Antologia Sempre ao Meu Lado: 1x10 - Meu Amigo Juninho - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

O que Procura?

HOT 3!

Antologia Sempre ao Meu Lado: 1x10 - Meu Amigo Juninho

Conto de Helen Souza
Compartilhe:







Sinopse: Marley é um garoto que sonha em criar um bichinho em casa. No entanto, seus pais são totalmente contrários a ideia, tentando afastar esse sonho a todo custo do alcance do menino. Mas como um presente do destino, um petshop abre bem em frente da casa de Marley, dando a ele a chance de, pelo menos, ver os bichinhos que tanto deseja.


Meu Amigo Juninho
de Helen Souza


Um cachorro fofinho abanando o rabo. Um gato ronronando de barriga para cima. Um peixinho balançando no aquário. Um coelhinho mordiscando uma folha de alface. Todos esses bichinhos estavam na loja de petshop que ficava em frente à minha casa. E eu passava o dia inteiro na janela observando aquelas criaturinhas felizes, querendo que um dia eu pudesse levar um deles pra casa. O único problema era...

"SEM ANIMAIS POR AQUI!" gritavam meus pais em uníssono, toda a vez que eu pedia. Os dois eram alérgicos a pelos e não gostavam de qualquer coisa que precisasse cuidar.

Àquilo incluía eu mesmo.

Eu acordava sozinho, me vestia sozinho, fazia meu café sozinho, ia pra escola sozinho, voltava sozinho, comia o resto da janta sozinho, dormia sem nenhum boa noite. Se eu tivesse um emprego, já poderia dizer que morava sozinho. Talvez eu arrumasse um, mesmo. O petshop estava à procura de um novo funcionário...

...

Você não imagina minha alegria em simplesmente entrar naquela loja. Era quase como um zoológico doméstico em que você podia tocar nos bichinhos e passar algum tempo com eles. Não sei como tive tanto controle para apenas olhá-los de longe, enquanto esperava a mulher voltar ao balcão.

Quando estava prestes a desistir do meu auto-controle, ela surgiu. Tinha uns quarenta anos, talvez um pouco mais.

"Olá boa tarde, o que gostaria?"

Eu fiquei algum tempo paralisado, meio encantado em conhecer a dona do lugar. Era como se ela fosse uma musa dos animais, e parte de mim ficava nervosa só de pensar que ela era a única coisa que me impedia de viver o meu sonho.

Quando ela percebeu que eu estava em transe, perguntou novamente: "Rapaz, algum problema?"

Tive vontade de sair correndo, mas já era tarde. Repeti a frase que havia ensaiado tantas vezes: "Eu gostaria de trabalhar aqui."

Ela me olhou com alegria: "Ah, que ótimo! Qual o seu nome?"

"Meu nome é Marley, senhora."

"Igual no filme, não é?" Ela deu uma risada. "Meu nome é Mirtes, é um prazer conhecê-lo."

Ela me entrevistou ali mesmo, fazendo algumas perguntas básicas, mas quando ela descobriu que eu morava bem ali na frente, pareceu ficar ainda mais animada: "Perfeito! Você morando perto daqui facilita muito as coisas." Ela abriu um sorriso. "Acho que você é um forte candidato, Marley."

Eu quase não conseguia conter a minha felicidade dentro de mim. Tive um bom pressentimento de que não seria a última vez que veria aquela mulher.

Depois de terminar a entrevista, voltei para casa. Meus pais não estavam lá, como sempre, mas aquilo não me importava mais. Se tudo desse certo, eu estaria trabalhando e pouco depois não precisaria nem mesmo me preocupar com eles. Tudo isso, da melhor forma possível: rodeado de animais super fofinhos.

...

Como a proprietária havia dito, eu era um forte candidato. E por sorte, era o mais forte de todos os que apareceram depois de mim. Alguns dias depois da minha entrevista, Mirtes me chamou novamente. Na realidade, ela nem precisava ter me chamado, porque eu tinha pego a mania de visitar o petshop todos os dias para observar os animaizinhos. Eu não tocava em nenhum deles - não tinha essa coragem e também não queria chegar com a roupa cheia de pelos em casa - então me contentava em conversar com eles com os olhos.

Mirtes me olhava com a sua alegria habitual: "É, parece que você vai trabalhar aqui, rapaz. Você vai ficar no caixa, e ajudar o pessoal da organização, tudo bem?"

Fiz que sim com a cabeça. Depois de me explicar um pouco sobre os horários e mais especificamente algumas outras obrigações, eu pude começar naquela mesma hora a trabalhar.

Eu me sentia a pessoa mais feliz do mundo. Eu, que não podia ter animais, estava rodeado deles, e ainda podia olhá-los enquanto trabalhava. O que mais um solitário como eu poderia querer?

Os dias foram passando, e meus pais não haviam nem percebido que eu estava trabalhando. Eu chegava em casa um pouco mais tarde do que o normal, e por incrível que pareça, eles não me perguntaram nada. Era o cúmulo da irresponsabilidade.

Meu mundo, no entanto, começou a se resumir naquele petshop. Eu estudava e conseguia entender as matérias quando associava elas a algum animal. Biologia, como você deve imaginar, se tornou minha matéria favorita. Comecei a sonhar em ser um veterinário. Talvez aquilo fosse realmente para mim.

Em um desses dias maravilhosos em que trabalhei no petshop, estava conversando com um dos coelhos quando percebi um pequeno passarinho acanhado nos fundos da loja. Me aproximei do bichinho com cuidado, tentando descobrir o que havia acontecido. Quando cheguei perto, ele começou a se debater, e eu tive um susto que quase me fez cair para trás.

Voltei ao balcão, peguei uma pequena toalha que servia para limpar e me aproximei novamente do animalzinho. Joguei a toalha sobre ele, e delicadamente o segurei na minha mão. Ele não ofereceu muita resistência, para minha surpresa. O seu bico saiu para fora, procurando ar, e foi quando eu percebi que ele não estava se sentindo muito bem. Seu piado era triste, doloroso. Eu o pus na mesa e comecei a analisá-lo, porém não pude ir muito longe, pois logo uma cliente apareceu. Tive que esconder o passarinho em uma das gavetas pelo resto do dia.

No final do expediente, eu fui incapaz de deixá-lo sozinho ali dentro. Aproveitando que meus pais provavelmente não estavam em casa, eu levei o bichinho até o meu quarto. Lá, pude analisá-lo melhor e com mais calma percebi que ele estava com uma asa quebrada. Eu não sabia nada sobre cuidar de animais, então procurei na internet como se cuidava de uma asa quebrada. Enquanto isso, deixei ele confortável em um lençol velho que eu tinha. Não vou mentir, estava muito preocupado com ele. E se eu não conseguisse salvá-lo? Eu não fazia ideia do que fazer. Mas ao invés de me desesperar, resolvi usar essa preocupação como mais um estímulo para minha pesquisa.

Passei boa parte da noite no computador. Eu não tinha certeza de como fazer o que eu havia aprendido, mas decidi tentar mesmo assim. Lavei a asa quebrada e enrolei ela no corpo dele. Tinha visto que demorava pelo menos duas a quatro semanas para curar. Eu duvidava muito que meus pais deixariam eu ter um passarinho, ainda mais um com asa quebrada, por isso decidi escondê-lo no petshop, para que ficasse protegido e perto de mim.

Liguei para a dona Mirtes para explicar todo o ocorrido, e ela, como uma boa protetora dos animais, concordou com a ideia. A partir daí, passei a ter meu próprio assistente: Juninho, o passarinho.

No início, eu não deixava ele sair da gaveta. Com o tempo, porém, ele foi melhorando ao ponto de não se contentar mais em ficar preso. Passei a deixá-lo em cima do balcão, e toda vez que um cliente aparecia, achava graça dele. Era quase uma marca registrada. Sempre que falavam de mim, era por causa do passarinho: "Vem aí Marley e o Juninho", "Olha lá, é o menino do passarinho".

Eu havia ganhado uma identidade. Quer dizer, Juninho tinha me dado uma identidade. Era engraçado pensar nisso. Eu havia salvado o Juninho, ou Juninho havia me salvado?

Um dia, porém, algo ruim aconteceu. Eu estava voltando do meu trabalho quando cheguei em casa e me deparei com meus pais sentados na sala, me esperando.

"Por que você está tão ausente esses dias, filho?"

Eu não quis responder, e ele continuou: "Eu e sua mãe tememos que você esteja no mau caminho. Se tiver algum problema, pode dizer. Nós estamos aqui para te ajudar."

"Me ajudar?! Desde quando vocês estão aqui para me ajudar?!" Foi o que pensei, mas mesmo assim eu não disse nada.

Subi para o meu quarto, contudo, no meio do caminho um pio veio da minha mochila. Meus pais ficaram em alerta imediatamente, levantando-se do sofá: "O que é isso?!"

Achei aquilo estranho. Eu não levava Juninho de volta para casa. Inocentemente, abri a minha mochila, só para constar que o danado estava escondido ali dentro. Antes mesmo que eu pudesse escondê-lo de novo, meus pais puxaram a mochila de mim, assustados e irritados pela presença do animalzinho. Meu pai me olhou com raiva: "O que significa isso?!"

"É o meu bichinho!" Não pude conter meu grito.

"Desde quando você tem um animal?! Você sabe que nós não queremos animais aqui em casa!"

"Estava mantendo ele fora de casa, no meu trabalho!"

"Que história é essa de trabalho?! Você tem muito o que explicar, rapaz!"

Naquela noite eu tomei uma surra, e fui obrigado a prometer que não traria mais o Juninho para dentro de casa. Felizmente, a casa do Juninho não era ali, então eu não tinha com o que me preocupar... certo?

No dia seguinte, eu voltei ao trabalho apenas para ouvir uma péssima notícia.

A proprietária explicou: "É que o aluguel aqui está muito caro, e eu achei um ótimo ponto pela metade do preço do outro lado da cidade. Infelizmente, vamos ter que nos mudar."

Eu me senti muito mal. Ter que me afastar tanto daqueles bichinhos novamente era uma coisa que eu não queria fazer. No entanto, não podia culpar Mirtes por causa disso. Perguntei a ela quanto tempo a gente ainda estaria ali e ela me disse que seria uma semana. Era só disso que eu precisava.

Naquela semana, fiz tudo aquilo que tinha medo de fazer: abracei os coelhos e os gatos, tentei pegar os peixes no aquário, brinquei de cabo de guerra com os filhotinhos de cachorro. Acima de tudo, aproveitei bem o meu tempo com Juninho. Ele já estava quase se recuperando, e pouco tempo depois, já estaria voando de novo. Sem ele, eu voltaria ser o velho Marley de sempre, então eu precisava aproveitar.

Aquela semana passou rápido. Nos últimos dias, fiquei ocupado tendo que ajudar Mirtes a empacotar as coisas. Quando o dia da mudança chegou, me despedi de todos os animais, incluindo Juninho. Mirtes disse que ia cuidar bem dele. Se eu pudesse abraçá-lo sem esmagá-lo, eu abraçaria. Mas como não podia, me contentei acariciando a sua cabeça. Ele parecia não entender que eu estava me despedindo, o que me doeu mais ainda.

Acenei enquanto o caminhão da mudança e o carro de Mirtes se afastavam do ponto. Senti que uma parte de mim tinha ido embora também. Mesmo assim, virei e entrei em casa. Naquela noite talvez eu tenha chorado, mas nunca ia admitir com tanta facilidade assim para as outras pessoas.

...

Algumas semanas se passaram desde então. Minha vida voltou a ser a mesma, praticamente. Eu consegui outro emprego, em uma outra loja, mas que não era nada parecido com o do petshop.

Em um desses dias, em que voltava do trabalho, fiquei olhando para os fios dos postes, sem ter o que fazer. Alguns passarinhos estavam pousados lá, e voaram quando eu me aproximei. No entanto, quando eu estava prestes a entrar em casa, ouvi um pio familiar. Virei para fora, e vi as cores alegres do meu amigo Juninho, pousadas sobre um dos fios dos postes. Não pude conter um grande sorriso ao ver ele: "Juninho!" disse eu, tentando não gritar.

Ele apenas piou de longe, como se lembrasse daquela vez que meus pais me deixaram de castigo por causa dele. Mas eu podia sentir que ele estava feliz e que, o que quer que aconteça, nós continuaríamos sendo amigos. E que, apesar da distância, ele estaria sempre ao meu lado.

Conto escrito por
Helen Souza

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rosside Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

""

Copyright 
© 2022 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução




Compartilhe:

Antologia

Antologia Sempre ao Meu Lado

Episódios da Antologia Sempre ao Meu Lado

No Ar

Comentários:

0 comentários: