TERRA DA GAROA - CAPÍTULO 04
CENAS DO CAPÍTULO ANTERIOR
HUMBERTO: - É melhor mesmo que o Henrique vá para Portugal. Longe daqui, bem longe... A presidência fica nas minhas mãos enquanto o papai estiver adoentado.
Caminha de um lado a outro, pensativo, visionário.
HUMBERTO: - Ou melhor! Eu fico com a presidência definitivamente... Quando o papai partir desta para melhor. (ri, debochado) O que não vai demorar muito, se depender... De mim!
Humberto ri, maléfico.
HUMBERTO: - Essa viagem foi a melhor coisa que poderia ter acontecido na minha vida! (ri)
Humberto se joga no sofá, bebendo o uísque e rindo, sádico.
CENA 01. APTO HUMBERTO. INT. NOITE.
Continuação do capítulo anterior. Humberto trama contra
o seu pai. Caminha de um lado a outro, pensativo,
visionário.
HUMBERTO:
- Ou melhor! Eu fico com a presidência
definitivamente... Quando o papai partir desta para
melhor. (ri, debochado) O que não vai demorar muito, se
depender... De mim!
Humberto ri, maléfico.
HUMBERTO:
- Essa viagem foi a melhor coisa que poderia ter
acontecido na minha vida! (ri)
Humberto se joga no sofá, bebendo o uísque e rindo,
sádico.
HUMBERTO: - Ai, Humberto... Cada vez eu amo mais a sua genialidade!
CENA 02. ESCOLA DE SAMBA UNIDOS DA ZONA LESTE. EXT. NOITE.
Leopardo encara Aymée, com a faca escondida.
LEOPARDO: - Então, vai vir comigo ou não?
AYMÉE: - Eu não vou a lugar nenhum, cara. Para com isso senão eu grito!
LEOPARDO (próximo dela): - Se tu fizer qualquer coisa, eu dou um jeito em você aqui mesmo, sacô? (pega Aymée pelo braço, firme) Agora vem!
No instante em que Leopardo puxa Aymée, Zuleica, Bárbara e Jair se aproximam. Bárbara estranha.
BÁRBARA:
- Aymée?!
Leopardo se surpreende e Aymée aproveita para soltar-se
dele e se aproxima do grupo, um tanto apreensiva.
ZULEICA: - O que foi, Aymée?!
JAIR: - O que esse sujeito quer com você? Pra onde ele tava te levando?
LEOPARDO: - Fica na tua aí, coroa, que eu não ia fazer maldade nenhuma com ela não. A gente só ia ter uma conversa, né?
Aymée não responde, um tanto amedrontada.
ZULEICA: - Conversa, sei... Escuta aqui, rapaz! Ela é moça direita, viu? É bom que tenha respeito!
LEOPARDO: - Escuta aqui, dona (pausa)
JAIR: - Olha o respeito, moleque!
LEOPARDO: - Moleque nada!... Eu sou Leopardo, o dono daqui, de Itaquera! Se eu quiser, mando derrubar essa quadra toda aí! Termino com escola de samba, com tudo!
BÁRBARA: - Você é um palhaço, isso sim!
LEOPARDO: - E você é muito atrevida me dizendo isso... Mas deixa, dessa vez passa... (encara Aymée) E tu aí, nossa conversa ainda vai rolar. Não pensa que eu vou te deixar livre não.
Leopardo sai.
ZULEICA: - Aymée! Como você foi se meter com esse bandido?!
AYMÉE: - Eu não fiz nada, dona Zuleica. Ele vive correndo atrás de mim, mas eu nunca dei bola. Hoje que ele se passou.
JAIR: - Você precisa tomar cuidado, Aymée!
BÁRBARA: - É melhor você dormir lá em casa hoje.
ZULEICA: - Isso mesmo, filha. Você fica lá hoje, a gente te protege.
JAIR: - Eu acompanho vocês até em casa.
ZULEICA: - Não precisa, Jair!
JAIR: - Vai bancar a durona agora, Zuleica?!
ZULEICA: - Pra depois você ficar jogando na minha cara que eu sou sua protegida? Não, muito obrigada!
JAIR: - Mas eu nem falei nada! Sou um homem respeitador!
ZULEICA: - E eu sou uma viúva que merece ser respeitada! Portanto, não se aproxime...
Os dois trocam olhares. Zuleica sai com as meninas. Jair fica pensativo, observando Zuleica.
JAIR:
- Viúva, mas que poderia estar bem casada comigo agora.
Candinho se aproxima.
CANDINHO: - Casado com quem, presidente?
JAIR (surpreso): - Com ninguém, Candinho. Com ninguém.
CANDINHO: - Eu que pensei que ia casar na festa, me dei mal. Keylla Mara foi embora e nem se despediu de mim.
JAIR: - Ela vira sua cabeça do avesso hein!
CANDINHO: - Essa loirinha ainda vai ser minha, presidente. Você vai ver!
CENA 03. CASA FERNANDA. INT. NOITE.
Fernanda chega à casa, as luzes da sala estão apagadas.
Ela acende, procura não fazer barulho enquanto caminha
pelo local. Ela se senta no sofá, procura relaxar, mas é
surpreendida por Igor, que senta-se ao seu lado.
FERNANDA (se assusta): - Ai Igor! Que susto! Credo!
IGOR: - Credo digo eu! Onde você estava, Fernanda? Quando eu saí você nem pensava em por os pés pra fora de casa. Agora ta aí, toda arrumada, vestido curto...
FERNANDA: - Resolvi dar umas voltas com umas amigas, só isso.
IGOR:
- Sei... E beijou muito também né? Batom borrado...
Fernanda passa a mão na boca, para limpar.
IGOR: - E esse perfume... (a cheira) de homem!
FERNANDA: - O que foi, Igor? Fazendo revista agora é?!
IGOR: - Calma, não precisa ficar nervosa assim.
FERNANDA: - Não to nervosa. Só to achando estranha essa sua obsessão em saber o que eu fiz, onde eu tava, o perfume... Eu já falei que saí, fiquei com um carinha e nada mais. Ok?
IGOR; - Tá, não precisa se irritar, maninha!
FERNANDA: - É que você anda cuidando demais da minha vida, não acha, maninho? (levanta-se) Eu vou tomar um banho e cair na cama. Amanhã tenho que estar cedo lá no centro comunitário.
IGOR: - E eu tenho aula...
FERNANDA: - Então faça o mesmo. Vai dormir e larga um pouco do meu pé. (risos)
Fernanda sai. Igor vai logo em seguida.
CENA 04. TRANSIÇÃO DO TEMPO. AMANHECER
(sobe trilha “Partida de Futebol” – Skank) Imagens de São Paulo ao
amanhecer. Mostra a Avenida Paulista, o Ibirapuera, o
Itaquerão. Corta para o Centro de Treinamento do
Itaclube.
CENA 05.
CENTRO DE TREINAMENTO DO ITACLUBE.
INT. DIA.
Macedão reúne os jogadores no centro do campo.
Daniel e Marcelo estão no grupo.(fade out trilha “Partida de Futebol” – Skank)
MACEDÃO: - Ontem vocês tiveram o dia de folga, curtiram... Alguns exageraram na dose (encara Daniel, que desvia o olhar). O nosso treino hoje será à tarde, mas eu quis reunir vocês aqui para dar alguns informes.
MARCELO: - Macedão, não é hoje que vem aquele empresário olhar o nosso treino?
MACEDÃO: - É hoje sim, Marcelo. O doutor Honório vai assistir ao treino e, tudo indica que no final das atividades, ele irá acenar com alguns contratos para os jogadores. Portanto, deem o máximo de vocês hoje à tarde.
DANIEL (empolgado): - Hoje eu quero encher a rede de gols!
MACEDÃO: - Acredito que hoje você não irá fazer isso, Daniel.
DANIEL (surpreso): - Mas por que não, professor? Eu to esperando por isso há um bom tempo já, uma oportunidade de alguém ver o meu futebol e (pausa)
MACEDÃO (interrompe): - Você está suspenso, Daniel.
Marcelo contém o riso.
DANIEL: - Suspenso?!
MACEDÃO: - Pelo seu comportamento inadequado ontem à noite, na quadra da escola de samba. Descumpriu regras, agiu de forma errada, enfim, uma postura totalmente antiprofissional.
DANIEL: - Não é justo, professor!
MACEDÃO: - Hoje você fica no alojamento, Daniel. Pode ir, se quiser.
Daniel sai do grupo, caminha cabisbaixo para fora do campo, sob os olhares de Marcelo.
MACEDÃO: - Vocês todos, para a academia. Já preparei um treino especial pra todo mundo.
CENA 06. CAFETERIA. INT. DIA.
Paula e Dalva se encontram na cafeteria.
PAULA: - Ai, finalmente eu consegui rever a minha irmã! Estava morrendo de saudades!
DALVA: - Eu também estava, Paula! Viajar é bom, mas voltar pra casa é melhor ainda. Rever a família, os amigos. Se bem que nem tive tempo fazer muita coisa...
PAULA: - Eu imagino. E Carlos, como está?
DALVA: - Está bem... Cheio de trabalhos, propostas. Cada vez mais clubes o procuram para lançar jogadores.
PAULA: - Ele e o Cássio já se acertaram?
DALVA: - Seria uma dádiva se isso acontecesse... Você não sabe o quanto isso me entristece, Paula.
PAULA: - Eu imagino, Dalva. Não deve ser fácil para uma mãe ver o pai e o filho em pé de guerra.
DALVA: - Eu rezo todos os dias para que o Cássio não esteja envolvido com... (contém as lágrimas)
PAULA: - Não! Isso não!... (enxuga as lágrimas no rosto de Dalva) Cássio sempre foi rebelde, mas acho que ele não seria capaz.
DALVA: - Deus te ouça, Paula. Eu morreria se visse meu filho envolvido nesse mundo de drogas.
PAULA: - Agora me responde uma coisa, Dalva. Você também não voltou a fumar, não é?
Dalva se surpreende com a pergunta de Paula.
DALVA:
- Claro que não, Paula! Depois daquele susto que eu
tive, cigarro não chega mais nem perto de mim.
Paula encara a irmã.
DALVA: - Estou falando sério!
PAULA: - Não disse nada...
DALVA: - Mas essa sua cara desconfiada aí te entrega... Agora vamos mudar de assunto. Quero falar de coisas boas. Como vai o movimento lá na loja? E Carol, como está?
PAULA: - A loja vai de vento em popa! Essa semana chegam coleções novas de roupas e calçados...
As duas conversam, animadas.
CENA 07. HOSPITAL. QUARTO. INT. DIA.
Humberto e Henrique visitam Gurgel, deitado na cama,
ainda em recuperação.Henrique se aproxima do pai,
carinhoso. Humberto mantém certa distância dos dois.
HENRIQUE: - Como você está, pai? Tudo bem?
GURGEL: - Tudo bem sim, meu filho. (segura a mão de Henrique) Melhor agora, tendo você aqui do meu lado. E seu irmão também.
HUMBERTO: - Pensei que não iria se lembrar de mim, pai.
GURGEL:
- Impossível esquecer de você, Humberto. Temos dívidas a
acertar, lembra?
Humberto desvia o olhar.
HENRIQUE: - Mas agora não é hora de resolver isso, pai. Agora temos é que nos dedicar à sua saúde. E é por isso que eu vim aqui. Além de ver como o senhor está, eu também quero te comunicar de que eu não vou mais ir para Portugal.
GURGEL (surpreso): - O quê?! Você só pode estar brincando, Henrique!
HENRIQUE: - Não estou, pai. Estou falando sério. Não quero me afastar enquanto o senhor não estiver cem por cento de novo.
HUMBERTO: - Henrique, deixa de bobagem! O papai logo logo vai ficar bem. E você não pode perder o prazo desse curso. Sabe muito bem que já deveria estar com tudo pronto para embarcar o quanto antes.
HENRIQUE: - Mas (pausa)
GURGEL (interrompe): - O seu irmão tem razão, Henrique. Eu vou ficar bom logo, o médico já disse isso. E eu não aceito que você se recuse a viajar... Estou apostando em você!
HUMBERTO: - E eu estarei aqui, do lado do papai para o que ele precisar. Tem a mamãe também que vai ficar de olho nele... Você pode ir descansado.
HENRIQUE: - Descansado eu não irei, com certeza...
HUMBERTO: - Mas pode ir mais calmo. Eu dou conta de cuidar da empresa, do papai, de tudo, não se preocupa.
GURGEL: - Me surpreende ver esse seu incentivo, Humberto. Até pouco tempo era você quem queria viajar.
HUMBERTO: - Eu percebi que você fez a escolha certa, papai. O Henrique está realmente melhor preparado para isso do que eu. Eu ficarei aqui, cuidando da empresa, aprendendo do seu lado. Vai ser bom para o Henrique, para a empresa, para todos nós no final das contas.
GURGEL: - Gostei de ver... (a Henrique) Portanto, pode tirar essa ideia de não viajar da cabeça. Você vai e pronto.
HENRIQUE: - Tudo bem, vocês venceram.
Gurgel sorri, carinhoso para Henrique, que retribui. Humberto, ainda de longe, apenas observa.
CENA 08. ALOJAMENTO ITACLUBE. QUARTO DANIEL. INT. DIA.
Daniel está cabisbaixo, deitado na cama de seu quarto, no alojamento.
DANIEL:
- Pô, mano... Suspenso justo hoje?!... (levanta da cama)
Todo mundo lá, pra ser escolhido pelo olheiro e eu aqui,
neste quarto... Maldita festa, maldita bebida!
De repente, alguém bate à porta. Daniel se anima.
DANIEL: - Será que vieram me buscar?! Poxa, Macedão reconsiderou! Maravilha!
Daniel abre a porta do quarto e se surpreende ao ver Bárbara, usando vestido curto, de zíper frontal e decotado.
DANIEL: - Bárbara?!
BÁRBARA: - Oi gato. (entrando no apto) Sozinho é?
DANIEL: - Sim... O que você está fazendo aqui?
BÁRBARA: - Fiquei sabendo da tua suspensão.
DANIEL: - Injusta. Logo hoje que vai ir um empresário lá escolher um de nós pra ir jogar num time grande.
BÁRBARA (insinuante):
- Injustíssima!...
(sobe trilha “Você Vai Estar na Minha” – Negra Li)
BÁRBARA: - Por isso mesmo que eu vim aqui, te fazer uma visita especial. (abre um pouco do zíper do vestido) Acho que você está precisando se animar um pouco.
DANIEL: - Ei, Bárbara, calma aí. Não pode nem ter mulher aqui dentro.
BÁRBARA: - Não tem ninguém lá fora. Só nós dois aqui. Não tem como alguém ficar sabendo que eu estive aqui cuidando do melhor jogador de futebol da zona leste... (aproxima-se de Daniel)
DANIEL (se esquiva): - É melhor você sair, Bárbara. Alguém pode chegar...
BÁRBARA (abraça Daniel): - Se alguém chegar, a gente abre o jogo. Não é segredo pra ninguém o nosso namoro.
DANIEL: - Namoro?!
BÁRBARA: - Você não me escapa, Daniel. A gente já ficou junto uma vez e agora chegou a hora de retomar o que se perdeu. Vem, que eu estou aqui, toda sua!
Bárbara beija Daniel, que tenta escapar, mas não consegue. Ela pula em seu colo, enlouquecida. Daniel finalmente consegue escapar, empurrando Bárbara para a cama e saindo correndo pelo corredor do alojamento.
BÁRBARA:
- Brincar de gata e rato é? Adoro!
Bárbara sai atrás de Daniel, com o vestido aberto, já
mostrando parte de seu sutiã.
DANIEL (correndo): - Se me pegam com ela no quarto, aí sim eu to morto!
(fade out trilha “Você Vai Estar na Minha” – Negra Li)
CENA 09. AVENIDA. / CARRO JAQUELINE. INT.
Na avenida movimentada, Jaqueline conversa ao telefone
com Raquel.
JAQUELINE (dirigindo/ao telefone): - Ah, Raquel, eu não me importo. E outra, vai ser bom para o meu próximo trabalho essa passagem por aqui. Nunca vim pra zona leste, ainda mais Itaquera. (TEMPO) Sim, vou pintar a periferia, algo mais popular, mas com um olhar diferente de tudo o que já foi feito. Estou com umas ideias muito bacanas!
Enquanto o carro de Jaqueline passa pela avenida, Daniel sai do prédio do alojamento e atravessa a via. Jaqueline quase atropela Daniel, que com o susto, cai no chão.
JAQUELINE: - Meu Deus! (ao telefone) Amiga, já te ligo! Beijo! (desliga, sai do carro) Você tá louco, cara?!
DANIEL (no chão): - você é que não olha pra frente! Pensa que eu não vi você falando no celular enquanto diria?
JAQUELINE: - Mas nunca que eu ia adivinhar que um maluco ia surgir do nada na frente do meu carro!
Os carros buzinam, trânsito dá uma pequena parada. Daniel com a mão no pé, sente um pouco de dor.
JAQUELINE: - Vem, eu vou te levar para o hospital.
Jaqueline segura na mão de Daniel. Os dois trocam olhares. Ficam a flertar por um instante, quando são interrompidos pelos gritos de Bárbara, que se aproxima.
BÁRBARA: - Daniel! (aflita) Você está bem, meu amor?!
JAQUELINE (a si mesma): - Amor? (se afasta)
DANIEL: - Tá tudo bem. Acho que tive uma pequena torção, mas deve ter sido por causa do susto.
BÁRBARA (encara Jaqueline): - Essa louca aí te atropelou é?
JAQUELINE: - Em primeiro lugar, eu não atropelei ninguém, tá legal? E em segundo lugar, a louca aqui é você, de sair na rua com esse vestido aberto. Quase nua pra todo mundo ver!
Bárbara percebe seus trajes, fecha o vestido rapidamente.
JAQUELINE: - Vem, vamos num hospital ou num posto ver esse seu pé aí. Assim como não parece nada, pode ser algo grave.
DANIEL: - Tudo bem, vamos sim. Eu não posso ficar sem meus pés. São meu maior tesouro!
BÁRBARA: - Eu vou junto!
DANIEL: - Não, Bárbara. Você fica. Até porque, isso aqui só aconteceu por causa das suas loucuras...
Daniel e Jaqueline entram no carro e saem.
BÁRBARA: - Ai que ódio!... Mas era só o que me faltava essa japonesa querer alguma coisa com o Daniel. Ah, mas eu mato! Mato!
CENA 10. ESCRITÓRIO HMÓVEIS. SALA ULISSES. INT. DIA.
Ulisses conversa com Robson.
ULISSES: - Ontem à noite estive no apartamento da Lenara.
ROBSON:
- E aí? Quebraram os pratos mais uma vez?
Ulisses concorda com a cabeça.
ROBSON: - Cara, na real mesmo? Eu ainda não sei porque você insiste na Lenara. Ela já deixou bem claro que o relacionamento de vocês foi um negócio. Lucrativo apenas pra ela, é claro. E ponto final.
ULISSES: - Mas e o amor que eu tenho aqui dentro, Robson? Aquele sonho de formar uma família? Eu, ela, o Otávio... Eu tinha muitos planos.
ROBSON: - Eu sei que você deve amar essa mulher. Mas na boa, parte pra outra. Esquece ela, trata ela apenas para falar sobre o filho de vocês e pronto. Ela nunca vai voltar para você. Não adianta se iludir.
ULISSES: - Você fala como se fosse fácil. Nunca se apaixonou na vida. O dia em que você amar uma mulher de verdade, da mesma forma como eu amo a Lenara, você vai entender.
ROBSON:
- Então eu nunca vou entender mesmo, porque amar alguém
como você ama a Lenara, que só te despreza, é doença.
(saindo) Ah, eu já amei sim. E fui feliz, mas
infelizmente não deu pra seguir em frente. Então eu fui
tocando a minha vida e estou aqui. De bem. Acho que você
deveria fazer o mesmo.
Robson sai. Ulisses fica pensativo.
CENA 11. APTO LENARA. INT. DIA.
Otávio brinca com seus carrinhos na sala, quando Lenara
surge brava e pega o garoto pelo braço, puxando forte.
OTÁVIO: - Ai mãe! Está doendo!
LENARA: - É pra doer mesmo. Fica quieto e não reclama! Eu já falei milhões de vezes que não é pra ficar com essas porcarias aqui no meio da sala! Eu não disse pra você guardar? Eu não disse?
OTÁVIO: - Mas eu esqueci...
LENARA: - Então agora você vai ficar de castigo, pra nunca mais esquecer de me obedecer!
Lenara pega Otávio pela orelha e vai puxando o garoto até o quarto. Ela o empurra para dentro e tranca a porta.
LENARA: - Agora vai ficar aí até a hora em que eu quiser.
Rita, assustada com os gritos, chega ao corredor para saber o que acontece.
RITA: - O que tá acontecendo, dona Lenara?! Eu ouvi o Tavinho gritando...
LENARA: - Ele me desobedeceu de novo. Agora está de castigo e com a orelha vermelha, que é pra aprender.
RITA: - A senhora puxou a orelha dele?!
LENARA: - Puxei. Mas não se preocupa, não vai cair não.
RITA: - Não precisava fazer isso, dona Lenara! Ele é um garoto tão bom!
LENARA: - Tá querendo ensinar como eu devo educar meu filho, Rita?
RITA: - Não, dona Lenara. Eu só acho que (pausa)
LENARA (interrompe): - Você não acha nada! Aqui quem manda sou eu!... E olha só, nem pense em dizer alguma coisa para o Ulisses, tá legal? Senão já sabe. É rua na certa pra você. Agora junta aquelas porcarias de brinquedos lá da sala porque eu tenho pavor de coisa espalhada. Deixa eu ir que eu estou atrasada.
RITA: - A senhora vai sair?
LENARA: - Tenho uma reunião de negócios. Vou almoçar fora. Depois dá qualquer coisa pra ele comer. Mas não tira do castigo ainda. Eu ligo quando for para ele sair daí de dentro do quarto.
Lenara sai. Rita se mostra entristecida com a situação. Escuta Otávio chorando no quarto.
RITA: - Vai ficar tudo bem, Tavinho. Vai ficar tudo bem...
CENA 12. HOSPITAL. INT. DIA.
Jaqueline no hospital, aguarda Daniel voltar do atendimento. Conversa com Raquel no telefone.
JAQUELINE (ao telefone): - Não, já está tudo bem, Raquel. Foi só um susto mesmo. Mas mesmo assim a gente veio pro hospital, pra saber se ele não fraturou nada, se não aconteceu nada mais grave. (TEMPO) Eu? Tô bem sim. Fiquei só um pouco assustada, mas nada demais.
Daniel vem se aproximando.
JAQUELINE (ao telefone); - Ele tá vindo. Mais tarde te ligo. Beijo! (desliga)
DANIEL: - Tudo certo.
JAQUELINE: - É mesmo? Está tudo legal com você? E seu pé?
DANIEL: - Tudo legal mesmo. Foi apenas um arranhão, nada grave mesmo. Não está nem inchado.
JAQUELINE: - Ainda bem...
DANIEL: - É...
Silêncio por um tempo. Os dois disfarçam os olhares.
JAQUELINE: - Então, vamos?
DANIEL: - Já?
JAQUELINE: - Você quer ficar aqui no hospital?
DANIEL: - Não. Quero dizer, eu quero ao menos te agradecer pela ajuda, pela atenção.
JAQUELINE: - Imagina, não precisa agradecer. Daniel, não é?
DANIEL: - Isso.
JAQUELINE: - Eu me chamo Jaqueline. Não precisa agradecer não. Eu te levo de volta lá pra onde nos encontramos e tá tudo certo.
DANIEL: - Mas eu só queria pedir pelo menos uma coisa.
JAQUELINE: - O quê?
Daniel segura a mão de Jaqueline. (sobe trilha “Sunday Morning” – Maroon5)
DANIEL: - Eu queria te ver de novo. Agora sem acidente e hospital.
Jaqueline e Daniel trocam olhares.
JAQUELINE: - Claro, a gente se encontra de novo sim. Eu, aliás, virei muito pra cá por esses dias. Estou buscando umas ideias para pintar novos quadros. Sou artista plástica.
DANIEL: - Eu posso te mostrar tudo de melhor daqui de Itaquera. Você vai gostar.
JAQUELINE (a si mesma): - Acho que já estou gostando...
DANIEL: - O que você disse?
JAQUELINE: - Nada não... Mas vamos combinar sim.
DANIEL: - Não precisa me levar lá no prédio não. Eu vou dar mais umas voltas por aí.
JAQUELINE: - Tá certo.
DANIEL: - Anota meu telefone, quando voltar aqui, me liga. Serei seu guia turístico aqui em Itaquera.
JAQUELINE: - Claro.
Jaqueline pega o celular para anotar o número. Daniel pega o telefone de sua mão e escreve o telefone dele. Devolve para Jaqueline.
DANIEL: - Foi um prazer conhecer você. De verdade.
JAQUELINE:
- Igualmente.
Daniel sorri e aos poucos vai se afastando, até ir
embora. Jaqueline fica ali, parada no meio do corredor
do hospital, com o telefone na mão, ainda envolvida pelo
charme de Daniel.
JAQUELINE: - Tô vendo que isso ainda vai render e muito...
(fade out trilha “Sunday Morning” – Maroon 5)
CENA 13. RESTAURANTE GOURMET PAULISTA. INT. DIA.
Claude, Raquel e Monique conversam.
RAQUEL: - Só de pensar nessa viagem já me dá um frio na barriga.
MONIQUE: - Nem pense em dar pra trás, Raquel!
CLAUDE: - Mas ela nem é louca! (risos)
RAQUEL: - É claro que eu não dar pra trás, gente. Calma... (risos) Só estou nervosa, ansiosa, sei lá. Nunca saí de São Paulo, agora assim, de repente, ir lá pra Europa!
MONIQUE: - Deve ser lindo!
CLAUDE: - Portugal é belíssimo. Se der, aproveite e conheça outros países também. É tudo próximo.
RAQUEL: - Eu quero é me dedicar bastante aos estudos, Claude. É pra isso que eu estou indo e não para passeio.
MONIQUE: - De vez em quando vai dar pra dar uma relaxada né, Raquel? Aproveita tudo o que pode!
RAQUEL: - Eu vou morrer de saudade de vocês e das meninas! Da Jaqueline, da Lenara então!
CLAUDE: - Acredito que elas também vão sentir saudades.
RAQUEL: - A Jaque ta começando a elaborar a nova exposição... Estou tão feliz por ela. E a Lenara com os projetos dos móveis...
MONIQUE: - Ela não vai concorrer neste prêmio que vai ter por agora?
CLAUDE: - Prêmio Paulista de Designer de Móveis? Acho que sim. Ano passado ela quase conseguiu.
RAQUEL: - Vê só! Vai rolar tudo isso e eu vou estar lá do outro lado do mar, longe... Queria acompanhar de perto!
CLAUDE: - Não te preocupa que vamos te manter por dentro de tudo o que acontece na Capital da América do Sul! (risos)
RAQUEL: - Ai São Paulo! Já to com saudades!
(sobe trilha “We Just Don't Care” John Legend)
CENA 14. PASSAGEM DO TEMPO.
(segue trilha “We Just Dont Care” John Legend)
Imagens gerais da cidade
de São Paulo, alternadas entre dia e noite. Imagem do
amanhecer na “Selva de Pedra”. Legenda na tela:
DIAS DEPOIS. (fade out trilha “We Just Don't
Care” John Legend)
CENA 15.
AEROPORTO. SAGUÃO. INT. DIA.
Henrique chega acompanhado por Humberto e Barreto, ao saguão de embarque do aeroporto.
HENRIQUE: - É aqui.
BARRETO: - Já está quase na hora do vôo. Daqui a pouco chamam para a sala de embarque.
HUMBERTO: - Ansioso?
HENRIQUE: - Nem tanto. Na verdade ainda preocupado com o papai.
BARRETO: - Henrique, relaxa rapaz!
HUMBERTO: - Não adianta, Barreto. Mesmo o papai estando em casa já, bem, recuperado, ele insiste nessa preocupação à toa. Se preocupa com a viagem, com o curso, em saber técnicas novas para a empresa, para a agricultura...
BARRETO: - Seu irmão está aí, eu também estarei junto com o seu pai. Vai tranquilo, Henrique.
HENRIQUE: - Tá certo, vou relaxar...
Henrique abraça Humberto e Barreto, segue para a área de embarque. Num outro ponto, Raquel chega acompanhada por Lenara, Jaqueline e Claude.
LENARA: - Faz bastante compras por lá!
JAQUELINE: - E tira muitas fotos!
CLAUDE: - Não esquece dos livros de culinária!
RAQUEL: - Gente, é tanta coisa pra lembrar! (risos) Mas uma coisa é certa. Eu não vou esquecer é de vocês!
Todos se abraçam em volta de Raquel.
JAQUELINE: - Vai com Deus e volta logo, Raquel!
LENARA: - Vamos estar aqui, te esperando. Você e o português lindo que vai encontrar por lá!
RAQUEL: - Para, Lenara!
LENARA:
- Pensamento positivo! Eu to torcendo por você e pelo
seu coração.
As duas se abraçam.
CLAUDE: - Vai logo antes que não dê pra embarcar!
RAQUEL: - Beijão gente! Amo vocês!
Raquel se despede dos amigos e segue para a área de embarque.
CLAUDE: - Lá se foi nossa amiga. Que faça boa viagem.
LENARA: - E que se apaixone perdidamente! (risos)
JAQUELINE: - Tomara mesmo. Paixão é tudo na vida da gente... (suspira)
LENARA: - Ih! Que suspiro foi esse, Jaque? Apaixonada é?
JAQUELINE: - Eu? Não! Quero dizer, não sei... Ai gente, parece coisa de filme meloso, mas eu conheci um cara, por acidente, e não consigo parar de pensar nele!
CLAUDE: - Amor à primeira vista. Existe mesmo.
LENARA: - Ah, jura?!
JAQUELINE: - Tô falando sério. Daniel, o nome dele... Jogador de futebol, lá da zona leste.
LENARA: - Para tudo! Jaqueline suburbana não! Nascida e criada nos Jardins vai conhecer a paixão da sua vida lá na zona leste?! (risos)
JAQUELINE: - O que é que tem? Amor é assim mesmo.
LENARA: - Tá bom. Por isso que eu não me apaixono. E se for me apaixonar, que não desça da classe alta.
CENA 14. HMÓVEIS. SALA SANTIAGO / RECEPÇÃO. INT. DIA.
Paula chega sala de Santiago, na HMóveis, para falar com
o marido.
PAULA (carinhosa): - Oi meu amor.
Paula se aproxima de Santiago para lhe dar um beijo, mas
ele se esquiva, indo até o arquivo pegar uns papéis.
Paula fica chateada.
SANTIAGO: - Oi, Paula.
PAULA:
- Você não vai me dar nem um beijo, de bom dia? Hoje nem
nos vimos no café da manhã. Achei que você ia gostar de
me ver aqui.
Santiago se aproxima de Paula, a beija rapidamente, um
selinho frio, volta para a sua mesa de trabalho.
PAULA: - Só isso?
SANTIAGO: - Você me pediu um beijo e eu te dei. O que mais você quer?
PAULA: - Um pouco mais de atenção seria ideal, não acha?
SANTIAGO: - Mas agora eu estou trabalhando. Preciso fechar esse contrato importante. Em casa conversamos melhor.
PAULA: - Em casa a gente mal se vê. Só você não percebe isso.
SANTIAGO:
- Se está afim de discutir a relação, aqui não é hora
nem lugar, Paula. Por favor, respeite o meu trabalho. Vá
fazer compras, vá cuidar da boutique com a Tarsila, vai
dar uma volta com a Carol... Eu preciso me concentrar
aqui.
Paula fica sem reação diante da frieza de Santiago. Ela
pega sua bolsa e sai da sala do marido, sem nem se
despedir. Ela chega na recepção, enxugando as lágrimas
para que ninguém perceba. Neste instante, Robson vai
chegando e percebe Paula.
ROBSON: - Está tudo bem?
PAULA: - Aham, tudo bem.
ROBSON: - Não, não está não. Está chorando. Aconteceu alguma coisa?
PAULA: - Não, está tudo bem. Obrigada pela atenção.
ROBSON:
- O que eu puder fazer para te ajudar, por favor. É só
pedir.
Paula encara Robson, esboça um sorriso diante da
solidariedade e atenção do rapaz.
PAULA: - Só o fato de saber que eu estou aqui, que eu existo, já faz com que você me ajude.
ROBSON: - Como assim?
PAULA: - Esquece... Eu preciso ir antes que o Santiago me veja aqui ainda.
ROBSON: - Santiago... Você é esposa dele? A Paula?
PAULA: - Sim, sou eu. Ele comenta de mim por aqui?
ROBSON:
- Na verdade não. Ele quase nunca fala nada além do
trabalho. Mas o Ulisses comentou que ele era casado. Só
eu não sabia que era com uma bela mulher.
Paula sorri, agradecida.
ROBSON:
- Me chamo Robson.
Robson pega a mão de Paula e beija, delicadamente. Paula
recolhe a mão, recatada.
PAULA: - Quanta cordialidade, Robson.
ROBSON: - Diante de tanta beleza e feminilidade, impossível agir de outra forma.
(sobe trilha “Sem Poupar Coração” – Nana Caymmi) Os dois flertam. Paula desvia o olhar, mas retorna a encarar Robson.
PAULA: - Eu preciso ir.
ROBSON: - Quando puder e quiser, apareça. Eu ficarei feliz de vê-la novamente.
PAULA:
- Obrigada pelo convite. Bom trabalho para você.
Paula se retira, elegante. Robson fica a observá-la,
encantado. (fade out trilha “Sem Poupar Coração” –
Nana Caymmi)
CENA 16. ALOJAMENTO ITACLUBE. QUARTO. INT. DIA.
Daniel está deitado no chão do quarto, fazendo
exercícios abdominais, quando Marcelo entra no local
enfurecido.
DANIEL (fazendo exercício): - O que foi, Marcelão? Aconteceu alguma coisa?
MARCELO: - É tudo uma droga mesmo... Às vezes eu penso até em desistir da carreira de jogador de futebol.
DANIEL (continua o exercício): - Ih, não faz isso não, mano! Tá maluco? Fala aí o que ta pegando.
MARCELO: - O que é que ta pegando? Lembra daquele olheiro que esteve aqui naquele treino que você não fez por causa da suspensão?
DANIEL: - Lembro sim. O que tem ele?
MARCELO:
- Ele voltou, mas não ficou interessado em nenhum dos
outros jogadores. Ele queria era saber de você.
Daniel para de fazer os exercícios, surpreso.
DANIEL: - Saber de mim?!
MARCELO: - Tá vendo?! Que absurdo! Você nem jogou e o cara ficou interessado em você!
DANIEL:
- Poxa! Até fiquei sem reação... (feliz) Nossa, eu to
ganhando nome! Eu posso ir para um time grande logo!
Marcelo fulmina Daniel com o olhar.
DANIEL: - E o que disseram pra ele, de mim?!
MARCELO: - Macedão falou que você estava cumprindo suspensão. Por mal comportamento.
DANIEL: - Droga. Perdi a chance.
MARCELO: - Mas o olheiro ficou de voltar. Faz questão de ver você jogando... E eu me matei naquele treino pra quê? Pra nada?!
DANIEL: - Calma aí Marcelão. (toca a mão no ombro de Marcelo) Tudo tem sua hora.
MARCELO (empurra a mão de Daniel): - A minha não vai ser depois da sua.
DANIEL: - Você falou o quê?!
MARCELO: - Nada não... Acho que eu estou um pouco cansado, estressado, só isso. Vou dar uma caminhada, aliviar a cabeça.
DANIEL: - Faz isso mesmo. Ou treina. É bom pra relaxar também.
Daniel volta a deitar no chão e fazer seus exercícios. Marcelo se afasta, vai até a porta, volta. Encara Daniel, invejoso.
MARCELO (a si mesmo): - Eu não vou ficar aqui por muito tempo, Daniel. E você não pode passar na minha frente...
CENA 17. IMAGENS GERAIS. LISBOA . EXT
(sobre trilha de um fado português) Dia. Imagens gerais da cidade de Lisboa, Portugal, e seus pontos turísticos, como o Castelo de São Jorge, o Parque das Nações e o Padrão do Descobrimento.
Aos poucos, a transição do tempo para o anoitecer. Plano geral da cidade iluminada. Corta para a fachada de um prédio, de arquitetura clássica, na região central da cidade.
CENA 18. APTO RAQUEL. INT. NOITE.
Corta para Raquel se instalando em seu apto. Ela deixa a mala sobre a cama e vai para a janela do quarto. Ela abre a janela e aprecia a vista de toda cidade de Lisboa, sorri, feliz.
Corta para Henrique, também na janela de seu apto, num ambiente mais sofisticado. Ele sai da janela, vai até a mesa onde está sua mala. Ele abre a mala, CAM mostra uma foto de Henrique com seu pai, abraçados. Henrique pega a foto na mão, sorri, feliz.
(fade out trilha de um fado português)
CENA 19. CASA QUEIRÓZ. INT. NOITE.
Maria Alice conversa com Gurgel e Humberto, na sala de
estar da casa da família, em São Paulo. O local é amplo,
muito bem decorado. Maria Alice e Gurgel lado a lado no
sofá. Humberto senta-se numa poltrona.
MARIA ALICE: - Fiquei mais aliviada com a ligação do Henrique. Já está instalado, tudo certinho.
GURGEL: - Henrique já é um homem feito, Alice. Não precisa ficar se preocupando assim.
HUMBERTO: - Mãe é mãe...
MARIA ALICE: - Mãe é mãe mesmo! Vai se preocupar com os filhos sempre! Se fosse o Humberto que tivesse viajado, estaria com a mesma aflição.
HUMBERTO: - Mas eu não fui, não é, mamãe, e o Henrique já está bem. Portanto, não precisa mais se preocupar.
MARIA ALICE: - Vou tentar. Vou tentar...
GURGEL: - Falando em tentar, Humberto, agende para amanhã uma reunião na empresa.
MARIA ALICE: - Amanhã? Gurgel, você ainda precisa descansar.
GURGEL: - O trabalho não pode esperar, Alice.
HUMBERTO: - Reunião para quê, papai?
GURGEL: - Para tratarmos dos nossos negócios, ora. Temos um novo azeite para ser lançado, parcerias para firmar. E eu também quero dar uma analisada no balanço financeiro da empresa.
Humberto se ajeita na poltrona.
HUMBERTO: - Claro, papai.
GURGEL: - Chame Barreto também. Tenho algumas ideias e quero a opinião dele para alguns assuntos.
HUMBERTO: - Como o senhor quiser... Amanhã também irei mudar de sala. Irei para a sala do Henrique.
MARIA ALICE: - Mas por quê?
GURGEL: - Também não entendi Humberto.
HUMBERTO: - Oras, não tem cabimento eu virar quase o presidente e continuar naquela sala apertada onde estou. Aliás, eu já peço mudança há um bom tempo.
GURGEL: - Não vai ser uma sala grande que irá te deixar grande também, Humberto. Vai ser a sua atitude diante da empresa. Faça por merecer. Por enquanto, a sala do Henrique fica como está.
Humberto baixa o olhar.
MARIA ALICE: - Gurgel, querido, já que o Henrique vai ficar um bom tempo fora, não vejo problemas do Humberto ocupar a sala dele. Como ele disse, aquela outra sala é muito pequena.
GURGEL: - Mas a sala é do Henrique!
MARIA ALICE: - E qual a utilidade de ter uma sala vazia daquelas?... O Humberto fará muito mais proveito do que o Henrique agora. E outra, o Henrique não vai se importar.
GURGEL: - Tudo bem. Façam como bem entenderem... (levanta-se do sofá) eu vou pro quarto.
Gurgel sai. Humberto senta-se ao lado da mãe.
HUMBERTO: - Não precisava intervir, mamãe. Ficou claro que o papai aceitou a contragosto.
MARIA ALICE: - Imagina, meu filho. Ele realmente viu o que era melhor.
HUMBERTO: - Eu não sou mais criança, mamãe. Não precisa ficar negando, fingindo... Eu sei que o papai prefere o Henrique a mim.
MARIA ALICE: - Humberto! Não diga isso! Seu pai ama os dois da mesma forma!...
Maria Alice segura a mão do filho, o beija no rosto, carinhosa.
MARIA
ALICE: - Da mesma forma que eu os amo.
Maria Alice sorri, meiga, levanta-se e sai. Humberto
fica sozinho na sala, soturno.
HUMBERTO: - E quem liga pra essa porcaria de amor de pai?... Por mim pode ficar até com o último fio de cabelo do Henrique. Os dois vão cair juntos, aos meus pés.
CENA 20. TRANSIÇÃO DO TEMPO. AMANHECER
(sobe trilha fado português – ambientação) Imagens da cidade de
Lisboa ao amanhecer. Mostra as ruas, o bonde com seus
passageiros, praças e avenidas. Corta para...
CENA 21. PORTUGAL. CENTRO DE ESTUDOS. INT. DIA.
Um grande prédio histórico, reformado, com toques modernos em sua arquitetura. Muitas pessoas frequentam o local, que mais se parece uma universidade.
Corta para Henrique entrado no auditório para acompanhar sua aula de agronomia. Usando roupa casual, ele facilmente se integra em meio aos demais alunos, concentrado nos estudos.
Do lado de fora do Centro de Estudos, Raquel caminha apressada pela calçada, levando livros e sua bolsa. (fade out trilha fado português – ambientação)
RAQUEL:
- Ai, Raquel! Atrasada já no primeiro dia! Isso que nem
tem o trânsito de São Paulo pra atrapalhar!
Raquel vai atravessar a rua para entrar pelo portão
principal do Centro, quando um bonde vai passando
próximo. Quando Raquel chega à calçada do Centro, um
rapaz, moreno, alto, corpo malhado, salta do bonde e acaba se desequilibrando,
esbarrando em Raquel, que cai na calçada.
RAQUEL: - Ai!
RAPAZ: - A senhorita estás bem?! Estás machucada?!
RAQUEL: - Não, não machuquei não... Só precisa ter mais cuidado né?
RAPAZ: - Mil desculpas! Deixa eu te ajudar, por favor.
O rapaz segura a mão de Raquel para levantá-la. Ao tocar Raquel, ele se mostra encantado por ela. (sobe trilha “Tem Que Ser Você” – Victor e Léo) Raquel levanta-se, sorri, simpática.
RAQUEL: - Obrigada!
RAPAZ: - Mais uma vez, desculpa. Estou acostumado a saltar do bonde, nunca tinha acontecido um acidente deste tipo.
RAQUEL: - Eu também não me acostumei com esses bondes cruzando a cidade...
RAPAZ: - Não é daqui não? É brasileira?
RAQUEL: - Sou... De São Paulo... como sabe que sou brasileira?
RAPAZ: - Pelo sotaque, ora pois.
RAQUEL: - Ora pois (risos) Adoro isso...
RAPAZ: - Me chamo Joaquim. (segura a mão de Raquel, cortês) Qual sua graça?
RAQUEL: - Me chamo Raquel.
JOAQUIM: - Muito prazer, Raquel. (beija a mão dela)
Raquel sorri, simpática, diante do cortejo de Joaquim, que flerta com ela. (fade in trilha “Tem Que Ser Você” – Victor e Léo).
Édy Dutra
elenco
Juliana Alves como Raquel
Guilherme Winter como Henrique
Christine Fernandes como Lenara
Júlio Rocha como Humberto
Daniele Suzuki como Jaqueline
Jonathan Haagensen como Daniel
Cláudio Lins como Ulisses
Rodrigo Hilbert como Robson
Cinara Leal como Bárbara
Carlos Casagrande como Claude
Diego Cristo como Joaquim
Erika Januza como Aimée
Liliana Castro como Fernanda
Léo Rosa como Marcelo
Aline Dias como Stefany
Cecília Dassi como Carol
Luiz Otávio Fernandes como Nuno
Renata Castro Barbosa como Salete
Bernardo Mesquita como Cássio
Jonatas Faro como Igor
Odilon Wagner como Carlos
Rodrigo dos Santos como Barreto
Patrícia Werneck como Monique
Karina Bacchi como Keylla Mara
Nando Cunha como Candinho
Sérgio Guindane como Leopardo
Letícia Colin como Rita
Luiz Felipe Mello como Otávio
Maria Pinna como Lisa
atrizes convidadas
Carolina Ferraz como Paula
Regina Braga como Maria Alice
Aída Leiner como Tarsíla
Tânia Alves como Zuleica
Zezé Motta como Rosa
atores convidados
Zé Carlos Machado como Donato
Aílton Graça como Macedão
Nuno Leal Maia como Jair
Jean Pierre Noher como Santiago
Malu Galli como Dalva
Sônia Braga como Vilma
Reginaldo Faria como Gurgel
trilha sonora
produção
Bruno Olsen
Diogo de Castro
Israel Lima
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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