É fim de tarde no cemitério. O sepultamento está se encaminhando para o final e os parentes do falecido aparentam muita tristeza, com todos chorando abraçados. Pessoas das mais variadas idades têm expressões de angústia e pesar. Odílio e Odilon estão próximos ao túmulo; ambos mantém as cabeças baixas, demonstrando respeito. Cumprimentam gentilmente os familiares do morto e saem.
Caminhando por entre os túmulos, eles são alcançados por Tereza e sua mãe, Creuza; uma mulher de seus 55 anos, cabelos cacheados castanhos e pele morena clara.
– Mas que coisa, né? Uma fatalidade – ressalta Creuza.
– É muito triste – diz Odílio.
Creuza se vira para Tereza:
– É bom a gente tomar cuidado, né fia? É bom a gente fazermos uma faxina bem esmiuçada nos quarto.
– É bom, porque se tiver alguma escondida num lugar, já mata. Geralmente picada de cobra-coral não mata se o socorro for rápido, mas o falecido já tinha uma idade avançada, né dona Creuza? A idade não ajudou – explica Odílio.
Odilon e Tereza desviam e seguem por outro caminho, de mãos dadas. Odílio e Creuza continuam o diálogo.
– Mas é melhor fazer isso, seu Odílio. Vai que acontece um negócio desse com algum visitante na minha pensão? E se acontece com algum turista do Vale? E olha que a Luíza limpava o quarto do seu Tibério todos os dia. Disse que não tem ideia de onde essa danada dessa cobra tava escondida pra picar ele na cama. Só se ela tava de baixo ou dentro do colchão – diz Creuza, coçando a bochecha.
– Às vezes esses bichos vem de fora sem que ninguém perceba, dona Creuza.
– Mas todo cuidado é pouco, seu Odílio.
No portão do cemitério eles param. Creuza passa a chorar e abraça Odílio. Ele, por sua vez, se mantém imóvel e inexpressivo.
– Ai. Coitado do seu Tibério, gente. Só deu tempo dele gritar. E ainda encontraram a disgramada da cobra em cima da cama.
Creuza solta Odílio e se vira para o lado onde estão Tereza e Odilon. Ela grita para Tereza:
– Bora, minha fia, que a gente tem que olhar as cama.
Tereza e Odilon se despedem com um beijo no rosto. Tereza segue com sua mãe; Odilon chega até onde está Odílio. Ele é logo repreendido por Odílio.
– E o namorico com a Tereza continua, né?
– Deixa nós, rapaz. Não tamo fazendo mal pra ninguém – se revolta Odilon.
– Quanto menos a gente se envolver com as pessoas da cidade é melhor. E eu te pergunto: custa ir praquela zona em Santa Inês e se aliviar com as putas de lá?
– Odílio, daqui a pouco vai fazer um ano que nós tamo aqui e ninguém nunca nem desconfiou. Você acha que alguém vai desconfiar agora?
– O nome disso é precaução, meu amigo.
– Óia, eu vô fala um negócio procê. Daqui a pouco você vai terminar enfartando, e eu não quero fazer o seu enterro não – diz Odilon, rindo.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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