QUANDO ANA OLHOU PARA A DIREITA - CAPÍTULO 08
Na manhã seguinte, Ana foi uma das primeiras a chegar na delegacia, e já preparava vários documentos e pistas que conseguiu levantar nos últimos dias para apresentar ao seu chefe. Para convencê-lo a abrir oficialmente um caso sobre o tráfico de pessoas na cidade, ela organizou uma pequena apresentação na sala de reuniões. Além do chefe, ela solicitou também alguns companheiros que pudessem colaborar de alguma forma ou saber de informações.
— Bom dia a todos! Vou direto ao assunto. Como ainda não
tivemos sucesso em identificar as jovens encontradas mortas na semana passada,
muito menos algum suspeito, partimos para uma suposição que poderiam ser
vítimas de um esquema de tráfico de pessoas — dizia Ana enquanto apontava para
o quadro negro com várias informações anexadas a ele.
A equipe estava bem atenta às falas de Ana,
principalmente seu chefe, o Delegado Belfort. A assistente de Ana, Letícia,
também entrou na sala, colocou um copo de café ao lado da detetive e se sentou
ao fundo.
— Venho levantando dados e pistas que me levam a crer que
existe, sim, um grande esquema de tráfico de pessoas em São Paulo. Segundo meu
informante, o esquema é antigo e seu foco é enviar mulheres para outros países —
disse Ana com um tom de voz firme, que pudesse convencer e chocar a todos. — Essas
mulheres são enviadas para serem exploradas a trabalhos escravos, prostituição
e até mesmo mortas para terem órgãos negociados no mercado negro.
Com um olhar rápido, Ana conseguiu perceber que o
delegado acenava positivamente com cabeça diante dos fatos apresentados pela
detetive.
— Gostaria de solicitar ao senhor, delegado, que
pudéssemos abrir um caso para investigar esse esquema em paralelo ao caso das
jovens — disse Ana, ansiosa pela aprovação. — Além disso, gostaria de
informações de todos que possam contribuir com alguma pista sobre essa
quadrilha.
— Tudo bem, Ana. Vou autorizar a abertura desse caso, com
algumas condições. Você poderá dispor de tempo para investigar o caso, mas terá
que trabalhar sozinha por enquanto, até conseguir alguma prova concreta. Aí,
sim, disponibilizaremos mais gente da equipe para seu caso.
Ana agradeceu a todos pelo tempo disponibilizado e saiu
da sala muita excitada em poder trabalhar abertamente no caso. Letícia a seguiu
até sua mesa para parabenizar a amiga.
— Ótimo trabalho! Não disse que seu contato na máfia
seria útil? — cochichou Letícia, referindo-se ao seu tio, Dimitri.
Ana pediu a Letícia que começasse a pesquisar o endereço
dado pelo informante, enquanto ela buscava uma relação entre a palavra Medusa e
seu caso. Suas pesquisas apenas mostravam histórias e fatos sobre o monstro da
mitologia grega representada com serpentes no lugar do cabelo e que
transformava pessoas em pedra ao olharem diretamente para seus olhos. A lenda
contava que Medusa foi morta pelo famoso herói grego, Perseu.
— Como não pensei nisso?! — disse Ana enquanto pesquisava
qual a relação do nome Medusa com a cidade do Guarujá, que havia sido citada
pelo barqueiro.
E, com isso, acertou em cheio. Imediatamente, sua
pesquisa mostrava fotos de uma bela lancha esportiva com o nome Medusa
estampado na lateral. Ela encontrou um anúncio de uma agência de turismo que
agenciava passeios pela costa e praias da região, inclusive passeios realizados
com a lancha suspeita.
Ana
pediu que Letícia fizesse uma investigação sobre o endereço do antigo ponto de
encontro da quadrilha, além de questionar ao departamento de trânsito se
tiveram alguma novidade sobre a placa da caminhonete preta que começaram a
investigar na semana anterior. Ana disse que passaria o dia no Guarujá, ela
investigaria de perto a pista sobre a tal Medusa.
— Essa investigação tem levado você muito até a praia.
Quando precisar de companhia, já vou deixar meu biquíni na bolsa — comentou
Letícia, aos risos.
— Ontem não resisti e acabei comprando um biquíni na
praia mesmo, e entrei no mar — respondeu Ana se abaixando ao lado da mesa de
Letícia. — Foi maravilhoso! Principalmente porque ainda era cinco da tarde.
— Ai, meu Deus! — suspirou Letícia. — Quanta rebeldia da
Ana Banana.
— Qualquer dia desses, te levo junto! — disse Ana,
juntando as mãos como se fizesse uma promessa.
Ana serviu e bebeu mais uma pequena dose de café,
recolheu seus pertences, colocou sua arma e distintivo na bolsa e partiu em
direção à cidade do Guarujá. Então, dirigiu por pouco mais de uma hora até lá
ouvindo sua playlist preferida. Uma seleção de versões acústicas de vários
clássicos da música nacional e internacional, que iam de Beatles à Anavitória.
Ao chegar na cidade, Ana foi direto à agência de turismo
que viu na internet para se informar sobre os passeios de lancha. Dentro do
local, havia um painel na parede com várias opções em panfletos com anúncios de
lanchas, barcos e escunas que realizavam diversos tipos de passeio pela região.
Ana retirou um panfleto da lancha Medusa e foi até o balcão contratar o passeio
turístico.
Ana foi informada pelo atendente que o passeio começaria
a partir das 14h e o embarque seria feito na Marina Atlântida, entregando um
voucher com todas as informações necessárias para que ela chegasse ao local e
pudesse entrar na lancha. Coincidentemente, Ana já conhecia a Marina Atlântida.
Era um dos empreendimentos do seu tio, Georgios Torosídis.
Foi uma ótima oportunidade para uma visita à família. Então,
resolveu ir mais cedo e almoçar no restaurante O Rei do Mar, especializado em
peixes, que também fazia parte dos negócios do tio. A rede de restaurantes se
espalhava por várias cidades da costa brasileira e era gerenciada pelo filho de
Georgios, seu primo Estevão. O restaurante era bem aconchegante e Ana escolheu
se sentar na área externa que tinha uma bela vista para a praia.
— Bem-vinda ao Rei do Mar! — disse a atendente com um
sorriso no rosto. — Posso anotar seu pedido?
— Eu ainda não escolhi, pedirei daqui a pouco — respondeu
Ana. — Por acaso, encontro o Estevão aqui hoje?
— Infelizmente, não. O Sr. Estevão está sempre viajando a
trabalho, ele visita todas as nossas unidades com frequência. — Com um sorriso malicioso,
ela completou. — Seria ótimo vê-lo todos os dias.
Ana soltou um sorriso, meio espantada com o comentário da
funcionária, mas seguiu olhando cardápio. Ela pediu a opção de camarão à
milanesa gratinado com molho de tomate e queijo muçarela, servido junto de um
arroz branco e uma salada ceaser. Após o almoço, Ana ainda tinha muitop tempo até a partida de
seu passeio. A marina ficava logo ao lado do restaurante, já que faziam parte
do mesmo conglomerado.
Resolveu passar pela área administrativa da marina para
tentar fazer uma visita ao tio Georgios. Contornou a área do restaurante para
chegar até o portão de acesso ao escritório do local. Ao subir algumas escadas
se deparou com seu primo, Paulinho. Assim como a maioria dos irmãos de Ana, seu
primo também era fruto de um caso extraconjugal do tio, mas ele não era tão
aceito pela tia, como sua mãe Vera fez ao acolher os filhos bastardos de
Konstantinos.
O
filho mais novo de Georgios era bem diferente do irmão Estevão, muito tímido e não
tão belo quanto. Ainda era marcado por usar um tapa-olho desde a infância,
quando foi vítima de um sequestro e acabou perdendo o olho esquerdo durante a
tentativa de fuga dos bandidos. Vários eram os motivos que o transformaram em
um jovem recluso e sem muitos amigos, evitando chamar atenção para si.
— Oi, primo! — cumprimentou Ana ao se aproximar no balcão
de informações. — Não sabia que estava trabalhando aqui — comentou Ana.
— Oi, Ana! — respondeu Paulinho com um sorriso. — Estou,
sim. Meu pai me trouxe para trabalhar com ele há uns dois anos.
— Que ótimo, Paulinho!
— É, sim. Sua tia não foi muito a favor no início, mas o Estevão
a convenceu, como sempre.
— O Estevão é bem convincente quando quer — disse Ana,
sorrindo. — Que bom que vocês ainda se dão bem!
— Nos damos bem sim. Até melhor que com o meu pai — respondeu
Paulinho, em voz baixa.
— Por falar nisso, o tio Georgios está por aqui? Queria
aproveitar para dar um oi.
— Está sim. Vou avisá-lo que está aqui.
Paulinho pegou o telefone e fez uma chamada para o ramal
da sala do pai, que imediatamente autorizou a entrada da sobrinha Ana.
— Até mais, Paulinho. Quando for a São Paulo, faça uma
visita!
— Obrigado, Ana! Volte mais vezes também.
Ana caminhou até a sala do tio, que já a esperava na
porta.
— Olá, Ana! Feliz em recebê-la aqui — disse Georgios, de
braços abertos para abraçar a sobrinha. — Já faz muito tempo que não te vejo
por aqui. Aliás, raramente recebo visita dos parentes da cidade grande.
Ana concordou, sorrindo enquanto apreciava a bela vista
da sala com uma parede de vidro de frente para o mar.
— Bela parede, não? — comentou ele, percebendo o espanto
da sobrinha. — Vocês paulistanos não estão acostumados com a beleza do mar — completou,
soltando uma gargalhada.
Após as
brincadeiras e cumprimentos, os dois falaram por alguns minutos sobre a
família. Ana comentou que estava feliz em ver Paulinho trabalhando na marina.
— Ele é um ótimo garoto! Quero me aposentar em breve e
navegar pelo mundo, enquanto os meninos tomam conta dos negócios — disse
Georgios, recostando-se em sua cadeira. — Mas o que traz você ao Guarujá?
— Vim fazer um passeio de lancha!
— Mesmo? Que ótimo. Você vai adorar. Está de folga hoje?
— Não, vim a trabalho. Meu passeio envolve a investigação
sobre um caso.
— Olha, um caso policial? É sobre o quê? — perguntou
ele, curioso
— É uma informação sigilosa — disse ela com um sorriso,
descartando a pergunta.
— Qual seu passeio?
— Vou fazer um passeio na lancha Medusa. Conhece a
tripulação?
— Só o capitão. Mas tenho pouco contato com o pessoal dos
barcos.
— E o senhor já presenciou alguma ação estranha?
— Como disse, tenho pouco contato com eles. Minha marina
serve apenas como garagem pra eles, não sei quem entra ou sai da marina — respondeu
o tio com um tom meio irônico.
Georgios pediu perdão, agradeceu a visita da sobrinha e
disse que precisava ir a uma reunião no centro da cidade. Ao menos, já havia
conseguido passar algum tempo até a hora de embarcar no seu passeio às 14h.
— Obrigado pela visita, Ana! Diga ao resto da família
para virem nos visitar também — disse Georgios enquanto se levantava da
cadeira. — Quem sabe marcamos um passeio de barco para toda a família?
— Melhor não! Senão, teremos muita gente sendo jogada aos
tubarões — respondeu Ana, rindo enquanto caminhava em direção à saída.
Seu tio a acompanhou até ao balcão de informações,
despediu-se dela e do filho, Paulinho e desceu as escadas em direção ao seu
compromisso. Ana ainda trocou mais algumas palavras com o primo e também partiu
em direção à área de embarque da marina. Ela já se aproximava de um grupo de
turistas que também aguardava para o mesmo passeio e se sentou em um dos cantos
do deck de embarque.
Durante
a próxima meia hora, ela permaneceu observando o mar e as embarcações que
transitavam por ali. Além disso, trocou algumas mensagens com Letícia para
saber se havia conseguido informações sobre o endereço fornecido pelo
informante, mas ainda sem sucesso.
A
lancha parou ao lado deck para os atuais passageiros desembarcarem e a nova
turma de turistas pudesse subir a bordo. Enquanto essa troca de passageiros era
feita, Ana observava, tentando identificar quem era quem da tripulação. Após a
tripulação repor as bebidas para consumo dos passageiros e todos embarcarem com
segurança, a lancha partiu em direção ao passeio pela costa.
A lancha Medusa era super luxuosa. Havia cerca de quinze
pessoas a bordo, entre turistas e tripulantes. Após fazer uma rápida análise do
local e das pessoas a bordo, Ana percebeu que quem realmente chamava atenção e
tomava todas as decisões do barco não era o capitão, mas um homem muito bonito
e extremamente simpático. Ele era responsável por animar o passeio, além de
servir como uma espécie de guia sobre os locais por onde passavam.
Ana começou a notar como aquele homem charmoso era muito
mais simpático com as mulheres solteiras. Mesmo não sendo muito habilidosa na
área das conquistas, ela resolveu arriscar seu charme em direção ao galã de
barba cerrada e camiseta floral entreaberta.
— Oiii! — disse Ana, prolongando o cumprimento de maneira
simpática. — Essa lancha é maravilhosa!
— Oi, minha linda — respondeu ele, abrindo um grande
sorriso. — E você combinou muito bem ela.
Ana continuou no personagem, tentando convencê-lo de
algum interesse.
— Você
conhece muito bem a região? Vive aqui no Guarujá?
— Vivo, sim. Tenho uma casa na Praia da Enseada. Conhece?
— Não. É a primeira vez que venho na cidade. Mas não deve
ter nada melhor que morar próximo ao mar.
— Ah, sim! Viver essa liberdade é fantástico! Você devia
experimentar mais vezes.
— A noite aqui deve ser bem agitado, não é? — perguntou
Ana, colocando a mão no braço do homem.
— É, sim. A noite aqui é ótima. Inclusive, eu sou
responsável pelas melhores festas da cidade — disse o homem se gabando. — Tanto
na minha casa como nas festas noturnas aqui na Medusa — completou ele,
acariciando a poltrona da lancha.
— Nossa! Festa na lancha? Será que eu seria convidada? — disse
Ana, rindo e tentando jogar todo seu charme para conseguir algum convite para essas
festas.
— As festas são muito exclusivas. Mas uma mulher maravilhosa
dessas sempre é bem-vinda — disse ele, entregando um cartão de visitas preto
escrito o nome Felipe ‘Morfeu’.
— Morfeu? — questionou Ana. — Sobrenome diferente.
— É só um apelido! Porque eu sou o rei da noite, e responsável
por realizar sonhos — terminou ele com um tom sedutor.
Ana se segurou para não sair de seu personagem e cair na
risada diante da sedução barata do ‘rei da noite’. Mas ela deu um sorriso
tímido, guardou o cartão e disse que ligaria pra ele em breve, pois estava
super a fim de uma balada. Após o fim do passeio, que durou cerca de uma hora,
Ana desembarcou e trocou alguns olhares com Felipe, que retribuiu com um
sorriso, assim como ele fazia com todas as moças que também desciam da lancha.
Ana
caminhou de volta para o estacionamento, junto ao grupo de turistas, pegou seu
carro e retornou para São Paulo com mais um nome a ser investigado: Felipe
‘Morfeu’.
Ana ainda passou pela delegacia para assinar alguns
documentos solicitados por Letícia, que já havia ido embora. Antes de ir, Ana
passou pela sala do chefe e disse que a ida ao Guarujá pareceu ser produtiva,
que ela tinha um suspeito e que logo teria provas para colocar mais gente
trabalhando no caso. O chefe ficou satisfeito com a notícia e disse pra Ana ir
pra casa e trabalhar nisso no dia seguinte.
Após chegar em casa, Ana abriu a porta e quase pisou no
seu cachorro, Perseu, deitado bem próximo à porta, como se esperasse a dona.
Ela se agachou para abraçá-lo.
— Você deve estar com fome — falou ela.
Com um latido forte, Perseu aparentemente respondeu que
sim e seguiu Ana até a cozinha. Ela abriu o armário para pegar o jantar de seu
companheiro, colocou a ração em sua vasilha, além de colocar também um pouco de
água ao lado.
— Enquanto você come, vou tomar um banho e depois vamos
assistir a um filme! — disse ela ao cachorro enquanto caminhava para o quarto.
Após um banho quente, Ana vestiu seu pijama, preparou seu
jantar e se jogou no sofá para curtir a noite com Perseu e alguma novidade da
Netflix. Mas, ao se aconchegar, seu telefone tocou. Era seu pai. Parecia que a
família de Ana adorava tirá-la do conforto do sofá em horários inesperados.
— Alô, pai! Aconteceu alguma coisa? — disse ela,
espantada pela ligação incomum.
— Oi, Ana. Está tudo bem, só liguei para saber como você
está.
— Estou bem. Cansada, na verdade. Tenho trabalhado muito
esses dias.
— Está trabalhando em quê?
— Essas coisas são confidenciais, pai. O senhor sabe
disso.
— Eu sei, eu sei. Só estou brincando — disse ele, mudando
de assunto. — Seu tio me disse que esteve no Guarujá hoje, é verdade?
— É verdade, sim. Estou investigando um caso que pode ter
relação com a cidade —disse ela, tentando cortar logo o assunto. — E a mamãe,
como ela está?
— Já está deitada. Mas esteve bem triste nos últimos
dias.
Ana ficou receosa que mãe tivesse ficado nesse estado
devido à sua discussão com o irmão, Andreas, no fim de semana. Disse que tentaria
visitá-la assim que possível.
— Olha, Ana, estou ligando também por outro motivo — disse
ele, mudando o tom de voz para um mais sério, quase ameaçador. — Não quero
saber de você indo procurar seu tio Dimitri.
— Co-como assim? Como o senhor sabe disso?
— Não importa. O Dimitri é um homem perigoso, manipulador
e que só se importa com ele mesmo. Não faria bem para sua imagem ser vista com
ele.
— Olha, pai! Primeiro, que eu já sou bem grandinha para
tomar esse tipo de decisão — respondeu Ana com um tom de voz seguro de suas
palavras. — O Tio Dimitri tem seus problemas com a família e a Justiça, mas, no
momento, ele me foi muito útil.
— Ele está te manipulando ou levando vantagem de alguma
forma com essa ajuda.
— Não se preocupe, pai. Eu sei muito bem lidar com isso.
Enquanto falava com o pai, Ana imaginava quem poderia ter
contado sobre sua visita ao tio. A única pessoa que ela conseguia imaginar era
o irmão, Andreas. Era o único que gostaria de criar esse conflito gratuito entre
eles. Além do que, Andreas tinha grande envolvimento com a milícia que atuava
em algumas comunidades comandadas por Dimitri.
— Foi o Andreas que te contou? — disse Ana em tom
acusativo.
— Como disse, não importa — respondeu seu pai, aumentando
a voz pra ela. — Importa que você tem trabalhado demais e precisa se distrair,
se divertir, arrumar um namorado, ou talvez uma namorada, um filho... Tanto faz!
Mais uma vez, Ana era colocada em uma conversa
constrangedora sobre ter que seguir as regras da família conservadora que a
obrigaria, se pudesse, a se casar logo para gerar mais alguns Torosídis para o
mundo. Dessa vez, a paciência dela já havia se esgotado, mas, para não terminar
a conversa com uma briga, ela disse que precisava resolver algumas coisas,
despediu-se do pai e desligou o telefone antes mesmo de ele responder ou tentar
retomar a conversa.
Ao desligar o telefone, Ana foi até a geladeira, serviu
uma bela quantidade de vinho e em poucos instantes sua taça já estaria vazia.
Aquilo ajudaria a acalmar e relaxar até pegar no sono. Como o clima para o
filme havia se dissolvido durante o telefonema, Ana resolveu se deitar mais
cedo e stalkear o Instagram do tal Felipe ‘Morfeu’. Seu perfil era
recheado de fotos dele mesmo exibindo sua beleza, além de muitas mulheres
bonitas, celebridades e outros milionários. Realmente, ele era um promoter de
eventos com aparente sucesso.
Chega de Morfeu por hoje, pensou Ana ao desligar
seu telefone para que tivesse uma noite tranquila de sono, sem nenhuma
surpresa.
Ao retornar à delegacia na manhã seguinte, Letícia disse a
Ana que havia saído mais cedo no dia anterior para passar pelo endereço que ela
havia pedido, pois não encontrou nada suspeito nos registros nem na internet.
Segundo ela, o local era atualmente uma loja de roupas femininas, e a
construção não era tão antiga. Nada que se parecesse com um covil de traficante
de pessoas.
Ana esperava não encontrar nada no endereço, como o
próprio Ronte havia falado. Mesmo assim, sentiu certa decepção. Ela pediu que
Letícia deixasse as informações do endereço anexadas ao caso, pois poderia vir
a ser necessário no futuro.
— Sobre ontem, além visitar minha família praiana, consegui
o contato de um suspeito — disse Ana, entregando o cartão de visitas à Letícia.
— Literalmente, consegui o contato.
— Olha, toda saidinha conseguindo telefones! — brincou
Letícia, pegando o cartão. — Morfeu? Que nome é esse?
— É um apelido do... ‘Rei da Noite de Guarujá’ — respondeu
Ana com uma gargalhada contida. — É um promoter da cidade e o
responsável pelas festas na lancha Medusa.
— E como você conseguiu esse contato?
— Usando todo meu charme, querida! — respondeu Ana,
fazendo uma pose com a mão embaixo do queixo e uma piscadela. — Ainda levo
jeito! Mesmo ficando mais nervosa que entrar em um tiroteio — completou ela.
Ana terminou de contar os detalhes sobre a lancha e a
tripulação e pediu que Letícia fizesse uma varredura nas redes sociais do
suspeito. Qualquer rotina de festas, pessoas ou algo diferente do comum poderia
ser uma pista para o caso. Enquanto isso, a detetive entraria em contato com a
polícia local para tentar descobrir o verdadeiro nome de Felipe ‘Morfeu’.
Ana foi até a sala do chefe e perguntou se ele conhecia
alguém da polícia do Guarujá. Ele disse que não era íntimo, mas conheceu o sargento
da Polícia Militar local há alguns anos em uma ocasião. A detetive pediu que
ele ligasse pra ele apenas para autorizar que alguém do quartel pudesse
conseguir o sobrenome de um suspeito. O delegado atendeu ao pedido de Ana e disse
que, assim que conseguisse, transferiria a ligação. Ela agradeceu e voltou para
sua mesa, ansiosa.
Enquanto aguardava a ligação, Ana reabriu sua pasta sobre
o caso das jovens encontradas mortas para rever algum fato que poderia ter
passado despercebido durante os primeiros dias de investigação. Mesmo com esses
pequenos avanços no caso sobre o tráfico de pessoas, Ana ainda estava
pressionada e chateada consigo mesma por não conseguir encerrar o caso das
jovens. Sua esperança era que seu instinto estivesse certo e o assassinato das
jovens tivesse realmente ligação com seu novo caso.
Pouco tempo depois, Ana recebeu a ligação que esperava.
Seu chefe havia feito contato com a polícia do Guarujá e haviam autorizado Ana
solicitar informações sobre o suspeito.
— Olá, detetive! O delegado me disse que você precisa de
nome de alguém aqui da cidade? — perguntou o policial do outro lado da linha.
— Bom dia. Isso mesmo! — respondeu Ana. — Seria de grande
ajuda para um caso nosso saber o nome completo de um promoter que organiza
festas na cidade, atende pelo nome de Felipe ‘Morfeu’.
— Claro, o Morfeu é uma figura conhecida tanto na cidade,
como da Polícia Militar. Um minuto, e eu te passo os dados que precisa.
Ana aguardou ansiosa na linha por cerca de dois minutos,
até que o policial voltou a falar com ela, já com a informação em mãos.
— O nome completo é Felipe Moreira Alcântara. É filho de
uma família rica aqui da cidade e vive dando problemas de perturbação com suas
festas — respondeu o policial com certo desprezo na voz.
— Muito obrigada, senhor! Isso será de extrema ajuda em
nosso caso.
— Disponha, detetive. Se precisarem de mais alguma coisa sobre
o caso, é só me ligar.
— Claro! Agradeço muito... senhor...?
— Drummond. Cabo Drummond.
Após se despedir do policial que foi tão prestativo, Ana
partiu em busca de informações sobre o suspeito direto no sistema da polícia.
Assim como as redes sociais de Felipe ‘Morfeu’, estava recheada de festas e
belas mulheres. A ficha policial de Felipe Moreira Alcântara também era
abarrotada de registros por desordem noturna, posse drogas e desacato.
Ao ler a bela ficha criminal de Felipe, Ana teve uma
ideia que poderia ser uma ótima maneira de conseguir interrogá-lo. Como os
militares da cidade estavam dispostos a ajudar, Ana resolveu armar uma pequena
operação conjunta com a polícia local para uma batida policial em uma das
festas de Felipe, já que aparentemente era um costume alguns eventos terminarem
na delegacia.
O Delegado
Belfort autorizou Ana a organizar essa operação e disse que ela deveria se
envolver o mínimo possível, já que esse tipo de ação não envolvia a Polícia Civil.
Ana agradeceu e concordou, dizendo a ele que a operação estaria disfarçada de
uma denúncia de perturbação de ordem.
Após o
consentimento do chefe, Ana deu início à operação. Ligou novamente para
Drummond, que havia falado há pouco, perguntando se seria possível que os
militares pudessem fazer essa batida policial simulando uma denúncia, e foi
prontamente atendida pelo cabo.
Mais tarde, Ana pegou o telefone de ‘Felipe Morfeu’ em seu
cartão de visitas e mandou uma mensagem em seu número de WhatsApp. Rapidamente,
o suspeito respondeu Ana com alguns gracejos sobre a beleza dela. Ana disse que
se conheceram no passeio de lancha no dia anterior e que estava a fim de voltar
à cidade para uma das famosas festas do promoter. Sem suspeitar de nada, Felipe
disse que seria ótimo que ela voltasse, estava interessada em conhece-la
melhor.
— Seu dia de sorte! — escreveu Felipe, todo convencido. —
Amanhã é dia da melhor baladinha da cidade. Super exclusiva e você está
convidadíssima, minha linda!
Suas mensagens eram sempre acompanhadas de emoctions de
beijos e bebidas.
— Que ótimo! É claro que vou! — digitou Ana,
verdadeiramente empolgada. — Me manda a localização aqui e nos vemos amanhã.
Ao conseguir tudo que precisava, Ana voltou a ligar para o Cabo Drummond e ajustar os últimos detalhes da operação na noite seguinte. Ana estava disposta a tudo para arrancar informações daquele playboyzinho.
Encerra com a música: (Upside Down - Jack Johnson).
elenco
Larissa Manoela como Helena Torosídis
Cristina Ravela
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