QUANDO ANA OLHOU PARA A DIREITA - CAPÍTULO 03
Ao
chegar no endereço, Ana já avistou duas viaturas da Polícia Militar próximas à
entrada de um galpão antigo. Ao se aproximar, percebeu uma movimentação de
curiosos ao entorno daquela fábrica abandonada.
— Boa
tarde! Sou a Detetive Torosídis — disse Ana, mostrando seu distintivo da Polícia
Civil. — O Delegado Belfort pediu que eu viesse.
O
militar levantou a fita zebrada para que Ana pudesse passar por baixo e disse a
ela que poderia seguir até o fundo da fábrica para falar com o Sargento
Machado. Ana caminhou por aquele grande galpão que ecoava cada passo por ela dado.
No meio do caminho, passou por um policial que pegava o depoimento de um casal
de jovens. Ana perguntou pelo Sgt. Machado, e o policial apontou seu dedo em
direção ao vestiário dos funcionários.
— Foram
eles que encontraram os corpos? — perguntou Ana
— Foram
eles — respondeu o policial. — Não esperavam encontrar pessoas mortas no motel
hoje, não é mesmo? — completou o militar com um leve sorriso em direção ao
casal de jovens assustados.
— Antes
de liberá-los, quero falar com eles também — disse Ana enquanto já caminhava em
direção ao vestiário.
Ao se
aproximar do vestiário, Ana já sentiu aquele mau cheiro horrível que pairava
sobre o local. Antes de passar pela porta, tirou uma máscara do bolso, além de
um par de luvas pretas de vinil. Colocou seu equipamento de proteção e entrou
no local. O odor era tão forte que Ana podia quase sentir o gosto podre em sua
boca.
— Olá,
Sgt. Machado!
— Quanto
tempo, Ana! Tudo bem?
— Verdade,
quase um ano que não trabalhamos juntos — complementou Ana. — Ainda bem que
almocei só uma salada hoje. Aqui dentro está terrível!
— Daqui
a pouco, seu nariz se acostuma. Venha, vou te mostrar as vítimas — disse Sgt.
Machado, que estava escorado em uma das pias do vestiário.
O
sargento andou até o fim do vestiário e abriu a última porta, fazendo um movimento
com a mão e apontando em direção ao interior do banheiro. Ao se aproximar e
olhar dentro do box, Ana viu os corpos de duas jovens jogados como sacos de
lixo dentro daquele cubículo abandonado. Ali dentro, algumas moscas voavam
sobre os corpos. O cheiro causava náuseas, mas Ana não podia demonstrar nenhum
tipo de reação constrangedora naquele momento.
Antes
de perguntar qualquer coisa, Ana observou brevemente os corpos. Além de uma
mordaça na boca, tinham mãos e pés amarrados com uma corda amarela da grossura
de uma caneta com um nó muito bem feito, impossível que alguém conseguisse
arrebentar ou se soltar. Mesmo muito inchados e com a pele já amarelada e
ressecada, era possível perceber vários hematomas evidentes espalhados pelo
corpo das jovens, demonstrando claros sinais de espancamento anteriores à sua
morte.
— Então,
sargento... Alguma testemunha?
— Apenas
os jovens lá fora! Conversamos com alguns vizinhos, mas sabe como é São Paulo.
Ninguém vê nada o que acontece do seu lado. Imagina em um local abandonado como
esse... Infelizmente, não temos nada.
— Passei
pelo casal lá fora. Eles parecem bem assustados.
— E
estão mesmo! — respondeu o sargento com uma risada. — Achar cadáveres acaba
com a vontade de transar até desses jovens com hormônios à flor da pele.
— Pelo estado dos corpos, eu apostaria que essas jovens
morreram há mais ou menos uma semana — disse Ana, abaixando-se para olhar os
corpos mais de perto.
Como o sargento havia dito, seu nariz já havia se
acostumado com aquele cheiro podre. Fez uma avaliação prévia vistoriando marcas
de agulha ou sinais que indicassem uso de drogas, mas não encontrou nenhuma
evidência. As jovens pareciam ter entre 17 e 20 anos, mas não aparentavam
nenhum parentesco, já que tinham biotipos bem diferentes. Uma das garotas era
negra e bem magra; a outra jovem, mais curvilínea, possuía cabelos claros.
— Que
tristeza! Essas meninas tão jovens — lamentou Ana, levantando-se.
— Ana, o legista acabou de chegar.
— Ótimo. Vou deixá-lo aqui enquanto falo com o casal.
Ana saiu do vestiário após cumprimentar o médico legista,
que havia acabado de entrar naquele local mórbido e fedorento.
— Oi, garotos! Eu sou a Detetive Ana e gostaria de falar
com vocês bem rapidinho — disse, se apresentando ao casal de jovens que
externavam todo seu pavor pela cena que viram naquele banheiro.
— Sei que o policial já falou com vocês, mas preciso
fazer algumas perguntas também.
Ana seguiu seu interrogatório com o casal de namorados,
que lhe deu todas as informações que pediu. Falaram que realmente invadiram o
local com intuito de transarem escondidos no galpão. Quando se aproximaram do
vestiário, sentiram um odor muito forte de carne podre, e então entraram pra
ver o que era e acabaram encontrando os corpos, e imediatamente ligaram para a
polícia. Entre uma resposta e outra, o rapaz precisava consolar a namorada, que
se engasgava em seu choro algumas vezes.
— Se tiverem alguém que possa buscar vocês, sugiro que
liguem! — disse Ana, com um olhar terno e acariciando o ombro da jovem, que
enxugava as lágrimas mais uma vez. — Obrigada pelo seu tempo, meninos! Se
precisarmos de mais alguma informação, entraremos em contato.
Após falar com as únicas testemunhas, Ana resolveu
começar sua investigação em torno do local. Foi até o lado de fora para avaliar
as possibilidades de entrada, encontrou apenas um acesso fácil para um veículo
entrar no galpão. A área externa contava com um pátio bem grande, o que
distanciava a visibilidade de testemunhas na vizinhança.
Andou em torno de todo o terreno fotografando a
vizinhança e procurando por possíveis câmeras de segurança na rua ou nos
comércios próximos dali. Encontrou algumas poucas câmeras que poderiam ajudar,
mas aguardaria para solicitar o período de gravação de acordo com o relatório
do legista.
Já era fim de tarde quando Ana terminou seu trabalho por
ali. Resolveu deixar o carro no estacionamento da delegacia e ir pra casa
andando, pois precisava espairecer sua cabeça. Ver aquelas jovens mortas com requintes
de crueldade a deixara um pouco chocada, mesmo sendo algo relativamente comum
em seu trabalho.
Era uma caminhada
de meia-hora até sua casa, acrescentando alguns minutos a mais no trajeto para
passar em uma lanchonete e comprar seu jantar. Hoje, ela sentia que precisava
de um fast-food bem calórico e um refrigerante extremamente gelado para
terminar aquela segunda-feira.
No dia
seguinte, ainda pela manhã, Ana recebeu de sua assistente o relatório do médico
legista. Ela não esperava que chegasse tão rápido, então largou tudo que estava
fazendo para se concentrar no caso das jovens.
Como
previsto por Ana na cena do crime, o relatório apontava que as jovens tinham
idade entre 17 e 18 anos e haviam morrido há cerca de uma semana. Aparentemente,
as duas jovens eram saudáveis, pois os exames não apontaram sinais de
desnutrição. Outro ponto que foi descartado pelo legista era a possibilidade de
estupro, apesar de detectar muitos sinais de luta e espancamento pelo corpo das
duas garotas. Inicialmente, a causa das mortes era devido ao espancamento
sofrido. Segundo o legista, as jovens foram mortas em outro lugar e levadas já
sem vida para o galpão, o local serviu apenas como desova dos corpos.
Ana
ainda precisava aguardar os resultados dos exames toxicológicos para averiguar
possibilidades das jovens serem usuárias de drogas. Esse tipo de crime era
comum quando se tratava de acerto de contas entre traficantes e usuários que
não conseguiam mais pagar suas dívidas.
Enquanto Ana avaliava o relatório minuciosamente e fazia
várias anotações, Letícia fazia uma busca no sistema da polícia por jovens
desaparecidas na cidade de São Paulo no último mês, mas inicialmente sem
sucesso, já que nenhuma foto avaliada batia com a aparência das vítimas.
— Letícia, preciso que solicite um mandado para termos
acesso às imagens das câmeras de segurança dos últimos trinta dias de vários
locais em torno do galpão — ordenou a detetive. — Vou enviar para seu telefone
várias fotos dos locais que possuem câmera que nas redondezas — disse Ana
enquanto anexava dezenas de fotos em seu celular para enviar à assistente.
— Deixa comigo! — respondeu Letícia
Com certeza, levaria alguns dias até analisarem todo o material disponibilizado, mas, por enquanto, era a única maneira de iniciar a investigação do caso.
Encerra com a música: (Lanterna dos Afogados - Os Paralamas do Sucesso).
elenco
Larissa Manoela como Helena Torosídis
Cristina Ravela
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