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Funerária Dois Irmãos: Capítulo 09

Novela de Marcelo Caronesi
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FUNERÁRIA DOIS IRMÃOS - CAPÍTULO 09




 

            Num ponto comercial de frente à praça está localizada o comércio de Odílio e Odilon: “CASA FUNERÁRIA DOIS IRMÃOS”. O local é bem organizado, tendo alguns caixões em pé, expostos numa parede, e cadeiras na parede oposta. Numa mesa de escritório está Odilon sentado, brincando com um lápis e uma borracha. No cômodo de trás fica o estoque com mais de duas dezenas de caixões.

         A tranquilidade do lugar é quebrada, logo que Odílio chega subitamente carregando uma mala, com a sua irritação peculiar e vestindo o seu melhor paletó. De dentro do estabelecimento joga a bituca do cigarro para a rua.

         –  indo pra São Paulo.

         – Mas por que você não me avisou antes? E se acontecer alguma coisa? Como que eu vou fazer sozinho? – questiona Odilon.

         – Não vai acontecer nada. Nunca acontece nada. E se acontecer, não vai ser nada que você já não saiba fazer.

         – Mas o que  tem pra fazer em São Paulo? – pergunta Odilon, demonstrando preocupação.

         – Tenho umas coisas pra resolver lá. Encontrar uns amigos que me devem uns favores.

         – Mas quanto tempo você vai ficar fora, Odílio?

         Odílio começa a se irritar com a preocupação de Odilon devido a insistência dele em querer saber demais sobre sua viagem para a capital.

         – Eu sei lá, caramba! Uma semana; no máximo uns dez dias. Talvez uns dias a mais. O tempo que precisar.

         Odílio se vira e sai, sem se despedir de Odilon. Chega até a porta do prédio e sai pelo lado esquerdo; indo a caminho da parada, onde o ônibus já está parado e com passageiros subindo. Odilon se levanta e vai até a porta. Ele olha para o lado da calçada, por onde Odílio seguiu. Lá longe, ele vê Odílio caminhando apressadamente, se aproximando do veículo. Sem que Odilon perceba, Tereza por trás, lhe dá um susto, batendo em suas costas e gritando.

         – Ei! Você quer me matar do coração?

         Tereza ri. Odilon começa a sorrir também.

         – Isso não se faz, viu? Se a pessoa tiver problema de coração ela pode morrer! – repreende, Odilon.

         – Brincadeira, seu bobo – diz ela. Seu irmão vai viajar?

         – Tá indo pra São Paulo. Disse que tinha umas coisas pra resorvê lá por uns dias.

         – Por que o Odílio é tão esquisito, Odilon? Encrenca com tudo. Só vive de cara amarrada, aporrinhado – questiona Tereza.

         – Ele sempre foi assim; brabo, de mal com a vida. E ele só é preocupado demais comigo; tem muito cuidado comigo. Era assim com a minha mãe também.      

         Tereza puxa Odilon pelo braço e eles se sentam em duas das cadeiras que estão encostadas numa das paredes. Tereza o abraça apresentando uma certa tristeza.

         – Eu acho isso estranho isso. Minha família sabe do nosso namoro, mas seu irmão não pode saber da gente.

         – Eu vou falar com ele quando ele vortá. É porque ele é muito ressabiado com as pessoa que não conhece. Mas, quando ele vortávamo marcar um almoço; assim as nossa família ficam se conhecendo melhor e todo mundo vira amigo.

         – Mas mesmo assim, ainda acho ele estranho. Até quando tá no bar do seu Pereira, o pessoal diz que ele é de pouca conversa, que tem poucos amigos. Tem gente que diz que ele não gosta de gente pobre. Será que é por isso que ele não gosta de mim?

         Odilon acaricia Tereza e a consola:

         – Não é isso. O jeito dele é esse. E o que interessa é que eu gosto docê. O resto não importa.

         Tereza sorri, acaricia o rosto de Odilon.

         – Eu tava pensando um negócio aqui – diz Tereza.

         – No que  tava pensando?

         – Já que seu irmão vai ficar um tempo em São Paulo, por que a gente não vai pra nossa cachoeira amanhã? Das veiz que a gente foi, tivemo que vortá na ligeireza. Com ele viajando, a gente podia passar mais tempo lá. E também...

         Tereza baixa a cabeça envergonhada e ri. Odilon também ri.

         – O que foi?

         – Cê podia ir lá pra casa e dormir comigo a noite toda. Toda vez,  tem que ir embora logo porque seu irmão pode acordar e não te ver em casa. Só que aí gente passava a noite toda junto e cedinho, antes da mamãe acordar,  ia embora pra sua casa – pede Tereza.

         – Vamo pra cachoeira do Jaú então. Dormir na sua casa eu não sei. Sua mãe pode descobrir e eu tenho muito respeito por ela. Eu não quero que ela pense mal de mim.

         Tereza sorri. Ela e Odilon se beijam.

escrita por
Marcelo Caronesi

elenco
Odilon
Odílio
Tereza
delegado Ferreira
Onça-parda

tema
Canções de Assassinato 

intérprete
Confraria da Costa

direção
Carlos Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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