A Kombi
de Vicky F. Moravia
Ricardo
desligou o computador do escritório de contabilidade onde trabalhava por volta
de quinze horas, naquele dia o expediente terminava mais cedo, pois era véspera
de Natal.
Apesar
do trânsito estar
ruim naquele horário, ele conseguiu chegar em casa. Por ele, só tomaria um
banho vestiria um calção qualquer, pediria uma pizza e ficaria em casa vendo
uma besteira qualquer na TV, mas sua noiva Dafne fazia questão que ele passasse
esta data com família dela, principalmente, neste ano que uns parentes vindos
da Europa estavam hospedados na casa dela.
Então,
o contador tomou um banho e vestiu uma roupa nova que a noiva havia comprado
para a ocasião.
—
Poxa! Será que
tenho boldo em casa? Geralmente, passo mal com essas ceias compradas pronta,
tudo tem o mesmo gosto ruim, gosto desses temperos industrializados — pensou o
rapaz.
Por
sorte, havia um pacote de boldo no armário, quando ele chegasse, provavelmente,
precisaria de um chá.
Ele
colocou no carro todos os presentes que tinha comprado: o da noiva, o da sogra.
Comprara uma boneca linda no
shopping para July, a sobrinha de Dafne, mas se arrependeu, pois, a menina só tinha sete
anos e só queria saber de brincar no celular.
O
telefone tocou.
—
Oi, amor, já está saindo de casa? A casa de praia que meus alugaram é muito
linda, e meus parentes já chegaram. Já, já, eu e meu Pai pegaremos a ceia na
padaria. Pedi de sobremesa torta holandesa, sei que você adora!
—
Já estou saindo, mas imagino que vou demorar devido ao trânsito, manda a
localização da casa para mim.
Ricardo
colocou o endereço no aplicativo de mapas, e percebeu que estava tudo
congestionado.
Resolveu
mudar o caminho, embora fosse um pouco perigoso, mas em compensação não tinha
tantos carros.
Iniciou
o trajeto enquanto colocava o celular no silencioso, porque sua noiva não
parava de ligar, querendo saber onde ele estava.
O
carro acabou caindo em um buraco que mais parecia uma cratera lunar. Ricardo desceu
do veículo e viu dois pneus do carro rasgados, alguns transeuntes passavam pela
rua, mas não sabia informar se havia alguma borracharia próxima.
Pegou
o celular para ver se conseguia ligar para alguém, mas a rede estava
congestionada.
—
PORRA! — chutando o pneu.
—
Calma, rapaz — disse um senhor magricelo com óculos fundo de garrafa que
dirigia uma Kombi caindo aos pedaços.
O
velho desceu do carro junto a uma jovem que era sua neta.
—
Se você quiser, eu posso te ajudar. Tire os pneus e os coloque em cima da Kombi
— (havia uma armação de ferro em cima do carro que dava para colocar bagagens).
—
O senhor não acha que podem roubar meu carro?
—
Existe essa possibilidade, mas sem os pneus? Acho difícil.
Ricardo,
então, arregaçou as mangas da camisa, tirou os pneus e os colocou no lugar
indicado pelo dono do carro.
A
jovem foi sentada no banco do meio da Kombi e Ricardo foi segurando a porta,
pois a fechadura não estava fechando direito e a porta poderia abrir. Ricardo
olhou para o interior do veículo e viu que estava cheio de sacos.
O
calor era escaldante e irritava Ricardo, mas o que o irritava mesmo era saber
que ia se atrasar, coisa que ele odiava. Enquanto passavam pela estrada, Ricardo
viu que todas as borracharias estavam todas fechadas.
Tentou
ligar para a noiva para informar o que eu havia acontecido, mas nem a internet,
nem a rede de telefonia funcionavam.
—
Vô, o que foi?
O
motorista encostou o carro quando começou a se sentir mal.
—
Moço, ajuda meu vô! Ele tem pressão alta!
—
Calma, menina, estou bem, minha visão está um pouco turva e estou tonto, mas
logo passa.
Ao
escutar isso, Ricardo rapidamente tomou o lugar do motorista, ele conhecia
aqueles sintomas já que sua mãe havia tido sintomas parecidos antes de sofrer
um aneurisma cerebral e morrer.
O
carro estancou umas duas vezes, ele não tinha costume de dirigir carros com
câmbios manuais, mas logo ele pegou o jeito de dirigir.
O
trânsito já estava amenizado, e logo chegou a um pronto-socorro, ele estava tão
concentrado que não conseguia entender o que o senhor dizia, mas era algo sobre
não poder ficar internado, porque tinha que fazer algo.
A
neta fez um escândalo, e, logo, o avô foi atendido, por sorte não era nada de
muito grave, era um pico de pressão, mas ele teria que ficar no hospital até a
pressão normalizar.
Ao
saber disso, o senhor ficou muito nervoso, fazendo sua situação só piorar.
Enquanto
isso, a internet no celular de Ricardo deu sinal de vida e ele logo viu muitas
mensagens de sua namorada querendo saber onde ele havia se enfiado.
Ele
informou que estava tudo bem, então, ela falou que ele deveria aproveitar que a
internet estava funcionando para pedir um carro no aplicativo.
Embora
estivesse preocupado com o senhor, o médico já tinha dito que não era nada
sério, e resolveu pedir o carro.
—
Moço, o meu Avô quer falar com você.
—
Tudo bem.
Dirigiu-se
a enfermaria sem saber exatamente o que esperar.
—
Meu jovem, serei bem direto: me ajude a
fugir deste hospital!
—
O quê? Não posso fazer isso.
—
Nem posso ficar aqui! Eu tenho uma promessa para cumprir.
—
Como assim?
—
Quando minha neta Alice tinha 01 ano, ela foi diagnosticada com leucemia, e foi
muito triste ver uma criança tão alegre parar de brincar, então, toda a minha
família fez exames, mas ninguém era compatível, e ela ficou muito mal.
—
Eu entendo.
—
Então, eu fiz uma promessa que se ela ficasse curada e voltasse a brincar,
todos os natais, eu ia encher meu carro de brinquedos e dar para crianças
carentes, e na mesma semana, foi encontrado um doador no banco de medula. Graças
a Deus, ela ficou boa, e tem sido minha companhia em todos esses natais de
entrega de brinquedos.
—
Eu entendo mesmo, mas eu não posso arriscar a vida do senhor, me desculpe.
—
Pena que ela ainda está tirando a carteira de motorista, ela poderia ir sozinha.
Tive uma ideia: leve-a até o local da entrega, lá vai ter um pessoal da igreja
que entrega uma canja todos os anos, você a deixa lá com os brinquedos. Alice
fica com o pessoal da igreja e você pode ficar com a Kombi, vá para onde você
estava indo e amanhã você me entrega ela.
—
Vô, tem certeza disso?
—
Se ele aceitar, e você confiar nele, só vejo essa saída.
Os
dois concordaram, Alice deu beijo no avô e os dois foram para o carro, ela
disse onde ficava o local da entrega de brinquedos.
Já
se aproximava a meia-noite quando chegaram, o pessoal da igreja já havia
iniciado a entrega da canja, abraçaram a Alice, e ficaram tristes ao saber o
que havia ocorrido com seu Batista.
As
crianças ao verem a Kombi, logo se aproximaram, Ricardo abriu a porta e foi
tirando os sacos com bolas, bonecas e carrinhos. Ele e Alice fizeram a entrega para
as crianças que ficaram eufóricas, e algumas menos inibidas chamaram Ricardo
para jogar bola, algo que ele não fazia há alguns anos, e se arriscou a dar uns
chutes e fazer umas embaixadinhas para a alegria da criançada e a dele também,
ele esboçava um enorme sorriso durante a brincadeira.
—
Ricardo, venha pegue um pão e venha comer a canja — com a fome que ele estava
acabou repetindo o prato.
—
Está deliciosa, muito obrigado.
Ricardo
percebeu seu celular vibrando.
—
Onde você está? Não tinha arrumado o carro? Poxa, você está me fazendo passar vergonha!
O
sinal do telefone caiu.
Ricardo
olhou ao redor, viu as pessoas conversando e rindo, as crianças brincando, o
céu estrelado, e escutou o sino de uma igreja próxima dali, badalando,
informando que era meia-noite.
—
Tio, venha brincar com a gente — algumas crianças queriam brincar de bola.
O
telefone voltou a vibrar.
—
Suponho que chegou a hora de você ir para o lugar onde deveria estar — disse Alice.
— O lugar que eu devo estar é aqui! — Ricardo desligou o telefone.
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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