TERRA DA GAROA - CAPÍTULO 02
CENAS DO CAPÍTULO ANTERIOR
GURGEL: - Eu já estava pensando nisso há algum tempo. E acho que agora é a hora certa de realizar o que eu planejei.
HUMBERTO: - E o que você planejou, pai?
GURGEL: - Eu não sou tão bom mexendo nesses computadores aí, mas descobri em Portugal, um curso de extensão na faculdade de Lisboa. Agronomia, uma especialização no cultivo das oliveiras. Portugal é um dos maiores produtores, nada melhor do que aprender com eles a produzir aqui, na nossa terra! Precisamos superar o Rio Grande do Sul no cultivo, na produção de azeite, em tudo!
HENRIQUE: - Sempre competitivo, senhor Gurgel.
GURGEL: - No mercado, Henrique, quem não compete, fica para trás. É preciso ter olhos de águia e a velocidade de um leopardo!
BARRETO: - Isso seria fantástico, Gurgel. Você pretende embarcar pra lá quando?
GURGEL: - Eu não irei, Barreto. Quem vai fazer esse curso é o Henrique.
Humberto tenta esconder seu desapontamento e sua inveja.
HENRIQUE (surpreso): - Eu?!
GURGEL: - É você meu filho. Eu te escolhi. É você quem vai para Portugal.
HUMBERTO (alto/firme): - Isso não!
Todos se surpreendem com a reação de Humberto. Gurgel fica a encarar o filho, que mantém a expressão fechada.
CENA 01. FAZENDA QUEIROZ. ESCRITÓRIO. INT. DIA.
Continuação do capítulo anterior. Gurgel escolhe Henrique para ir à Portugal.
GURGEL (a Henrique): - É você meu filho. Eu te escolhi. É você quem vai para Portugal.
HUMBERTO (alto/firme): - Isso não!
Todos se surpreendem com a reação de Humberto. Gurgel
fica a encarar o filho, que mantém a expressão fechada.
GURGEL: - Não entendi a sua reação agora, Humberto.
BARRETO: - Confesso que nem eu. O que há de mal o Henrique ir à Portugal?
HUMBERTO: - Eu sempre quis sair do país, me especializar. Acredito que essa seja uma ótima oportunidade pra mim. E não para o Henrique.
GURGEL: - Seu irmão também precisa aprender, Humberto.
HENRIQUE: - Papai, acho que o Humberto tem razão. Talvez pra ele seja muito mais proveitoso do que pra mim.
GURGEL: - Mas que ideia idiota é essa, Henrique. Eu já fiz a minha escolha e pronto. É você quem vai para Portugal. E você, Humberto, não deve opinar em nada com relação a isso.
Humberto se cala.
GURGEL: - O Henrique está muito melhor preparado do que você.
HENRIQUE: - Eu não acho, pai.
GURGEL (firme): - Já está decidido e pronto.
BARRETO (a Henrique): - Sempre turrão...
GURGEL: - E quanto a você, Humberto, quero você por aqui. Vai trabalhar comigo na empresa. Sei que de administração você entende. Vai ser melhor pra você ficar aqui do ir para o exterior.
Humberto assente com a cabeça, mesmo a contragosto.
GURGEL: - Assunto encerrado. Já pode arrumar suas coisas quando voltar para a cidade, Henrique. Embarque é daqui a dois dias.
HENRIQUE: - Já?! Meu Deus!
BARRETO: - Vamos ter que deixar nossa aposta no turfe para depois da viagem então, Henrique.
HENRIQUE: - É o jeito, Barreto. (risos)
CENA 02. HMÓVEIS. SALA ULISSES. INT. DIA.
Ulisses sentado em sua mesa, conversa com Robson, no
sofá.
ULISSES: - A Lenara está cada vez mais irresponsável com o Tavinho...
ROBSON: - Ela já estava acordada quando você chegou no apartamento?
ULISSES: - Tinha acordado há pouco. Gritando com o garoto, com a Rita... Não sei porque eu ainda deixo ela morar lá com o meu filho.
ROBSON: - Tem que ir com calma nessas questões aí. Separar a mãe do filho não sei se é tão fácil assim. É capaz dela levar vantagem nessa disputa.
ULISSES: - Tenho medo disso também. E eu sinto que o Tavinho gosta muito dela.
ROBSON: - É a mãe dele, não é...
ULISSES: - Mas às vezes ela me tira do sério! Custa ter um pouco mais de paciência com ele? Ele ta crescendo, precisa de atenção, carinho, compreensão.
ROBSON: - Você vai precisar explicar isso para a Lenara e para o Santiago. Você precisava ver a cara que ele fez quando você saiu mais cedo da reunião.
ULISSES: - Tem mais isso ainda... Santiago parece até que não tem família, que nunca precisou resolver nenhum imprevisto na vida.
ROBSON: - Do jeito que ele é, controla tudo com mãos de ferro em casa.
ULISSES:
- Fico pensando como deve ser para a Paula aturar esse
cara todos os dias. É um ótimo parceiro de trabalho,
isso não posso negar, mas é muito ranzinza!
Robson ri.
ROBSON: - Com uma mulher daquelas na mão, a última coisa que eu seria é ranzinza!
CENA 03. RESTAURANTE. INT. DIA.
Stefany, Carol e Paula almoçam juntas num restaurante
fino.
PAULA: - Então quer dizer que todas essas compras são para a festa da garota que detesta vocês, mas que convidou apenas por deboche?
CAROL: - Exatamente.
PAULA: - Eu juro que não entendo essa juventude... E vocês vão ir mesmo?
STEFANY: - Ninguém mandou ela nos convidar. Com certeza a Laurinha não está esperando que a gente vá. Mas nós iremos, lindas e maravilhosas, pra arrasar com todas na festa!
PAULA (risos): - Nossa, quanta determinação!
STEFANY: - Mas tem que ser assim mesmo, Paula. Senão ela fica se achando a poderosa, coisa que ela não é. As estrelas da festa serão a Carol e eu.
Paula e Carol riem.
CAROL: - E a tia Dalva e o tio Carlos, mãe? É hoje que eles chegam de viagem, não é?
PAULA: - É sim, hoje mesmo.
STEFANY: - Estavam aonde?
PAULA: - Grécia.
CAROL: - Meu tio é empresário desses jogadores de futebol. Estava fechando um negócio na Europa e aí aproveitaram para fazer uma pequena lua de mel.
STEFANY: - Ai que tudo!
PAULA: - Quero ver se apareço lá na casa deles, para recepcioná-los. Quero dizer, preciso ver se eu pai vai estar disponível.
CAROL: - Conversa com ele, acho que ele vai querer.
PAULA: - Assim espero. Ultimamente o Santiago só tem olhos para o trabalho e mais nada... Falando em trabalho, eu preciso ir meninas.
STEFANY: - Ah, já?!
PAULA: - O dever me chama. Pode deixar que eu acerto a conta pra vocês. Fiquem à vontade.
CAROL: - Obrigada mãe! Beijo!
Paula se despede das meninas e sai.
STEFANY: - Sua mãe é muito legal! E linda, elegante!
CAROL: - A melhor mãe do mundo!
CENA 04. CARRO PAULA. INT. DIA.
Paula dirige seu carro, em uma avenida movimentada.
(sobe trilha “Sem Poupar Coração” – Nana Caymmi)
Ela dirige pensativa, um tanto cabisbaixa.
FLASHBACK. CASA SANTIAGO E PAULA. SALA. INT. NOITE.
Discussão entre Paula e Santiago.
PAULA: - Era importante para mim! Custava você estar presente lá para me ver receber o prêmio?
SANTIAGO: - Mas que importância tem esse prêmio? “A Melhor Loja do Shopping Jardim”. Eles não têm mais o que inventar e aí fazem isso.
PAULA: - Não interessa o que você pensa sobre o prêmio. Interessa que não foi me prestigiar, prestigiar a Tarsila que é minha sócia... Preferiu ficar em casa, olhando esses malditos projetos de móveis!
SANTIAGO: - São esses malditos projetos de móveis que me fazem ser um dos empresários mais bem sucedidos de São Paulo, sabia?
PAULA: - E são esses malditos projetos de móveis que me fazer ser uma mulher mais triste a cada dia, sabia? Tudo isso porque o meu marido prefere eles a bmim, do que a minha companhia, do que me apoiar quando eu preciso...
Silêncio por um instante.
PAULA (sussurra): - Só queria a sua presença lá. Só isso.
SANTIAGO:
- Nem sempre eu vou poder estar presente quando você
quiser.
Santiago se retira da sala. Paula enxuga as lágrimas.
VOLTA À CENA ATUAL.
Paula dirigindo pela avenida.
PAULA (a si mesma): - Que essa crise passe logo...
(fade out trilha “Sem Poupar Coração” – Nana Caymmi)
CENA 05. FAZENDA QUEIROZ. SALA. INT. DIA.
Henrique chega à sala, onde Tarsila e Maria Alice estão.
MARIA ALICE: - E então, o que conversaram lá, Henrique?
HENRIQUE: - Papai me escolheu para ir à Portugal, estudar.
MARIA ALICE: - Mas isso é maravilhoso!
TARSILA: - Seu pai tem visão, Henrique. Certamente sabe bem da escolha que fez.
HENRIQUE:
- O problema é que eu acho que o Humberto não gostou
muito.
Maria Alice e Tarsila trocam olhares.
MARIA ALICE: - Imagina, meu filho. Seu irmão também ficou feliz. Talvez só não soube se expressar.
HENRIQUE: - É, talvez... O que eu sei é que volto hoje pra São Paulo para organizar as coisas da viagem.
TARSILA: - Volte conosco então.
HENRIQUE: - Ótimo!... E Nuno, onde está?
TARSILA: - Lá fora. Disse que ia postar umas fotos dos cavalos. Agora o que só esses jovens querem é postar e postas. É a era das redes sociais.
HENRIQUE:
- Vou lá com ele então.
Henrique sai.
MARIA ALICE: - Eu tentei disfarçar, mas sei perfeitamente que o Humberto deve ter ficado muito chateado com a escolha do pai pelo irmão.
TARSILA: - Acredito que o Gurgel não tenha feito por mal. Deve haver um motivo para escolher um e não o outro.
MARIA ALICE: - Só espero que esse motivo não seja predileção.
CENA 06. RESTAURANTE GOURMET PAULISTA. INT. DIA.
Lenara e Jaqueline estão na porta do restaurante. Claude
e Raquel se despedem delas.
JAQUELINE (abraçando Raquel): - Adorei o nosso encontro, o almoço, tudo!
LENARA: - E eu gostei mais ainda dessa surpresa maravilhosa! Portugal, Europa, que tudo!
RAQUEL: - Se você gostou, imagina eu! (olha para Claude) Você sempre me dando alegrias!
CLAUDE: - Só estou te dando o que você merece!
JAQUELINE: - Bom, vou indo nessa. Tenho algumas galerias pra visitar ainda.
LENARA: - Caçando obras de arte, Jaque?
JAQUELINE: - É bom né? Assim como vocês gostam de caçar roupas e sapatos, eu gosto de caçar arte! (risos)
LENARA: - Boba! (risos) Quer carona?
JAQUELINE: - Não, vim de carro. Então, até a próxima meninas!
RAQUEL: - Não suma, hein! Quero te ver antes de ir viajar!
JAQUELINE:
- É óbvio que sim!
Jaqueline sai.
LENARA: - Eu também vou indo nessa.
CLAUDE: - Caçar roupas? (risos)
LENARA: - Quem me dera Claude... Vou pra casa, trabalhar. Tenho alguns projetos pra concluir ainda...
RAQUEL: - Lenara, aquele lance sobre o Tavinho, pensa com carinho. Olha mais pra ele...
LENARA:
- Valeu pelo conselho amiga. Se você fosse mãe eu até
dava mais crédito. Mas um dia que você for mãe, e ainda
de um filho como o Otávio, você vai saber o porquê de eu
estar quase louca.
Claude e Raquel trocam olhares.
LENARA: - Até a próxima pessoal! Cuidem-se!
Lenara sai.
CLAUDE: - Nossa, o filho dela é uma peste, é isso?
RAQUEL: - Nada disso. Lenara que mão tem muita paciência com o garoto...
Os dois voltam para o interior do restaurante. Claude vai para a cozinha, na passada, cruza com uma moça (cabelos escuros, compridos, pele clara, ar jovial, 25 anos) que se aproxima de Raquel.
RAQUEL: - Monique! Quero te agradecer pela mão lá na cozinha!
MONIQUE: - Imagina, eu adoro ajudar!... Eu vim é te dar parabéns! Soube que vai fazer o curso em Portugal!
RAQUEL: - Claude me pegou de surpresa. Estou muito feliz com a oportunidade.
MONIQUE: - Aproveita bastante lá! Quando voltar, quero aprender tudo com você!
RAQUEL: - Se eu pudesse te levava na mala junto comigo na mala!... Mas agora o que a gente precisa é trabalhar!
As duas riem, voltando para a cozinha.
CENA 07. AEROPORTO. SAGUÃO. INT. DIA.
A área de desembarque está cheia. Parentes e amigos
recebendo uns aos outros. Um homem (alto, 50 anos, porte
elegante, trajando camisa e calça social), acompanhado
de uma mulher (50 anos, cabelos curtos, escuros, magra)
chegam ao saguão, vindos da área de desembarque. Ela, de
óculos escuros, retira o acessório, procurando alguém. O
homem passa o braço pelo ombro dela, a confortando.
HOMEM: - Ele não veio, Dalva.
DALVA: - Ele deve ter se atrasado, Carlos. Esse trânsito de São Paulo é uma loucura, ainda mais agora, nesse horário e (pausa)
CARLOS:
- Não se iluda, Dalva. O Cássio sabia que chegávamos
hoje. Ele não quis vir... Vamos pegar um táxi, vamos pra
casa. Talvez ele esteja lá. Talvez...
Os dois saem, abraçados um ao outro.
CENA 08. ITAQUERA. BECO DO LEOPARDO. INT. DIA.
(sobe trilha “Parábola – Itaquera de Boa” – Rapper A2) Imagens gerais do bairro de Itaquera. Corta para um beco, onde alguns caras (mal encarados, alguns com armas em punho) fazem a vigia do local. Corta para o interior de um dos barracos no beco, onde dois rapazes, um negro, entre 25/30 anos, com barba, magro e o outro, branco, 20 anos, cabelo curto, preto, olhos claros conversam.
HOMEM NEGRO: - Cássio e hoje que tem a tal da festa lá da escola de samba. E eu não quero nem saber, mano. Vou entrar por bem ou por mal.
CÁSSIO: - Pra quê Leopardo? Pra passistinha lá ficar com mais ódio de você, mano? Esqueceu o que ela te falou da outra vez?
LEOPARDO: - Não, eu não esqueci (pausa)
CÁSSIO (interrompe): - Ela disse assim... “Nunca mais me procura, canalha”.
LEOPARDO (encara Cássio, firme): - Eu não esqueci, poxa!... Mas ela tava nervosinha naquele dia. TPM, sei lá. Hoje ela vai estar mais calminha e vai ver que tudo não passou de um mal entendido e que eu aqui sou o homem da vida dela.
CÁSSIO: - Tô pagando pra ver.
LEOPARDO: - Falando em pagar, senhor Cássio, temos uma dívida aí pra acertar né?
Cássio desvia o olhar.
LEOPARDO: - Tá aqui no bem bom, te tenho como parceiro, mas de graça ninguém consome aqui não. E tu sabe muito bem do que eu to falando, mano.
CÁSSIO: - Eu sei! Eu sei!... Eu vou pagar o que eu to devendo. Meus velhos estão chegando hoje de viagem, vou ver se descolo alguma coisa.
LEOPARDO: - É bom mesmo... Até porque, ta chegando mercadoria nova. Coisa de primeira, da pura. E tu só vai tocar se tiver com a dívida paga, ta ligado?
CÁSSIO: - Tá certo... Agora dá licença, vou lá fora dar um role.
LEOPARDO: - Vai mesmo. Vai calculando lá o quanto tu tem que me pagar. (ri, debochado)
Cássio sai, deixando Leopardo sozinho na sala.
CENA 09. TRANSIÇÃO DO TEMPO. ANOITECER / MANSÃO. EXT/INT.
NOITE.
(sobe trilha “Fica Só Olhando” – Anitta) Imagens de São Paulo ao
anoitecer. Corta para a fachada de uma luxuosa mansão.
Em seguida, mostra-se o jardim da casa, decorado e
transformado numa verdadeira danceteria. Música alta,
vários jovens curtindo. (baixa trilha) Stefany e
Carol chegam juntas à festa, acompanhadas de Nuno e um
jovem loiro, 22 anos, cabelos curtos, porte atlético.
CAROL: - Nossa, é muita gente! Bem que ela disse que a festa ia bombar!
STEFANY (com desdém): - Na minha festa de dezoito anos tinha bem mais, viu?
NUNO: - Sim, você convidou toda São Paulo!
STEFANY: - Óbvio que sim! Era o evento mais esperado do ano! (risos)
JOVEM LOIRO: - Eu lembro bem dessa festa. Você estava linda, Stefany.
O jovem, carinhoso, mas Stefany não dá muita bola.
STEFANY:
- Lá vem a sem graça da Laurinha.
Stefany e Carol fingem-se de simpáticas para Laurinha,
jovem ruiva, 19 anos, ruiva, magra, cabelos ondulados,
compridos, alta – estilo modelo, que se aproxima do
grupo.
LAURINHA: - Stefany! Carol! Vocês vieram! (olha a roupa das duas) E estão lindas...
STEFANY: - E você acha que a gente iria perder essa festa, Laurinha? Nunca nesta vida!
LAURINHA (olhando os rapazes): - E trouxeram acompanhantes... (se encanta por eles)
CAROL: - Estava no convite, então.
LAURINHA (ao jovem loiro): - E como se chamam?
NUNO: - Eu sou Nuno, irmão da Stefany.
LAURINHA: - É, acho que deu pra perceber... (ao jovem loiro) E você, garoto, qual o seu nome? (alisa o rosto dele)
Stefany delicadamente pega na mão de Laurinha e afasta do rosto do jovem. Carol e Nuno olham surpresos.
STEFANY: - O nome dele é Igor, Laurinha. E como você viu, ele está acompanhado.
LAURINHA: - Ah, desculpa... Bem, fiquem à vontade na festa. Só não vão se perder na minha casa! A mansão é enorme! Não sei se já estiveram numa assim.
CAROL: - É muito parecida com a casa que tínhamos em Los Angeles.
STEFANY: - A casa da vovó em Bariloche era assim também. Não se preocupe, não iremos nos perder não.
LAURINHA (encarando Igor): - Com licença então...
Laurinha se afasta.
STEFANY: - Aff, que garota sem noção!
CAROL: - Ela só sabe se aparecer pros outros.
NUNO: - Eu ainda não entendi porque que a gente veio na festa se vocês não gostam dessa garota.
STEFANY: - A gente veio porque ela quis debochar da nossa cara. E você sabe como eu sou, Nuno. Ninguém tira onda comigo!
IGOR (aproxima-se de Stefany): - Então quer dizer que estamos acompanhados um do outro?
STEFANY: - O quê?
IGOR: - Sim, aquela hora você disse que (pausa)
STEFANY: - Ah não! Aquilo não era nada. Era só pra Laurinha largar do seu pé. Aquela garota não merece um beijo na boca nem do burro do Sherek!
CAROL: - Ai gente, vamos pra pista?
STEFANY (pega Carol pela mão): - Agora! Vem!
As duas saem para a pista.
IGOR: - Quando será que a tua irmã vai me dar uma chance hein?
NUNO: - Não sei cara. Minha irmã é o ser mais imprevisível que eu conheço. Não dá pra saber nunca o que ela está pensando ou querendo. O jeito é deixar a coisa rolar...
CENA 10. CASA SANTIAGO E PAULA. SALA. INT. NOITE.
Paula está sentada no sofá, folheando uma revista,
quando Santiago chega em casa.
SANTIAGO: - Boa noite, Paula.
PAULA: - Boa noite, (firme) meu amor!
SANTIAGO: - E Carol, não está em casa?
PAULA: - Não. Ela saiu. Foi numa festa de uma colega da faculdade.
SANTIAGO: - Sozinha?
PAULA: - Não, com a Stefany... Sozinha só eu mesmo, nesta casa enorme.
SANTIAGO: - Agora eu estou aqui. Não precisa mais se sentir sozinha. Eu vou pro banho e pode pedir pra servir o jantar que eu já desço.
PAULA (levanta-se): - Amor, eu pensei que fôssemos jantar na casa da Dalva hoje. Ela e o Carlos chegaram de viagem.
SANTIAGO: - Hoje, Paula? Não dá, amor. Tenho um monte de projetos pra analisar, uns documentos pra fazer... Vamos deixar pra outro dia.
PAULA: - Mas (pausa)
SANTIAGO (interrompe): - Liga pra Dalva, explica a situação. Ela vai entender.
Santiago sai. Paula fica chateada.
PAULA: - Outra hora, outro dia... Tudo depois.
CENA 11. CONDOMÍNIO PÔR DO SOL. INT. NOITE.
Mostra a fachada do condomínio residencial Pôr do Sol,
em Itaquera. Crianças brincam na rua iluminada, onde
jovens conversam sentados numa pequena praça.
Corta para uma das casas do condomínio. Na janela, ao
telefone, Dalva conversa com a irmã. A decoração da casa
mantém um ar sofisticado, com quadros expostos nas
paredes.
DALVA: - Sim, Paula, fizemos boa viagem. (TEMPO) Tudo maravilhoso! Trouxe lembranças pra você, Santiago, pra Carol... E como ela está? (TEMPO) Numa festa? Que bom!... (TEMPO) Cássio? Também não está em casa. A diferença é que eu não sei onde ele está... (entristece um pouco) (TEMPO) Não, está tudo bem. (TEMPO) Eu sei, eu compreendo. Santiago é um homem muito ocupado. Façamos assim, eu ligo outra hora para combinarmos o jantar, ok? (TEMPO) Tá certo, isso mesmo. Eu passo na loja pra te dar um beijo. (TEMPO) Boa noite! (desliga o telefone)
Carlos, vindo da cozinha, entra na sala trazendo duas taças de vinho. Entrega uma para Dalva.
CARLOS: - Era Paula?
DALVA: - Era sim. Eles não vão vir para o jantar. Carol está numa festinha e Santiago precisa resolver uns assuntos da empresa, muito trabalho.
CARLOS: - Já era de se esperar.
DALVA: - Eu senti uma pontinha de tristeza na voz da Paula. Ela tenta disfarçar, mas acho que no fundo ela sente falta dessa aproximação com o Santiago.
CARLOS: - Como assim?
DALVA: - Sei lá, parece que falta um carinho maior, sabe? Mais companheirismo. Santiago vive praticamente para a empresa.
CARLOS: - É, talvez você tenha razão.
DALVA: - Uma pena. Eles foram um casal tão bonito.
CARLOS: - Como eu e você.
Carlos beija Dalva.
DALVA: - Nenhum sinal do Cássio?
CARLOS: - Nada. Pelo menos as coisas dele estão no quarto. E tinha louça na pia. Sinal de que ele esteve em casa.
Dalva vira-se para a janela à procura de Cássio quando observa uma moça (entre 25/30 anos, magra, corpo sensual, cabelos pretos, curtos) sair de uma casas, com vestido curto, salto alto e uma bolsinha. A moça sai apressada.
CARLOS: - O que foi?
DALVA: - Aquela moça saindo ali... Acho que é a Fernanda.
CARLOS: - Fernanda? (aproxima-se da janela)
DALVA: - Sim. Ela se mudou a pouco tempo pra cá...
CARLOS: - Deve estar indo para uma festa.
DALVA: - Ou indo trabalhar.
CARLOS (ri): - Dalva, que comentário foi esse?!
DALVA: - Não estou mentindo, Carlos... Algumas vizinhas comentaram que ela é garota de programa.
CARLOS: - E você vai atrás de fofoca de vizinha?... Vem cá, descansar um pouco dessa viagem.
Corta para uma outra casa.
CENA 12. CONDOMÍNIO PÔR DO SOL. SALA. INT. NOITE.
Na sala, decoração mais simples, uma mulher (cerca de 35 anos, cabelos ondulados, compridos) organiza suas pastas e papéis próxima da janela, quando avista Fernanda sair do condomínio.
MULHER:
- Ai Fernanda...
Robson, vindo da cozinha com um sanduíche e suco,
senta-se no sofá.
ROBSON: - Salete, falou comigo?
SALETE: - Nada não. Pensei alto, só isso... (olha o sanduíche de Robson) Ah, pelo visto não sobrou nada na minha geladeira né? Tudo o que eu tinha está aí neste seu sanduíche!
ROBSON: - Deixa de ser boba, Salete. E só pra você saber, fiz um pra você também.
SALETE: - Ah tá, então tá perdoado (risos). Obrigada, Robson. Estou tão atarefada com esses trabalhos lá do centro comunitário.
ROBSON: - Muito serviço, prima?
SALETE: - Muita coisa... Não é fácil. Mas desistir a gente não desiste, né? Amo o que eu faço. Amo poder ajudar os outros. E ver o brilho nos olhos daquelas crianças, daqueles jovens. Poder oferecer outro caminho de vida pra eles é glorioso... (olha o sanduíche novamente) Glorioso também está o seu sanduíche.. Glorioso, saboroso, tudo! Onde tá o meu, Robson?!
ROBSON: - Lá na cozinha! Corre lá!
Salete vai para cozinha apressada, volta com o sanduíche em mãos, já dando uma mordida.
SALETE: - Mas você é top hein, Robson! Não sei como não casou ainda.
ROBSON: - Calma, uma coisa de cada vez. Pra casar é preciso namorar primeiro.
SALETE:
- Pensando bem, não casa. Assim você fica aqui em casa
de vez em quando, fazendo esses agradinhos pra mim.
Os dois riem.
CENA 13. AVENIDA. EXT. NOITE.
(sobe trilha “Além da Nova Ordem” – Julio Serrano) Numa avenida
movimentada, garotas de programa e travestis fazem ponto
local. CAM passeia por entre eles, na calçada, chegando
na esquina, onde foca Fernanda, escorada no poste, olhar
um pouco entristecido.
O vestido justo exibe suas pernas. O batom vermelho e a
maquiagem pesada lhe dá uma aparência mais madura.
Um carro para na esquina, baixa o vidro, revelando um
rapaz. Fernanda se aproxima, conversa um pouco. Em
seguida, entra no carro, que sai pela avenida. (fade
out trilha “Além da Nova Ordem” – Julio Serrano).
CENA 14. QUADRA UNIDOS DA ZONA LESTE. INT. NOITE.
Mostra a fachada da quadra da escola de samba Unidos da
Zona Leste. A festa na quadra da escola está animada.
Quadra cheia, as pessoas se divertindo com a roda de
samba.
Bárbara chega ao local, usando um micro shortinho e uma
blusa justa, bem decotada, valorizando seu corpo
escultural. Ela chega à quadra atraindo todas as
atenções. Ela vai até Zuleica, que está próxima da roda
de samba.
BÁRBARA:
- Oi mãe!
ZULEICA: - Oi filha! Tá linda, meu amor!
BÁRBARA: - Estou linda não né, mãe? Eu sou linda! Tem diferença entre ser e estar.
ZULEICA: - Viu que festa bacana? Quadra tá lotada!
BÁRBARA: - Tão cheia que eu ainda não vi o Daniel por aqui.
ZULEICA: - Mas ele vem?
BÁRBARA: - Claro que sim. Era o comentário lá no Itaclube que alguns jogadores iriam vir pra ver o show da Eliana de Lima hoje.
ZULEICA: - Então espera, daqui a pouco ele chega. Enquanto isso, vamos curtir esse samba que tá maravilhoso!
Num outro ponto da quadra, Jair e um homem negro, entre 35/40 anos, estilo malandro, conversam.
JAIR: - Candinho, foi o que eu falei pro carnavalesco. Este ano a gente precisa vir com tudo!
CANDINHO: - E pode ter certeza que eu vou fazer um samba nota dez pra escola. Este ano já foi bom, não foi?
JAIR:
- E eu confio em você, Candinho. Você é o nosso tenor!
Neste instante, Keylla Mara passa por eles, usando um
vestido justo, vermelho, valorizando seu corpo e seu
cabelo loiríssimo. Candinho fica encantado.
CANDINHO: - Com licença, presidente. Eu preciso resolver um assunto ali, já volto.
Candinho deixa Jair falando sozinho e se aproxima de Keylla Mara.
CANDINHO: - É impossível acreditar que toda essa beleza divina esteja aqui, diante dos meus olhos, só pra mim.
KEYLLA MARA: - Obrigada pelo beleza divina, mas não é só pra você não.
CANDINHO: - E quando é que eu terei o prazer de me lambuzar nesse teu mel, minha loirinha linda?
KEYLLA MARA: - Quando você mudar o seu repertório de cantadas mal feitas, a gente volta a falar sobre isso. Agora dá licença que eu quero me acabar nessa roda de samba, que tá maravilhosa.
CANDINHO:
- Promete pelo menos dançar uma música comigo, no show
da Eliana de Lima?
Keylla Mara segura delicadamente o rosto de Candinho, se
aproximando dele como se fosse beijá-lo. Candinho até
fecha os olhos esperando o beijo, mas quando percebe que
nada acontece, os abre novamente.
KEYLLA
MARA: - Vou pensar no seu caso.
Ela sorri de canto de boca, dá uma piscada sensual pra
ele e sai, deixando Candinho encantado com sua beleza.
Keylla Mara segue em direção à roda de samba, no caminho
encontra Aymée e as duas se aproximam de Bárbara e
Zuleica, que curtem o samba. Do outro lado da roda, Jair
e Rosa também apreciam o samba. De repente, uma agitação
acontece na entrada da quadra.
JAIR: - O que será que está acontecendo?
ROSA: - Será que é a Eliana de Lima que já chegou?
JAIR:
- Não... Pelo o que eu vejo aqui são os jogadores do
Itaclube.
(sobe trilha “Negro Lindo” – Léo Santana) Cercado por alguns
seguranças, Daniel chega na quadra da escola de samba
assediado por mulheres, meninas, fãs. Todas querem
fotos, tocá-lo, abraçá-lo. Atrás dele, vem Marcelo,
pouco assediado em relação ao amigo. Macedão acompanha o
grupo. (baixa trilha)
KEYLLA MARA: - Gente, que aglomeração é aquela lá na porta?
AYMÉE: - Será que são os jogadores?
BÁRBARA: - O quê?! Mas eu vou lá agora!
Jair se aproxima dos jogadores.
JAIR: - Bem-vindos rapazes! É uma honra tê-los em nossa quadra.
MACEDÃO: - Imagina, Jair. Aqui é nossa casa também. Hoje tiramos uma noite de folga. Mas sem abusos, ouviram?
JAIR:
- Seguirei as recomendações. Nada de álcool no camarote.
Aliás, ele já está prontinho esperando por vocês.
Bárbara se aproxima deles.
BÁRBARA: - Daniel!
DANIEL: - Bárbara! Nossa, você está linda!
BÁRBARA: - Eu sou linda, Daniel. Assim como você.
DANIEL: - Vai dançar hoje?
BÁRBARA:
- Especialmente pra você.
Os dois trocam olhares.
MACEDÃO:
- Venham, vamos lá para o camarote.
O grupo de jogadores sobe para o camarote, causando
frisson nas pessoas.
CENA 15. APTO RAQUEL. INT. NOITE.
Raquel e Lenara conversam no quarto de Raquel.
RAQUEL: - Bom que você veio amiga. Estou tão perdida. Não sei o que levar pra essa viagem. E não são poucos dias...
LENARA: - A sua sorte é que eu já viajei pra Europa, bem nesse período. Lá agora não tá frio nem calor. Se bem que a temperatura é sempre um pouco mais baixa que aqui. Então dá pra levar um casaquinho.
RAQUEL: - Isso é uma coisa que eu nunca dispenso! (risos) To nervosa, sabia. Nunca fiz uma coisa dessas antes.
LENARA: - Deixa de ser boba, Raquel. Tem mais é que se jogar, amiga! Uma oportunidade de ouro dessas. Não só de estudar, mas de conhecer um lugar bonito, incrível... Até chance para arranjar um namorado você está tendo.
RAQUEL: - Para, Lenara! Estou indo pra estudar e não arrumar um pretendente.
LENARA: - Uma coisa não anula a outra, Raquel. E para você com essa história de só pensar na carreira, no restaurante. Pensa mais em você, nesse coração aí. Há quanto tempo você não beija na boca?
RAQUEL: - Um tempinho já, viu...
LENARA: - Tá vendo só! Eu sempre tenho razão no que eu falo... Eu to sentindo que essa viagem vai mudar muita coisa na sua vida. Em todos os sentidos.
RAQUEL: - Deus te ouça amiga. Deus te ouça!
CENA 16. CASA HENRIQUE. SALA. INT. NOITE.
Henrique e Humberto na sala da casa de Henrique.
Enquanto Humberto está sentado numa das poltronas,
Henrique serve um uma dose de uísque para ele e para o
irmão. A casa tem decoração simples, mas sofisticada.
Tem um belo jardim de inverno, e materiais alternativos
que dão um ar mais ecológico. Humberto observa tudo.
HUMBERTO: - Não sei como você ainda não virou uma planta morando aqui. Aliás, não sei como você consegue manter todo esse verde e essa atmosfera ecológica dentro de São Paulo.
HENRIQUE:
- Sabe aquela música que o Caetano canta? “Quando a
gente gosta é claro que a gente cuida...”? Então, eu
gosto da natureza e gosto de cuidar dela também.
Entrega o copo para Humberto, que bebe um gole. Henrique
senta no sofá, próximo do irmão.
HENRIQUE: - Só quero saber como vou me virar pra deixar as plantas vivas enquanto eu tiver fora... Você bem que poderia me dar essa mão, não acha?
HUMBERTO: - Desculpa, Henrique, mas você sabe que não levo o menor jeito com isso. Pede pra mamãe. Ela gosta dessas coisas.
Silêncio.
HENRIQUE: - Eu sei que você queria ir nessa viagem. Sabe que se eu pudesse, eu desistira e deixava você ir.
HUMBERTO: - Não, ta tudo bem.
HENRIQUE: - É sério, Humberto. Eu percebi que você ficou chateado com a escolha do papai.
HUMBERTO: - Eu já deveria até ter me acostumado com isso. Ele sempre escolheu você.
HENRIQUE: - Não é verdade.
HUMBERTO
(firme): - É verdade sim!
Silêncio. Henrique encara Humberto.
HENRIQUE: - Me responde uma coisa, Humberto. Você sente inveja de mim?
HUMBERTO: - O quê?!
HENRIQUE:
- Você sente inveja, raiva, ódio de mim por causa disso?
Pelo fato de eu ter sido escolhido e você não?
Humberto encara Henrique.
HENRIQUE: - Vamos! Fala logo!
Édy Dutra
elenco
Juliana Alves como Raquel
Guilherme Winter como Henrique
Christine Fernandes como Lenara
Júlio Rocha como Humberto
Daniele Suzuki como Jaqueline
Jonathan Haagensen como Daniel
Cláudio Lins como Ulisses
Rodrigo Hilbert como Robson
Cinara Leal como Bárbara
Carlos Casagrande como Claude
Diego Cristo como Joaquim
Erika Januza como Aimée
Liliana Castro como Fernanda
Léo Rosa como Marcelo
Aline Dias como Stefany
Cecília Dassi como Carol
Luiz Otávio Fernandes como Nuno
Renata Castro Barbosa como Salete
Bernardo Mesquita como Cássio
Jonatas Faro como Igor
Odilon Wagner como Carlos
Rodrigo dos Santos como Barreto
Patrícia Werneck como Monique
Karina Bacchi como Keylla Mara
Nando Cunha como Candinho
Sérgio Guindane como Leopardo
Letícia Colin como Rita
Luiz Felipe Mello como Otávio
Maria Pinna como Lisa
atrizes convidadas
Carolina Ferraz como Paula
Regina Braga como Maria Alice
Aída Leiner como Tarsíla
Tânia Alves como Zuleica
Zezé Motta como Rosa
atores convidados
Zé Carlos Machado como Donato
Aílton Graça como Macedão
Nuno Leal Maia como Jair
Jean Pierre Noher como Santiago
Malu Galli como Dalva
Sônia Braga como Vilma
Reginaldo Faria como Gurgel
trilha sonora
produção
Bruno Olsen
Diogo de Castro
Israel Lima
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
Copyright © 2014 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução
Comentários:
0 comentários: