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Antologia Sempre ao Meu Lado: 1x08 - Um Dia de Cão na Vida do Cachorro Salomão

Conto de Paulo Luís Ferreira
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Sinopse: Salomão é um cachorro de rua, que, cansado do dia a dia dos enxovalhos sofridos, na incansável luta pela sobrevivência, decide-se por procurar um emprego. Queria sair daquela vida de maus tratos e humilhações. Quando se depara com o pior que a vida lhe reservara: o preconceito dos humanos. E sentir na pele, quer dizer, no pelo, umas tantas bordoadas ao tentar assistir a um seminário. Entretanto, depois de muito perambular pelas ruas, e suportar mais alguns desagravos e outros tantos sopapos, é acolhido por uma bela dama e seu jardim de rosas falantes.


Um Dia de Cão na Vida do Cachorro Salomão
de Paulo Luís Ferreira

I - Cachorro que não ladra é mordido

Salomão é um típico cachorro de rua, tipo vira-lata mesmo, mas tinha o focinho e uma elegância de cão com pedigree e uma personalidade bem própria. Ele vinha há alguns dias com uns pensamentos, se é que cachorro pensa, mas no caso deste Salomão, era pensamento mesmo. Imagine vocês que certo dia ele acordou com a ideia fixa de que queria trabalhar, arrumar um trabalho a todo custo, pois estava cansado de sua vida pândega, cansado de vagabundear pelas ruas, viver dependendo da boa vontade, dos favores alheios; de estar sempre na dependência dos humores dos humanos. Quando, hora eram simpáticos com ele, hora arrelientos, lhe enchendo de enxovalhos e sopapos, chutes e todos os tipos de grosserias para com ele. Bom, vamos mostrar como tudo isso se sucedeu: a começar pelo dia em que acordou com a divina disposição de trabalhar.  

Salomão acordou meio enfadado, um tanto desalentado. Não era para menos, há dias vinha se empenhando em procurar um emprego que lhe trouxesse estabilidade. Estava cansado da madorra do dia a dia. Cansara das maçadas cotidianas; já não sabia onde procurar uma ocupação que o alentasse. Estava enfastiado com aquela vidinha sem lucros, já não suportava aquelas correrias atrás de pneu de carros, aguentar aqueles horríveis gás carbônicos fumarentos dos escapes das motos no focinho. Viver a lamber ossos já ruídos de tantas e tantas bocas. Decidira, então, a procurar um emprego.

Antes, porém, iria dar uma passadinha na porta do açougue, quem sabe logo cedo encontrasse um osso carnudo. Decidido, tirou o rabo de entre as pernas; para demonstrar dignidade, ergueu os quartos, abriu a boca num bocejo bem espichado, deu umas passadas de patas nas orelhas, esticou as pernas dianteiras depois a esquerda, se espreguiçou, deu uma fungada no ar e seguiu até a porta do açougue. Lá chegando o que ganhou foi um balde de água suja nas fuças, jogado pelo desgraçado do açougueiro. “Filho de uma... Logo cedo da manhã receber uma cacetada dessas é de arrebentar qualquer um...” – rosnou Salomão para consigo mesmo, encolheu a vergonha e saiu humilde, de rabo entre as pernas.  – Mas não há de ser nada... Hoje é dia de feira no bairro, lá devo arrumar alguma coisa para o desjejum. – presumiu ele.

Na feira perambulou por trás de umas barracas, mordiscou umas frutas e legumes, mas esses não eram dos gêneros alimentícios que lhe abriam o apetite, principalmente sendo de manhã cedo ainda. Pela manhã o bom mesmo era um bom osso carnudo, mas fruta, eca! A banca de peixe estava jogando fora umas barbatanas e uns rabos, mas esse era o tipo de comida para aqueles babacas dos gatos, racinha de merda! – divagava ele em suas ranzinzas de cão. – Mas logo percebeu seu preconceito, coisa que ele tanto cobrava nos outros, então pediu desculpas para ele mesmo pela gafe cometida.

Enfim, andou, andou e não tirou proveito de nada; só tempo perdido. O melhor mesmo era ir cuidar da vida como havia planejado, achar um emprego urgente, sair dessa vida indigente! E caminhou sentido à cidade.

Chegando lá, depois de umas incansáveis corridas na tentativa de urinar numa roda de automóvel em movimento, ou morder um calcanhar de motoqueiro, pegou rumo por uma calçada cheia de transeuntes que lhe atrapalhava a visão das placas de “PRECISA-SE DE EMPREGADOS”. Por fim deparou-se com uma muito boa numa vitrine de loja e leu as exigências para o cargo: “O CANDIDATO DEVE DIGITAR 70 PALAVRAS POR MINUTO, NO MÍNIMO; TER CONHECIMENTOS SÓLIDOS DE COMPUTAÇÃO E SER BILÍNGUE. EMPREGADOR LIBERAL NÃO DISCRIMINA CANDIDATOS”.

Salomão, num misto de entusiasmo e ansiedade, deu uma balançada de rabo para mostrar que apreciara a deferência, e adentrou resoluto pela loja em direção ao RH com a clara intenção de candidatar-se à vaga. Mas foi rapidamente rejeitado.

— Não posso contratar um cachorro para o emprego. disse o entrevistador.

“Aqui abro uma aspa para um breve pensamento canino.

Deve um cachorro, por princípio, ladrar quando os imprevistos lhe surjam pela vida? Não, não deve, porque não poderá saber de antemão se estas surpresas virão a tornar-se más notícias, maus augúrios. Mas, por via das dúvidas a esta consciente constatação, foi que, Salomão manteve-se quieto. E mais uma vez raciocinou para manter seu equilíbrio e ponderamento canino. Quando disse para si mesmo, para acalmar os nervos: “Assim, como à moda dos postes e dos muros, devemos nos manter, quietos, impávidos a esperar que o tempo passe, se pouco se muito não importa”. O que foi muito assertivo, porque os cães, não distinguem durações entre a hora e os minutos; a semana e os dias; entre o mês e o ano. Para os animais, os cães, propriamente dito,  que é a raça da qual ele entende bem, não há mais que presença e ausência”. – fecho aspas.

Salomão, indignado com a rejeição, pegou da mão do cidadão e conduzi-o até a vitrine onde estava exposta a placa e lhe apontou a “não discriminação”, e também mostrou a referência ao caráter liberal do empregador nela escrita.

O entrevistador, a contragosto e meio ressabiado, suspirou titubeante e respondeu:

— Mas você sabe digitar?

Salomão, sem rodeio e sem nenhum embaraço, dirigiu-se ao computador e sentou-se. E numa agilidade extraordinária digitou uma carta, com as quatro patas, suas próprias apresentações em uma lauda com cerca de 2400 caracteres em menos de dez minutos – o chefe mais do que impressionado e um tanto incomodado com tanta presunção daquele vira-lata, o inquiriu:

— Entende de computação, programação e web design?

Salomão deu mais uma balançada de rabo, não só por um pouco de alegria, mas, muito mais, para exaltar a dignidade canina. E mais lépido que uma lebre, empenhou-se na criação de uma bela página para o Facebook para a própria empresa. O que foi motivo de admiração e elogios pelos demais concorrentes à vaga que estavam presentes.

O gerente continuou em sua relutância em contratá-lo. E já exasperado disse:

— Você tem muitas qualidades, mas preciso de um funcionário que seja bilíngue, e pelo que tenho conhecimento, cachorro não fala outra língua se não as dos cachorros mesmos, certo?

Ah! O Salomão não vacilou, e o encarou com o ponto mais alto da sua dignidade. Olhou nos olhos do sujeito com toda petulância e empáfia que Deus lhe deu, e na cara dele proferiu dois sonoros: Miau! Miau!...

E se retirou do local sem esperar por mais uma discriminação.

 

II - Seminário de desagravo pra cachorro

Ainda um tanto transtornado saiu falando com seus botões. Sem perspectivas, estava se atordoando. Era urgente arrumar um trabalho, já não estava aguentando aquela vida de ócio, mas como arrumar uma vaga de emprego decente se a sua condição de cachorro era um problema insolúvel, quando se vive numa sociedade mergulhada no preconceito? Já não bastassem contra os negros, os homossexuais, os deficientes, os pobres; e até para com os animais que, eles os humanos, hipocritamente dizem gostar tanto, que os cachorros são os melhores amigos do homem. É esse o troco que recebe? A rejeição, o desprezo, a indiferença, essa discriminação tão cruel?

Nessas conjecturas ia Salomão caminhando, quando se depara com um centro de convenções, e uma placa lhe chamou a atenção, que dizia: “SEMINÁRIO SOBRE O TEMPO E O SILÊNCIO DAS CRIANÇAS E DOS ADOLESCENTES”. Ele que se dizia um apaixonado por criança e que tem interesse por tudo o que diga respeito a elas, e como não estava atinando o que fazer com o seu próprio tempo, entrou sem titubear. E foi se roçando pelas pernas de um, passando por baixo de outras, até chegar num grande auditório. “Hum, isto aqui está bem animado, quase cheio.” – observou ele – Não quis sentar nas cadeiras dos humanos, não queria chamar muita atenção. Encostou-se numa lateral do corredor; baixou os quartos traseiros, e se apoiou nas patas dianteiras, com as nádegas no chão. “Nádegas! Quem chama isso de nádegas ou bunda nunca viu um separador de pernas.” – resmungou Salomão, achando graça de seu comentário idiota.

A conferência estava começando. Falavam, como dito no cartaz, sobre o tempo e o silêncio das crianças em formação. Os palestrantes debatiam com entusiasmo o assunto.

Salomão começou a achar estranho: “Oras! Um seminário sobre crianças, mas cadê as crianças? Só sendo coisa de humanos mesmo!... Não que eu esteja fazendo juízo de valores, mas isso não está certo. Onde já se viu tratar de crianças e adolescentes, sem a participação das próprias, que são as mais interessadas...” E justamente na hora em que um dos palestrantes ia falar sobre a gravidez precoce, a importância do uso de preservativos e a vacina contra as doenças sexualmente transmissíveis, a Aids; As Dsts., e essa agora, a maldita Covid-19 ou Corona Vírus, ou seja lá o nome que dê a essa famigerada pandemia,  quando num repente, sentiu um aperto, uma vontade desatinada de urinar. Mas não tendo ali nenhum poste nem um arbusto por perto, ao encontrar uma coisa encostada na parede resolveu que ali mesmo iria dar uma pequena descarga urinária. Rá, rá, pra quê?... De repente tomou uma saraivada de impropérios. A penumbra da sala não deixou ele perceber que era uma perna onde ele urinara. Ao constatar a besteira que fizera não deu tempo para mais nada, só de sair ganindo, pois logo recebeu de chofre uma enxurrada de palavrões acompanhados de chutes e tabefes por todos os lados. E expulso sumariamente do local.

Acabrunhado, e mais uma vez pondo o rabo entre as pernas, Salomão foi saindo de  mansinho, mais que indignado, envergonhado com mais aquela desfeita dos humanos para com ele. Ao contrário do que em geral se pensa, os cães, por muitos cuidados e mimos de que gozam do convívio com os humanos, não têm a vida fácil, em primeiro lugar por que até hoje ainda não conseguiram chegar a uma compreensão ao menos satisfatória desse mundo em que vivem. Em segundo lugar porque essa dificuldade é agravada pelas contradições e pelos insultos e a má conduta dos seres humanos com quem partilham, por assim dizer, de certa amizade que, arrogantemente, costumam dizer que tem pelos seres da raça canina. Então mais uma vez se  aquietou. – e se perguntou: “Quem poderá alguma vez entender essa coisa chamada de gente?”.

Ao passar pela recepção, umas belíssimas senhoritas, distribuíam balas, revistas e livros infantis. Que amavelmente lhe ofereceram alguns exemplares. Bala ele não quis, apenas pegou alguns livros e revistas em quadrinhos. Lembrou de quando, no seu bairro onde vivia, sempre que fazia um pequeno plantão no ponto de ônibus, de manhã cedo, a meditar sobre os imbróglios e mazelas da vida, das monótonas paisagens em preto e branco que só ele via, passavam um tanto de crianças a caminho da escola e lhe afagavam a cabeça com suas delicadas mãozinhas... Levaria umas revistinhas para elas, iriam gostar. Nesses pensamentos tomou a rua de novo, com os presentes às costas.

III - As rosas também falam

E voltou a caminhar. E caminhou, caminhou. Quando ao passar à frente de um jardim um tanto descuidado. Maltratado mesmo. Parou um pouco e ficou a observar com certa comoção: como seria bom um jardim bonito, ali de frente para a rua. O quanto não iria alegrar o visual do bairro. Quando de repente observa que duas rosas conversavam dissimuladamente entre si. Aguçou os ouvidos que, como é sabido, os cães são uns privilegiados com o sentido da audição, mas ele procurou ficar mais atento, pois as rosas, em verdade, cochichavam. Pôs-se, então, a ouvi-las com muita atenção. Do que conversam as rosas, oras! E lançou um olhar ao todo do jardim na intenção de ver se havia mais algum interlocutor. Não havia. Eram só as duas rosas mesmas. Havia sim, mais ao canto três bromélias, mas estavam mudas. Era mesmo de se admirar duas rosas conversando!

As rosas por costume importam pouco ou quase nada com os problemas alheios. E esse hábito, em não cuidar da vida dos outros, explica-se em virtude da curta duração de suas efêmeras vidas, evidente que não era nada proveitoso desperdiçarem seu precioso e fugaz tempo com as picuinhas alheias. Além do que as rosas bem sabem que dos humanos não lhes guardam mágoas, visto serem elas mote para suas poesias, com belas palavras de amor, aromas a servir suas águas de cheiro, bálsamos aos olfatos dos enamorados; e todos os olhos as veem com carinho, admiração e afeto. Era este prosear que Salomão ouvia. Quando pressentiu uma menção a ele, pelo qual se surpreendeu.

— Ei, você aí, que está nos espiando...

— Eu?...

— É você mesmo que vinha conversando com seus botões.

— Não, só estava dando uma olhadinha mesmo!...

— Ora, não se abespinhe, entre na conversa conosco... O que acha dessas nossas considerações com respeito aos humanos?

— É bem interessante, mas eu sou meio bronco quanto a isso. Vocês são notáveis no entendimento sobre os humanos. Eu já não posso dizer o mesmo...

— Ora, mas por que tanta contrariedade?

— Ora, só hoje já sofri três bordoadas, uma logo cedo ao mendigar um osso para roer como desjejum. O desinfeliz do açougueiro me tacou um balde de água suja nos meus focinhos e o outro, agora a pouco, ali no centro de convenções: sofri uns sopapos e me expulsaram do auditório. E o pior: ao me candidatar a uma vaga de emprego, em que pese, eu passar em todos os testes para a vaga que eles pediam não me contrataram pelo simples fato de eu ser cachorro, vocês acham isso justo?...

IV - Emprego pra que te quero?

Mas como eu estava dizendo, só estava observando o jardim e percebi que vocês estão um pouco maltratadas, sofrendo de falta de cuidados, até me parece que vocês estão com sede, não sabe me dizer se estão precisando de um jardineiro?

— E você seria esse tal jardineiro que se oferece?

— Sim, eu mesmo, estou precisando muito de um emprego.

— Ora, ora! Precisamos sim, não queira saber o valor de um jardineiro para nós, as rosas. Eles nos são o bem maior que podemos ter. São eles que nos dão amor, carinho e todos os cuidados que precisamos ter.

— Pois então, vocês não me querem como o cuidador de vocês, serei seu jardineiro para todas as horas?

— Ora, querer nós queremos, mas não temos como lhe pagar, a não ser que a nossa humana lhe contrate. Por que você não fala com ela?... Eh, olha, lá vem vindo ela... Vá, fale com ela.

De pronto, Salomão se empertigou todo, aprumou o espinhaço, deu uma leve balançadinha de rabo, para demonstrar um pouco de satisfação, para quem sabe sua futura humana?

Não deu outra, logo as rosas, num espalhafato de entusiasmo, se alvoroçaram numa algazarra só. – e gritaram na maior euforia:

— Lili, Lili!... Olhe esse cachorrão está querendo ser nosso jardineiro. Fale com ele... contrate-o!

— Oh, que bonito!... Quem é você mocinho, como se chama?... Eu sou a Lili. – e logo passou a mão em sua cabeçorra acariciando-a.

Ah, o rabo do Salomão só faltou pular fora do corpo de tanto que balançou, mais parecia um limpador de para-brisa em tempo de tempestade, de tanta alegria.

— Meu nome é Salomão...

— Oh, mas que nome tão esquisito para um cachorro tão lindão!...

— “Ah, lá vem os preconceitos de novo”. – balbuciou Salomão, mas engoliu seco e disse – Estou procurando emprego, então eu vi esse seu jardim tão depauperado e resolvi me oferecer para aquelas rosas, como jardineiro. Elas falaram para eu falar com a senhorita.

— Oh, mais que gentil, que amável... Principalmente vindo de um cão tão charmoso... Mas o meu caso é tão sério quanto o seu. Eu também estou desempregada, por isso que meu jardim está tão maltratado... Mas se você não se importar de trabalhar só por comida, dormida, um banho gostoso todo dia e muito carinho... O emprego é todo seu.

Salomão, mais uma vez, agitou o rabo como nunca e falou bonito como nunca:

— Oh, amabilíssima dama, como bem disse Epicuro:

“Tu, que não és senhor do teu amanhã, não adies o momento de gozar o prazer possível. Consumimos nossa vida a esperar e morremos empenhados nessa espera do prazer.”

E pelo que sinto, chegou à hora de esquecer as amarguras da rua e vir para dentro de casa. É aqui que viverei de muito gosto neste mar de rosas. E disse para consigo mesmo:

“Para aquilo que não se pode ser, a gente olha através”.

Conto escrito por
Paulo Luís Ferreira

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rosside Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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