Presentes do Futuro
de Lays Moraes
Sabe
como se cria o imprevisível? Exatamente, sem tentar prevê-lo. Acredito que os
imprevistos, as surpresas, são algumas das melhores coisas que podem ocorrer a
uma pessoa. Quando não planejamos o próximo passo, quando não calculamos
nenhuma ação, quando não estipulamos prazos. Sabe aquele momento em que tudo
pode mudar, mas também pode ser que nada mude, porque o nada, geralmente, é o
que de menos vazio pode haver?
Pois
bem, vou lhes narrar um conto que ilustra o poder do de repente, do “acaso” ou
do milagre que ocorre quando menos esperamos:
Aconteceu
numa noite de natal, numa pequena cidade, dessas em que nunca se espera muitas
surpresas. Mas o fato é que, daquela data em diante, de bairro em bairro, e
depois, de cidade em cidade, a novidade se espalhou, e esse milagre passou a
ser, durante muito tempo, o que de mais importante a região toda teria para
contar.
Tudo
começou em um dia 24 de dezembro, por volta das 23h. Algumas famílias da
cidade, de tão desiludidas que estavam, nem ousaram esperar pela meia-noite,
supunham não terem nada o que comemorar e foram dormir, mas os sinos da velha
igreja pareciam destoar do silêncio habitual, foi quase um chamado à vigília.
Quando essas pessoas saíram às suas portas viram um mistério em forma de
embrulhos. Quem teria se dado ao trabalho de presenteá-los?
Então,
um a um, os presentes foram sendo abertos no interior das residências. Esse
povo humilde, de tão surpreendido, mal sabia controlar a emoção. Eram presentes
feitos de detalhes, todos muito significativos por si mesmos. E o que se
seguiu, isso sim, parecia um milagre. Cada habitante do lugar recebeu sua dose
de espanto e admiração para o resto da vida.
Em uma
daquelas casas, o presente foi um porta-retratos, no qual estavam, a dona da
casa, seu marido e, pasmem, um bebê. O maior sonho deles, materializado em uma
fotografia, vinda sabe Deus de onde.
Na
residência do padeiro, as luzes acesas não brilhavam mais do que seus olhos.
Expectativas transportadas para uma imagem, o retrato da mulher doente,
convertida na mulher saudável que sempre sonhara ser. Seria real? Ele não se
continha, foi correndo mostrar-lhe: - “Olha, mulher! Não é possível essa ser
você”.
Na
ruazinha próxima à igreja, nada mais do que murmúrios: - “Não fale alto, vai
acabar com a mágica.” Mas quem disse que o menininho se importava. – “Mamãe,
olhe, essa foto conhece meu cavalinho”. Por mais pobres que fossem, o pequeno
não tirava uma ideia da cabeça: “Um dia, hei de ter meu cavalinho”. E, ali, na
imagem, ele o tinha. Sabia que o teria, não poderia ser um sonho, nem adiantava
se beliscar.
E foi
nesse agito que a cidade amanheceu, com gritos pelas ruas, as três casas mais
agraciadas da região nem pensaram em ocultar o milagre que receberam. Afinal,
não é todo dia que se recebe um presente do futuro.
Não
parecia mais o mesmo lugar, nem poderia ser. Outro clima, as energias haviam
sido renovadas. Para as três famílias visitadas pela benção daquele 24 de
dezembro tudo finalmente começou a funcionar, não voltariam a ser os mesmos.
A dona
da primeira casa tratou logo de se animar, não estava mais depressiva, movida
pela esperança de que, em breve, iria carregar seu bebê. Andava para todo lado,
mostrando um belo sorriso no rosto enquanto preparava as roupinhas da futura
criança.
Para o
padeiro as coisas também começaram a sorrir, tanto quanto para sua esposa. Não
lembrava em nada aquela senhora apática e doentia. Tinha rejuvenescido uns 10
anos somente pela expectativa de ganhar sua saúde de volta. Com brilho no olhar
e recobradas as esperanças, de dia em dia, via a fotografia se tornar real. Primeiro,
faces coradas, depois, músculos fortalecidos. Adquiriu desejo de viver para
ver, no espelho, a imagem da fotografia.
Subindo
a rua da igreja vê-se um rosto queimado pelo sol mas, sem se importar com isso,
lá vai o menininho, todo saltitante, não desiste, espreita por todas as ruas,
quem sabe seu cavalo não está em alguma esquina, em um terreno vazio ou
perambulando por aí.
O
pobrezinho nem se dá conta, na sua inocência tudo se resolve por pura magia,
porém quem mais precisava acreditar era sua mãe. Faxinava todos os dias, tanto
esforço não seria em vão, o sonho do pequeno era também o seu. Ela sabia que só
um milagre para fazer seus ganhos darem para ela, o pequeno e mais um cavalo,
mas quando chegava em casa, exausta de lutar, o sorriso do garoto a lhe dizer:
- “Mamãe, amanhã...amanhã sei que terei meu bichinho”, isso despertava-lhe
forças maiores do que o mundo.
Ao
decorrer de dias e meses, não é que não se apercebessem de todo, mas no embalo
de construir suas próprias alegrias, as três famílias não podiam entender a
força que uma alma convicta possui para gerar os meios de trazer sonhos à vida.
E,
assim, o relógio andou, a força cresceu, a esperança forneceu as ferramentas
aos sonhos. Sem prévio planejamento, sem tentar “forçar a barra”, foi assim que
as histórias se cruzaram e mudaram para sempre.
Numa
manhã fria de inverno, a dona da primeira casa, ao estender suas roupas no
varal, notou que, tremendo de frio, passava por seu portão aquele mesmo
garotinho, que todos chamavam de “menino do cavalo”. Condoída com a situação,
ela entra em casa, prepara alguns agasalhos e, desce a rua o mais rápido que
pode, ansiosa por ajudar.
E,
assim, se passam
mais alguns meses, quem sabe um ano. E, tudo continuou fluindo. Como o
despertar de um sonho acordaram, não precisavam mais sonhar, a realidade
retratada naquela véspera de natal estava bem diante dos olhos, e não só para
as três famílias como para a cidade inteira.
Descobriram
como tornar o futuro um presente. Reuniram suas forças, não ansiavam mais por
sonhos impossíveis. De mãos dadas os trouxeram à realidade.
Eis
que repararam que o milagre se deu de forma que ninguém poderia prever.
Construíram-no entre si e, sem se darem conta, estava concluído, realizado, era
completamente real.
A
mulher nunca mais pensou na sua antiga vontade de ter um bebê, porque via no
“menino do cavalo” um filho adotivo, pois desde o dia em que o ajudou pela
primeira vez, decidiu não parar mais. Tornou-se seu maior prazer ajudar aquela
família, até propôs para a mulher do padeiro que, juntas, pudessem colaborar
com a compra do cavalo. E, isso não demorou a acontecer.
Em um
belo dia, colocaram-lhe o cavalo diante dos olhos, o pequeno mal podia se
conter, dava pulos e gritava de alegria: - “Olha, olha, mamãe! Nós temos boas
amigas, não é?!
E,
assim, no fazer do dia-a-dia, o presente que cada família desejava se tornou o
futuro de todas.
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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