QUANDO ANA OLHOU PARA A DIREITA - CAPÍTULO 07
Letícia chegou empolgada à delegacia, perguntando a Ana como havia sido sua aventura na casa dos tios na noite anterior.
— E aí? Como foi visitar um chefão do crime? — cochichou
Letícia.
— Por incrível que pareça, foi legal. Meu tio sempre foi
muito simpático, mas também pudera... ele se acha o Pablo Escobar dos Campos
Elíseos — respondeu Ana. — Duro mesmo foi ter que chamar a esposa dele de tia.
— Não gosta dela?
— Ela é ótima, mas tem a minha idade. Além de ter o
cabelo mais maravilhoso do mundo — disse Ana com um tom de voz e uma expressão
de inveja no rosto. — Olha isso! — completou enquanto mostrava as fotos do
casal de tios no Instagram.
— Nossa! Seu tio é bonitão! Imaginava ele gordo com uma
cicatriz no rosto. — Afirmou Letícia aos risos.
— De onde tirou isso? Dos filmes? — perguntou Ana. — O Tio
Dimitri é bonito, sim — concordou enquanto acessava sua agenda de telefone.
— Esse foi o preço do jantar de ontem — disse Ana,
mostrando o celular para que Letícia lesse o nome na tela.
— O que é C.A.
Ronte? — perguntou Letícia
— Carlos Alberto Ronte. Um barqueiro de Santos. Meu tio
disse que esse cara pode ajudar no caso. — Disse Ana empolgada. — Temos um
informante!
Antes de ligar para o informante, Ana fez uma busca para
tentar descobrir alguma coisa sobre ele. Não encontrou nada sobre o barqueiro,
mas claro que aquele poderia nem ser o nome real dele. O importante era que ela
tinha seu telefone e faria contato em breve.
Ana esperou até 10h da manhã para que pudesse fazer
contato com o possível informante.
— Alô! Gostaria de falar com o senhor Carlos Alberto Ronte.
— E quem gostaria? — respondeu um homem do outro lado da linha.
— Meu nome é Ana Torosídis. Sou detetive da polícia de São Paulo. Quem me passou seu telefone foi meu tio, Dimitri Torosídis. Ele disse que você poderia me ajudar em um caso.
Após alguns segundos, o homem falou novamente.
— Tudo bem. Me encontre hoje
às 16 horas no chalé Aquaronte. Fica na ponta da praia. É fácil encontrar — disse
ele, desligando o telefone logo em seguida.
Ana anotou o nome do chalé em um pedaço de papel em sua
mesa. Ao desligar o telefone, pesquisou o local na internet para saber do que
se tratava, mas não achou nada demais, apenas um pequeno quiosque de praia.
Salvou a localização e, após o almoço, desceu a serra em direção a Santos para
encontrar o informante.
Era
estranho ir à praia com roupas formais, então ela passou em casa, calçou um par
de tênis, vestiu uma calça jeans e uma camiseta estampada. Chegando na cidade,
Ana dirigiu até a orla da praia indicada. A Ponta da Praia era pouco utilizada
pelos banhistas, pois era uma região de muitas embarcações náuticas.
Mesmo
sendo uma detetive com experiência, Ana sentia certo nervosismo quanto a esse
tipo de ação com informantes. Mas Ana sabia que seu tio não a colocaria em uma
situação complicada ou perigosa sem avisá-la. Ao estacionar próximo à praia,
caminhou alguns metros e avistou o ponto de encontro. O chalé Aquaronte era um
dos poucos abertos naquele horário.
Ao se
aproximar, um homem bem magro, sentando próximo ao balcão, acenou com a mão. O
homem aparentava ter pouco mais de 50 anos, mas seu rosto com muitas marcas de
expressão e o cabelo grisalho desleixado o envelheciam alguns anos.
— Venha
detetive. Sente-se! Aceita alguma bebida? — disse Ronte, arrastando o cardápio
em direção à cadeira que Ana se sentava. — É por conta da casa.
— Apenas
uma água. Obrigada!
— Então,
seu tio Dimitri mandou você aqui? — disse ele com um sorriso que aparentava um
deboche.
Sem
muitas delongas, Ana foi direto ao assunto e perguntou ao homem o que ele sabia
sobre o tráfico de pessoas que acontecia em São Paulo.
— Calma
lá, querida! Vamos negociar primeiro. Outra coisa, não aceito ser gravado.
Ana
concordou com a cabeça e retirou da bolsa quinhentos reais em notas de cem.
Conferiu se havia pessoas ao redor antes de entregá-las ao informante.
— 500 reais
por uma boa informação — ofereceu Ana.
— Uma
boa informação vale bem mais que isso — retrucou Ronte.
— Primeiro,
as informações. Se ela for boa e relevante, nós negociamos novamente.
Ronte
pegou as notas, conferiu o valor e colocou no bolso de sua bermuda. Após um
gole em sua cerveja, ele começou a falar.
— É o
seguinte. Existe sim um esquema grande em São Paulo. Eu cheguei a trabalhar pra
eles há muito tempo, mas navegar com pessoas felizes na praia é melhor do que
com mulheres amarradas no porão do barco.
Ana
ficou espantada com a revelação do barqueiro e pensou como ele tinha coragem de
dar essa informação que ele mesmo fez parte do esquema, sem medo e com tanta
naturalidade.
— O
foco principal do esquema são mulheres. Eles mandam essas mulheres para vários
lugares do Brasil, mas principalmente pra fora do país.
— Estou
investigando a morte de duas jovens em São Paulo. Ainda não conseguimos
identificá-las, mas que acredito que possam ter ligação com esse esquema.
— Pode
ser, detetive. Sempre há algumas perdas no processo.
— Na
época que trabalhei pra eles, eu levava mulheres para o Rio e para o sul do
país, pela costa. Mas acabei ficando pouco tempo — continuou contando após mais
um gole. — Seu tio, Dimitri, me ofereceu trabalho, acabei ficando em terra
firme por um tempo.
Todas
as informações recebidas eram lançadas rapidamente na caderneta de anotações de
Ana. Qualquer conteúdo da fala podia ser crucial para as investigações. Ana
continuava tentando tirar o máximo de informações do barqueiro.
— Seus
créditos acabaram, menina! — disse Ronte com uma expressão cínica. — Se quer
informações mais quentes, vai precisar dobrar a gorjeta.
Ela
sabia que a polícia não disponibilizaria de mais verba para a operação, mas a
história acabou lhe deixando ansiosa por mais informações. Então, resolveu
pagar do próprio bolso.
— Tudo
bem, mas preciso ir ao banco para sacar o dinheiro — disse Ana, arrastando a
cadeira com um movimento para se levantar.
O
informante soltou uma risada, esticou o braço no balcão alcançando uma máquina
de cartão e disse a ela:
— Não
somos animais. No débito, por favor!
Após a
situação inusitada em pagar um informante no cartão de crédito, Ana seguiu
questionando por mais informações sobre o esquema. Aquele pagamento tinha que
valer realmente a pena.
— Vou
te dar um antigo endereço onde eu me encontrava com eles, mas acredito que não
utilizem mais esse lugar — disse Ronte, abrindo uma surrada caderneta de
contatos.
Ana
anotou o endereço enquanto ele continuou falando.
— Há
algum tempo, ouvi dizer que um dos transportadores que faz a minha antiga rota
fica no Guarujá. Aquela região cheia de bacanas é ótima para o esquema. Muitas
festas, lanchas e promessas de vida fácil para oferecer às meninas ambiciosas.
— Como
encontro esse transportador? Qual o nome dele? — questionava Ana, aflita por
mais informações.
Ronte
disse que precisa sair, pois tinha uma turma de turistas lhe esperando para um
passeio de barco. Levantou-se, tomando o último gole de sua cerveja, e disse a
Ana:
— Não
posso te ajudar mais, menina.
— Quero
pelo menos um nome. Eu te dei muito dinheiro pra isso — retrucou Ana, também se
levantando bruscamente da cadeira.
Então
o barqueiro colocou o copo no balcão e disse:
— Medusa.
— Ele se despediu de Ana com uma reverência, debruçou-se sobre o balcão, pegou
as chaves do barco e deixou Ana pra trás enquanto ela anotava o nome e guardava
sua caderneta na bolsa.
Ela tentou
ainda falar com Ronte, que já caminhava na areia em direção ao barco, mas em vão.
Ele seguiu seu caminho dando apenas um aceno de mão, sem se virar pra trás.
Ana
também foi embora imediatamente. Entrou em seu carro e ficou sentada por um
tempo tentando juntar todas as peças e informações dadas pelo barqueiro. Ainda
havia sol, mas sabia que o trânsito não lhe ajudaria a chegar cedo na
delegacia. Acabou se permitindo dirigir até outra praia para curtir aquele fim
de tarde com um banho de mar.
Parou
na famosa Praia do Gonzaga, que estava praticamente vazia. Entrou em uma
pequena loja, comprou um biquíni e uma saída de praia branca que a cobria até
os joelhos. Ana andou em silêncio pela areia por um tempo com sua túnica branca.
Aquela paz que ela sentia era como se caminhasse pelo céu, olhando para o mar
enquanto as ondas acariciavam seus tornozelos. Mesmo que tímida, resolveu tirar
sua saída de praia, deixou-a na areia junto com uma toalha que também havia
comprado e entrou no mar.
Após
aquele momento relaxante que Ana não experimentava há muito tempo, ela retornou
para São Paulo para continuar a seguir sua vida estressante. Mas, pelo menos
agora, enfim, ela tinha uma informação real sobre o caso do tráfico de pessoas
e poderia montar um caso em cima disso. Entretanto, no momento, ela só queria
chegar em casa e ter uma boa noite de sono.
Encerra com a música: (Eu Vim De Santos Sou Charlie Brown - Charlie Brown Jr.).
elenco
Larissa Manoela como Helena Torosídis
Cristina Ravela
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