Antologia Sempre ao Meu Lado: 1x14 - O Santuário dos Vaga-Lumes - WebTV - Compartilhar leitura está em nosso DNA

O que Procura?

HOT 3!

Antologia Sempre ao Meu Lado: 1x14 - O Santuário dos Vaga-Lumes

Conto de Lia Rodrigues
Compartilhe:







Sinopse: As crianças Ana, Pedro e Duda vão viver uma aventura cheia de brilho ao encontrarem insetos que emitem luz e que vivem na maioria de nossos manguezais.


O Santuário dos Vaga-Lumes
de Lia Rodrigues


Para a maioria das crianças, férias significa um divertido tour na casa dos avós. 

O ano aqui é o de 2018 e para Aninha e seus primos, os irmãos Duda e Pedro, ir para casa do vovô Nenéu, também significava  mergulhar literalmente em um mundo de aventuras. 

O simpático avô das crianças, ficara viúvo a um ano, e há muito tempo morava em uma chácara que herdara de sua família. 

A região onde estava localizada, ficava ao norte do Espirito Santo, um lugar cercado pelo mar e manguezais. 

O vovô Nenéu tinha mais que histórias fictícias para contar, pois a maioria delas, ele jurava ter vivido pessoalmente. 

Cada árvore tinha uma história, assim como cada animal ou ave que morava no quintal, porém dessa vez, as crianças não esperariam muito do avô, pois sabiam que ele ainda estava muito calado, devido a perda da vovó Lia. 

Pois o tão esperado mês chegou, certamente, dezembro é um mês que traz inúmeras esperanças, mais que um mês de descanso, é um mês que finaliza uma trajetória, representa uma determinada paz entre as pessoas, e a sensação de mudanças para melhor, no ano que vai entrar. 

As nossas crianças, foram recepcionadas uma por uma, pela cadela Talua, e lá estava o vovô Nenéu, conversando na varanda, com seus amigos, que assim como ele, moravam na região desde que nasceram. 

Com ele, morava a tia Bia, a irmã do vovô que nunca casara, apesar de carrancuda, a senhora era prestativa e cuidara da vovó Lia, até o seu último dia. 

E era a tia Bia, encarregada de cuidar das três crianças durante aquelas tão esperadas férias.

Esperada pelos pequenos tanto pela carrancuda tia Bia, embora essa não era muito de demonstrar.

Como sempre, o olhar do vovô Nenéu ficou com mais brilho ao ver os seus netos correndo para abraçá-lo e com um largo sorriso, vibrou: 

_. Ora! Ora, agora sim, esse pedaço de chão está mais iluminado. 

Os três sempre ocupavam o mesmo quarto, o que possibilitava, ficarem acordados até tarde, lembrando situações engraçadas, mesmo depois da tia Bia ter apagado a luz e ordenado que dormissem em seguida. 

Aninha e Pedro, tinham a mesma idade, e em outubro daquele ano, completaram juntos, 9 anos, enquanto Duda, acabara de chegar aos seus 7 anos de idade. 

Entretanto, acontecia, que sempre que chegavam na chácara, a impressão que tinham, era de serem bem mais velhos, sentiam bem mais experientes, do que quando estavam em casa, com o seus Pais.

A energia da casa do vovô Nenéu emanava uma total segurança, e o medo lá já não existia. 

No entanto, nas proximidades da chácara havia um manguezal e era o único lugar onde o vovô Nenéu proibira as crianças de se aproximar, os três não davam tanta importância, pois a chácara estava repleta de outros atrativos. 

O pomar com uma variedade de árvores frutíferas, era o lugar preferido da criançada. 

Mas essa preferência mudou, uma certa noite, logo depois da tia Bia apagar a luz e dar a repetida ordem para dormir, os três pequenos se postaram na janela do quarto e ficaram olhando as reluzentes estrelas no céu, que dali, pareciam, estarem mais próximas da terra. 

Começaram a questionar se cada estrela, não seria anjos, olhando para humanidade, no intuito de proteger cada ser vivo. 

Enquanto estavam ali, envolvidos naquele enigmático diálogo, um clarão vindo do manguezal, desviou a atenção das crianças, Pedro perguntou: 

_. Vocês viram aquilo? 

As meninas responderam: 

_. Sim!  

Aninha confessou de uma forma emocionada! 

_. Senti uma sensação estranha na barriga! Um calafrio diferente. 

Duda confessou a mesma sensação, o que fez Pedro raciocinar: 

_. Será que foram os nossos anjos que desceram para comunicar conosco? 

Aninha respondeu, com uma certa insegurança. 

_. Mas se for, porque iriam justamente para o manguezal? O nosso avô deu ordens para não se aproximar do lugar. 

Diante dos dois mais velhos, Duda só os acompanhavam virando o pescoço para cada um deles, enquanto falavam. 

Pedro demonstrava ter um raciocínio mais rápido: 

_. Aí é que está a razão, lá é um lugar mais reservado, perfeito para conversar sem ser interrompidos pelos adultos. 

Diante dessa resposta, a pequena Duda ressaltou: 

_. Significa que eles estão lá esperando por nós! 

Os três colocaram nos rostos o mesmo sorriso largo diante dessa possibilidade. 

Sem mais discussão, os três calçaram os sapatos, pularam a janela, e começaram a caminhar em direção ao manguezal. 

A lua no céu assim como as estrelas estava com um brilho espetacular, o vento estava agradável, os animais estavam em silêncio, no entanto, uma intrusa se aproximou dos três curiosos, a cadela Talua.  

Depois de pular e lamber cada um, a cadela soltou alguns latidos, fazendo com que Pedro ralhasse com ela. 

_. Quieta, Talua, assim você vai acordar o vovô e a tia Bia. 

Aninha também acrescentou: 

_. Isso fique quieta, estamos em uma missão mais que especial. 

Duda não quis ficar de fora e disse: 

_. Isso mesmo, estamos indo conversar com os nossos anjinhos? 

A cadela colocou a língua para fora, fez um pequeno gemido, fazendo que os três entendessem que ela gostaria de ir junto, Pedro concordou

           _. Vamos, mas fique em silêncio. 

E lá foram as três crianças, seguidos pela cadela Talua, que não parava de balançar o rabo, demonstrando que igual aos pequenos, ela também estava animada. 

 A medida que se aproximavam do mangue, a emoção invadia as crianças, pois a perspectiva de ficar perto de um anjo, deixava os, com a sensação de serem especiais. 

Começaram a questionar como seria a aparência deles, se teriam cabelos loiros, como a maioria diziam, ou se cada um teria características diferentes.

Quem sabe, um seria oriental, ou negro, indiano ou até mesmo incolores, sem representar nenhuma etnia? 

E novamente tornaram a presenciar o mesmo clarão, e dessa vez, parecia ter uma forma específica, o que Aninha observou: 

_. Eu vejo uma estrela bem grande e mais brilhante! 

Duda também afirmou; _ E está dançando! 

Até então, já haviam entrado dentro do manguezal, mas a luz continuava a percorrer por entre as folhagens, cada vez mais, subiram nas raízes aéreas da vegetação, para não afundarem os pés no lodo que caracteriza o solo daquela área. 

Tanto Aninha, como Pedro, apoiavam a pequena Duda na escalada, mas ela reprovava a ajuda e dizia. 

_. Me deixem! Eu não sou tão frágil assim. 

 A cadela Talua começou uma brincadeira de perseguição, fazendo que os aratus, corressem e se escondessem nos buracos, os outros habitantes do manguezal também estavam assustados, como os guaiamuns e caranguejos, mas Talua não se importava de ser inconveniente, e mesmo lambuzada com toda aquela lama, continuava tentando encurrala-los. 

As três crianças estavam se divertindo, com o esforço da cadela em pegar os crustáceos, que eram bem mais espertos e ligeiros do que ela. 

E quando Talua enfiou o focinho no pequeno buraco formado na lama, onde um dos aratus se refugiou, emergiu com um grande nariz de palhaço, formado pelo lodo, deixando as crianças mais alvoraçadas nas suas risadas. 

Pedro aconselhou pararem um pouco para descansarem, pois, o clarão parecia distanciar cada vez mais, o que fez ele analisar melhor. 

_. Será que devemos continuar? Que tal voltar para a chácara? 

Diante dos olhares negativos das meninas diante de tal pergunta, ele mesmo concluiu: 

_. Já viemos até aqui, então para que desistir agora? Vamos continuar! 

Antes, porém, ficaram apreciando o lugar em que se encontravam, sobre as árvores, havia orquídeas e bromélias, embora parecesse ser ali tão fechado, a luz da lua penetrava de forma bem intensa. 

As árvores de porte médio e troncos finos, com raízes acima do solo, provava a versatilidade da natureza, por um instante, só de estar ali, contemplando aquele magnífico cenário, deu uma certa satisfação aos três, que foram novamente cativados pelo brilho que os atraiu até ali, Pedro quebrou o momento hipnótico de deslumbramento e ordenou: 

_. Vamos! Não podemos perder o clarão, ele pode voltar para o céu. 

E as crianças continuaram se apoiando nas árvores e caminhando com cuidado sobre as raízes que mais pareciam pequenas pontes, naquele mar de lama e crustáceos. 

Finalmente a luz fixou em um lugar, e os coraçõezinhos dos pequenos começaram a bater de certa maneira, que um conseguia sentir a vibração que vinha do outro. 

Chegaram mais perto e depois de algumas folhas verdes e felpudas, chegaram na luz, que deixou o lugar mais atrativo do que antes. 

Não eram anjos os responsáveis pelo clarão, invés de ficarem decepcionados, as crianças, sentiram um determinado privilégio de presenciar tamanha beleza. 

Bem à frente dos seus olhos um círculo de vaga lumes, encenava uma dança na qual os seus corpos brilhavam um de cada vez. De repente, em um instante, eram inúmeros círculos e todos juntos, se tornavam, como minúsculas estrelas formando de maneira alternada, uma constelação. 

Ficaram ali, fascinados, deslumbrando a magia do momento, até a cadela Talua, ficou imóvel, olhando para cima, pouco importava para ela agora, se os aratus, continuavam a se esconderem em suas tocas lameadas. 

O momento encantado foi quebrado por um grito que ecoou no vento, e as crianças reconheceram o som da voz do avô, Pedro suspirou e disse: 

__. Vamos meninas, já vimos o suficiente, o vovô descobriu a nossa saída. 

Começaram a pegar o caminho de volta, seguidos por talua, que continuava a balançar o rabo, agora todo sujo de lama. 

Ao longe viram a luz da lanterna do vovô Nenéu, que aguardava por eles na entrada do manguezal, juntas disseram em alta voz: _. Estamos aqui vovô! 

Ao chegarem até o avô ficaram surpresos, pois a volta pareceu ser bem mais rápida que a ida até aos vaga-lumes, Pedro foi logo se desculpando. 

_. Peço desculpas vovô! A ideia foi minha de entrar no manguezal, ficamos atraídos com o clarão que vinha dele. 

Antes que o avô respondesse algo, Aninha e Duda, se adiantaram. 

_. Foi lindo vovô!  Vimos vários vaga-lumes, tão brilhantes como as estrelas. 

Vovô Nenéu enxotava talua que insistia em querer-lhe cumprimentar, debaixo de toda aquela lama. 

_. Ainda bem, que essa menina de quatro patas,  deixou os rastros na lama, foi assim que desconfiei aonde vocês estavam, mais o importante é estarem bem, porém não foi nada apropriado vocês saírem no meio da noite escondidos, poderiam ter me falado do tal clarão. 

As meninas o olharam com grande afeição, deixando Pedro fazer as explicações: 

_O senhor sempre alertou para não entrar no manguezal, daí achamos que lá seria um lugar adequado para os anjos conversarem conosco sem a interrupção dos adultos, não ficamos com medo, pois os anjos protegem e cuidam de todos nós, mas não ficamos tristes de saber que a luz não eram anjos e sim que vinha de lindos vaga-lumes. 

Vovô Nenéu não pode deixar de sorrir diante da pureza das crianças, e agora chegou a sua vez de explicar o porquê de tanto cuidado em relação ao mangue. 

_. Certamente eu deveria ter explicado o motivo da restrição, assim vocês teriam me entendido, pois bem crianças, os manguezais atuam como um berçário protetor, são como um local de alimentação de uma série de espécies, muitas das quais estão em extinção. Representam menos de todas as florestas tropicais do mundo, aí a importância de preservá-los, além disso, contribuem para o bem-estar das comunidades costeiras, sendo fonte de renda e de alimentos para milhares de pessoas. 

Os vaga-lumes sobrevivem em lugares úmidos, mas infelizmente as suas espécies estão em declínio, porque seus habitats estão diminuindo, eu não posso impedir que as demais pessoas, poluem os nossos mangues, mas procuro fazer a minha parte, preservando aos que estão ao meu alcance, foi por essas razões, que não deixava vocês, brincarem lá. 

As crianças ficaram ainda mais orgulhosas do vovô Nenéu, da importância que ele dava aquele mesmo maravilhoso cenário, onde elas, de agora em diante, cuidariam com muito carinho. 

Quando chegaram, a tia Bia os esperavam sentada na varanda, antes que ela resmungasse algo, vovô Nenéu avisou. 

_. Não se preocupe, os pequenos juntos com a sapeca Talua, foram fazer uma pequena visita no santuário dos vaga-lumes, nós dois fazíamos o mesmo, quando éramos crianças. 

E a tia Bia substituiu a expressão carrancuda do rosto por um belo sorriso, no mesmo instante que afagava a cadela Talua, sem se preocupar com toda a lama que a envolvia.

                                 

Conto escrito por
Lia Rodrigues

CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano 
Gisela Lopes Peçanha
Lígia Diniz Donega
Márcio André Silva Garcia
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca
Rosside Rodrigues Machado

Produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela


Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO

""

Copyright 
© 2022 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução




Compartilhe:

Antologia

Antologia Sempre ao Meu Lado

Episódios da Antologia Sempre ao Meu Lado

No Ar

Comentários:

0 comentários: