Brownie Rivers
de Cristina Bresser
Um dia
me avisaram que havia um cãozinho preso num barranco na margem do Rio Barigui.
Ele estava lá há dois dias, grunhindo.
Por sorte, ele ficou preso numa saliência, senão teria caído na água e com a
correnteza forte, morreria afogado. Um amigo já havia ligado para a Prefeitura
e para os Bombeiros, mas nos dois casos, por incrível que pareça, a resposta
foi a mesma: “Sinto muito, senhor, não fazemos resgate de animais, não temos
pessoal para isso! ” Ficamos indignados com esta apatia do poder público: como
assim, não resgatam animais? Quem vai resgatá-lo então?
Fomos
até o local, mas acho que o cãozinho já estava tão fraco que não grania mais. Ele estava
bem longe, no princípio eu nem o avistei, e disse para minha irmã: ” Não tem
nada ali, ele já deve ter conseguido sair”. Bem nessa hora, como se fosse um
sinal, ele levantou a cabeça e a Regina, minha irmã o viu: “Olha ali, ele está
lá! ” O resgate era perigoso, além de o rio ser fundo naquela parte, a água é
imunda, a chance de pegar uma doença era o que mais me apavorava. Mesmo assim,
eu e minha irmã decidimos encarar, pois qual seria a outra opção? Deixá-lo lá
para morrer? Sem chance.
Depois
de descer e subir o
barranco, atravessar um córrego estreito ao lado do rio principal, muito
poluído e fétido,
finalmente chegamos à margem do Rio Barigui. Depois de cruzar o rio com água no
pescoço, chegamos à margem oposta. O cãozinho estava deitado e não se mexia.
Achamos que estava machucado, mas era só pavor, estava paralisado de medo. Ele
era lindo, pequeno, marrom e branco, com manchinhas marrons nas patas e olhos
cor de mel, muito assustados. Havíamos trazido um pouco de ração num saco
plástico por dentro da roupa e ele comeu com apetite, quando ofereci.
Ainda
não sabia se ele era macho ou fêmea, só sabia que teria que tirá-lo de lá.
Quando o peguei por baixo e o ergui no colo, ele começou a tremer e se encolheu
todo, fincou as unhas nos meus braços para se agarrar em mim, estava morrendo
de medo de cair (ou ser jogado) na água. Olhei para suas costas e ela estava
totalmente sem pelos...ao mesmo tempo que morri de pena dele, pensei comigo: ”aiaiaiai
lá vou eu pegar sarna ”, mas não seria isso que me faria desistir de salvá-lo,
muito pelo contrário. Ver o estado em que ele estava me deu mais certeza ainda
de estar fazendo a única coisa possível. Para o cãozinho, nosso gesto foi a
diferença entre a vida e a morte.
Enfrentamos
a correnteza contra na volta, revezando com ele no colo para não cairmos. O fundo
do rio era cheio de buracos, troncos apodrecidos, lixo e a correnteza era
forte. Teve um momento que a água chegou ao nosso peito, foi assustador. Quando
chegamos à outra margem, eu e a Regina começamos a rir e a chorar ao mesmo
tempo, foi uma alegria imensa, misturada com alívio e cansaço. O cãozinho então
começou a me lamber. Agradecimento
por eu não conseguir cruzar os braços e dizer: ah, coitadinho, se eu pudesse,
faria alguma coisa... FOMOS LÁ E FIZEMOS.
Saímos
de lá, tomamos um banho rápido, levamos o Brownie (que teve seu nome escolhido
pela Regina, por causa da sua cor marrom) direto para o veterinário. Lá foi
constatado que as costas sem pelo era só uma alergia a pulgas, ele estava saudável, apesar de
muito maltratado.
Em
seguida, eu e minha irmã
fomos direto ao hospital saber o que deveríamos fazer para evitar leptospirose.
A médica que nos atendeu era muito sensata e disse para tomarmos um bom banho
com sabonete desinfetante e observarmos nossa temperatura. Se tivéssemos febre
em 10 dias, aí era para vir ao hospital e fazer exames. Não pegamos nem uma
micose.
O
Brownie é lindo, simpático, doce e carinhoso. Deve ter sido abandonado por
estar velhinho. Infelizmente, tem gente que faz isso: descarta animal como se
fosse lixo. Ele já deve ter uns 10 anos, está com um pequeno sopro no coração e
princípio de cataratas. Ele agora mora com a minha irmã, meus pais e com o
Zulu, um cachorrão que teve que aprender a dividir o espaço e os carinhos dos
donos com o Brownie.
Hoje, o Brownie é muito feliz e carinhoso. Ele aprendeu a brincar e a ser amado. Apesar dos probleminhas da velhice, seu estado de saúde é excelente, ele corre com os outros cachorros, brinca de bolinha e, sobretudo, ama minha irmã com a dedicação e fidelidade que só um cão é capaz! Resgatar o Brownie foi emocionante, mas conviver com ele todos os dias e receber a gratidão e o amor incondicional que ele nos dá, foi a nossa melhor recompensa.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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