O Sonho de Natal
de Amanda Kraft
A mãe prepara mais uma vez a sala para a chegada do Natal.
Para o ano em questão, ela havia pintado garrafas de vidro transparente de suco
de uva com tintas verniz vitral. Em cada uma delas há um desenho colorido: Papai
Noel, rena, bonecos de neve, presépio, Mamãe Noel patinando com o bom velhinho
e, como não podia deixar de ser, a casinha do Noel coberta de neve. Cada
gargalho foi pintado com verniz branco, imitando a calda derretida de um doce
coberto com açúcar. Enquanto decora, mira os olhos atentos e espertos de
Larissa, que a observa fascinada.
As plantas do jardim de inverno, embaixo da escada, são
substituídas por fontes de água em resina, colocadas artisticamente ao redor
das garrafas. O cascalho branco é enfeitado com pisca-pisca colorido. À frente
das garrafas deposita as miniaturas de ursinho de pelúcia com gorro de crochê
vermelho. Entre as garrafas, um antigo aquário de vidro, em formato de casa,
teve o telhado coberto com pasta de modelagem branca e, em seu interior, a mãe
despeja neve artificial sobre miniaturas de pinheiros, acrescenta uma vela em
forma de pinheiro, uma resina de Papai Noel e uma rena. E para a alegria da menina, a deixa colocar o Anjo
Natalino com roupa
prateada e asas de pena, finalizando o cenário apenas para vê-la bater palmas, soltar gritinhos
e rodopiar ao seu redor.
Logo mais o corrimão será coberto com festões verdes,
miniaturas de renas, casinhas amarelas e vermelhas com glitter, luvas vermelhas de feltro e folhas de visgo. A sala ficará
linda, como em todos os anos, contudo, o prazer da mãe está em contemplar os
olhos luzidios da criança.
Depois de cada coisa colocada em seu devido lugar e, antes
que as luzes sejam acesas, Larissa franze a testa e indaga curiosa:
— Mamãe, onde o Papai Noel mora?
— Dentro dessas garrafas. — Responde a mãe com um sorriso
discreto nos lábios.
— Dentro das garrafas? Mas eu não estou vendo. Tem certeza
de que ele não mora naquela casinha ali? — Aponta para o antigo aquário.
— Tenho. Ele não cabe nessa casinha. É muito pequena.
— Mas então ele mora mesmo dentro dessas garrafas? – Insiste
a menina, desconfiada.
A mãe pensa alguns segundos e a encara, sorrindo, antes de
continuar.
— Mora sim. Naquela maior ali. E nós não conseguimos vê-lo
porque se esconde.
— Mas por que ele se esconde?
— Bem, porque ele só pode sair da garrafa na noite de Natal.
— Mas isso é injusto. Eu queria poder ver o Papai Noel todo
dia. — Diz com o semblante carregado.
— Mas se você o visse todos os dias, ele não teria tempo de
fazer os presentes para entregar na Noite de Natal.
— Ah! — suspira a menina maravilhada — Por isso a gente
ganha presentes só no dia!
— Isso mesmo. Ele
prepara uma sacola cheia deles e sai com suas renas para entregá-los a todas as
criancinhas obedientes.
— E as que não foram obedientes?
— Então entrega uma pedra de carvão para que se arrependam
e no próximo ano obedeçam aos pais.
— Que triste! Eu fui obediente, mamãe?
— É claro que sim, meu amor. — Diz a mulher, abaixando-se e
abraçando a criança.
Ela se afasta da menina e a observa quando o interruptor é
ligado e das fontes começam a jorrar água.
O pisca-pisca ilumina o cenário, criando vida à pequena Vila Natalina. A
menina solta gritinhos e rodopia ainda mais. De repente se agacha e se
concentra naquele mundo mágico. A mãe se afasta. Sabe que a menina está a
sonhar com o mundo que ela acabara de criar.
Ali a menina se perde e passa horas a contemplar as luzes
“piscantes”. Imagina-se no meio dos enfeites, andando feito formiga, em frente à
rua da casa de vidro que outrora fora de seu peixinho Beta. Como deseja entrar ali
e conversar com o velhinho querido. Em seus devaneios infantis, prefere ser um
Elfo ou Duende para viver constantemente a Magia do Natal, assim como nas histórias
que a mãe lhe conta nessa época do ano. Sua voz é melodiosa e embala seus
sonhos quando começa a narrar:
— Era uma vez uma cidade cheia de luzes. Eram tantas que
naquele lugar mágico o medo não existia. Chamavam-na de A Cidade do Papai Noel.
Mas sua localização era completamente desconhecida. Aparecia apenas na noite de Natal, quando o
bom velhinho sentava em seu trenó, e era guiado por nove renas majestosas.
Todas tinham um nome especial: Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa,
Cometa, Cupido, Trovão, Relâmpago e por fim, a mais querida, Rodolfo.
Era Rodolfo que seguia à frente comandando as outras que
voavam pelo céu, iluminando o caminho por onde passavam, enquanto o velhinho
barbudo gargalhava dizendo Ho Ho Ho. Cada criança que dormia, em sua cama
quentinha, aquecia seu coração. Para cada uma delas trazia um presente
especial, feito em suas oficinas, pelas mãos dos Duendes e Elfos.
— Eu queria ser um “Duente”, mamãe. — Interrompe a menina,
embargada pelo sono.
— É Duende, querida — corrige a mãe, beijando a testa da
menina — Você é, minha pequena.
O sono a arrebata e ela viaja na Egrégora espiritual dos pequenos,
que se unem pelos sonhos nas noites que antecedem o Natal. Assim ela caminha pela
cidade das luzes, cujos prédios são as garrafas pintadas da mãe. Cada uma com
três andares repletos de criaturinhas de orelhas pontudas e roupas verdes, cuja
bondade emana delas quando lhe sorriem através do vidro. Cantam enquanto
trabalham produzindo bonecas, carrinhos, bengalas coloridas e tantas outras
coisas que lhe enchem os olhos. Ela quer estar no meio deles. A neve fofa
encobre seus pezinhos descalços, mas ela parece não se importar. Não sente
frio. O algodão branco cobre os pinheiros majestosos, deixando-os com cara de
doce açucarado. A menina ri e rodopia diante da morada dos Elfos, correndo de
prédio em prédio sob as luzes coloridas que os unem. Ao longe ouve o barulho
dos cascos das Renas e sabe que o Bom Velhinho está por ali, pronto para descansar em sua casa de
vidro. A Estrela maior pulsa no céu distante e a fumaça do trem ao longe
preenche a paisagem da calma noite de luar.
Nunca fora tão feliz como no mundo dos sonhos. Cada vez que
dormia, após a fantasia criada pela voz aveludada da mãe, a criança sentia-se
protegida naquele conto natalino que se repetia a cada noite. Seus dias eram
observar os enfeites e desejar a noite, apenas para fechar os pequenos olhos e
sonhar. Seu mundo de fantasia era como desenhos coloridos que cada vez mais a
consumia.
Numa manhã próxima ao Natal, para horror da família, Larissa
decide não mais acordar. Viver nos sonhos, na magia da cidade das luzes, era
seu ideal. Aquele lugar era seu. Jamais voltaria ao mundo real. Seus amigos
Duendes e Elfos a esperavam com brincadeiras, guloseimas açucaradas, e canções
melodiosas. Entretanto, quando decidiu ficar ali para sempre, o sonho mudou. Os
amigos a olhavam tristes através do vidro, como se soubessem de sua intenção. A
porta para aquela oficina mágica se perdeu e ela não conseguia mais encontrar a
entrada. Suas mãozinhas batem nos
vidros pedindo para entrar, entretanto, confusa, sente desespero e lágrimas lhe
vêm aos olhos. Mas não desiste. Suplica, chora, até que cansada, deita-se no
chão fofo e frio. Fecha os olhos e suplica mais uma vez.
Ele chega
com sua roupa vermelha e quente e a toma nos braços. Sua barba branca e macia faz cócegas em sua face. Seus olhos
se abrem e a menina sorri lacrimosa e esperançosa.
— Eu quero morar aqui. Quero que seja meu papai para
sempre.
— Mas por que deseja ficar aqui, pequenina? — Pergunta o bom
velhinho fingindo surpresa.
— Aqui é lindo. Eu sonho com esse lugar. Minha mãe sempre
me fala dele. Essa cidade é muito melhor do que a minha. Posso ficar com você?
— Não, minha pequena. Seu lugar não é aqui.
— Mas eu quero.
O bom velhinho sorri, contemplando o rostinho rechonchudo,
antes de continuar a falar.
— E sua mãe, seu pai e seu irmãozinho? Não sentirá saudade
deles? Se ficar aqui só poderá vê-los uma vez ao ano.
A menina o encara.
Uma sombra passa por seus olhos enquanto pensa antes de responder.
— Meu irmão vive brigando comigo. Ele é mais velho, sabe?
Sempre pega minhas coisas e diz que não foi ele. Outro dia encontrei minha
boneca preferida sem a cabeça — disse com as mãos na cintura, encarando-o
furiosa. — Não me importo se não vê-lo nunca mais.
— Mas e sua mamãe? Seu papai?
Ela o encara com olhos grandes e duvidosos, dando de
ombros. Ele a observa antes de responder.
— Vou te mostrar uma coisa, pequena — diz, passando a mão
enluvada diante dos olhos da menina.
Ele a transporta para sua casa e ela pôde ver a aflição dos
pais e do irmão, tentando acordá-la do sono profundo. A mãe chora no ombro do
pai:
— É tudo minha culpa.
Eu jamais deveria ter lhe contado tantas histórias. Não deveria tê-la feito
sonhar.
— Não foi sua culpa,
querida.
— Eu só queria
protegê-la. Queria que nunca perdesse a inocência. Por isso enchi sua cabeça com
sonhos. Eu sei que o mundo não é como apresento a ela, mas...
— Você não teve culpa,
mamãe. Também contou histórias para mim e eu estou aqui. — Diz Pedrinho, tentando animá-la.
— Você ouviu o médico.
Ele disse que seu estado é provocado por si mesma. Está catatônica. Sei que
sonha com a Cidade das Luzes! Você a ouviu balbuciar sobre os Elfos e Duendes. Estou
tão arrependida.
— Talvez eu seja o
culpado, mãe. Se eu não a tivesse provocado tanto. Deveria ter ficado mais ao
seu lado e, no entanto...
— Não, meu amor. — A mãe
abraça o menino arrependido.
— Ninguém tem culpa de
nada. — Responde o pai, mantendo a família envolta em seus braços.
— Veja, pequena. Seus pais estão sofrendo sua perda. Eles
te amam.
— Eu também os amo, mas quero ficar aqui com você. É tudo
tão lindo, tão mágico!
— Vou lhe contar sobre a magia.
— Vai? Como a mamãe costuma fazer?
Ele sorri diante de seu olhar esperançoso. E ajeitando a
menina no colo prossegue:
— A magia vem de todos os lugares. Em qualquer lugar que
olhar há magia.
— Não tem não. — Responde desapontada, cruzando os braços
no peito.
— Mas é verdade. Você se lembra de quando sua mãe a coloca
para dormir?
— Ahã.
— O que ela faz para você dormir?
— Ela canta.
— E o que ela canta?
A menina o encara com olhos arregalados e se põe a cantar
insegura:
— Cai a noite, e o sono já vai chegar
O seu reino
adormece em paz
E eu estou a te
velar.
Anjos, fadas e
castelos a te encantar,
Seu sorriso faz
marejar meus olhos a te vigiar.
Dorme, dorme, a
criança está a sonhar
Entre flores,
entre pardais,
A ilusão a te
cativar.
Dorme, dorme, o
medo não vai te encontrar
Pois o caminho tu irás
achar
Nos braços da voz
a te ninar.
Ele sorri para ela ao ver seus olhos marejados.
— E depois o que ela faz?
— Ela me cobre e me beija. Eu finjo dormir só pra sentir
seu beijo. Depois abraço meu ursinho e durmo de verdade.
— Sabe o que isso significa?
— Que ela gosta de mim.
— Sim. O amor é a maior magia que uma pessoa pode
transmitir à outra. O amor é mágico, minha pequena. E sua mãe transmite a você
e a seu irmão toda noite, todo dia e a todo o momento. Seu pai também.
A menina
olha fixamente e seus olhos parecem tremer na noite enluarada.
— Então meu irmão não tem magia?
— É claro que sim. Feche os olhos. Vou te mostrar uma
coisa.
O bom velhinho leva a menina para dentro de sua casa. Lá
ela vê o irmão sentado no sofá, preocupado, diante do abatimento dos pais. Ele
vai, cabisbaixo, até o quarto da irmã e começa a recolher os brinquedos,
colocando-os em seus lugares. Coloca a cabeça na boneca, que rolara para
debaixo do armário. Ajeita
os vestidos do
jeito que a menina gosta, colocando-os nas prateleiras. Arruma a mesinha de chá, dispondo as
xícaras nos pratos, o açucareiro no lugar certo e depois, encaminha-se à cama onde a menina
dorme. Toma-lhe as mãos nas suas e as beija:
— Volta Larissa. Todos precisam de você. Eu preciso de
você. Se implico com você é porque te amo.
A menina encara o bom velhinho e ele sorri.
— Viu? Há magia nele também. Há magia quando ele a defende
das meninas que gostam de puxar seu cabelo no parque. Não foi ele que a pegou
no colo quando você caiu do escorregador?
— Como o senhor sabe disso?
— Eu sei de tudo — sorri diante do olhar inquiridor da
menina — Em que está pensando, pequenina?
— Acho que não estou entendo direito essa história de magia
e amor juntos. Amar é amar, mas viver aqui é magia. Os Duentes...
— Duendes, querida. — Corrige o Papai Noel.
— Tá. Os Duendes
com roupas coloridas, as casinhas cheias de luzes, a neve. Na minha casa nem
tem neve!
— Quer dar um passeio comigo?
— De trenó? — Pergunta empolgada.
— Está bem. De trenó. — Responde vendo a criança dar pulos
de alegria.
— Posso brincar com as renas?
— Você pode dizer oi, mas já vou avisando que o Rodolfo
está velho e ranzinza.
Eles seguem de mãos dadas ao encontro das renas, que
descansam preguiçosas, num celeiro quentinho cheio de bambus e folhas de sempre
viva fresquinhas.
— Rodolfo! — Grita Larissa quando o Noel abre a porta,
deixando o vento gelado entrar no celeiro.
— Fecha a porta, Noel. Quer que eu fique resfriado? — Resmunga
a rena, rabugenta.
— Você fala? — Pergunta a criança de olhos arregalados.
— É claro que falo. Como posso dar ordens a essas renas
para que tudo saia perfeito na Noite de Natal?
— Deixe de ser rabugento, Rodolfo. — Diz a Corredora, se
aproximando da menina, deixando-se ser acariciada.
— Nossa! Como você é bonita!
— O que essa menininha está fazendo aqui? — Pergunta
Rodolfo, carrancudo.
— Nós vamos levá-la para um passeio. — Responde o Noel,
puxando o treno para o centro do celeiro.
— Mas ainda não é Natal seu velho cabeçudo. Ainda não estou
pronto para voar...
— Santo Deus! Esse Rodolfo está cada vez mais velho! Já
está na hora de se aposentar. — Diz Trovão com sua voz possante.
— Vou te mostrar quem é que está velho. — Resmungou
Rodolfo, soltando uma baforada pelas narinas vermelhas.
— Ora! Deixem disso — ralha o Papai Noel, sorrindo — Eles
sempre fazem isso. — Cochicha no ouvido da menina.
As renas sorriem e se postam à frente do trenó, seguindo as
instruções da Rena do Nariz Vermelho. Larissa senta-se ao lado do Papai Noel,
contudo, não há nenhum saco de presentes ao lado dele.
— Para onde vamos? — pergunta intrigada — Não vamos
entregar presentes?
— Não querida. Ainda não está na hora. Vou lhe mostrar e
falar sobre a magia...
Ela o encara, séria, enquanto as Renas levantam voo em
direção ao desconhecido. Pouco tempo depois, na luz da manhã, sobrevoam um lago
cujas montanhas o envolvem majestosas. Contudo, a menina observa algo que a
entristece naquela paisagem, que deveria ser igual à dos Contos de Fadas.
— Nossa! O que aconteceu ao rio? — Pergunta assim que as
Renas aterrissam na terra empoeirada.
— Ele está poluído. Veja as garrafas plásticas boiando e a
espuma formada por materiais químicos das indústrias, deixando a água escura e
sem vida.
— Não tem peixes nesse rio?
— Infelizmente não.
— Que triste. Por que isso aconteceu?
— Porque algumas pessoas não sabem como é importante cuidar
da nossa Terra. Acham que a água não vai acabar nunca, mas não é bem assim. Se
não cuidarmos da Natureza, um dia ela se voltará contra nós.
— Mas por que está me mostrando isso? — pergunta chorosa —
Isso é feio, não tem magia nenhuma aqui.
— Presta atenção, pequenina. Veja o que vai acontecer
agora.
A menina observa atentamente a paisagem sem nada perceber.
Então, para seu espanto, vê algumas mulheres surgirem por detrás da montanha
com um bando de crianças, um pouco maiores que Larissa. Elas cantam felizes,
seguindo as mulheres que traziam nos braços grandes caixa de papelão. Alguns
homens se juntaram a eles, trazendo caiaques por sobre os ombros, parecendo
felizes.
— O que está acontecendo? Por que estão felizes nesse lugar
feio? Posso ir falar com eles?
— Não, criança. Eles não vão te ouvir. Apenas observe.
As mulheres param em frente ao rio colocando as caixas no
chão. Dividiram-se em grupos. Algumas se aproximam da caixa e retiram grandes
sacos de lixo de dentro delas. Outras pegam regadores, pás e mudas de plantas.
Os homens colocam os caiaques no rio e neles se sentam, remando até o meio. Ali
param e começam a colocar o lixo dentro de grandes sacos azuis, enquanto as
crianças fazem o mesmo na margem.
— O que eles estão fazendo?
— São professores ensinando os alunos como cuidar da
natureza. Estão limpando o rio e plantando vários tipos de árvores.
— O que aquele homem está colocando no rio?
— Um reator capaz de adicionar à água uma bactéria que se
alimenta de poluentes e também plantas aquáticas para ajudar a aumentar a
biodiversidade.
— Mas vai dar certo?
— Vai sim. Conseguiram que as indústrias parassem de jogar
resíduos químicos nos rios. Feche os olhos.
A menina obedece e quando os abre, a paisagem havia mudado
radicalmente. O rio, antes escuro, brilha com pontinhos de diamantes sob o sol,
enquanto peixes de todas as cores nadam nas águas claras. As árvores e plantas
crescem deixando o lugar verde e colorido.
— Ai que lindo! Eles estão tão felizes!
— Sim. Uniram-se num único propósito. O amor deles
transformou o leito do rio. Trouxe vida para a população ribeirinha. Essas
crianças jamais se esquecerão do que fizeram e ensinarão outros a fazerem o
mesmo. Isso é magia, criança.
— Então o amor é magia e magia é amor?
— Sim. Por isso precisa voltar para aqueles que a amam.
— Você não me ama?
— Como poderia não amá-la, minha pequena? Mas não seria
justo para com seus pais deixá-la viver aqui. Tenho que dividir meu amor com
todas as crianças do mundo, pois sou o protetor de todas.
— E meu pai é o meu protetor? De meu irmão também? Só da
gente?
— Isso criança! Veja como ele ama você e seu irmão.
A criança fecha os olhos, enquanto o bom velhinho coloca a
mão enluvada por sobre eles. Sua voz é suave quando lhe mostra o pai.
— Papai cuida de vocês dois quando ficam doentes. Depois
que sua mãe se deita, após cuidar de vocês durante a madrugada, é ele que se levanta
e vai medir a febre para ver se já abaixou. Isso é magia, minha criança. E só o
amor tem a força de mudar o mundo, de mudar a maneira como as pessoas veem as
coisas. De tornar belo o feio, desfazer as barreiras e destruir o ódio. Só o
amor realiza sonhos. É nisto que consiste a magia. Sua família é seu maior bem.
E se há magia em você, pequena, é por causa de seus pais que lhe ensinaram a
amar e a sonhar. Esse lugar sempre existirá enquanto você acreditar nele e ensinar
aos seus filhos a magia do amor. Enquanto você me amar, amar o Natal, eu
estarei aqui. Você crescerá e espalhara o que aprendeu comigo e será como um
farol no mar bravio em noite de tempestade. Todos se aproximarão de você para
absorver um pouco da sua luz que os deixarão aquecidos e agradecidos.
Ela o encara mais uma vez e uma pequena lágrima congela em
sua face. Ele a retira com a mão enluvada e beija o alto da sua cabeça.
— Já é hora de voltar, criança.
— Mas como posso voltar? Escureceu novamente! Nós vamos
voar com as renas?
Ele sorri diante do seu olhar pontilhado de estrelas. Coloca
os dedos em seus olhos, forçando-a a fechá-los.
— Ouça criança. Ouça a canção.
Então ela ouve a voz da mãe a niná-la:
— ... Dorme, dorme o medo não vai te encontrar, pois o
caminho tu irás achar nos braços da voz a te ninar.
A menina acorda na noite serena. Abre os olhos e se detém
no rosto da mãe que a embala, rompendo o caminho da esperança. Sorriem uma para
outra e a casa se faz festa. O sol desperta mais uma vez, inundando o quarto de
luz, onde as duas permanecem nos braços uma da outra, sob o olhar atento do pai
e do irmão.
Na manhã de Natal, antes que todos acordem, a menina desce
a escada, sem fazer barulho, e olha a morada do Papai Noel nas garrafas
pintadas da mãe. Ela sorri quando uma pequena luz brilha na casinha de vidro.
Corre para o quarto dos pais, pulando no meio deles. O irmão surge diante dos
gritos da mãe e risadas do pai. A magia se faz. E das garrafas pintadas, sua
moradia espiritual, o bom velhinho permanece por todo ano, emanando vibrações e
energias para o planeta Terra até o próximo Dezembro, quando então irá se
materializar e descer para entregar presentes, aos que nele acreditam, e
espalhar a magia em nossos corações.
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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