O Céu é o Limite
de Oliveira Caruso
Ícaro é um sujeito tido por muitos como lunático. Obcecado pelo céu,
nada raro é pego olhando para ele como que a perscrutá-lo em toda a imensidão
do espaço sideral. Seja de dia ou de noite, é comum surpreender o cidadão em
suas evasões mentais, como quem namora a lua ou o sol. Se por um lado não
adianta lhe dizerem a crendice popular de que apontar a lua causará verruga no
dedo indicador, por outro ele precisou desde cedo começar a usar óculos de sol
com grau, devido a problemas na visão ocasionados por sua obsessão. Ademais,
como sempre, ainda lhe dói lembrar a morte de Pégaso, seu tão querido alazão,
com o qual cresceu na cidade serrana de Petrópolis (RJ).
Agora já contando quarenta outonos (a estação que mais aprecia), o
petropolitano tem uma lojinha virtual de produtos ligados à aviação, aves,
super-heróis e seres mitológicos alados em Balneário Camboriú (SC). Não faltam
no local alpiste e demais alimentos relativos, canecas, livros, brinquedos,
camisas, chaveiros, tapetes e diversos outros acessórios. Uma vez que o
vendedor é solteirão, consegue manter o estoque em dois dos três quartos do
apartamento herdado dos seus pais num arranha-céus de setenta e sete andares.
Ícaro dorme no quarto que sobra, o qual também é o escritório, ou no sofá-cama
da sala, de frente para a televisão de 65 polegadas na qual constantemente
reprisa películas como Top Gun, que tem Tom Cruise como protagonista, a
impagável comédia derivada Top Gang, com Charlie Sheen, além de tudo
relacionado com as franquias Star Wars e Jornada nas Estrelas.
Outra grande paixão do petropolitano são os livros que abordam os temas
aludidos, sendo as fábulas em que aparecem unicórnios várias daquelas obras
escritas que mais o agradam. Isso ao ponto de ele ao menos uma vez por semana
visitar um haras situado na cidade vizinha Camboriú, imóvel situado a
aproximados quarenta quilômetros da residência onde mora; ao chegar ao local,
Ícaro retira do carro um largo bloco para desenho apoiado numa prancheta, os
diversos lápis pretos e coloridos, além das hidrocores variadas. Costuma deixar
o haras com ao menos um desenho de um dos belíssimos equinos ornado docemente
com asas de unicórnio, como Ventania, do desenho animado She-Ra, uma
forma de matar as saudades de Pégaso. E, de tanto já ter desenhado as crias do
haras e ter deixado lá mesmo diversas das obras a pedido do proprietário do
local, já tem passe livre no local há mais de um ano, tendo chegado ao ponto de
ganhar uma exposição permanente que é bastante frequentada pelos amantes de
tais animais. Todavia, obviamente todos os visitantes e funcionários, durante a
pandemia, precisam utilizar a máscara para proteger a si e ao próximo.
Pois bem. Após uma semana de boas vendas on-line, o homem dorme
tranquilamente no sofá-cama com seu edredom adquirido numa viagem a Hollywood,
roupa de cama que tem estampado um baita helicóptero Trovão Azul, máquina de um
antigo seriado de televisão. Todavia, não é sem espanto que, aos poucos, o
cidadão fluminense capta um som deveras peculiar, o que o faz se espreguiçar e bocejar
bastante antes de esfregar os crespos cabelos castanhos e os olhos verdejantes
da serra: um relinchar! Mas como assim? O apartamento fica no
sexagésimo-terceiro andar! Logo, ele se põe a cogitar, ainda sonolento. Estará
o animal na rua, dentro de algum claustrofóbico caminhão de carga? Terá algum
condômino adquirido um equino e trazido ao próprio apartamento? Se sim, como
passaria pela portaria, pelos inúmeros lances de escada ou pelo elevador social
(ou de serviço, dá no mesmo, pois ambos não comportam mais de cinco pessoas!)
e, por fim, pela ultrachata síndica? Teria sido trazido de helicóptero para
depois descer da cobertura? De fato, a mentalidade extremamente geek (ou
nerd) do nosso querido amigo vai alcançando níveis árduos de se imaginar
mesmo para ele...
Passado o susto inicial e chegando à conclusão de que se empolgou demais
com um dos sonhos, Ícaro resolve se espreguiçar um pouco mais e tomar um curto
banho de sol na janela da sala. Conquanto o astro maior do sistema esteja
parcialmente encoberto por nuvens, alguns fachos beijam a tez escanhoada do
recém-ex-balzaquiano, que por instantes cerra os olhos para senti-los melhor e
respirar fundo rumo a mais um dia de vendas, com a graça do bom Deus. E é
quando reabre os olhos que percebe o inusitado: rasgando as nuvens junto a um
generoso e candente facho de sol desce do céu a galope um baita unicórnio alvo
como um lírio de um matagal virgíneo! As esferas visuais se esbugalham num
misto de estranhamento, temor, ansiedade e alegria, sensações diversas e talvez
até mesmo contraditórias. Então era este o som percebido pelo homem! Ele não se
enganou! “Mas onde estão os anjos e as trombetas anunciando o apocalipse? Ah, a
Bíblia não tem unicórnios no enredo...”, pensa o geek.
Passado o susto sequencial, o vendedor vê o belíssimo animal alado
mitológico mergulhar fundo, rumo às águas da praia, o que faz aquele se
debruçar perigosamente sobre o parapeito, por tão empolgado com a inusitada
situação, e de repente perder o equilíbrio. Durante os segundos de queda, Ícaro
se lembra do jovem cantor popular paulista que faleceu em situação parecida
recentemente, na capital fluminense, e começa a orar a Deus, pedindo mais uma
vez (como a cada dia) perdão pelos pecados cometidos. Passam-se alguns segundos
com ele mal podendo enxergar qualquer coisa abaixo de si, uma vez que cai
contra a resistência do ar, o que faz o vento praticamente cegá-lo durante tal
infortúnio. E é aí que mais algo sobrenatural ganha terreno.
Mesmo sabendo que está quilômetros abaixo das primeiras nuvens e que a
expressão arranha-céus não passa de mera expressão, o cidadão fluminense se
sente atravessando algumas nuvens de algodão (sim, de algodão!) sucessivamente,
as quais lhe amortecem a queda até que ele caia justamente sobre as costas do alazão
alado! Sem tempo para pensar em algo mais (e sem sentir qualquer impacto sobre
as genitálias!), Ícaro agarra a crina do novo amigo e voa com este sobre a
imensidão do mar azul. A sensação é indescritível; o homem vê do alto: a
multidão num gigantesco formigueiro nas areias fumegantes; o próprio
arranha-céus destacado de praticamente todos os demais edifícios; a paradoxal
roda gigante pequenina; o Molhe Zona Sul; o Morro do Careca, entre outras
belezas do local.
O vendedor mal pode acreditar também que consegue ouvir perfeitamente o
cavalgar da criatura, mesmo sem contato dos cascos (estariam equipados com
ferraduras mitológicas?) com o asfalto ou qualquer outro tipo de solo
terrestre! Obviamente o petropolitano logo se lembra de Pégaso e da sensação de
liberdade que tinha ao subir nas costas deste enquanto o animal estava bem de
saúde. Ademais, o relinchar parece ganhar o infinito juntamente com os trovões
emanados de Mjölnir, o martelo de Thor! É fácil até mesmo um sujeito baixinho e
gordinho como o carioca se sentir um super-herói de gibis e filmes
hollywoodianos! E, quando menos espera, mais uma surpresa acontece.
Como uma gaivota em busca de uma corvina vista do céu, o unicórnio
repentinamente aponta o focinho para baixo e realiza um lindo mergulho com as
asas encolhidas para logo depois se tornar um grandioso cavalo-marinho rumo às
profundezas do alto-mar. Uma das coisas de que Ícaro se lembra de ter estudado
é que nenhum ser humano pode mergulhar demasiadamente rápido nem emergir desta
forma, uma vez que a cada dez metros de profundidade aumenta em uma vez a
pressão atmosférica. Traduzindo: a velocidade tem que ser calculada,
principalmente se não dispomos de qualquer aparelhagem de mergulho ou
submarino, pois, caso contrário, os tímpanos podem literalmente explodir dentro
da cabeça, conforme estudado nos tempos de escola.
E qual não é a nova surpresa do cidadão ao mergulhar profunda e
agilmente sem se sentir afetado por tal sorte de problemas nem mesmo sem ficar
desprovido de oxigênio nos pulmões! Mas
parece ter nascido de uma ova já com guelras, nadadeiras e tudo mais (com
exceção das gônadas no lugar do órgão sexual masculino humano, claro...). Nem
dificuldade para enxergar debaixo d’água ele tem!
Ícaro, no trajeto do mergulho, se põe maravilhado diante do que vê. Pode
perceber um cardume de sardinhas com um cardume de tubarões e atuns em volta a
tentar cercá-las. Todavia, junto ao seu novo amigo, ele não teme os predadores
de ocasião. A seguir, diversos morros de corais multicoloridos e ornados com
peixes-palhaço, anêmonas, moreias, assim como diversos tipos de crustáceos.
Depois disso lhe surgem à frente as ruínas de um outrora imponente galeão
afundado há pouco menos de duzentos anos, sendo que a dupla passa a visitar
diversas das dependências do local.
Justamente enquanto o solteirão vai começando a se familiarizar com todo
o surreal ocorrido, eis que o alazão alado então apropriadamente chamado Asas
de Posseidon o conduz ao convés das ruínas. O quarentão de nome mitológico
apeia do animal e principia uma lenta e cuidadosa caminhada pelo pavimento até
que, repentinamente, sente o piso ranger. E como miséria pouca é bobagem, este
não tarda a ruir, fazendo o homem despencar rumo ao pavimento inferior, o que
revela surpresas inolvidáveis na forma de objetos diversos da época em que o
galeão deslizava pelas límpidas águas do litoral sulista e outros mais do
Brasil e do Atlântico.
- Vejo que, depois de muito tempo, eu enfim tenho um visitante. Ou melhor,
dois... – sussurra uma voz misteriosa, que ecoa pelo local.
- Era só o que me faltava: uma alucinação...
- Deixai-me ver se entendi. Vós vendes aqui ao fundo do mar montado num
unicórnio, não tendes a respiração afetada, mas só eu sou uma alucinação?
- Oi? Onde você está? Não é justo; você sabe onde eu estou, mas eu nem a
vi ainda... – diz o apavorado visitante.
- Imagino que não vos assustareis, ao me avistardes...
- Ícaro. Meu nome é Ícaro. E o seu?
- Andrômeda.
Dito isso, o vendedor dos sonhos de diversos nerds sente um
furacão, tubarão ou algum outro fenômeno ou ser vivo passar do seu lado
direito, o que o instabiliza ao ponto de ele se desequilibrar. E, ao se
reerguer posturalmente, eis que Ícaro vê à sua frente um ser tão absurdo quanto
um unicórnio que ainda por cima mergulha até as profundezas das águas salgadas
e enregeladas. A cauda de aproximados dois metros de comprimento coberta de
escamas até as nadadeiras substitutas dos pés humanos; o ventre, as costas, os
seios, os braços, o rosto e os longos e leves cabelos castanhos de mulher bem
servida de beleza. Sim, uma sereia se aproxima saracoteando como os maiores
predadores dos oceanos.
- O unicórnio deve apreciar deveras a vossa companhia. Mantém-se fiel! –
percebe a sereia.
- Eu o conheci há pouco mais de uma hora. Lembra o meu antigo alazão na
minha cidade natal. O nome dele não poderia ser outro além de Pégaso, já que
sou bem previsível, segundo costumam me dizer. Meu pai me deu o animal depois
de eu persistir em não permitir o sacrifício aconselhado pela veterinária; a
cirurgia seria de êxito improvável. Porém, eu segui acreditando e consegui
convencer o meu velho. Pégaso viveu por mais oito anos. Forte e saudável. Só
mancava um pouco.
- Interessante!
- E me lembra também um gavião que vira e mexe espreitava o sítio,
fazendo estragos na granja. Meu pai ficava irado, mas admito que eu admirava a
ave tanto quanto o cavalo. Afinal, este trotando e o gavião voando me faziam
pensar sempre em liberdade. Parecia que se complementavam.
- Já eu fico presa aqui...
A conversa vai se prolongando sobre assuntos os mais diversos para matar
a curiosidade de cada um dos dois, mas não sem Andrômeda relatar ao humano os
inúmeros males que a poluição com dejetos industriais e residenciais causa ao
meio ambiente e, em especial, às águas e à vida residente nestas. Não somente o
esgoto mas também os resíduos plásticos, derivados do petróleo, os quais nada
raro param na glote e no estômago dos animais marinhos. Garrafas pet, redes de
pesca, brinquedos, acessórios... Isso sem falar de metais pesados como o
mercúrio, o cádmio e outros mais.
A seguir, os dois, escoltados pelo unicórnio, nadam não somente por
dentro dos destroços da embarcação como ademais por grutas que a sereia apresenta
ao terrestre, conjuntos de corais e mexilhões, covis de tubarões e de moreias,
entre outras curiosidades a qualquer marinheiro de primeira viagem. O cidadão
fluminense fica absolutamente absorto ante tanta beleza proporcionada pelo
local, ao ponto de se esquecer do fascínio pelo céu e pelos diversos aspectos
deste.
- Quase dois séculos sem companhia... - diz o segundo rebento da
mitologia a aparecer ante os olhos do cidadão fluminense radicado em terras
catarinenses há quase vinte anos.
- Sei que não serve de consolo, mas na minha vida normal, lá na
superfície, eu tenho sido solteirão já faz uns anos também. Não por tantas
décadas, mas o suficiente para me incomodar...
- Não tendes ideia do quanto sofro isolada aqui.
- É impressionante que você vive cá embaixo, porém tem o nome de uma
constelação. Ou seja, mais me parece que vive no lugar errado, já que, assim
como eu, tem o nome diretamente ligado ao céu de Deus! Além disso, numa
constelação várias estrelas convivem. Não acha isso o mais completo
paradoxo?
- Olhando por esse prisma, sim. Todavia, amigo, não posso deixar as
águas do mar para trás. Não sou alguma Iara ou boto. Não me torno inteiramente
mulher, inteiramente humana. Aliás, mesmo que assim me sucedesse, caso
soubessem da minha existência na superfície, seria perseguida e provavelmente
alcançada para que se realizassem pesquisas diversas e dolorosas.
- Verdade. Eles fariam isso de fato...
- Então, considerando que até agora não morreu afogado...
- Nem de hipotermia...
- O que é isso? “Hipo” tem a ver com cavalo. Hipopótamo quer dizer
cavalo d’água. Hipotermia quer dizer unicórnio d’água? – sorri a sereia.
- É um estado em que o corpo apresenta temperatura abaixo do considerado
normal, perdendo o calor natural e passando a exigir cuidados. Normalmente
ocorre, por exemplo, quando um ser humano permanece tempo demais debaixo d’água
sem os devidos equipamentos de proteção mínimos. Hipo, no caso, quer dizer
abaixo de, não cavalo.
- Ah, sim. Como eu estava dizendo, bem que poderíeis aproveitar para
manter uma estada razoável por aqui, não? Afinal de contas, vós apreciastes a
vida marinha, as paisagens e, segundo imagino, a minha companhia...
- Com certeza. O principal é a sua companhia. Mas veja: eu não sou
gordinho à toa. Adoro restaurantes que servem fast-food, o meu
apartamento, o meu trabalho. Além do mais, tenho que dar satisfação a pessoas
que se preocupam comigo: minha irmã; uns amigos e colegas... Adorei o local,
mas, definitivamente, preciso voltar à minha vida normal, Andrômeda. Prometo
revê-la em breve. Juro.
- Sinto muito, mas não é o suficiente, querido...
Como resposta, a sereia tem seus braços transformados em tentáculos de
polvo, os quais se esticam no sentido de Ícaro, com o intuito de aprisioná-lo.
Entretanto, dotado de uma velocidade que jamais demonstrou antes na superfície
e, mesmo contra a resistência da água, ele se agacha e se estica, saltando o
suficiente para se agarrar a Asas de Netuno, que dispara tentando emergir sem
delongas. Andrômeda, indisposta a perder o seu companheiro de ocasião, começa a
perseguir a dupla. O animal encara diversos obstáculos em sequência, com o
intento de despistar ou, no mínimo, atrasar a sereia, que a esta altura já tem
seus braços humanos restabelecidos. Após alguns quilômetros percorridos, a
dupla não vislumbra qualquer sinal da caçadora, o que os alivia na busca pela
final emersão. O homem afaga o animal assim que ambos deixam a água salgada e
sobrevoam a praia.
Quando menos Asas de Netuno e Ícaro esperam, vislumbram uma gigantesca
ave, como o gavião da liberdade de que o vendedor se lembra de ter visto na terra natal. Na verdade trata-se da
Fênix, criatura que retrata a redenção de Andrômeda. Vendo que a sereia sofreu
mutação para se adaptar à nova caçada, a dupla tenta despistá-la realizando
ziguezagues entre os edifícios locais, o que não surte o efeito desejado. Por
conseguinte, o animal, ciente de que a caçadora não tem tanta experiência em
voo quanto ele, inicia uma subida rumo à estratosfera.
A ave segue ganhando terreno e, de repente, o unicórnio, que é a
extensão perfeita do corpo de Ícaro, começa a se sentir mal. O imponderável
acontece: como na lenda do homem que tenta alcançar o sol, com a chegada à
estratosfera, as asas do animal começam a derreter feito cera, o que faz ambos
despencarem no sentido do fatal bico da Fênix, que a esta altura se torna um
corvo, ave que conduz os seres humanos à morte segundo algumas culturas
anglo-saxãs. Justamente quando o bico gigante arreganhado vai abocanhar (com o perdão do trocadilho) a dupla...
Eis que aos poucos Ícaro abre os olhos após aproximadamente um mês num
leito de hospital público do SUS para tratar dos efeitos nefastos da COVID-19.
Tétis, sua irmã caçula, que reside próximo ao hospital, corre ao recinto e,
diante do irmão sem a máscara do aparelho respiratório, o abraça como se não
houvesse amanhã. Abraça-o como a ninfa do mar grega da qual seu nome se origina
seria capaz de, após a queda do mortal Ícaro, abraçá-lo nas águas.
Após uma conversa tão esperada entre os dois familiares, a caçula sai à
cantina para comprar um lanchinho ao irmão primogênito. E é aí, na saída de
Tétis, que surge mais alguém. Um anjo completamente trajado de branco surge à
porta: a enfermeira que cuidava do vendedor geek desde a internação
deste. Novamente, assim como no surreal sonho, Ícaro arregala os olhos ante o
imponderável.
- Andrômeda? – pergunta ele embasbacado e ainda exausto o
paciente.
- Quase. Andreia. Mas, se você chegou aqui inconsciente, como quase
acertou o meu nome?
- Pressentimento. Você tem cara de Andreia...
- Estou sabendo que você é o famoso vendedor de produtos geek da
orla! Eu sou aficionada por isso! Quebrando o protocolo do hospital será que eu
poderia aparecer lá na sua loja dia desses, depois de você estar totalmente
restabelecido? – pergunta a extrovertida e interesseira profissional da saúde,
aproveitando-se da saída de Tétis.
- Eu vendo pela internet. – responde secamente o paciente, ainda se
lembrando do sonho como quem se lembra de um aviso e desejando apenas distância
da moçoila.
- Que pena! É que você me deixa nas nuvens... – sussurra ela no ouvido
direito do cidadão fluminense.
- Sei... Aliás, como vocês só têm bife a cavalo no almoço. Acho meio
cruel chamarem assim o bife, já que perdi o meu alazão e até hoje ele me faz
falta. Minha irmã acabou indo comprar um lanche para mim. Bem que o cardápio
poderia ser mais variado... – reflete o nerd, saudoso do cavalo. - Bem
que, se essa potranca não me parecesse tão interessada no meu dinheiro, eu
poderia tentar pôr uns arreios nela para curtir a liberdade junto... – pensa
depois de vê-la desfilar no sentido da porta.
Andreia olha de soslaio o paciente e, antes de se retirar, liga a televisão. É aí que Tétis volta ao quarto. Enquanto degusta o lanche e percebe já sentir o gosto do mesmo, Ícaro cai na real (perdão por mais este trocadilho bobo...) e vê no noticiário local uma reportagem acerca da poluição das praias de Santa Catarina, o que o faz se lembrar do aviso de Andrômeda durante o sonho. Brota a sementinha da politização, com o vendedor começando a amadurecer a ideia de se tornar vereador pelo Partido Ambientalista. Quem sabe se, começando a cuidar de Santa Catarina, daria exemplo aos outros seres humanos e um dia poderia começar a cuidar do Brasil inteiro, inclusive da Amazônia. Seu medo é, após eleito, se sentir um peixe fora d’água. Mas antes de mais nada sabe que tem que passar a participar da coleta seletiva do condomínio (papel, plástico, vidro e metal), descartar o lixo tecnológico e os resíduos de medicamentos nos lugares apropriados, entre outras medidas. Todavia, quanto à sua vida em geral, ele tem uma certeza: o céu é o limite!
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Cristina Ravela
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