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Antologia Sempre ao Meu Lado: 1x04 - Brownie Rivers

Conto de Cristina Bresser
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Sinopse: A história de um resgate emocionante, e a posterior adoção,  de um cachorro idoso, que estava preso num barranco do Rio Barigui.


Brownie Rivers
de Cristina Bresser


Um dia me avisaram que havia um cãozinho preso num barranco na margem do Rio Barigui. Ele estava lá há dois dias,
grunhindo. Por sorte, ele ficou preso numa saliência, senão teria caído na água e com a correnteza forte, morreria afogado. Um amigo já havia ligado para a Prefeitura e para os Bombeiros, mas nos dois casos, por incrível que pareça, a resposta foi a mesma: “Sinto muito, senhor, não fazemos resgate de animais, não temos pessoal para isso! ” Ficamos indignados com esta apatia do poder público: como assim, não resgatam animais? Quem vai resgatá-lo então?  

Fomos até o local, mas acho que o cãozinho já estava tão fraco que não grania mais. Ele estava bem longe, no princípio eu nem o avistei, e disse para minha irmã: ” Não tem nada ali, ele já deve ter conseguido sair”. Bem nessa hora, como se fosse um sinal, ele levantou a cabeça e a Regina, minha irmã o viu: “Olha ali, ele está lá! ” O resgate era perigoso, além de o rio ser fundo naquela parte, a água é imunda, a chance de pegar uma doença era o que mais me apavorava. Mesmo assim, eu e minha irmã decidimos encarar, pois qual seria a outra opção? Deixá-lo lá para morrer? Sem chance.

Depois de descer e subir o barranco, atravessar um córrego estreito ao lado do rio principal, muito poluído e fétido, finalmente chegamos à margem do Rio Barigui. Depois de cruzar o rio com água no pescoço, chegamos à margem oposta. O cãozinho estava deitado e não se mexia. Achamos que estava machucado, mas era só pavor, estava paralisado de medo. Ele era lindo, pequeno, marrom e branco, com manchinhas marrons nas patas e olhos cor de mel, muito assustados. Havíamos trazido um pouco de ração num saco plástico por dentro da roupa e ele comeu com apetite, quando ofereci.

Ainda não sabia se ele era macho ou fêmea, só sabia que teria que tirá-lo de lá. Quando o peguei por baixo e o ergui no colo, ele começou a tremer e se encolheu todo, fincou as unhas nos meus braços para se agarrar em mim, estava morrendo de medo de cair (ou ser jogado) na água. Olhei para suas costas e ela estava totalmente sem pelos...ao mesmo tempo que morri de pena dele, pensei comigo: ”aiaiaiai lá vou eu pegar sarna ”, mas não seria isso que me faria desistir de salvá-lo, muito pelo contrário. Ver o estado em que ele estava me deu mais certeza ainda de estar fazendo a única coisa possível. Para o cãozinho, nosso gesto foi a diferença entre a vida e a morte.

Enfrentamos a correnteza contra na volta, revezando com ele no colo para não cairmos. O fundo do rio era cheio de buracos, troncos apodrecidos, lixo e a correnteza era forte. Teve um momento que a água chegou ao nosso peito, foi assustador. Quando chegamos à outra margem, eu e a Regina começamos a rir e a chorar ao mesmo tempo, foi uma alegria imensa, misturada com alívio e cansaço. O cãozinho então começou a me lamber. Agradecimento por eu não conseguir cruzar os braços e dizer: ah, coitadinho, se eu pudesse, faria alguma coisa... FOMOS LÁ E FIZEMOS.

Saímos de lá, tomamos um banho rápido, levamos o Brownie (que teve seu nome escolhido pela Regina, por causa da sua cor marrom) direto para o veterinário. Lá foi constatado que as costas sem pelo era só uma alergia a pulgas, ele estava saudável, apesar de muito maltratado.

Em seguida, eu e minha irmã fomos direto ao hospital saber o que deveríamos fazer para evitar leptospirose. A médica que nos atendeu era muito sensata e disse para tomarmos um bom banho com sabonete desinfetante e observarmos nossa temperatura. Se tivéssemos febre em 10 dias, aí era para vir ao hospital e fazer exames. Não pegamos nem uma micose.

O Brownie é lindo, simpático, doce e carinhoso. Deve ter sido abandonado por estar velhinho. Infelizmente, tem gente que faz isso: descarta animal como se fosse lixo. Ele já deve ter uns 10 anos, está com um pequeno sopro no coração e princípio de cataratas. Ele agora mora com a minha irmã, meus pais e com o Zulu, um cachorrão que teve que aprender a dividir o espaço e os carinhos dos donos com o Brownie.

Hoje, o Brownie é muito feliz e carinhoso. Ele aprendeu a brincar e a ser amado. Apesar dos probleminhas da velhice, seu estado de saúde é excelente, ele corre com os outros cachorros, brinca de bolinha e, sobretudo, ama minha irmã com a dedicação e fidelidade que só um cão é capaz! Resgatar o Brownie foi emocionante, mas conviver com ele todos os dias e receber a gratidão e o amor incondicional que ele nos dá, foi a nossa melhor recompensa. 

Conto escrito por
Cristina Bresser

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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