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Terra da Garoa: Capítulo 08

Novela de Édy Dutra
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TERRA DA GAROA - CAPÍTULO 08
 


CENAS DO CAPÍTULO ANTERIOR


HUMBERTO
: - O que foi, papai?

GURGEL: - Não sei, senti uma pontada aqui no peito... Ai!

HUMBERTO: - Papai, tenta se controlar. Estamos quase chegando no carro, não morra aqui no estacionamento. (ri, debochado)

GURGEL: - Não é hora de brincadeiras... (sente dores) Ai! Ai meu coração!

Gurgel se apoia em Humberto, que se afasta, deixando Gurgel cair no chão. Humberto certifica-se de que não há ninguém além dos dois no estacionamento. Gurgel caído no chão, sente dores no peito.

GURGEL (fraco): - Humberto, me ajude, meu filho... (ergue a mão)

Humberto encara Gurgel por um tempo. Em seguida, dá um tapa na mão do pai, empurrando-a.

HUMBERTO (sério, frio): - Eu quero mais é que você morra. Velho imundo.

Gurgel agoniza no chão, sob o olhar frio de Humberto.



CENA 01. EMPRESA QUEIROZ. ESTACIONAMENTO. INT. NOITE. 

Continuação do capítulo anterior. Humberto encara Gurgel, que está caído no chão, com a mão erguida em pedido de ajuda. Em seguida, dá um tapa na mão do pai, empurrando-a. 

HUMBERTO (sério, frio): - Eu quero mais é que você morra. Velho imundo. 

Gurgel agoniza no chão, sob o olhar frio de Humberto. 

GURGEL (com dores no peito): - O que você está falando?!

HUMBERTO: - Eu to falando o que eu sempre quis falar a minha toda! Senhor Gurgel Queiroz, o grande empresário paulistano é uma porcaria de pai! 

Humberto caminha de um lado a outro, enquanto Gurgel continua caído.

GURGEL: - Meu peito... (fraco) Me ajuda...

HUMBERTO: - Que pai bondoso é esse que é capaz de escolher um filho preferido? Agora você vai poder escolher no inferno as preferências que quiser! Olha que legal! Velho sacana!

Gurgel encara Humberto.

GURGEL: - Você é uma cobra, Humberto. Uma cobra...

HUMBERTO (raiva): - Cala a boca, infeliz! Cala a boca!

Humberto empurra o corpo de Gurgel  com o pé, fazendo o pai ficar deitado no chão. Humberto olha tudo com expressão de ódio.

CENA 02. CASA DALVA. SALA DE JANTAR / QUARTO DALVA. INT. NOITE.

Dalva, Carlos e Cássio juntos à mesa, na sala de jantar. Dalva feliz. Clima entre Carlos e Cássio um pouco mais denso.

DALVA: - Eu quero que vocês saibam que eu estou muito feliz em poder, depois de muito tempo, jantar ao lado de vocês dois... Ver a nossa família reunida, em paz, é que eu chamo de felicidade suprema.

CARLOS: - Eu também estou feliz, querida. Todos estamos.

CÁSSIO: - É, mamãe, pode crer.

DALVA: - Pena que você não foi conosco na festa de ontem, Cássio. Iria gostar.

CÁSSIO: - Eu não gosto desses ajuntamentos que vocês frequentam, mãe. Não é a minha praia.

CARLOS: - Esses, ajuntamentos, são eventos importantes da sociedade que agregariam boas relações à sua vida, Cássio.

CÁSSIO: - Eu já estou muito bem relacionado, pai.

CARLOS: - Com quem? Eu não vejo você indo para a faculdade particular que nós estamos pagando, não vejo você em nenhum grupo, não vejo você com amigos, nem com alguma garota.

DALVA: - Carlos, por favor!

CÁSSIO: - Eu tenho a minha vida e vocês tem a vida de vocês. Somos diferentes. Custa muito pra você aceitar isso, pai?

CARLOS: - Custa. Muito! Porque eu estou investindo num futuro brilhante pra você e eu vejo tudo isso ir voando pela janela por causa da sua desregrada.

DALVA (firme): - Parem com essa discussão, por favor!

Silêncio. Carlos remexe a comida, enquanto Cássio serve-se de suco.

CARLOS: - Você encontrou o seu colar de rubi, querida?

DALVA: - Não achei, sumiu mesmo.

Cássio deixa cair a jarra de vidro com suco. A jarra quebra sobre a mesa. Cássio tenta controlar o nervosismo.

DALVA: - Cássio, cuidado, querido! Eu vou buscar um pano para secar isso tudo!

Dalva se retira.

CARLOS: - Você tem alguma a ver com o sumiço desse colar, não tem?

CÁSSIO: - Poxa, tudo você desconfia de mim, mano! Vai estourar uma bomba no Iraque e o culpado vai ser eu também?

CARLOS: - Cássio, eu te fiz uma pergunta e eu só quero que você responda. Você tem alguma coisa a ver com o sumiço desse colar.

Cássio não responde, desvia o olhar de Cássio.

CARLOS (firme): - Fala! Anda logo, Cássio! Fala!

CÁSSIO: - Fui eu, droga!

Neste instante, Dalva chega na sala com o pano, mas fica transtornada diante da revelação de Cássio.

CÁSSIO: - Fui eu quem pegou o colar.

CARLOS: - Mas, por que você fez isso?

CÁSSIO: - Eu vendi. Eu vendi para pagar uma dívida. Era isso que vocês queriam saber? Eu vendi!

Cássio levanta-se da mesa apressado, sai de casa, batendo a porta. Dalva, transtornada, sobe as escadas para o segundo piso. Carlos fica sozinho na sala, pensativo, pesaroso.

Dalva entra em seu quarto, com olhos marejados. Abre a gaveta da cômoda e pega um maço de cigarros que estava escondido.

Ela vai até a janela do quarto, acende um cigarro e traga, profundamente, quase que compulsiva. Mão trêmula, a fumaça se espalhando pelo ar. Dalva chora, tragando o cigarro.

CENA 03. MOTEL. QUARTO. INT. NOITE.

Robson oferece uma taça de champanhe para Paula, que aceita, sentada na beirada da cama. Robson senta-se ao lado dela, também com uma taça de champanhe nas mãos.

ROBSON: - Pensei que não fosse vir.

PAULA: - Precisei de muita coragem para chegar aqui, Robson. Estou arriscando meu casamento.

ROBSON: - Um casamento onde você não é feliz.

PAULA: - Mas são mais de vinte anos de uma vida a dois. Não é tão simples.

ROBSON: - É simples sim, Paula. Você é que está complicando isso tudo. A liberdade da sua vida, está nas tuas mãos. A chave da sua felicidade.

PAULA: - Você fala isso, tão romântico, ao mesmo tempo, utópico...

ROBSON: - O amor não pode ser uma utopia, Paula. Ele precisa ser real, verdadeiro. Assim como a sua vida.

PAULA: - O que você sabe sobre a minha vida?! O que é que você sabe sobre mim para fazer isso tudo comigo?! (levanta-se) Você está me deixando confusa...

ROBSON (levanta-se): - Eu estou aqui para te esclarecer tudo! Para te mostrar que é importante ser feliz nessa vida! (segura Paula) Esse casamento não está te fazendo bem.

Os dois trocam olhares. (sobe trilha “Sem Poupar Coração” – Nana Caymmi)

PAULA: - Eu não posso abandonar um casamento de vinte anos por uma aventura.

Robson beija Paula, que corresponde, apaixonada. Um beijo forte, misto de desejo e paixão.

ROBSON: - Eu posso ser mais do que uma simples aventura. Só depende de você.

Paula se afasta de Robson, pega a bolsa na cadeira e vai embora. Robson fica pensativo no quarto, sozinho. (fade out trilha “Sem Poupar Coração” – Nana Caymmi)

CENA 04. APTO LENARA. SALA. INT. NOITE.

Ulisses conversa com Lenara.

LENARA: - Itaquera, Ulisses?! Ta louco?!

ULISSES: - O que é que tem, Lenara?

LENARA: - Meu filho não vai frequentar centro comunitário porcaria nenhuma! Ainda mais sendo em Itaquera! Zona leste, bandidagem! Deus me livre! Já não basta a Jaque envolvida com um carinha de lá. Agora meu filho? Não!

ULISSES: - Pois fique você sabendo que desta vez eu não serei voto vencido. Eu vou levar o Otávio no centro comunitário sim. Ele precisa conviver com outras crianças, diferentes realidades. Vai ser bom pra ele.

LENARA: - Nosso filho vai virar um marginal e a culpa vai ser toda sua!

ULISSES: - Deixa de ser preconceituosa, Lenara! Eu te garanto que isso vai ajudar e muito no desenvolvimento do Otávio.

LENARA: - Graças a Deus, Ulisses, que eu não me casei com você. Esse seu jeito todo humanitário me irrita. Graças a Deus que de você só o dinheiro da pensão e este apartamento me bastam.

ULISSES: - Isso é outra coisa que eu queria falar com você também... Eu estou pensando em pedir a guarda do Otávio.

Lenara fica surpresa.

LENARA: - Como é que é?! Você bebeu?!

ULISSES: - Isso mesmo que você ouviu. Eu estou pensando em pedir a guarda do Otávio e cuidar dele. E com isso, você também vai precisar procurar outro lugar para morar.

LENARA: - Eu não posso acreditar!

ULISSES: - Mas isso não é nada pra agora. Mas se você já quiser ir vendo outros locais para morar...

LENARA: - A justiça nunca separa o filho de uma mãe.

ULISSES: - Veremos.

LENARA: - Por que você está fazendo isso comigo, Ulisses? Eu sempre te considerei tanto!

ULISSES: - Você acabou de exaltar o meu dinheiro e não a minha pessoa.

LENARA: - Você sabe como eu sou... Eu fico nervosa...

Lenara se aproxima de Ulisses, o beija na boca.

LENARA: - No fundo, eu gosto de você.

ULISSES: - Você brinca com meu coração, isso sim.

LENARA: - Vai pra casa, repensa essa história de guarda, de apartamento, vai. Eu sei que você vai pensar com carinho...

Ulisses se levanta do sofá, encara Lenara e vai embora.

LENARA: - Ai que inferno! Era só o que me faltava eu ter que sair deste apartamento maravilhoso!... Preciso de um novo alvo, urgente! Homens ricos de São Paulo, Lenara voltou à caça!

CENA 05. QUADRA UNIDOS DA ZONA LESTE. INT. NOITE.

A bateria faz ensaio para a apresentação da festa junina. Aimée e Bárbara sambam. Candinho coordena a bateria, quando percebe a chegada de Keylla Mara. Sem perceber, Candinho deixa a bateria atravessar. O pessoal reclama.

JAIR: - Candinho! Poxa!

CANDINHO: - Foi mal, presidente! Mas é que eu não resisto ao charme dessa loura fatal!

JAIR: - Fatal vai ser a nota na apuração se a bateria atravessar desse jeito.

CANDINHO: - Tá certo, vamos começar de novo!

AIMÉE: - Vamos dar uma pausa? Cinco minutos só pra tomar uma água?

JAIR: - Tá certo. Intervalinho pra molhar o bico, depois a gente retoma! Quero todo mundo afinadinho pro nosso arraial!

Bárbara e Aimée sentam-se em uma mesa, junto com Keylla Mara que se maquia.

BÁRBARA: - Atrasada hein Keylla Mara? Perdeu o ensaio da quadrilha mais cedo.

KEYLLA MARA: - Eu tentei sair mais cedo da empresa, mas não deu...

AIMÉE: - Bárbara, você nem falou como foi a conversa com a japonesa lá do Daniel.

KEYLLA MARA: - Você foi mesmo atrás dela?

BÁRBARA: - Eu fui. Lá no atelier dela. A sem vergonha é cheia da grana. Tá na cara que o Daniel ta com ela só por causa da vida boa.

AIMÉE: - Mas eles estão juntos mesmo?

BÁRBARA: - Isso foi o que ela me disse. Mas eu já deixei ela bem avisada, pra se afastar do Daniel. Senão ela vai se ver comigo.

KEYLLA MARA: - Isso aí amiga! Bota banca que o produto é teu!

BÁRBARA: - Ela que me aguarde! Agora vamos sambar! Quero me acabar na frente da minha bateria!

Candinho se posiciona à frente da bateria, recomeça o ensaio. Bárbara samba em frente a bateria.

CENA 06. CASA PAULA. QUARTO. INT. NOITE.

Paula entra no quarto. Santiago está deitado, dormindo. Paula tira o vestido, coloca a camisola e deita-se na cama, ao lado do marido. Fica por um instante, pensativa.

FLASHBACK. CENA. 03.

ROBSON (levanta-se): - Eu estou aqui para te esclarecer tudo! Para te mostrar que é importante ser feliz nessa vida! (segura Paula) Esse casamento não está te fazendo bem.

Os dois trocam olhares.

PAULA: - Eu não posso abandonar um casamento de vinte anos por uma aventura.

Robson beija Paula, que corresponde, apaixonada. Um beijo forte, misto de desejo e paixão.

ROBSON: - Eu posso ser mais do que uma simples aventura. Só depende de você.

VOLTA À CENA ATUAL.

PAULA (pensativa): - Ai, meu Deus, o que eu faço?

CENA 07. EMPRESA QUEIROZ. ESTACIONAMENTO. INT. NOITE.

Gurgel deitado no chão, faz força para respirar.

GURGEL: - Você sempre quis o meu dinheiro...

HUMBERTO: - Eu já mandei você calar a boca, velho infeliz!

GURGEL: - Você sabe que nunca terá o talento nem o prestígio do Henrique. Por isso que você não consegue progredir, Humberto. Você é um fracassado, igual ao seu...

Humberto se aproxima de Gurgel, segura firme o rosto do pai, ficam cara a cara.

HUMBERTO: - O fracassado aqui é você! Você perdeu essa, pai. Acabou! Eu venci! Vai para o inferno!

Gurgel não resiste e morre. Humberto o encara, checa respiração. Percebe que Gurgel parou de respirar.

HUMBERTO: - Sofreu pouco, infeliz. Sofreu pouco... Mas antes a morte do que a vida... A vida agora é minha! E tudo isso aqui, será meu!... Eu já me livrei de você, praga! Agora, coloco o meu maninho querido para escanteio e aí sim, controlo tudo!... A mamãe? Tadinha, tão boba. Ela eu consigo ludibriar com qualquer chorinho. Ela cai fácil...

Humberto se afasta do corpo de Gurgel. Cutuca o cadáver com o pé.

HUMBERTO: - Eu nunca iria imaginar que esse dia chegaria tão rápido, pai. Vai com Deus! Ou melhor, vai com o diabo que te carregue!

Diante do corpo de Gurgel, Humberto ri, debochado. Aos poucos, se recompõe.

HUMBERTO: - Agora chegou a hora do teatro...

Humberto pega o celular, disca um número.

HUMBERTO (finge aflição): - Alô? Mamãe?!

CENA 08. CASA QUEIROZ. SALA DE ESTAR. INT. NOITE.

Maria Alice fala com Humberto pelo telefone.

MARIA ALICE (ao telefone): - Oi meu filho! Você e o seu pai estão demorando tanto! Eu não consegui esperar e já jantei, mas a mesa ainda está posta... (TEMPO) Não vêm jantar? Mas por (pausa / choque) Como é que é?!

Maria Alice deixa o telefone cair, ela também desaba, de joelhos no chão. Uma lágrima escorre pelo seu rosto, incrédulo.

CENA 09. PORTUGAL. APTO RAQUEL. QUARTO. INT. NOITE.

Raquel e Henrique deitados na cama.

HENRIQUE: - Desculpa por antes ta?

RAQUEL: - Desculpa por que?

HENRIQUE: - Pelo meu ciúme. Acontece que eu sinto que o Joaquim não quer ser só seu amigo.

RAQUEL: - Henrique, importa apenas o que eu sinto. E o que eu sinto por ele é só amizade. Amor, eu só tenho por você. Só por você.

Os dois se beijam. Henrique envolve Raquel em seus braços, carinhoso.

HENRIQUE: - Você está sendo tão especial pra mim. A melhor coisa que poderia ter acontecido pra mim. Estou louco pra te apresentar pra todo mundo lá em casa.

RAQUEL: - E eu quero te levar para conhecer as meninas.

HENRIQUE: - Será que elas vão gostar de mim?

RAQUEL: - Você é um homem encantador. Impossível não gostar de você, meu amor!

Os dois se beijam apaixonados. O celular, quando o telefone dele toca. Henrique se levanta da cama, vai até a cômoda e vê a chamada.

HENRIQUE; - É lá de casa...

RAQUEL: - Costumam te ligar nesse horário? É um pouco tarde...

HENRIQUE: - Pois é. Que estranho... (atende o telefone) Alo? (TEMPO) Oi Humberto. Aconteceu alguma coisa?...

CENA 10. TRANSIÇÃO DO TEMPO 

Imagens de Lisboa ao amanhecer. Imagens do mar lusitano, as ondas no porto.

CENA 11. PORTUGAL. AEROPORTO. SAGUÃO. INT. DIA.

Raquel e Henrique se despedem. Clima de tristeza.

RAQUEL: - Eu queria tanto poder voltar com você! Estar do seu lado nesse momento tão difícil.

HENRIQUE: - Eu sei, meu amor. Pode ter certeza que esse seu carinho vai me fortalecer.

RAQUEL: - Eu amo você, Henrique. Jamais vou esquecer você!

HENRIQUE: - Também te amo, Raquel... (emocionado) Agora eu preciso ir. Dar adeus ao meu pai.

(sobe trilha “I Look to You” – Whitney Houston) Os dois se abraçam fortemente, trocam um beijo apaixonado. Henrique vai para área de embarque, sob o olhar entristecido de Raquel.

CENA 12. CEMITÉRIO. CAPELA. VELÓRIO. INT. DIA.

(fade out trilha “I Look to You” – Whitney Houston) O caixão com o corpo de Gurgel encontra-se no centro de uma capela, no cemitério. No local, amigos e conhecidos do empresário. Maria Alice está sentada numa cadeira próxima ao caixão. Ao seu lado, está Tarsila, confortando-a.

MARIA ALICE: - Eu não pude nem dar um último adeus, Tarsila...

TARSILA: - Coisas da vida, amiga. A gente não tem como entender.

Num outro ponto, perto da porta, Humberto olha tudo com desdém.

HUMBERTO: - Louco pra enterrar esse defunto de uma vez. Velho infeliz...

Barreto se aproxima.

BARRETO: - O Henrique já está vindo pra cá?

HUMBERTO: - Não sei se ele chega a tempo para o enterro do nosso querido pai. Seria tão bom se ele conseguisse chegar para dar o último adeus a quem ele amava tanto.

BARRETO: - Seu pai foi um grande homem. Não conheci ninguém igual.

HUMBERTO: - Foi, sem dúvidas, um grande homem...

Santiago chega ao velório, cumprimentam Humberto.

SANTIAGO: - Minhas condolências, senhor Humberto, em meu nome e de minha família. Sinto muito pela morte de seu pai. Era um velho conhecido meu.

HUMBERTO: - Muito obrigado pelo apoio, Santiago.

SANTIAGO: - Nessas horas a gente só pode desejar força.

HUMBERTO: - Eu agradeço, profundamente.

Santiago se afasta.

BARRETO: - A imprensa tentou entrar aqui, mas os seguranças conseguiram deixar os repórteres bem afastados.

HUMBERTO: - Melhor assim, Barreto. Imprensa aqui não ia ser nada bom.

CENA 13. ITACLUBE. CAMPO DE FUTEBOL. INT. DIA.

(sobe trilha “É Uma Partida de Futebol” – Skank) Carlos visita o treino do Itaclube. Macedão coordena o treino, onde Daniel e Marcelo estão jogando. Carlos senta-se na arquibancada e fica a observar a movimentação dos jogadores. Discreto, ele faz anotações.

MACEDÃO: - Vamos lá, Marcelo! Passa a bola pro Daniel! Ele ta livre!

Marcelo não passa a bola e tenta fazer o gol, mas acaba errando a jogada.

MACEDAO: - O que foi que eu te falei, Marcelo?! Poxa!

MARCELO: - Eu ia conseguir fazer o gol, professor!

DANIEL: - Eu tava livre lá na área, poxa! Só cruzar pra mim!

MARCELO: - Você quer fazer tudo, né, Daniel? É gol, é mídia...

DANIEL: - Ih, o que ta pegando, Marcelo? Não to te entendo não, cara.

MARCELO: - Deixa quieto.

DANIEL: - Bom mesmo...

MACEDÃO: - Parou o namoro de vocês aí? Todo mundo pro chuveiro, parou o treino.

Num outro momento, Macedão conversa com Carlos.

MACEDÃO: - Eu sou técnico, presidente, diretor de futebol, tudo. Aqui no Itaclube eu sou tudo.

CARLOS: - Então é com você mesmo que eu preciso falar. Me chamo Carlos Schneider e sou empresário. Vou ir direto ao ponto. Estou interessado em fazer negócio aqui com o clube.

MACEDÃO: - Compra e venda de jogadores, é isso?

CARLOS: - Sim. Mas neste caso, o Itaclube só tem a ganhar. Isso aqui é um celeiro de craques!

MACEDÃO: - Tudo gente nossa, zona leste, Itaquera da gema. Mas o senhor ficou interessado em algum jogador, mais especificamente?

CARLOS: - Em dois, na verdade. O atacante e o meia, camisa sete.

MACEDÃO: - Daniel e Marcelo?! A nossa dupla de ouro?! Puxa! E para onde você pretende levar nossos craques?

CARLOS: - Corinthians. Quero lançá-los por lá. O que acha?

Macedão fica surpreso com a proposta.

CENA 14. CASA DALVA. SALA. INT. DIA.

Paula visita Dalva.

DALVA: - Velório?

PAULA: - É, daquele empresário riquíssimo, Gurgel Queiroz.

DALVA: - Da fábrica de azeites?

PAULA: - Esse mesmo... Santiago até me chamou pra ir junto, mas eu não gosto muito dessas coisas. Resolvi vir aqui visitar você. Eu estou precisando conversar.

DALVA: - Eu também estou, minha irmã. Tanta coisa acontecendo aqui em casa... Carlos e o Cássio quase saíram no tapa ontem.

PAULA; - Meu Deus, Dalva! Cadê a paz dessa casa?!

DALVA: - Há muito tempo que eu não sei o que é ter paz... Mas me fala de você. O que é que você tem para me contar.

PAULA: - Ontem... Eu fui num motel.

DALVA: - Menina, que coisa boa! Você e o Santiago ainda fazem coisas interessantes para sair da rotina. Isso é ótimo para o casamento.

PAULA: - Eu não fui com o Santiago.

Dalva se surpreende.

DALVA: - Não?!

PAULA: - Não... Eu fui com o Robson, que trabalha pra ele na HMóveis.

DALVA: - Você ta louca, Paula?! Transando com outro cara! Com o funcionário do seu marido!

PAULA: - Eu não transei, Dalva, calma!... Eu não estava segura pra isso, não estava preparada... Mas Dalva, ele mexe comigo de uma forma que eu nem sei como explicar.

DALVA: - Confesso que eu estou pasma...

PAULA; - Pasma estou eu com o que eu estou sentindo, aqui na sua casa.

DALVA: - O que tem aqui na minha casa?

PAULA: - Cheiro de cigarro. Dalva, você fumou?

DALVA: - Eu tentei resistir, mas depois do que aconteceu aqui em casa eu fumei um cigarro.

PAULA: - Um cigarro?!

DALVA: - Tá, dois, três, sei lá!...

PAULA: - Dalva!

DALVA: - E como você quer que eu encare essa barra toda aqui em casa, Paula?! Não é fácil pra mim, poxa!... Fumando eu consigo relaxar. É a única forma que eu tenho de relaxar.

PAULA: - E de morrer mais rapidamente. Você sabe disso.

DALVA: - Você não veio aqui para falar de mim e sim para falar de você.

PAULA: - Eu não consigo continuar. Eu me preocupo com você, Dalva. É a única irmã que eu tenho. Promete que vai se cuidar, que não vai colocar nenhum cigarro mais na boca?

DALVA: - Ai, Paula... Coisa chata...

PAULA: - Promete, Dalva!

DALVA: - Ai, ta bom! Eu prometo! Pronto?

PAULA: - Pronto...

Paula abraça Dalva.

PAULA: - Amo você. Só quero o seu bem.

DALVA: - Eu sei... Obrigada por tudo.

CENA 15. PORTUGAL. CENTRO DE ESTUDOS. INT. DIA.

Raquel na bancada, cortando os alimentos, distraída, quando acaba se ferindo com a faca. Joaquim está se aproxima.

JOAQUIM: - Cuidado, Raquel.

RAQUEL: - Me cortei aqui.

JOAQUIM: - Com uma faca dessas não se pode ficar com o pensamento longe. Ela é capaz de fazer um estrago bem maior... Vem cá.

Joaquim pega Raquel pela mão, a leva até a pia, coloca o dedo com o corte debaixo d’água, que corre sobre o dedo.

JOAQUIM: - Está melhorando?

RAQUEL: - Está. Obrigada.

JOAQUIM: - Desde que a aula começou, eu to percebendo que você está triste, Raquel. Aconteceu alguma coisa?

RAQUEL: - O Henrique. Teve que voltar para o Brasil.

JOAQUIM: - Mas já? Assim, de repente?

RAQUEL: - O pai dele, faleceu. Nossa, a gente estava junto ontem quando o irmão dele ligou, dando a notícia. Fiquei tão triste quanto ele.

JOAQUIM: - Eu posso imaginar. Você e ele estavam andando tão juntos. Pareciam ate... Namorados.

RAQUEL: - De certa forma, a gente era mesmo.

JOAQUIM: - Mas agora, ele lá, você aqui. Namoro à distância é complicado. (desliga a torneira)

RAQUEL: - Eu acredito no amor, independente de estar perto ou longe.

JOAQUIM: - Então acredite no meu amor por você. Me dê uma chance de te mostrar que eu também posso te fazer feliz, Raquel.

Raquel se surpreende com Joaquim.

JOAQUIM: - Deixa eu te provar o meu amor!

CENA 16. CAPELA. VELÓRIO. INT. / EXT. DIA.

Maria Alice próxima do caixão, desvia o olhar para a porta da capela e percebe a chegada de um homem, um tanto misterioso. O tal homem não entra na capela, fica na porta, olha para o caixão e sai.

TARSILA: - O que foi Maria Alice?

MARIA ALICE: - Eu vi uma pessoa lá fora... Uma pessoa que, não me é estranha.

TARSILA: - Mas quem?

Maria Alice sai da capela. O tal homem está parado um pouco mais além. É um homem por volta dos 60/65 anos, cabelos grisalhos, trajando calça jeans e um blazer, escuros. Maria Alice aos poucos se aproxima deste homem, que está de costas para ela. Maria Alice para a uma certa distância.

MARIA ALICE: - O que você veio fazer aqui?

O homem se vira para ela. Ficam frente a frente.

MARIA ALICE: - Só poderia ser você mesmo, Donato.

DONATO: - É o velório do meu irmão.

MARIA ALICE: - Pelo menos na morte dele você teve coragem de aparecer. Não sei se isso é um ato de coragem mesmo ou de covardia.

DONATO: - Eu te garanto, Maria Alice, que é um ato de coragem extrema... Com a morte do meu irmão, a gente não precisa mais fazer rodeios, manter os segredos da família.

MARIA ALICE (apreensiva): - Do que você está falando, Donato?

DONATO: - Estou falando que eu voltei para esclarecer a mentira que você e o Gurgel mantiveram até hoje.

MARIA ALICE: - Você não ouse!

DONATO: - Eu vim atrás do Humberto, Maria Alice. Voltei para abraçar o meu filho.


Donato e Maria Alice se encaram.


novela de
Édy Dutra
 
elenco
Juliana Alves como Raquel
Guilherme Winter como Henrique
Christine Fernandes como Lenara
Júlio Rocha como Humberto
 
Daniele Suzuki como Jaqueline
Jonathan Haagensen como Daniel
Cláudio Lins como Ulisses
Rodrigo Hilbert como Robson
Cinara Leal como Bárbara
Carlos Casagrande como Claude
Diego Cristo como Joaquim
 
Erika Januza como Aimée
Liliana Castro como Fernanda
Léo Rosa como Marcelo
Aline Dias como Stefany
Cecília Dassi como Carol
Luiz Otávio Fernandes como Nuno
Renata Castro Barbosa como Salete
Bernardo Mesquita como Cássio
Jonatas Faro como Igor
Odilon Wagner como Carlos
 
Rodrigo dos Santos como Barreto
Patrícia Werneck como Monique
Karina Bacchi como Keylla Mara
Nando Cunha como Candinho
Sérgio Guindane como Leopardo
Letícia Colin como Rita
Luiz Felipe Mello como Otávio
Maria Pinna como Lisa
 
atrizes convidadas
Carolina Ferraz como Paula
Regina Braga como Maria Alice
Aída Leiner como Tarsíla
Tânia Alves como Zuleica
Zezé Motta como Rosa

atores convidados
Zé Carlos Machado como Donato
Aílton Graça como Macedão
Nuno Leal Maia como Jair
Jean Pierre Noher como Santiago
 
Malu Galli como Dalva
Sônia Braga como Vilma
Reginaldo Faria como Gurgel
 
trilha sonora
Sem Poupar Coração - Nana Caymmi
I Look to You - Whitney Houston
É Uma Partida de Futebol – Skank
 
produção
 Bruno Olsen
 Diogo de Castro
 Israel Lima
        

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.



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