GABO: Fala galera, Misturama na área ao som de The Ferve.
Galeraaaa, estamos de volta depois de um pequeno hiatus. Hoje, autores do MV falam sobre os planos para 2022, Max Rocha, autor de As Aventuras de Ed Ronaldo conta tudo sobre sua chegada aqui no MV. Para começarmos o Misturama, vamos de debate.
Falando sobre a escrita em roteiro ou literário, com qual estilo você mais se identifica? No programa de hoje vou receber dois autores que não brincam em serviço e quando o assunto é escrita eles mandam balaaaaa.
O primeiro convidado é calouro no MV e já conquistou o seu espaço. Com dois livros publicados ele já comentou nos bastidores que não para por aí. Vem aí Caaaaaaaaaarlos Motaaaaa.
CARLOS: Oi, pessoal! É um prazer estar aqui! Com certeza, será um bate-papo muito produtivo.
GABO: O segundo convidado atualmente é uma maquina de escrever e sabe o que eu acho? Ele tá certooooo. Tá curtindo, aproveitee esse espaço maravilhoso que tem no MV, tu vai longe, mas agoraaa vem pra cá Andersoooooooon Silva, não é o jogador e sim o autor kkkkkkkkkkkkkkkk
ANDERSON: Também já fui confundido aqui fora com o Spider, mas tamos aí kkkk Olá, pessoal. Também é um prazer estar aqui hoje ao lado de vocês e vamos que vamos, que tem muita coisa pra conversarmos por aqui.
GABO: Pra iniciarmos o debate, contem pra gente com qual estilo vocês mais se identificam na escrita?
CARLOS: Sou formado em Letras, professor de Língua Portuguesa desde 1997, amante da literatura de boa qualidade, adorador insano de Fernando Pessoa, o extraordinário escritor lusitano, por conseguinte, tenho minhas raízes afixadas em solo literário. Não consigo me ver em outro estilo; sou das antigas - risos. Sou papel, letras, cores, desenhos de todas as formas, seja nos mundos real ou virtual. Não que não aprecie o roteiro; pelo contrário, acho-o magnifico e admiro quem o produz. Destarte, por ora não sinto ainda vontade para encará-lo. Talvez um dia, afinal, o ser humano deve se desafiar o tempo todo, senão a vida perde a graça, não é?
GABO: Isso aí, mota. Desafios servem como estímulos para o autor hehehe.
ANDERSON: Roteiro! Embora eu ainda não tenha nem tentado um pouco explorar o literário. Acho fascinante quem consegue escrever brilhantemente no literário, que reúne uma riqueza nas palavras, descrições tão perfeitas, chega a ser invejável kkkk. Mesmo assim, amo o roteiro desde o dia que coloquei os pés (literalmente) no MV.
GABO: Agora vamos fazer uma inversão... Mota, você escreveria um roteiro?
CARLOS: Boa pergunta! Com certeza! Mas, primeiro, tenho de tomar umas aulas contigo ou com o Anderson, pois esta não é minha praia. Precisaria me adaptar ao novo formato, conhecer a sua estrutura e como ela se desenvolve, para depois, enfrentar este desafio - risos. Ficar acomodado não dá, né? Mas se aventurar sem conhecer bem o terreno por onde passará também não. Por isso, primeiro aos estudos, para depois me entregar à criação de uma trama em roteiro.
GABO: Mota, qual parte do roteiro, você considera mais difícil?
CARLOS: Parece até piada, mas separar os diálogos por nomes, além de indicar o local, o corte, ou seja, um pouco de tudo, porque no literário, diferentemente do roteiro, quando escrevo, entrego-me às cenas, que são descritas, detalhadas, mescladas a uma poesia muito íntima, em que o diálogo serve de acessório. Por isso admiro muito quem produz um roteiro.
ANDERSON: Isso é quase que uma característica estampada de quem escreve um segmento específico (risos). Particularmente, eu por ter mais familiaridade com o roteiro, essa delimitação de cenas, cortes, diálogos separados é quase que algo no modo automático. Mas pra quem tá no literário e familiarizado com uma escrita mais "fluída" sem interrupções de cenas, cortes ou termos de roteiro, realmente chega a ser um ponto complicado. No literário mesmo, eu acho complicado justamente a parte de "imergir" no íntimo do personagem, de transmitir seus mais "puros" sentimentos e emoções de forma nítida para o leitor.
GABO: Silva, você encararia o literário?
ANDERSON: Encararia, sem medo. Claramente, esse novo universo exigiria bem mais de mim, uma preparação e cuidado maior na organização das palavras, algo que ainda me é "preguiçoso", mas estamos aqui para evoluir. E como o Carlos disse, antes de explorar coisas novas, sair de sua zona de conforto, é necessário estudo e dedicação.
GABO: Silva, eu acredito que o primeiro passo para o autor que quer arriscar no literário é escrever um texto em primeira pessoa. Ajuda bastante. Depois ele pode arriscar um texto em terceira pessoa. O que acha da dica, Mota? Você concorda?
CARLOS: Discordo completamente. O autor precisa ir além da 1a pessoa, porque, cá para nós, textos neste foco são cansativos e monótonos, além de conter apenas um olhar, no caso, o do autor/ personagem. Já na 3a pessoa, ele pode optar pelo narrador observador e/ ou onisciente, este último o mais interessante, porque você pode falar muito mais nas entrelinhas, atiçar a curiosidade do leitor, contar um fato e colocá-lo em xeque.
GABO: Ótima observação. O texto precisa ser agradável e prender a atenção do leitor. Eu escrevi um texto em primeira pessoa, sobre um relato e essa experiência me ajudou a entender o formato, já que o texto em terceira pode ser um pouco mais difícil no início.
CARLOS: A dificuldade é relativa, Gabo. Literatura não é uma ciência exata. O autor que se iniciar pela 1a pessoa poderá ter ainda mais dificuldades para depois escrever na 3a, visto que este foco narrativo fragiliza a visão, reduz a trama a um pormenor intimista. Já a 3a pessoa norteia o trabalho do escritor, que poderá optar pela observação ou onisciência. Para se ter uma ideia da importância deste foco, acompanhe os Vestibulares. Eles exigem redações em 3a pessoa, óbvio que há exceções em toda regra. Mas é apenas um conselho.
ANDERSON: Talvez, para quem realmente não escreveu nada nesse estilo, seja até uma ótima forma de entrar nesse mundo. Queria aproveitar esse gancho dado pelo Gabo e fazer uma pergunta para o Carlos. Com toda a sua experiência, seja na escrita ou na educação, é possível formar bons autores na escola, entretanto, existem barreiras para isso. Gostaria de saber, como você quebra essa barreiras e incentiva seus alunos (até mesmo leitores) a mergulharem mais na leitura?
ANDERSON: Pergunto isso porque em um relato pessoal meu, na época de escola, a leitura não era algo priorizado, propriamente dito, pelos professores de língua portuguesa ou literatura, enfim. A metodologia aplicada em sala era algo mais "leia o texto da página tal, responda o exercício proposto e pronto". Não havia uma discussão, uma interação entre os alunos, com a troca de opiniões que cada um obteve após a leitura. E isso desistimulava, então, como você faz para quebrar essa "barreira"?
CARLOS: Anderson, o que você trouxe à tona é uma verdade que gostaria que jamais existisse. De fato, em um passado não muito distante, a leitura de texto ou a sua cópia era uma prática recorrente nas aulas de língua portuguesa, independentemente da escola ou do estado em que ela estivesse situada; porém, o mundo mudou, a tecnologia derrubou as fronteiras, reduziu o planeta a uma aldeia e o aluno de hoje não aceita mais essa situação, ele quer ser o PROTAGONISTA, quer fazer do processo algo que mude o mundo em que ele vive. E meu papel como Diretor de Escola é apoiá-lo!
ANDERSON: É bom ver que hoje os jovens estão lutando por aquilo que eles acreditam, independente de qual área eles sigam. Hoje são formadores de opiniões e continuem assim.
CARLOS: É um trabalho diário de incentivo, em que o aluno deve ter uma visão múltipla do mundo, alicerçada em ideais concretos, que busquem o bem coletivo.
CARLOS: Sim. Anderson, você é um grande autor, acompanho sua trajetória e leio suas obras, mas, cá para nós, o que é mais difícil ao produzir um roteiro?
ANDERSON: No roteiro, pelo menos para mim, é descrever as características de um personagem. Isso é algo que estou aprendendo ultimamente. Porque quando ia escrever uma obra, não imaginava o tipo físico desse personagem. Eu simplesmente dava um nome pra ele, uma personalidade e começava a escrever. Só que agora, dizer como esse personagem é, o que ele está usando, como ele está se sentindo, vejo que é importante e agrega muito para a história.
GABO: Inclusive ajuda na imaginação do leitor, que com base na leitura da história, ele vai imaginando os rumos e as características do personagem.
GABO: Mota, quando estamos escrevendo, alguns empecilhos surgem. No literário, você já se deparou com alguma situação parecida, que você teve dificuldade de seguir diante dela? Seja algum plot que travou, alguma ideia que não foi bem rascunhada...
CARLOS: Sim! Ao descrever um lugar, tenho de ter todo o histórico dele, ou seja, como foi criado, em que ano, por quem, quando obteve êxito... Vou dar um exemplo: quando escrevi sobre o Theatro Municipal de São Paulo, precisei estudá-lo, conhecer muito bem quem o idealizou, em que ano e por que ele se encontra onde está. Cada detalhe me abre um mundo paralelo (seria o multiverso da Marvel criando raízes ?- risos), que facilita a criação da cena, a ambientação das personagens e a atmosfera textual por onde navegará o leitor, quando a obra estiver pronta. Sem estes detalhes, fico à mercê, completamente sem rumo, como um náufrago em alto-mar.
GABO: Autores, na hora da escrita, vocês preferem o silêncio, ou a música no fundo ajuda no desenvolvimento das cenas?
ANDERSON: Prefiro com uma música ao fundo. A depender da música, da letra e mensagem que ela traz, isso contribui e muito para o desenvolvimento da cena. Rótulos, por exemplo, os primeiros episódios sempre começavam ouvindo Rocket Man e meio que eu mergulhava nessa onda de espaço cideral.
CARLOS: Sou meio anárquico (risos). Às vezes preciso do silêncio, às vezes da mesma música tocada por horas... É estranho. Tirando isso, sou muito disciplinado. Para se ter uma ideia, nas últimas férias escrevi 17 capítulos dos 30 que tem O Desbravador de Identidades. Começava às 10h e terminava às 22h. Escrevia durante 10 horas seguidas e usava as últimas duas horas para revisar o texto e o ler para minha esposa. Depois, o remetia junto a um questionário, por WhatsApp, aos leitores que me acompanhavam diariamente. Que loucura! Na verdade era uma obra aberta, porque, dependendo do que me respondessem, eu alterava o rumo das personagens e/ ou da trama.
GABO: Mota, também tenho esses momentos kkkk algumas cenas eu preciso de muito silêncio, já em outras a música faz parte e até me anima. 😂😂😂
ANDERSON: Nossa, não sei se conseguiria ficar esse tempo todo escrevendo kkkk. Acho que no máximo foi umas 5 ou 6 horas, mais que isso, minhas costas pedem socorro. Kkkkkkk
Isso demostra o quão sério você leva a escrita, Carlos, e que realmente se faz necessário ter uma rotina focada. Já teve momentos de você, por exemplo, ter uma DR com a sua obra e rescrever uma cena, uma fala ou uma ação, que para a sua mente ela ainda não estava no ponto ideal que você queria mostrar ao leitor?
GABO: kkkkkkkkkkk teve um dia que eu me empolguei tanto com um episódio de Estações da Vida que eu não dormi enquanto não concluí kkkkkkk
CARLOS: Teve, Anderson! E olha, foi muito chato. Briguei com a obra, cenas eram lançadas no papel a contragosto. Por mais que eu me esforçasse, não conseguia escrever o que desejava. Era como se alguém pegasse em minha mão e escrevesse outra coisa. Chegou uma hora que me irritei, apaguei tudo, desliguei o computador e fui para a cama, onde chorei em silêncio por longos minutos. Hoje agiria diferente, daria um tempo, tomaria um suco e tentaria encontrar algum sentido àquilo que minha mente, tão relutante, queria trazer ao mundo.
ANDERSON: Isso realmente é um processo bem chato. Acho que é uma das poucas semelhanças que, independente do estilo for roteiro ou literário, vai afetar sempre o autor.
CARLOS: Com certeza! Isso incomoda muito, mas faz parte do processo.
GABO: No papel de autores, qual o maior sonho de vocês? Onde vocês querem chegar? O que vocês almejam para o futuro?
CARLOS: Quero apenas ser FELIZ! Isso é fácil? Não! Mas vale a pena tentar.
ANDERSON: Gabo, só quero contar histórias. Histórias que surgem do nada em minha mente, seja de uma música, de uma reportagem, de uma série/filme... só quero ficar por aqui o tempo que for necessário, contando as minhas histórias.
GABO: Roteiro e Literário, dois estilos, dois formatos. O público tem à disposição diversas produções para leitura e assim todos ganham com a fantástica imaginação.
ANDERSON: É isso, Gabo, independente do estilo, o que importa é a contribuição que a leitura deixa na vida do leitor. Uma obra, seja qual for, pode mudar a vida de alguém. Leiam, viajem e contem suas próprias histórias.
CARLOS: Meus queridos leitores, lembrem-se sempre: “Tudo vale a pena. Se a alma não é pequena” – Fernando Pessoa . Feliz ano novo a todos!
GABO: Na minissérie "As Aventuras de Ed Ronaldo (o detetive soberbo)" você acompanha as misteriosas aventuras de Ed Ronaldo e seu staff: a amada Diana Helena, e seus pets Bilau e Baretta. O autor conversou com a nossa equipe e contou tudo sobre a sua chegada aqui no MV. Bora conferir? Rodou:
COMO EU CHEGUEI AQUI
A produção do Misturama entrou em contato com a galerinha do MV e eles resolveram falar tudo, não me esconderam nada sobre o ano novo. O que será que vem por aí? Joga na tela, produção:
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