Odílio está na sala, montando uma estante; ao seu lado, uma caixa de ferramentas, pregos, parafusos, chave de fenda, martelo. Um rádio sobre a mesinha toca a música “Saudosa Maloca”, da banda Demônios da Garoa. Odílio tem cara irritada e resmunga enquanto executa o trabalho. De repente, há um barulho na porta. Odilon chega carregando duas sacolas de feira.
– Que demora do caramba! Tava
aonde? – questiona Odílio.
– Que pergunta? Eu fui na prefeitura e depois no mercado,
Jorge.
Odílio dá um salto, empurrando Odilon contra a parede. Com o
antebraço, ele força o pescoço de Odilon, que fica com o rosto vermelho; as
sacolas caem, laranjas, maçãs, tomates e cebolas rolam pelo chão.
– Você tá louco,
seu filho da puta?
– Me solta – diz Odilon com muita dificuldade.
– Você quer que descubram a gente, seu desgraçado?
– Tá me faltando ar...
Odílio se afasta. Odilon se curva, puxando o ar. Ele está
com o rosto quase roxo. Ele senta-se no chão, com as costas encostada na parede,
tentando respirar.
– Tenha calma... Eu tô
me esforçando pra acostumar com os nossos nomes.
– Você espera que eu tenha calma com você como? Você é um
paspalho. Só faz merda – reclama Odílio, agarrando os próprios cabelos loiros e
assanhando-os.
– Não vai se repetir.
– Você já disse isso um monte de vezes. E naquele dia no
bar? A sorte foi que não tinha ninguém perto – reclama Odílio.
Odilon se levanta. Ele vai até Odílio e estende a mão.
– Confie em mim. Vai dar tudo certo, meu irmão.
Odílio aperta a mão de Odilon, mas ainda bastante irado.
– Odílio, eu tenho boas notícias. Consegui falar com o
prefeito. Me recebeu no gabinete dele. Ele quer falar com nós dois.
Odílio se afasta, se segurando na parede.
– Puta que pariu! Ele descobriu. Ou está desconfiado. Ele
vai reunir a gente lá e a polícia vai tá
esperando a gente do lado de fora.
– Sossega, meu amigo. Ele só quer conversar como os novos
empresários da cidade. Ele até disse que tava
chateado, porque já tinha duas semanas que tamo
aqui e a gente ainda não tinha ido lá pra conhecer ele. Ele ficou feliz da
gente ter escolhido São Pedro da Cachoeira como lugar pra investir no nosso
negócio.
– Eu vou levar o meu revólver. Eu não vou desprevenido. Não,
não. De jeito maneira – diz Odílio, balançando a cabeça.
– Você tá
paranoico – ironiza Odilon.
– Por que ainda não liberaram os documentos? Por que ele
quer que vá nós dois lá? Certamente porque desconfiaram que tem dois ladrões na
cidade dele e combinou com o delegado pra pegar a gente lá.
– Fique calmo. Eu marquei com ele pra quinta-feira à tarde,
lá pelas três horas. Eu vou, você vai, e ninguém vai levar arma nenhuma – diz
Odilon, rindo.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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