As Três Amigas sempre ao lado dos seus Animais de Estimação
de Hilda Curcio
I
O
AVIÃO DOBRADO QUIS VOAR
Alice,
ao ser convidada pelo pai para um passeio, entra rápida e sorridente pelo banco
de trás do carro, janela às vezes aberta, mas, sempre, sob a supervisão de quem
esteja ao volante.
Um
pouco de ar forte devido ao vento movimenta uma folha de papel esquecida que
alça pequeno voo até seu colo, e a menina cria ali, dentro do automóvel, o
primeiro avião em dobradura de sua vida, facilitada por presenciar inúmeras
vezes a mãe e a avó materna praticando a arte da dobradura em papel — Origami.
Todos
os passarinhos que sobrevoam o céu, diante de seus lindos olhinhos, a criança
os compara aos aviõezinhos que tanto adora formar. Alice ficou entretida,
admirando sua obra, tão linda, perfeita! Perfeita...? Mostraria seu feito à mãe
e à avó. Em seguida, abriu a janela do carro, depois fechou imediatamente. É
que o aviãozinho dobrado quase ventou para fora, e ela não poderia perdê-lo, ou
não conseguiria mostrar a ninguém que já faz dobradura sozinha.
Aí,
durante o passeio, sem querer, descuidou-se da janela aberta. Foi o suficiente
— o aviãozinho pousou sobre os pés do menino que ajudava o pai a vender paçoca
no semáforo.
Quando
o garoto percebeu que o aviãozinho de papel colorido caiu ali, ele tentou
devolvê-lo para Alice, que o observava com certo pesar; porém, o sinal reabriu,
e os dois continuaram se olhando até que o carro passasse para a outra pista e
sumisse do olhar do garoto, no meio de tantos outros. O menino colocou a
dobradura na palma da mão, completamente encantado... — Que mistério seria
aquele? Quanta delicadeza! Como alguém consegue fazer essa coisinha tão linda e
pequena assim voar?
Enquanto
isso, Alice pensava em tirar várias dúvidas que passaram a tumultuar sua
cabecinha — por que aquele garoto está vendendo paçoca na rua? Por que o pai
dele deixa? Criança não pode trabalhar, tem só que estudar e brincar! Parecia
que ele nunca havia visto um avião de papel... Será que seus pais não sabem
dobrar? Por que as pessoas não aprendem a fazer dobradura?
Diante
de tantas questões, Alice chega à casa do seu avô Edi e da vovó Fátima. Após
seu pai abrir a porta do carro, a menina sai correndo até o cãozinho
cadeirante, que os avós encontraram perdido e com dificuldade para suportar
aquela prótese que substituía as patinhas traseiras, a fim de brincar com ele e
ajudá-lo a aprender a andar melhor com aquela cadeirinha. A menina, bastante
feliz por encontrar o amigo, nem suspeitava que o bichinho havia sido
abandonado por seu antigo dono; é que os avós nunca lhe contaram a verdadeira
história da chegada do animal, bastante faminto, no portão da sua garagem.
Apesar
da prótese, ele gostava de dar algumas piruetas e, também, escorregar
alegremente sobre a tábua, que sobrou de uma mesinha que o vovô Edi construiu
para a varanda da cozinha, transformada em pista de esqueite pela amiguinha, no
intuito de que ele se divertisse e se sentisse como se aquele fosse seu lar
desde sempre. Quanta alegria poder brincar assim!
Aquela
pista de esqueite se tornou um verdadeiro escorredor para os encontros de felicidade
dos dois amigos. Ele era bastante alegre e suas dificuldades nada atrapalhavam
tamanha diversão. O cãozinho rodopiava, subia até o topo e escorregava. Quando
chegava ao chão, dava latidos bem animados, em forma de gratidão. Em certo
momento, o cão desequilibrou a cadeira de rodas, ficando parcialmente suspenso;
a roda esquerda desceu o meio-fio, quase tombando todo ele, e foi um susto
tremendo para todos.
Ele,
então, percebeu que sua quase queda deixava a Alice muito sorridente —
acreditando que ele tivesse feito aquilo de propósito — e bastante orgulhosa da
sua força de vontade para se reerguer, que ela até se esqueceu da perda do seu
aviãozinho.
Assim,
de vez em quando, o cão fingia se distrair só para ver a Alice sorrir mais uma
vez. Ela, no entanto, sempre corria até ele para ajudá-lo, embora ele soubesse
aprumar de volta sozinho a cadeira de rodas que lhe trouxe novamente a
mobilidade e a alegria por poder brincar com aquela criança tão querida,
desfrutando de sua generosidade e tamanha compaixão, também, de seu carinho e
respeito. Ambos possuem os melhores amigos, são melhores amigos, para sempre
serão.
Seu
pai diz à Alice para voltar ao carro que o passeio prosseguiria. Claro que o
cãozinho entrou sorrateiro no banco de trás do automóvel e, só depois de haver
arrancado é que Júlio notou sua presença. A menina nem imaginava como seria o
restante do seu dia, nem com quem se encontraria. Seu pai se esqueceu de lhe
dizer que iriam ao churrasco do tio Thiago e que encontrariam a Manuela e a
Sofia.
II
UMA
CADELA CHAMADA MEL
Manuela, a Manu, e sua amiga
inseparável, Mel, também dividem brincadeiras inusitadas no quintal da casa da
vovó Graça. Vez ou outra o vovô Luizinho ralha com a menina, diante de tantas
criações, já que não se pode dizer malcriações, mas, peraltices que a colocam
em situações bem críticas. Se alguém procura a Manu, e encontra a Mel, basta
olhar ao redor e descobre que ambas patrulharam a área caçando algo curioso com
que se ocupar.
Neste ponto de nossa história, num
domingo em que a família se reúne para um churrasco do tio Thiago, chega Sofia
com sua nova amiga, Dançarina, nome da sua tartaruguinha, em homenagem ao pônei
que conheceu na viagem de férias. Manu tenta fazer acariciar a tartaruga, que
ainda está assustada pelo excesso de carinho da sua dona, mas se afasta para
receber também a Alice, que traz uma grande novidade — o cãozinho Cacá, nome
tirado da primeira sílaba de cadeirante. Cada encontro se transforma em festa,
muita coisa a contar, apresentação dos novos brinquedos e, logicamente, juntamente
com os amigos de sempre. Num determinado instante, Sofia sente a ausência da
sua Dançarina.
— Onde será que se meteu a
Dançarina? — Pensa alto a criança, enquanto lágrimas se descontrolam em seu
rostinho lindo por medo de perdê-la.
Seus lábios ameaçaram um grito de
tristeza, que desapareceu ante uma suspeita de Manu, ouvindo os latidos da Mel
e do Cacá, que se aproximavam da cerca: — O que será que a Mel está vendo ali?
— Cacá também sente alguma coisa, mas apenas late balançando o rabinho, pois
fica só de longe, já que sua cadeirinha não chega até a cerca.
Então, todos correm ao local. Não
demorou muito para que Sofia mudasse a expressão de seu rostinho de triste para
alegre, na melhor antítese1 que poderia acontecer. A Dançarina
apenas se afastara, quem sabe, na intenção de desbravar aquele novo território
— a casa da vovó Graça e do vovô Luizinho — ainda desconhecido do réptil2.
Já que o susto passou, então, todas prontas
para outro encantamento, as três amigas correram para o pula-pula, brincadeira
que lhes rende maravilhosas gargalhadas e algumas cambalhotas bem divertidas.
Mas, brincar também cansa, logo as crianças se sentaram sob a sombra de uma
jabuticabeira para conversar, foi quando a Manu se lembrou das férias da amiga
e lhe pediu para contar como é andar de trem de ferro.
III
SOFIA
COMPARTILHA O GRANDE ENCONTRO COM MANU E ALICE
Sofia andou de trem pela primeira
vez, na viagem de férias que fez com seus avós para as cidades históricas de
Minas Gerais. Maria Fumaça — era um trem tão lindo que... A música do trem, o apito, a alegria do
passeio, tudo aquecia o coraçãozinho onomatopeico3 da menina.
O vovô e vovó olhavam a paisagem, a
placa de boas-vindas pintada de verde e amarelo na parada da cidade de Mariana,
em Minas Gerais, a música ouvida dos trilhos já-de-pé... já-de-pé... já-de-pé..., o apito sonoro daquela
máquina, piui... piui... piuiiiiii...
tão maravilhosa... Mas, os olhinhos de Sofia pararam numa imagem absolutamente
mágica — o pônei Dançarino.
— Olha, vovó! Olha lá, vovô, aquela
bailarina! Que linda, vovó!
Os avós, absortos pela beleza do
lugarejo, pelo bucolismo4 da paisagem, atinam finalmente para o
quadro que a neta desenhava com a demonstração daquele seu desejo inusitado de
brincar com o pônei vestido de bailarina, cujo nome era mesmo Dançarino.
Sofia prossegue num misto de aflição,
ansiedade e admiração: — Posso descer, vovô? Quero brincar com ele! Deixa!
Deixa, vovó...?! Vamos lá comigo!?
A viagem seria mesmo interrompida
naquela parada, o hotel fazenda ficava na região; então, para nutrir a
felicidade da menina, seus avós resolveram interpelar o Sr. Marcelo, dono do
Dançarino, sobre como satisfazer a vontade da neta de brincar, passear, até
fazer par com o Dançarino, eleito seu mais recente amiguinho.
Sr. Marcelo: — O bilhete é vendido no
guichê turístico da estação, custa dez reais por três voltas na pracinha do
coreto.
É óbvio5 que Sofia não se
contentara com apenas um bilhete, e seus avós, pacientemente, permitiram-lhe
inúmeras voltas pela praça, mantendo-se num banco sob o coreto por tempo
interminável, a espreitar6 a alegria da garota, indo e voltando, num
dos melhores passeios de sua vida, com o novo amigo Dançarino. Até hoje Sofia
sonha repetir a viagem para outro encontro com o Dançarino, seu primeiro
animalzinho de estimação, que passou a morar em sua lembrança, em seu coração.
E, da próxima vez, Davi, seu lindo irmãozinho, ainda bebê e por isso não pôde
vir agora, também virá, e ambos se divertirão bastante.
Quando retornou à cidade onde mora,
foi de novo à casa da Manu, sua amiguinha, que veio recebê-la, saudosa, e Sofia
a abraçou, plena de novidades e contando que se encontrou com a menina Maria
Helena. Foram correndo para o quintal, pois Manu lhe disse que a Alice já
estava lá, esperando por elas.
O gostoso disso tudo é que seus
amigos pets sempre estarão ao seu
lado, para todas as brincadeiras, bem juntinhos, pois são os melhores amigos
uns dos outros. Para sempre serão melhores amigos.
No
fim da tarde, ao se despedirem, Alice prometeu que da próxima vez lhes ensinará
a dobrar aviõezinhos; Sofia contou que a amiguinha Maria Helena lhe disse que
vai ser médica, e Manu exclama — Obaaaa!
Que bom! Da próxima vez traga a Maria
Helena também... — acenando carinhosamente e, já, muito saudosa e ansiosa
para o próximo encontro. A Manu entra, a vovó Graça fecha a porta, a menina vai
ajudar a guardar os utensílios usados no almoço, e tudo volta ao normal.
Amanhã haverá aula. Ficamos, finalmente, livres da pandemia pelo Covic-19. Que felicidade!
____________
1antítese=
substantivo feminino, significa “qualquer oposição flagrante”;
2réptil=
adjetivo, significa “animal que tem pés tão curtos que parece arrastar-se
quando anda”;
3onomatopeico=
substantivo feminino, referente à onomatopeia; o que imita a coisa significada;
4bucolismo=
substantivo referente a vida e costumes do campo;
5óbvio=
adjetivo que significa claro; que salta à vista;
6espreitar= verbo que significa contemplar; observar.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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