Mia - Amor à Primeira Vista
de Mida
Ao ouvir seu reclame
saltei da cama e fui para a cozinha, cortei um pedaço de melão, que ela gosta
muito, coloquei no prato e ela comeu. Não rejeita comida nunca. Come batata
assada, melão, mamão, e muitos alimentos do cardápio da dona. Em seguida,
coloquei na seringa umas gotas de dipirona com um pouquinho de água e a fiz
tomar, para que acalmasse a dor e voltasse a dormir.
Voltamos juntas ao quarto, acomodamo-nos cada uma em sua
cama, aproveitei e fiz uma massagem no pescoço e um carinho e ela encolheu-se
toda e dormiu até a manhã seguinte.
Deitei-me também, porém diferente dela que roncou logo em seguida,
demorei para pegar no sono novamente, e durante a insônia, fui visitada pelas
memórias de minha
vida com a Mia - a cachorrinha que vive a meu lado há 15 anos.
Lembrei-me das artes
que fazia quando bebezinha. Roía tudo o que via pela frente. Não gostava de
brinquedos, gostava mesmo era de roer os pés das camas, as pontas dos edredons,
os bancos da cozinha, e os sapatos deixados na entrada da casa.
Naquela manhã de começo de primavera, uma quinta-feira
fresquinha, ninguém sabe explicar como ela ficou dentro de casa quando saí para
trabalhar. Ao retornar eis a surpresa. Havia ficado e passado a manhã dentro de
casa roendo os sapatos, usados uma única vez.
Acabou com eles!
Ao abrir a porta descarreguei o casaco, a bolsa e tirei o calçado. Ela veio ao meu encontro
fazendo a maior festa, porém saiu carregando o sapato que eu recém havia
tirado.
Suspeitei
logo! Olhei para o canto e lá estava o sapato novo do dia anterior – usado uma única
vez... roído! Naquele dia fiquei uma fera, chamei-a e peguei-a no colo dizendo repetidamente:
- O que você fez hein sua malandrinha, feiosa! Roeu o
sapato novo da mamãe, de novo! Assim não dá! Baixou a cabeça entre meus braços
dando a impressão que não queria ouvir o sermão, parecia envergonhada pelo que
fizera. Claro, daquele dia em diante, os sapatos passaram a ser guardados nos
armários fechados para que ela não os roessem mais.
Esta cena repetiu-se algumas vezes com chinelos e tênis dos
filhos, durante o primeiro ano de vida ou quando ficava em casa sozinha, ou
quando nos distraíamos nos afazeres de casa. Durante seu primeiro ano de vida
aconteceram os maiores incidentes de destruição de objetos de seus donos.
Em junho de 2005, quando vieram para minha casa ela e seu
irmão, lembro que ao chegar na escola para trabalhar, uma colega estava com um
casal de cachorrinhos, no portão esperando a pessoa que viria pegá-los em
doação, conforme combinado anteriormente.
A pessoa, que iria adotá-los, não apareceu. Sua dona tinha
mais cinco cachorros em casa. Três irmãos dos filhotes que estavam para doação,
a mãe e o pai deles. Desolada, disse: - é muito cachorro na minha casa, preciso
doar. Quando vi aquela cachorrinha branca e preta com umas malhas marrons no
focinho e na cabeça, fiquei apaixonada. Ela rolava no chão com o irmão, um cachorrinho todo
preto, lindo! Foi amor à primeira vista.
Minha amiga disse: - a Pirata mãe deles, não tem mais leite
para amamentá-los.
Olhei para a amiga e disse: a pessoa que não veio pega-los
perdeu a vez, Você me dá os dois? Ela me olhou, deu um sorriso desconfiado
dizendo: - são seus e completou são ‘tombalatê’,
não tem uma raça definida. Eu respondi, não me importo!
A primeira
providência, no sábado, foi levá-los ao veterinário para as vacinas e os
vermífugos. Na elaboração da ficha eu não sabia a raça, a secretaria chamou o
veterinário que disse: malhada de preto, branco e marrom é parecida com - Fox
Paulistinha e o irmão um Buldogue preto, lindo! Pena que ele faleceu na semana
seguinte.
Desde a chegada de ambos à nossa casa, Mia era uma festa.
Forte, esperta, e muito prestativa. Dormia na minha cama e no sofá ao meu lado
quando ia ver televisão.
Era só deitar que vinha ela numa corrida e se jogava sobre
quem estivesse deitado. Sempre foi muito mimosa e protetora da sua dona e de
toda a família, desde bebezinha.
O nome foi dado pela minha filha, em homenagem a uma artista
componente da banda mexicana Rebeldes, que estava em alta na época.
Com
mais ou menos dois anos de idade fugiu de casa e apareceu prenha. Deu à luz a
um filhote, que sobreviveu por algumas horas. Sofreu muito com a perda e cada vez
que sentia saudade, vinha ao
meu colo pedir carinho.
Em 2011, realizamos uma reforma na casa e ela entre a
bagunça se divertia e aproveitava a distração dos donos para fugir, visto que o
portão ficava aberto. Foi atropelada por um motoqueiro e teve uma fratura na
bacia.
O veterinário, após a consulta nos disse: o acidente foi
grave, quebrou a bacia e se melhorar vai ficar com sequelas, poderá não andar
mais, tendo que ser adaptada a um pequeno andador. Deu um diagnóstico fatídico
e não deu previsão de saída da clínica.
No dia seguinte ao acidente,
minha filha foi à clínica
e ao chegar tomou um susto. Ela estava em pé, porém muito abatida. Voltou ao
carro e me chamou. Quando cheguei perto ela se urinou toda e parecia chorar.
Pedi ao veterinário se podíamos levá-la para casa. Sim, pode! Disse o veterinário,
desde que limite o espaço para ela andar e a medique certinho.
Em três dias estava saltitando e correndo pelo pátio cheia de
energia e alegre. Passamos a cuidar mais para que não fugisse. Ela ficou mais
presa até acabar a reforma.
Em
2012 sem que ninguém visse ou imaginasse apareceu prenha novamente. Como diz
meu amigo biólogo: as cachorras são mágicas, sem que você imagine, quando estão
no cio, fazem coisas que até Deus duvida.
Na segunda gestação deu à luz a três cachorrinhos. O
primeiro, muito grande para o tamanho dela, e assim como os outros dois
sobreviveram algumas horas após o nascimento. A veterinária não soube explicar
a causa morte dos filhotes, já que Mia tinha saúde perfeita. Foi um sofrimento
para ela novamente, e para todos da família. Com o objetivo de aliviar a dor,
Mia passou a ser ainda mais paparicada.
Alguns dias após o
parto de Mia, a cachorra de um amigo do meu filho deu à luz a 10 cachorrinhos,
e faleceu em seguida. Meu filho com dó dos bichinhos com fome trouxe dois para
nossa casa para ver se aliviava a dor e a perda que Mia sofrera. No primeiro
momento, rejeitou os filhotinhos adotivos. Arredia, os olhava de longe, mas
dois dias depois ao ouvir o choro dos mesmos, foi até onde estavam, deitou-se e
permitiu que se fartassem do seu leite.
O coração de mãe, se
sensibilizou com os que estavam sofrendo a dor da perda como ela, com a falta
do carinho, do aconchego e do alimento. Um tempo depois passou a rejeitá-los,
pois estavam grandes e a mordiam durante as mamadas.
Meu filho arrumou um novo lar para os cachorros adotados e
Mia voltou a reinar soberana na casa. Sempre muito atenta a qualquer ruído,
visitas, pessoas que passam pela rua, procurava com seu alarde avisar a
aproximação. Porém ao chegar uma visita ao portão e ao abri-lo era só dizer.
Mia é amigo(a). Rosnando, arrepiada e desconfiada, aproxima-se, cheirava o
visitante e acompanhava-o até entrar. Até hoje tem este hábito.
Agora, com a idade, está muito caseira, sente crises de
pânico/ansiedade, fica desesperada mesmo no colo da dona, quando entra no
carro. Ao voltar de passeios curtos, ou do veterinário, aconchega-se na caminha
durante horas, esperando que tudo se normalize e passe a crise.
2015 nasceu a minha
neta Isadora, e desde então tentamos o estreitamento de laços entre as duas. Mia
sempre deixou claro que sentia ciúmes e que não queria saber de muita amizade. Quando
Isadora começou a andar e insistia em lhe fazer carinho, rosnava e quando não
havia ninguém por perto, mordeu as mãozinhas dela por duas vezes. Isadora não
desistiu de lhe dar carinho. Hoje, Mia confia plenamente na amiga, que não irá
tomar seu lugar na família.
Em 2017 após uma crise de tosse e numa das consultas ao veterinário
descobrimos que estava hipertensa e com o coração aumentado e isto lhe causava
desconforto. Desde então passou a tomar medicamento para cardíaco e para a
coluna, pois o aumento do órgão e a idade mexeram com a estrutura óssea. Atualmente
está tomando medicamento para a coluna, pressão alta, além dos vermífugos e
vacinas.
Com 15 anos completos não aceita que estranhos lhe façam
carinho. Só implica com Mel, a gatinha da Beatriz, uma das vizinhas. A gata
veio morar na casa vizinha faz uns seis meses e desde o início entrou no pátio pelas grades
chamando atenção da Mia, rolando-se e miando perto dela e tentando aproximar-se
do seu pote de comida. Mia deixa que ela coma.
Mia rosna e tenta
espantá-la, mas Mel
insiste. Acho que com paciência, vai conquistá-la como o fez Isadora, já que é uma cachorra com
um grande coração. Mesmo sentindo ciúmes, aprecia a visita da amiga, que vem,
todas as manhãs, comer na sua vasilha.
As investidas de Mel estão construindo uma linda amizade e
fidelidade, tal qual a de Mia com seus donos. Espero que ambas possam viver
dias felizes juntas e dividir as brincadeiras, no jardim.
Recentemente uma amiga, que seguidamente, me visitava,
quando Mia era bebê, ao vê-la recentemente, disse: - esta é a Mia daquele
tempo? Está velhinha! Mas continua esperta e barulhenta, fazendo sua função: cuidar
da sua dona, com galhardia, latindo no jardim e no portão e avisando que alguém
se aproxima.
Nos
últimos tempos percebi que o comportamento de Mia sempre foi o mesmo, faz a
maior defesa do seu ambiente e dos donos. Na chegada de alguém, quando abro o
portão e digo, Mia amigo/amiga ela vem para o meu lado e fica observando a
movimentação e a conversa. Tenho certeza que caso haja qualquer intercorrência,
me defenderá.
A poucos dias recebi umas amigas num domingo de manhã e ela
ficou aos meus pés a nos observar. Uma delas, que também tem uma cachorrinha,
observou, e disse: - ela está atenta a tudo e te cuidando, não perde um
movimento e fica em volta de você sempre que alguém levanta e se aproxima. Desse
dia em diante e da última noite de insônia devido ao mal-estar que ela sentiu e passei a
observá-la melhor. Avaliei que está ao meu lado para o que der e vier, o que está me fazendo pensar
no fato de perdê-la
um dia. Sou grata a Deus por tê-la ao meu lado, sempre me esperando, e quando chego vem logo dizendo
em sua língua, por que você demorou tanto?
Quando estou escrevendo deita-se aos meus pés e se manifesta quando quer
comida ou água ou sair para as necessidades. Se levanto para lanchar ou fazer
as refeições tenho companhia. Ao lado da mesa, come frutas no café da manhã e
espera o remédio, para o coração, escondido em uma pontinha de salsicha, ou
bolinha de carne.
Nas últimas noites frias de inverno, sente dor nas
quebraduras decorrente dos acidentes de percurso e nas articulações. Enquanto
permanecia
acordada, pensei, no que faremos uma sem a outra, visto que somos idosas e
inseparáveis. Não sabemos quem se transformará em estrelinha primeiro, como diz
minha neta Isadora, quando sabe que alguém faleceu. O que pensei na insônia daquela
noite, virou este texto, onde registro, o amor, a amizade e o companheirismo
entre eu e ela, desde a manhã que nos conhecemos.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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