escuros, cerca de 25/26 anos. Na beira do campo, um homem negro, 50 anos, calvo) enérgico, coordena o treino. (fade out trilha “Magalenha” – Leandro Lehart)
HOMEM NEGRO:
- João! Corre lá João!... (grita) Marcelo, cruza! Ele ta
lá na frente! O Daniel ta lá na frente!
O jovem branco faz o cruzamento para o jovem negro, que
recebe a bola e segue em direção ao gol. Porém, outro
jogador se aproxima, dando um carrinho no jovem negro,
que cai no gramado. O homem negro apita, paralisando o
jogo. Na arquibancada, os poucos torcedores provocam um
murmurinho. Entre os torcedores, está uma jovem negra,
corpo escultural, cabelos cacheados, 25 anos e uma
negra, aparência meiga, delicada, 20 anos).
JOVEM 1: - Aimée, esse cara tinha que ser expulso do time! Imagina, fazer isso com o meu Daniel!
AIMÉE: - Bárba, seu Daniel? (risos)
BÁRBARA: - Meu sim.
AIMÉE: - E ele sabe que tem dona?
BÁRBARA: - Ele talvez nem precise saber. Mas as outras atiradinhas que ficam de olho nele sim. Essas precisam saber que ele tem dona e que essa dona sou eu!... ai Aimée, olha lá! Será que ele se machucou?
AIMÉE:
- Acho que não. Macedão já ta lá em volta.
No gramado, Daniel se levanta do chão. O homem negro, do
apito conversa com Daniel.
HOMEM NEGRO: - Machucou?
DANIEL: - Nada não. Acho que foi só o choque da batida, mas ta tudo bem Maecedão.
O jogador que deu o carrinho se aproxima de Daniel, o cumprimenta em pedido de desculpas. Macedão o repreende.
MACEDO: - E você rapaz, que jogar assim, vai fazer MMA! Aqui é futebol, ta ouvindo? Futebol! Quer terminar com o Daniel, a estrela do nosso time?
Ao ouvir isso, o jovem branco, que estava próximo, faz cara de quem não gosta, mas disfarça ao ver Daniel se aproximando.
JOVEM BRANCO: - Tudo bem mesmo?
DANIEL:
- Sim, sim, tudo certo Marcelo.
Daniel se afasta.
MARCELO (a si mesmo): - Que pena...
MACEDÃO:
- Fim do treino. Todo mundo pro vestiário.
Os jogadores vão saindo do campo. Na arquibancada,
Bárbara puxa Aimeé para descer.
BÁRBARA: - Vem! Eu quero saber como o Daniel está!
AIMÉE: - Ele ta bem! Tá saindo do campo até sem mancar!
BÁRBARA:
- Olhar só não basta! Eu quero sentir...
Bárbara se aproxima do gradil que divide a arquibancada
do campo. Daniel passa por ali.
BÁRBARA: - Como você ta, Daniel? Tudo bem mesmo?
DANIEL: - Tudo bem sim. Foi só uma batida, nada demais.
BÁRBARA: - Fiquei preocupada com você. Aliás, eu estou sempre me importando com você.
DANIEL: - Valeu mesmo pelo carinho, Bárbara.
BÁRBARA: - Te vejo mais tarde, no samba da escola?
DANIEL: - Se der eu apareço sim, pode deixar.
BÁRBARA:
- Se der não! Eu quero você lá!... É meu convidado
especial. (pisca o olho)
Daniel sorri e sai.
AIMÉE: - Você jogando pesado hein!
BÁRBARA: - Aprende uma coisa, Aimée. Mulher muito delicadinha, muito boazinha, homem nenhum gosta não. Tem que ter atitude, mostrar o que realmente quer. E o que eu quero é ficar com o Daniel de novo!
AIMÉE: - Mas será que ele quer ficar com você?
BÁRBARA
(decidida): - Se não quiser, vou fazer querer!
Macedão e Marcelo vão saindo do gramado.
MACEDÃO: - Você ta jogando bem, Marcelo. Fez um ótimo cruzamento.
MARCELO: - Também gostei. Só acho que o Daniel precisa correr um pouco mais. Às vezes ele fica parado só esperando a bola chegar nele.
MACEDÃO:
- Mas é isso que ele precisa fazer. Esperar a bola
chegar. O Daniel não perde um gol, Marcelo. É a nossa
estrela! Temos que deixar que a parte dele faz, assim
como você faz a sua.
Macedão sai.
MARCELO: - Ele não é a única estrela. Não mesmo.
CENA 12. ESCOLA DE SAMBA UNIDOS DA ZONA LESTE. INT. DIA.
Reunião na quadra da escola de samba. As cores vermelho
e branco colorem a quadra. Uma mesa cumprida no centro
reúne os diretores da escola. Numa ponta, está um senhor magro, alto, 60 anos, cabelos grisalhos. No meio, está
uma senhora negra, 60 anos, cabelos
cacheados, curtos, e na
outra ponta, está uma senhora morena, 60 anos, cabelos
lisos.
Outros diretores (mais uns 6/7) compõem a mesa na
reunião.
SENHOR: - E para finalizar, no samba de hoje à noite, teremos uma homenagem para uma pessoa muito especial.
SENHORA NEGRA: - Nossa, fiquei curiosa agora, Jair.
JAIR: - Rosa, entregaremos uma placa para o senhor Honório Martins, ex-presidente da escola e que foi uma figura ímpar em nosso carnaval.
SENHORA MORENA: - O quê?! Você está querendo homenagear o presidente que levou nossa escola para o grupo de baixo e que se não fosse meu falecido marido, Osvaldo, estaríamos lá até agora?!
JAIR: - Desculpa, Zuleica, mas nossa escola desceu de grupo por outros motivos. Seu Honório foi um lutador!
ZULEICA: - Seu Honório foi quem lhe colocou na presidência da liga das escolas! É uma troca de favores, Jair?
JAIR: - Como é que é?! Como ousa falar assim comigo, Zuleica? Está ofendida porque a homenagem não vai ser para o seu queridinho falecido, que antes de morrer, deixou uma dívida tremenda no meu colo?!
ROSA: - Vamos seguir a reunião, hein?!
ZULEICA: - Está chamando meu falecido marido de ladrão, Jair?
JAIR: - Quem está dizendo isso é você!
ROSA: - Gente, por favor, vamos manter a calma!
ZULEICA: - Impossível manter a calma com esse ser boçal!
JAIR: - Eu nem sei o que é isso que a senhora me chamou, mas saiba que não sou!
ROSA: - Eu acho melhor, Jair, suspender a homenagem. Ainda mais para uma pessoa que divide opiniões aqui dentro.
JAIR: - Tudo bem, tudo bem. Se preferem assim, façamos dessa forma. Antes que a viúva tenha um ataque do coração e bata as botas no meio da quadra!
ZULEICA: - Não sei quem é mais grosso, Jair. Se é você ou o ferro dos carros alegóricos...
ROSA: - Acho que a reunião está encerrada pessoal. Até à noite.
Os diretores vão saindo.
ROSA: - Será que vocês dois estão sempre em pé de guerra?! Nunca concordam com nada!
JAIR: - É essa daí, que vive me criticando!
ZULEICA: - Você é que não sabe dirigir uma escola de samba como meu falecido marido dirigiu. Esse sim fez direito.
JAIR: - Fez sim, bem direitinho. Tratou de ir pro andar de cima pra não aturar sua rabugice!
ROSA:
- Eu desisto de vocês! Eu desisto!... Até logo mais à
noite!
Rosa se afasta. Zuleica e Jair, cada um numa ponta da
mesa, se encarando. Aos poucos, o olhar de raiva vai se
dissipando. (sobe trilha “Badabauê” – Eliane de Lima)
ZULEICA: - Não me olhe com essa cara!
JAIR: - Você é que fica me encarando desse jeito...
ZULEICA/JAIR (ao mesmo tempo): - Iiih...
Os dois saem da mesa e se cruzam no meio da quadra. Enquanto Jair segue, Zuleica olha para trás, suspira e sai. Quando Zuleica cai, Jair olha para trás, suspira e segue para a sala da presidência. (fade out trilha “Badabauê” – Eliana de Lima)
CENA 13. RESTAURANTE GOURMET PAULISTA. INT. DIA.
Raquel, Lenara e Jaqueline conversam à mesa.
JAQUELINE: A exposição no MASP é divina. Várias obras de Tarsila do Amaral. Cada pintura linda!
RAQUEL: - Eu vi vários comentários sobre essa exposição. Acredita que eu ainda não fui?
LENARA: - Nem eu! Vamos combinar de ir juntas!
JAQUELINE: - Se apressem então, porque são os últimos dias!
LENARA: - Vai ser bom pra mim também, dar essa espairecida...
JAQUELINE: - Ué, por quê?
LENARA: - Ai, o Otávio está cada vez mais terrível!
RAQUEL: - Não fala assim, Lenara!... Tavinho é um garoto tão carinhoso, tão amoroso!
LENARA: - Só se for com vocês. Comigo, vive aprontando, vive me testando! E o pior é que a Rita não dá conta e aí liga pro Ulisses...
JAQUELINE: - E vocês acabam discutindo.
LENARA: - Hoje foi isso. De manhã cedo! Não posso nem dormir em paz! E o Ulisses faz um drama!
RAQUEL: - Eu sei que é doloroso para uma mãe, mas você já pensou na possibilidade do Otávio, seu filho, viver com o pai?
LENARA: - Já pensei, mas descartei na hora. O Otávio vivendo com o Ulisses, eu perco o apartamento, pensão, tudo. Não, não, não!
JAQUELINE: - Lenara, seu filho não pode ser uma mercadoria de troca não...
LENARA: - Vocês falam como se isso que eu faço é exclusividade minha. Tem muita gente assim por aí. Ninguém quer ficar mal na vida. Já falei pra vocês que o Otávio não foi uma gravidez planejada. Mas eu tive sorte do Ulisses ser um homem com uma boa condição financeira.
RAQUEL: - E que ainda te ama.
LENARA: - Pena que eu posso dizer o mesmo.
JAQUELINE: - Não sente nada mesmo, Lenara?
LENARA: - Às vezes sinto vontade de voar no pescoço dele, de tanto que ele me incomoda. Tirando isso, não sinto nada. (risos)
Neste instante, um homem magro, alto, elegante, cabelos curtos, castanho escuro, olhos claros, cerca de 35 anos, se aproxima delas, sentando-se junto na mesa. Ele traz consigo um envelope. As meninas vibram com a presença dele.
JAQUELINE: - Pensei que não iria vir aqui nos dar um beijo, Claude!
CLAUDE: - Não é fácil coordenar o Gourmet Paulista sozinho, já que a minha principal assistente está de folga com as amigas (risos)
RAQUEL: - Folgas merecidas, diga-se de passagem! (risos)
LENARA: - Claude, sempre elegante. Adoro seu estilo. E aposto que todas as mulheres concordam.
JAQUELINE: - Gatão! Se não fosse meu amigo, pegava!
Todos riem.
CLAUDE: - Assim vocês me deixam com vergonha!
RAQUEL: - Até parece que você fica envergonhado com a gente, Claude...
CLAUDE: - Eu fico é feliz de ver vocês reunidas aqui, conversando, sempre alegres. Pena que eu vou ter que separar as três.
Elas se olham, sem entender.
RAQUEL:
- Como assim?
Claude coloca o envelope no centro da mesa.
CLAUDE: - Lembra, Raquel, quando eu falei pra você de um curso de gastronomia em Portugal, incrível, que eu estava muito afim de fazer, mas que os compromissos com o Gourmet Paulista não me deixariam viajar?
RAQUEL: - Claro, lembro sim. Chefes renomados vão dar aulas, comidas, bebidas, doces, decoração de pratos, tudo!
JAQUELINE: - Nossa, que legal!
CLAUDE: - Pois então, aí nesse envelope estão a ficha de inscrição, a reserva do hotel, passagens aéreas, tudo, tudo, tudo que precisa.
LENARA: - Quer dizer que você vai ir então?
CLAUDE: - Lembra que eu falei que iria separar vocês? Pois então... A vaga do curso está no seu nome, Raquel.
As meninas se surpreendem. Raquel ainda mais.
RAQUEL (surpresa): - No meu nome?!
CLAUDE: - Isso mesmo. Eu queria fazer essa surpresa pra você e também um presente pela sua dedicação aqui no restaurante. O curso está todo pago. Só resta sabe se você aceita.
JAQUELINE: - Gente, que surpresa!
CLAUDE: - Então, Raquel? Aceita ir para Portugal se especializar nesse mega curso gastronômico?
RAQUEL: - Eu nem sei o que dizer, Claude!
LENARA: - Diz sim, sua boba! Se joga!
RAQUEL: - Tudo bem, eu aceito!
Lenara chama o garçom, pede mais champanhe. Raquel se abraça em Claude, emocionada. (sobe trilha “PDA (we just dont care)” – John Legend)
RAQUEL: - Você é um louco!
CLAUDE:
- Você, além de minha amiga, é uma profissional
incrível. Tenho certeza que vai aproveitar tudo e mais
um pouco desse curso e também de Portugal. É para sua
carreira e para a sua vida.
Os dois sorriem, um para o outro. Claude enxuga uma
lágrima que cai pelo rosto de Raquel. O garçom traz o
champanhe e as taças. Todos brindam, felizes.
JAQUELINE: - Tá, mas ela viaja quando?
CLAUDE: - Daqui a dois dias.
RAQUEL: - Dois dias?! Claude, é pouco tempo!
LENARA: - Não se preocupa! Eu e a Jaque te ajudamos a arrumar tudo. Você vai para a Europa linda e maravilhosa!
CLAUDE: - Lembra quando eu pedi para você fazer um passaporte? Então, agora você sabe porquê. (risos)
RAQUEL (emocionada/feliz): - Ai gente... Vocês são os melhores amigos do mundo!
Eles brindam novamente, felizes. (fade in trilha “PDA (we just dont care)” – John Legend)
CENA 14. CASA DA FAZENDA QUEIRÓS. ESCRITÓRIO. INT. DIA.
(fade out trilha “PDA (we just dont care)” – John Legend) Gurgel conversa com Barreto, Henrique e Humberto no escritório.
GURGEL: - Eu já estava pensando nisso há algum tempo. E acho que agora é a hora certa de realizar o que eu planejei.
HUMBERTO: - E o que você planejou, pai?
GURGEL: - Eu não sou tão bom mexendo nesses computadores aí, mas descobri em Portugal, um curso de extensão na faculdade de Lisboa. Agronomia, uma especialização no cultivo das oliveiras. Portugal é um dos maiores produtores, nada melhor do que aprender com eles a produzir aqui, na nossa terra! Precisamos superar o Rio Grande do Sul no cultivo, na produção de azeite, em tudo!
HENRIQUE: - Sempre competitivo, senhor Gurgel.
GURGEL: - No mercado, Henrique, quem não compete, fica para trás. É preciso ter olhos de águia e a velocidade de um leopardo!
BARRETO: - Isso seria fantástico, Gurgel. Você pretende embarcar pra lá quando?
GURGEL:
- Eu não irei, Barreto. Quem vai fazer esse curso é o
Henrique.
Humberto tenta esconder seu desapontamento e sua inveja.
HENRIQUE (surpreso): - Eu?!
GURGEL: - É você meu filho. Eu te escolhi. É você quem vai para Portugal.
HUMBERTO (alto/firme): - Isso não!
Todos se surpreendem com a reação de Humberto. Gurgel
fica a encarar o filho, que mantém a expressão fechada.
Édy Dutra
elenco
Juliana Alves como Raquel
Guilherme Winter como Henrique
Christine Fernandes como Lenara
Júlio Rocha como Humberto
Daniele Suzuki como Jaqueline
Jonathan Haagensen como Daniel
Cláudio Lins como Ulisses
Rodrigo Hilbert como Robson
Cinara Leal como Bárbara
Carlos Casagrande como Claude
Diego Cristo como Joaquim
Erika Januza como Aimée
Liliana Castro como Fernanda
Léo Rosa como Marcelo
Aline Dias como Stefany
Cecília Dassi como Carol
Luiz Otávio Fernandes como Nuno
Renata Castro Barbosa como Salete
Bernardo Mesquita como Cássio
Jonatas Faro como Igor
Odilon Wagner como Carlos
Rodrigo dos Santos como Barreto
Patrícia Werneck como Monique
Karina Bacchi como Keylla Mara
Nando Cunha como Candinho
Sérgio Guindane como Leopardo
Letícia Colin como Rita
Luiz Felipe Mello como Otávio
Maria Pinna como Lisa
atrizes convidadas
Carolina Ferraz como Paula
Regina Braga como Maria Alice
Aída Leiner como Tarsíla
Tânia Alves como Zuleica
Zezé Motta como Rosa
atores convidados
Zé Carlos Machado como Donato
Aílton Graça como Macedão
Nuno Leal Maia como Jair
Jean Pierre Noher como Santiago
Malu Galli como Dalva
Sônia Braga como Vilma
Reginaldo Faria como Gurgel
trilha sonora
produção
Bruno Olsen
Diogo de Castro
Israel Lima
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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