O Anjo do Natal
de Jacqueline Quinhões da Luz
O mundo passava por um momento delicado. Um vírus
muito perigoso acometia as pessoas a uma doença, cuja cura não era encontrada.
Milhares de famílias passavam pela perda de entes queridos. Aquele ano parecia que
uma nuvem espessa de tristeza cobria o planeta. O vírus não perdoava, atingia
pessoas de qualquer idade, condição social como se tivesse vindo para mostrar a
toda humanidade o que deveria ser óbvio, que somos iguais. Ricos ou pobres,
todos uma vez acometidos pela doença necessitavam dos mesmos procedimentos,
atendimentos e cuidados. Tudo isso trouxe para a vida das pessoas o isolamento,
a solidão. Não se podia mais ir à escola, reunião de amigos, nem abraçar ou se
divertir como antes. E assim foi o ano inteiro até que chegou o Natal.
Como viver o clima do Natal sem se reunir com
familiares e amigos, sem dar aquele abraço afetuoso, visitar avós, dar as
lembranças de Natal. Aquele seria um Natal diferente, era preciso se
reinventar, buscar alternativas para que não se perdesse o brilho tão
característico dessa época mágica.
Aquele seria um Natal completamente fora do comum e
vinha com um propósito, levar as pessoas a redescobrirem o verdadeiro sentido
da vida, pois aflorava sentimentos a muitos esquecidos e levava a reflexão
sobre os valores de tudo. Verdade que muitos se mantinham ainda endurecidos,
resistentes, mas cada um tem seu tempo de despertar e Maria sabia disso.
Tão pequena mas de uma capacidade de sentir tudo tão
intensa, assim era Maria. Uma menina linda cuja vida parecia sempre lhe sorrir,
pois nada lhe faltava. Sempre teve o melhor de tudo, mas isso não lhe fez
sentir ser melhor do que os outros, era especial, pensava muito no próximo, ajudava
quem necessitava. Era uma menina de ouro todos diziam.
Maria morava em um bairro onde a maioria dos moradores
eram idosos, a casa onde ela morava inclusive tinha sido de seus avós, e por
isso ela era tão paparicada por todos, era praticamente uma das poucas crianças
do bairro, ela conhecia todos. Seus amigos eram os netos dos moradores com quem
brincava quando iam passar o dia ou as férias com os avós. A menina observava
tudo e percebeu o quanto seus vizinhos, estavam solitários, pois filhos e netos
não podiam vir visita-los como antes por questão de segurança. Precisava fazer
alguma coisa e ficou pensativa. Tinha um enorme carinho por todos, os tinha
como seus avós, já que não tinha mais junto de si os seus.
Como fazer? Não podia ter contato com seus vizinhos e
nem sair de casa. A maioria deles não sabia mexer no celular ou computador.
Então Maria teve uma ideia, resolveu fazer um tipo de manual com desenhos onde
ensinaria a mandar mensagens, receber, fazer chamadas de vídeo e tudo mais que
fizesse uma ponte entre os velhinhos e sua família. Manuais escritos podiam
dificultar mas com desenhos seria mais fácil para entenderem. E Maria começou
seu trabalho, estava entusiasmada. Pediu ajuda aos amigos pela internet, os
próprios netos dos vizinhos ajudaram com os desenhos. E ficou incrível. Os pais
de Maria estavam orgulhosos da iniciativa da menina e de como conseguiu
organizar tudo aquilo.
Maria imprimiu os folhetos, fez um envelope e colocou
um carinhoso bilhetinho, onde seus pais sugeriram que caso necessitassem de
algo do mercado ou farmácia era só avisar que eles trariam. Perfeito pensou a
menina, assim estaria ajudando seus vizinhos a se protegerem. Colocou na caixa
de correio de cada casa e aguardou o resultado de todo esforço.
Os dias se passavam e Maria ansiosa por receber um
retorno e quando menos esperava chegou. A primeira de muitas mensagens que
viriam, mas o suficiente para enche-la de alegria. Era de Dona Lúcia, uma
senhorinha fofa como Maria costumava falar, daquelas que dá vontade de ficar
aconchegado no colo e não sair mais. E ela escreveu o seguinte:
— “Querida Maria, você não faz ideia do bem que me
fez. Eu não sabia como mexer no celular que ganhei de meu filho, ele até havia
me explicado, mas esqueci. Quando ganhei achei que nunca iria precisar tanto dele,
pois saio pouco de casa e as vezes que sai até esquecia dele. Você é um anjo
Maria.”
Na verdade Maria teve ajuda de outros anjos, muitos
nem imaginavam isso, mas iria revelar no momento certo. E após esta vieram
muitas outras e aos poucos quase todos a quem ela enviou o manual, menos um
vizinho. O mais velhinho de todos. O senhorzinho da casa azul, assim se referia
Maria ao seu João. Esse quase nunca recebia visitas, seu único filho morava com
a família fora do Brasil e ele tinha ficado viúvo meses antes de começar todo
isolamento.
Maria ficou preocupada. Talvez ele nem tivesse um
celular ou computador! Dividiu com seus pais sua preocupação e trataram de
arrumar um aparelho que já não usavam mais e colocaram na caixa de correio com
um bilhetinho. Mas...isso não surtiu efeito. O velhinho não retornou como
esperado. Talvez estivesse triste demais e não queria ter contato com o mundo.
Quase não o viam sair, apenas o moço do mercadinho deixava as poucas compras
lá.
Aos poucos as mensagens tornaram-se comuns entre eles.
Uns mais tímidos outros se arriscavam mais, mas o contato estava feito, a
solidão já não estava tão intensa para quase todos, menos para o velhinho da
casa azul. Ninguém sabia dizer como ele estava.
Naquele dia, Maria acordou decidida, iria tentar um
contato mais direto. Muniu-se de máscaras, álcool gel e foi até a frente da
casa. Apertou a campainha e nada, mas não desistiu e aproximou-se da porta de
entrada. Notou que a mesma estava entreaberta empurrou levemente e viu Seu João
caído no chão. Correu até seus pais que chamaram a ambulância. Tudo isso deixou
Maria muito assustada, temia pelo pior. Eram tantas notícias tristes nos noticiários.
O fato ocorrido deixou Maria muito abalada, havia
perdido o entusiasmo por tudo, lembrava de seus avós. Ouvia o sinal de
mensagens chegar em seu celular, mas não tinha coragem de abrir, temia não
serem boas notícias. Até que seu pai entrou no quarto, abraçou a menina e
contou que Seu João tinha tido um princípio de infarto, mas que graças a ela o
socorro chegou rápido e ele estava bem. Já haviam localizado o filho e
estabelecido contato. O velhinho logo estaria de volta a casa azul.
Essa notícia tirou um peso do coração de Maria, que
começou a ler as mensagens recebidas. Todas lhe agradeciam por ser tão especial
e por todo carinho. A menina muito emocionada resolveu fazer uma reunião com
seus amigos e contar tudo que aconteceu. Decidiram juntos que fariam um
encontro de Natal pelo grupo criado. Seria uma surpresa aos vizinhos. Uma festa
de Natal virtual.
Maria e seus amigos fizeram mais explicações para o
manual, desta vez com mais detalhes pois tentariam reunir todos. Fizeram
desenhos para decorar a festa de Natal virtual, mensagens... tudo com carinho.
Chegado o grande dia da confraternização a distância,
Maria acordou ansiosa, notou que o celular estava silencioso, apenas uma mensagem
tinha chegado, ao contrário dos outros dias que vinham muitas. Quando abriu
ficou muito feliz, era do Seu João. Ele, no hospital pediu ajuda de uma
enfermeira que foi até sua casa e trouxe o celular para que pudesse enviar a
mensagem para sua salvadora, a menina de ouro.
Maria não se continha de tanta emoção ao ver Seu João
se recuperando e interagindo com todos. Ali, naquele momento, sabia que tinha
feito a coisa certa e lembrou do que sua vó lhe dizia: “Fazer o bem, faz bem à
alma!”. Quando ela lhe dizia isso, não fazia ideia do quanto. Despediu-se de
Seu João com o coração estufado de alegria.
No horário marcado, aguardava a entrada de seus
vizinhos na tal reunião, mas nada. Pareciam estar com dificuldades de entrar,
ficou preocupada. Mandou mensagem para os amigos e eles também não retornavam.
— “O que teria dado errado?” — pensou Maria.
Já decidida a
sair do encontro viu que começaram a entrar, todos cantando uma linda canção de
Natal e com corações nas mão onde dizia:
— “OBRIGADO MARIA!”
Seus pais que assistiam a tudo não continham as
lágrimas e Maria ficou sem palavras. Estavam todos ali, inclusive Seu João do
hospital, seus colegas da escola e o filho netos e nora de Seu João, que
moravam em outro País. Todos reunidos por um único sentimento. Um dos mais
lindos sentimentos que se possa sentir e que dava a essa época o verdadeiro
sentido a tudo, GRATIDÃO.
Maria com sua iniciativa havia mostrado a todos que
quando há amor ao próximo, não haverá espaço para solidão, tristeza pois a
esperança preencherá cada cantinho vazio e mostrará que a união é capaz de
tornar a vida mais leve e feliz.
Aquele tinha tudo para ser um Natal solitário, mas
graças a Maria não foi. Uma menina linda que se preocupava com todos...
“Um lindo anjo chamado MARIA!”
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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