Os Três Porcos Espinhos e o Lobo-Guará
de Letícia Mourão
Naquela
manhã ensolorada, no meio do centro-oeste brasileiro, ele resolveu sair da sua
toca. Não costumava sair pela manhã, gostava de andar apenas à noite, mas
naquele dia resolver fazer de modo diferente.
Assim, foi visto, com seu andar lento, parecendo que estava desfilando com
suas pernas compridas e calda avermelhada. O Macaco Prego e a Capivara
comentaram assustados, pois há muito tempo não se via o Lobo-Guará por ali.
Quem estranhou também foram os meus amigos os três porquinhos. Ihhhh! Você
deve estar pensando que já os conhece, não é? Mas, eles não são os três
porquinhos daquela história muito famosa. Talvez, possam até ser parentes
distantes! Primos de terceiro grau, quem sabe?
Bem, essa é uma história sobre os três porcos-espinhos. Eles eram irmãos,
que moravam sozinhos e eram, portanto, vizinhos. Eles eram um pouco tímidos,
mas irei apresentar cada um deles para vocês:
— Xavier! Apareça de onde estiver...
O mais velho era o Xavier, um porco-espinho muito
amável e bondoso, mas muito fechado e calado. Dizem que ele tinha o coração
trancado. Seu nome do meio era Rocha. Ele construiu a sua própria casa e a fez
toda de pedra: móveis de pedra, cama de pedra, colchão de pedra. E ele vivia
feliz no seu pedregulho.
— Agenor! Apareça de onde for!
O seu vizinho era seu irmão do meio, o Agenor. Era um verdadeiro
artista. Ele amava a arte da dobradura. Passava o dia cortando, pintando,
colando, desenhando nos papéis. Assim, quando ele resolveu fazer a sua casa, não pensou duas vezes
decidiu fazê-la toda de papel. Móveis de papel pardo, cortinas de papel seda,
cama de papel cartão, telhado de papel ondulado. Vivia bem feliz naquela papelada toda. Só dava
trabalho quando chovia porque, daí, o papel desmanchava e ele tinha que
construir uma nova casa. Mas isso não era problema para o Agenor, que ficava empolgado com
a ideia de renovar a sua casa com outros formatos e dobraduras.
— Tadeu! Onde você se escondeu?
O outro vizinho era o irmão mais
novo, o Tadeu. Ele era muito conhecido naquela quente região por causa da sua
habilidade. Ele era um excelente cabelereiro e parecia que tinha mãos de
tesoura. Cortava a juba do leão, fazia topete na girafa, cortava a penugem da
ema... Sua paixão pelo trabalho era tão grande que ele decidiu fazer a sua casa
de tesouras. E a sua casa de tesouras era o seu maior tesouro.
E os porcos-espinhos viviam muito
felizes nas suas casas de pedra, papel e tesoura. Porém, naquele dia os três irmãos
sentiram muito medo! Aquele tipo de medo que faz até doer os espinhos, pois,
sabiam que havia um motivo para o Lobo-Guará sair da sua toca pela manhã. Ele
havia comentado que estava cansado e incomodado com a presença dos animais
espinhosos por aquela região.
— Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo
mau, eu pego uns porcos-espinhos para fazer
mingau!
O Lobo-Guará se incomodava demais
com a presença dos porcos por ali. Ele achava que a região não era mais a mesma
com tantos vizinhos criativos e aquela alegria exagerada o incomodava. Então,
ele se aproximou da casa de papel e gritou:
— Porquinho! Porquinho! Vou te pegar e a tua casa eu vou desmanchar!
O Porquinho implorou:
— Não, seu lobo! Por favor, não! Eu acabei de construir minha casa! Fiquei
dias dobrando o telhado!
Mas, o Lobo-Guará não teve piedade. Assoprou, asssoprou e a casa de papel
desmanchou! Sorte que o porquinho foi rápido e correu para o arbusto no meio do
cerrado.
O Lobo-Guará então correu até a casa
de pedra e gritou:
— Porquinho! Porquinho! Vou te pegar e a tua casa eu vou desmanchar!
O porco Xavier era muito durão e não quis demonstrar medo. Ele acreditou
estar seguro, pois se o seu parente distante ficou protegido em uma casa de
tijolos, ele estaria em segurança no seu pedregulho!
E o Lobo-Guará se aproximou, encheu
os pulmões de ar e assoprou, assoprou... Nossa! Desconfio que o Lobo-Guará
comia espinafre, pois o seu fôlego era muito forte! E as pedras começaram a balançar, balançar,
até que se despencaram e caíram, deixando a casa de pedras destruída. Sorte que
o porquinho foi rápido e correu para trás das árvores de galhos retorcidos.
O Lobo-Guará não desistiu e se aproximou da terceira casa, que era feita de
tesouras. O porquinho Tadeu se desesperou:
— Por favor, seu Lobo, podemos fazer um negócio? Eu corto seu cabelo de
graça por um ano!
Mas o Lobo-Guará não teve piedade:
— Porquinho! Porquinho! Vou te pegar e a tua casa eu vou desmanchar!
Ele assoprou, assoprou e casas e
tesouras se desmoronaram. Ainda bem que o Porquinho foi rápido e correu para trás
dos ipês amarelos.
Nossa! Aquela vila ficou em ruínas!
Onde se via alegria e beleza sobrou tristeza e destruição.
E onde será que os porcos-espinhos estavam?
Bem... Do outro lado da caatinga encontraremos eles, cansados de tanto
correr e desesperados sem abrigo.
— Irmãos, eu cansei de ser vítima da crueldade e inveja desse lobo mau!
— Verdade! Quase morremos nos destroços das nossas casas! E eu que achava
que Lobos-Guarás só comessem
frutas! Eles nem são tão ferozes.
— Irmãos, acredito que isso seja pessoal! E eu tive uma ideia! Que tal se
nós procurássemos a casa do Lobo-Guará e a destruíssemos também?
E os irmãos Espinhos começaram a
bolar um plano. Eles acreditavam que se destruíssem a casa do Lobo-Guará , ele
sentiria na própria pele a dor da destruição. E saíram procurando onde o lobo
morava.
Sabiam que não foi difícil
descobrir? Por que a casa dele era a mais diferente da cidade. Ficava na Rua
dos Bobos, na casa número zero. Os porquinhos constataram que a casa não tinha
teto, não tinha parede, nem nada! Não poderiam entrar e nem dormir na rede.
Foi ali que eles perceberam que o Lobo-Guará era mais problemático do que
mau. Ele se comparava com os outros moradores da cidade e se sentia muito
inferior. Sentia-se incapaz perto de
todos. Então, para se sentir melhor e superior, causava medo e destruição! Como
não conseguia ser feliz, acabava destruindo a felicidade alheia.
Então, os porcos-espinhos se reuniram
novamente para fazer um novo planejamento e decidiram construir uma casa
novinha para o Lobo-Guará morar. Uma casa que fosse aconchegante, bonita,
segura, cheirosa e saborosa. Eles juntaram as suas habilidades e fizeram uma
casa de doces para o Lobo-Guará morar, dessa forma, tiraria o seu azedume e
rancor. Mas, falando em lobo, onde será que ele se encontra?
Bem... o Lobo-Guará passou a tarde tomando um café com biscoitos na toca do
Tatu para recuperar o fôlego por ter assoprado tanto, mas resolveu seguir viagem à procura dos três
porcos-espinhos, até
que ele os encontrou ao lado de uma linda casa cheia de doces, e isso o deixou
incomodado:
— Ahhhh! Eu não posso deixar vocês um pouco quietos que já começam a
construir coisas! Mas, que bom que encontrei todos juntos! Assim, posso devorar
cada um de vocês! Será um o meu café da manhã, outro o almoço e o último o meu jantar!
E começou a gritar:
— Porquinhos! Porquinhos! Vou vos pegar e a vossa casa eu vou desmanchar!
E os porcos se
desesperaram:
— Não, seu Lobo! Essa casa não! Por favor, essa casa não!
— Ora, ninguém manda em mim! Eu faço o que eu quero! Eu sou Lobo-Guará e a
vossa vida vou atormentar!
E o Lobo-Guará encheu os pulmões de ar e assoprou, assoprou e a casa
desmanchou. E os porcos-espinhos não fugiram,.
Eles ficaram chorando. O Lobo-Guará não entendeu.
— Ah, seu lobo!
Por que você fez isso? Essa casa era sua!
E o Lobo ficou espantado.
— Minha? Eu não tenho casa, bobocas!
— Nós construímos para o senhor morar!
E, nesse
momento, algo muito estranho aconteceu. A atitude dos porcos-espinhos tocara o íntimo do Lobo-Guará. Ele
refletiu que nunca ninguém tinha construído algo para ele. Ele ficou comovido
que toda a destruição foi transformada em melhorias. E agora? Tudo que ele mais
desejava, ele mesmo destruiu. Ele ficou tão chateado que começou a chorar.
Ele chorou por dias e noites. Chorou tanto que dizem que naquela região tão
seca, onde o lábio racha e o nariz pode sangrar formou-se um lago com suas
lágrimas. A dor que ele causou nos outros, agora doía nele mesmo.
Mas, a história não acaba aqui não. Os porcos-espinhos se reuniram
novamente, eles eram muito organizados, e elaboraram um novo plano.
— Seu Lobo! Seu Lobo! Que tal se nós te ensinarmos a construir a tua
própria casa?
E, para aquele
lobo que só sabia fazer mingau e destruir tudo, a ideia pareceu interessante.
— Seu Lobo, todo mundo pode aprender algo!
E dizem que, depois de sete luas, o Lobo-Guará aprendeu uma nova habilidade
e ele mesmo construiu a sua própria casa sob a orientação dos irmãos Espinhos.
Agora, o Lobo-Guará era um
especialista em construir. Ele construía pontes, castelos, casas e era também
um construtor de sonhos. Ele
percebeu que a felicidade não pode ser destruída nem roubada, a felicidade é
construída e cada um faz a sua.
O Lobo-Guará ficou tão feliz que chamou todos os porquinhos-espinhos para morarem em sua casa. O Macaco Prego e a Capivara comentaram
assustados, pois os lobos-guarás são solitários, não vivem em grupos.
Será que daria certo? Pois é, concluíram que conviver juntos seria uma relação
meio espinhosa. Então, decidiram ser vizinhos, cada um morando na sua casa.
E a propósito, fiquei sabendo que o Lobo-Guará era um ótimo vizinho, pois
se alguém se atrevesse
a chegar perto dos porcos-espinhos ele soltava seu sopro poderoso:
— Auuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Francisco Caetano
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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