Odílio desliga o rádio, logo que ouve o barulho da porta. Odilon entra.
– Opa. Tava boa a conversa com a moça lá? – questiona Odílio.
– Ah, ela é a Tereza, filha da dona Creuza – diz Odilon, sorrindo. Cê conheceu a dona Creuza lá na missa naquele dia. É a dona da pensão que eu fiquei. Foi as primeiras pessoas que eu conheci quando vim pra cá: a dona Creuza, a Tereza, e o irmão dela, o Pedro. O Pedro até trabalha na fazenda do seu Irineu. Ele também falou das mesmas coisas que o Pirão tinha dito; das disputas de terras...
– Rapaz, para de conversa fiada; não tem briga nenhuma de terra aqui. Quem cê quer enganar? O seu Irineu manda na cidade sozinho. Todo mundo sabe disso. Ele é o dono da cidade.
– Eu só tô dizendo o que eu ouvi quando vim pra cá. Mas eu também tô achando que não tem briga por causa de terra aqui. Pode ser que teve muito antigamente, mas quem vai saber, né? – Odilon justifica.
Odílio esfrega as mãos no rosto, bastante irritado. Seu rosto já está vermelho novamente.
– Puta que pariu! O que eu fiz pra merecer isso? Pra que que eu fui prometer coisas pro seu irmão? Rapaz, você é um estorvo.
– Se você tá arrependido eu te dou a sua parte e você vai embora, mas eu não admito ocê continuar falando assim comigo – diz Odilon.
Odílio dá uma gargalhada.
– Dar a minha parte como? Você tem dinheiro escondido no colchão? O dinheiro que a gente tinha já se foi todo; nós só temos alguns tostões. E também temos um monte de caixões juntando poeira. O dinheiro que nós gastamos não tá voltando. Você consegue entender essa lógica ou é burro demais pra isso?
– Mas vai melhorar, Odílio. Eu já falei.
– Sei. Do nada vai começar a morrer gente aqui?
– Você também não para de falar, Odílio. Fica repetindo a mesma coisa direto. Você acha que eu também não me preocupo com a empresa?
Odílio se levanta e deixa Odilon falando sozinho na sala. Entra no seu quarto e tranca a porta. Ele se abaixa, ficando ajoelhado ao lado da sua cama. Enfia um dos braços pra baixo dela e puxa uma pequena caixa de madeira. De dentro dela, ele retira o seu revólver calibre 38. Ele fica um tempo olhando para a arma. Destrava o tambor e confere as seis munições. “As coisas vão começar a mudar por aqui. Vai começar a morrer gente em São Pedro”, pensa Odílio com um olhar ameaçador.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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