Tônico
de Vicky F. Moravia
Seu
Antônio gozava de uma gorda aposentadoria, era o que as pessoas costumam chamar
de primo rico da família. Muito
generoso, sempre ajudava todos à sua volta. Costumava bancar consultas, tratamentos médicos,
estudos, festas e viagens de parentes.
Certa
noite, ele vai ao aniversário de um de seus netos, Caíque. O aniversariante,
que chega com sua nova namorada, estava no meio de uma discussão. Embora
houvesse o barulho da música, dava para se escutar perfeitamente o que ela, com
o dedo apontado, dizia.
—
CAÍQUE, EU NÃO QUERO SABER DE RAPARIGA NENHUMA LIGANDO PARA VOCÊ!
O
jovem, adulando a namorada, tentava explicar que não era nada demais, a
ex-noiva e ele tinham
uma dívida em comum e apenas conversavam sobre isso. Seu Antônio ri
discretamente da situação, é apresentado à moça, que já estava mais calma.
Rapidamente, entre piadas e risadinhas, logo os dois se tornaram amigos.
—
Peça o que você quiser, eu pago!
A
jovem cai na gargalhada.
—
Ai, amor... Seu avô é muito gente boa.
Darlene
era diferente das outras mulheres da família, pois não levava desaforo para casa. Tonico, como
era chamado pelos parentes, gostava disso.
Com
o passar dos meses, a amizade entre os dois foi aumentando e, como Caíque não
conseguia alcançar muito
sucesso no trabalho, seu avô resolveu convidar o casal para morar com ele, o que foi prontamente
aceito. Em pouco
tempo, os recém-casados tiveram um casal de gêmeos, e obviamente o salário do pai não dava para
sustentar as crianças. O
aposentado, sempre muito bom, ajudava no que fosse preciso.
Darlene
não podia trabalhar, pois precisava cuidar de três “crianças”, seus dois filhos
e o idoso, que já havia sofrido dois infartos, possuía safena, sofria de
pressão alta, diabetes, bico de papagaio, artrite e artrose. Ela cuidava de
todos os aspectos da vida do progenitor, tirava dinheiro do banco, fazia
compras, pagava boletos, levava-o para consultas, dava os remédios, dentre
outras coisas.
Quando
Seu Antônio resolveu comprar um carro novo, comprou no nome da esposa do neto,
argumentando ser ela mesma que dirigia o carro para todo lugar. O idoso adorava
conversar com Darlene enquanto as crianças estavam na escola e o neto no
trabalho. Ela falava e ria muito alto, era muito diferente de sua falecida
esposa, de quem quase não se ouvia a voz.
Ficava
admirado observando sua cuidadora limpar a casa, carregando para lá e para cá aquela bunda
enorme, “que rabão, gostosa...” – pensava ele. Sempre que podia, ia ao quintal, pegava uma
calcinha estendida no cabo de vassoura para cheirar, mas costumava lamentar o
fato de a calcinha estar lavada, bom mesmo era se não estivesse.
Estar
com aquela mulher era muito
bom para o moribundo. Certas situações que, para outras pessoas, podem ser
constrangedoras, para ele, eram altamente prazerosas, como quando ela o
banhava. O toque daquelas mãos macias fazia com que se sentisse homem
novamente, embora fosse frustrante, se algum resquício de ereção ocorresse,
provavelmente, com tantos problemas cardíacos, seria fatal, morreria feliz, mas
morreria. Logo ele que teve tantas amantes, justamente aquela, a que ele mais
desejava, ficaria
apenas na vontade.
Em
um dia como tantos outros, ele observava a esposa do neto limpar a casa. Durante
a faxina, Darlene usava um short branco bem colocado. O velho, secando a bunda gigantesca,
observava que não havia nenhuma marquinha, “estaria de fio dental?”. Ela, abruptamente,
arrastava os móveis de um lado ao outro sem se importar se iriam quebrar, se
agachava para torcer o pano de chão no balde. Todos os detalhes eram observados
com atenção pelo dono da casa.
Quando
terminou a limpeza do imóvel, para o deleite do decrépito senhor, ela passou
pela sala em direção ao banheiro, toda suada, só de toalha, com seu par de
melões quase pulando na cara dele e jogou a roupa suja no cesto.
Seu
Antônio vai até o cesto, procurando as roupas que ela usava, encontrando o que
tanto queria, uma calcinha de renda preta fio dental que foi imediatamente
levada ao seu nariz. Aquilo
era um aerossol de juventude, saúde e potência, tudo o que o tempo havia tirado
dele. Aquela peça de roupa passou a acompanhá-lo para onde ele fosse, sempre se
deliciando com os odores daquela gostosa tão suculenta.
Certo
dia, estava deitado na cama, e sua musa, de costas, arrumava algo no quarto,
ele olhava aquela bunda tão desejada, de modo que a única coisa que conseguia
ver era essa visão, realmente perfeita para a última coisa que se vê na vida. E
foi, de fato, o que aconteceu.
Um
pranto de lamentação se abriu sobre a família.
Darlene
foi a primeira pessoa a chegar ao velório. Usava um vestido novo, preto, curto,
colado em seu corpo que salientava partes do corpo. Se Seu Antonio a tivesse
visto naquele vestido, com certeza esboçaria um sorriso de deleite, satisfeito
ao ver, pela penumbra daquela peça, a silhueta desenhada pelas curvas do corpo
dela.
Ela
olha para os lados, tira a tal calcinha fio dental da bolsa, coloca nas mãos do
defunto e, abaixando-se, aproxima a boca do ouvido e diz baixinho:
—
Tonico, isso é para o senhor, onde quer que esteja, nunca se esqueça de mim.
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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