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Quando Ana Olhou para a Direita: Capítulo 09

Minissérie de João Paulo Coca
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QUANDO ANA OLHOU PARA A DIREITA - CAPÍTULO 09


VOCÊ ESTÁ PRESO!


            No dia seguinte, Ana se preparava para ir até a festa no Guarujá, e sabia que precisava arrasar no visual. Há muito tempo, não se dedicava tanto em preparativos para uma balada. Cabelo e maquiagem impecáveis, era hora de escolher a roupa perfeita. Revirando o guarda-roupas para encontrar o vestido ideal, Ana acabou encontrando um belo vestido preto, que havia ganhado de presente da irmã mais nova em seu aniversário, mas sequer havia estreado. A ocasião merecia uma peça nova.

            Ana experimentou aquele lindo vestido curto de paetê, sustentado apenas por duas alças finas em seus ombros e com um caimento perfeito. Um decote que mostrava seus seios um pouco mais que o de costume eram um atrativo aos olhos. Ana calçou uma sandália preta que combinava perfeitamente com o vestido, e, ao se olhar no espelho, balançou levemente seu corpo, como se fizesse um pequeno movimento de dança. Suficiente para ela pensar: “Você vai arrasar, detetive. Você está maravilhosa!” Jogou o cabelo de lado, colocou seu calibre .38 de cano curto dentro da pequena bolsa que compunha o look e partiu em direção ao Guarujá. Nem mesmo uma hora de estrada estragaria toda sua beleza naquela noite.

            Ana chegou ao local indicado por volta das nove da noite, a festa já estava a todo vapor. Antes de entrar, ela trocou mensagens com o Cabo Drummond para confirmar a operação, ele informou que a batida aconteceria por volta de 22h30. Era uma linda casa à beira-mar, moderna e aparentemente com muitas pessoas afortunadas, pois o estacionamento parecia mais uma concessionária de carros de luxo.

            Ao entrar na festa, sozinha, Ana se sentiu incomodada por alguns instantes, mas não por estar sozinha, e sim por ter atraído tantos olhares. Ela precisava tomar uma bebida para se acalmar. Afinal, ela estava sozinha em uma operação muito importante. Então caminhou direto em direção ao bar montado à beira de uma grande piscina iluminada com luzes de neon azul, e pediu uma marguerita ao barman, que lhe atendeu imediatamente.

            Ana se sentou ao lado do balcão para apreciar seu drinque observando todos os movimentos dos convidados que passavam por ali. Enquanto descartava prontamente alguns flertes, notava que a festa estava cheia de lindas mulheres. Em sua maioria, jovens entre 20 e 25 anos, e muitos homens acima dos 40 anos, provavelmente donos dos Porshes e Mercedes do estacionamento. Não era um ambiente em que Ana ficava à vontade, mas precisava encarnar seu personagem e se aproximar do anfitrião antes da operação entrar em ação.

            Caminhou observando os vários pontos da casa e percebeu muitas jovens se drogando pelos cantos do interior da residência. Precisava resistir ao instinto policial e não sair de seu disfarce naquele momento. Próximo ao horário da operação, Ana procurou Felipe pela casa e ao encontrá-lo se manteve por perto até que ele a notasse.

            — Que bom que você veio! — Cumprimentou-lhe com um beijo no rosto. — Você está incrível! Quem sabe, podemos ficar juntinhos essa noite — disse ele, colocando um feixe de cabelo de Ana atrás de sua orelha.

            Ana trocou alguns xavecos com o suspeito, impedindo que ele se distanciasse dela por muito tempo. Durante a conversa com Ana, Felipe escutou algumas pessoas correndo e dizendo que a polícia estava entrando na festa. Enquanto homens de cabelo grisalho tentavam se desvencilhar das jovens e sair pelos cantos da casa, Felipe abandonou a conversa com Ana em direção a uma fuga pela porta dos fundos, mas ela o puxou pelo braço com seu revólver apontado diretamente para seu rosto.

            — Você está preso, Felipe Moreira Alcântara! Ajoelhe-se e ponha suas mãos na cabeça! — ordenou a detetive enquanto aguardava o Cabo Drummond se aproximar para efetuar a prisão.

            Ao perceber que havia sido enganado pelo charme de Ana, desistiu de qualquer reação e obedeceu à ordem, ajoelhando-se na frente da detetive. A expressão de decepção no rosto de Felipe valeu todo o esforço de Ana em ter que se arrumar e encarnar aquele personagem que não tinha nada a ver com ela.

            A operação tinha intuito de apenas levar Felipe detido para que Ana pudesse investigar. Entretanto, a quantidade drogas encontrada na festa era suficiente para mantê-lo por um bom tempo na cadeia, mas isso tudo dependeria da colaboração do suspeito.

            Sem perder tempo, ao chegar na delegacia, Ana pediu autorização para que pudesse interrogar o suspeito sozinha, pois as informações que ela precisava eram confidenciais de um caso importante. Foi atendida e logo levaram Felipe para a sala de interrogatório e avisaram a Ana que ela já poderia entrar e ficar à vontade.

            — Ora, ora! Se não é a policial sedutora?! — disse Felipe ironicamente quando Ana entrou na sala.

            — Detetive Torosídis pra você... Morfeu! — respondeu Ana, ironizando o apelido do suspeito. — Você não disse que gostaria de passar a noite comigo? Estou realizando seu desejo.

            — Prefiro envolver meu advogado nessa noite com você.

            — Ou... você pode aceitar o acordo que vou fazer e sair daqui hoje mesmo, sem nenhuma queixa sobre essa noite.

            — Não tenho nada a dizer!

            — Sei que sua família tem dinheiro, mas te garanto que as acusações iriam te assegurar pelo menos alguns dias na cadeia — informou Ana. — Talvez queira usar seu charme em uma cela com quinze outros ‘galanteadores’ — finalizou ela, fazendo o sinal de aspas com os dedos.

            — Então vou ouvir sua proposta, detetive!

            Ana arrastou uma cadeira vazia e se posicionou em frente ao suspeito algemado do outro lado da mesa, calmamente abriu sua pasta e começou a retirar alguns documentos. Aquela tranquilidade de Ana estava deixando Felipe extremamente ansioso, já que ele não fazia ideia qual era o acordo, até que Ana começou a falar.

            — Quero que você me conte tudo sobre a quadrilha do tráfico de pessoas!

            — Co... como assim? Do que você está falando?

Ana havia impresso uma folha com vários crimes em que Felipe poderia ser acusado apenas por aquela batida policial na festa. A cada negativa que ele dava, ela marcava um X na frente da possível acusação para que ele visse que sua colaboração seria sua única salvação.

            — Ok! Perturbação da ordem pública — respondeu Ana, marcando um X no primeiro item da lista. — Temos provas e denúncias que você faz parte de uma grande quadrilha que trafica pessoas para o exterior — acusou Ana.

            — Não, não. Isso é mentira!

            — Certo! Tráfico de drogas. — Marcando mais um item.

            — O que é isso? Você não pode me acusar dessas coisas — disse Felipe em tom arrogante, mas era possível notar o medo em seu rosto a quilômetros de distância.

            — Claro que posso! Exploração sexual  — respondeu Ana, marcando mais um item.

            — Tudo bem, tudo bem! Eu aceito seu acordo. — Felipe relutou por algum tempo, mas sabia que a detetive estava falando muito sério. Mesmo pagando fiança, aquele processo poderia colocá-lo na cadeia por muitos anos.

             — Eu quero imunidade total! Quero que a polícia não faça mais batidas na minha casa — exigiu Felipe.

            — Acabou? Não quer também um dia no SPA? — debochou Ana. — Desconsidere minha oferta. Acabo de desfazer nosso acordo ­— finalizou ela, juntando alguns papéis na mesa.

            — Espera! Eu quero acordo, mas quero alguma coisa em troca. Quero imunidade nesse caso.

            — Vai depender da participação nos crimes, e, claro, sua colaboração com a gente.

            — Olha, é sério! — argumentou Felipe. — Eu não sei quem comanda ou como funciona, eu só faço alguns transportes às vezes.

            — Informação insuficiente para o acordo — disse Ana se levantando.

            — Estou falando sério. Eu apenas uso a lancha para levar algumas garotas ao Rio de Janeiro ou para Santos. Elas são trazidas por um cara, não sei o nome dele. Ele chega, tira as meninas meio dopadas da caminhonete, a gente as coloca na lancha e leva até o destino. Lá, tem outro cara esperando com o dinheiro — confessou Felipe sua participação, tentando se justificar.

            — Quem é esse cara? Como são essas meninas? Que tipo de caminhonete? — disse Ana, tentando tirar o máximo de informações enquanto Felipe estava nervoso pela confissão inicial.

            — Não sei o nome dele. Ele só chega, entrega e vai embora. Quase nunca fala. Mas é um cara forte, com mais ou menos 1,90 de altura, cabeça raspada e um cavanhaque apenas na parte do queixo.

            Ana continuou pressionando.

— E as meninas? Qual a idade delas? Qual foi a última vez que você fez o serviço?

            — Nem sempre dá pra ver direito. Algumas chegam encapuçadas ou amordaçadas. Mas, na maioria das vezes, são bem novinhas, entre 15 e 20 anos. Tem mais de um mês que esse cara não aparece com nenhuma encomenda.

            Felipe tentou se esquivar de algumas perguntas. Antes de falar, tentou se lembrar de informações que não iriam comprometê-lo tanto. 

            Ana bateu na mesa, e, com um tom bem acusativo, disse:

— Quero mais coisas, Felipe!

            — Não tenho mais coisas! As meninas caem em promessas de trabalho como modelo no exterior, ou às vezes prometem que elas irão trabalhar em cruzeiros por um tempo, algumas aparentemente vêm de família pobres. Aí fica fácil — respondeu ele, assustado.

            — E a tal caminhonete? Como ela é?

            — É uma Hilux preta, como qualquer outra! Com placa de São Paul... Espera! — Felipe fez uma pausa, como se buscasse na memória uma informação relevante. — Na época, pensei que poderia ser útil, mas não imaginei que seria minha passagem de saída dessa sala — finalizou ele com uma expressão de quem tinha uma ótima carta na manga. — Tenho o número da placa dele! — disse ele se recostando contra a cadeira, como se houvesse vencido uma discussão.

            A vontade de Ana com a reação de Felipe era de quebrar os dentes daquele sorriso convencido, mas preferiu respirar fundo e aceitar a oferta do número da placa.

            — Onde está esse número? Na sua casa, eu suponho.

            — Isso! Mas preciso ser um homem livre para ir buscá-lo ­— disse ele com certa ironia.

            — Tudo bem, eu dirijo — concordou Ana. — Se tentar alguma coisa, não tenho problema nenhum em deixar esse rostinho bem machucado — finalizou ela, apoiada sobre a mesa com o dedo apontado para Felipe.

            Ana providenciou a liberação do suspeito e disse que as acusações seriam retiradas só depois que a informação sobre a placa fosse checada por ela. Felipe concordou e seguiu escoltado pela detetive até sua casa, onde encontraram os restos da festa e algumas pessoas. Mesmo sem a presença do dono, dormiam espalhadas pela casa.

            — A empregada vai ter muito trabalho amanhã! — comentou Felipe ao andar pela residência.

            — Sem papo furado! — retrucou Ana com um leve empurrão em suas costas. — Pegue logo o número da placa e vamos terminar isso.

            — Certo, certo! Está no meu cofre, lá no quarto.

            Os dois subiram até o segundo andar da casa para encontrarem a tal anotação. Ana, com arma sempre empunhada, pronta para qualquer ação repentina do suspeito, não precisou usá-la. Felipe realmente queria apenas ficar livre das acusações e seguir sua vida normalmente, sem a detetive por perto.

            — Toma! É esse número aí — disse Felipe, mostrando o número de uma placa anotado no canto de uma folha da agenda. — Anotei na primeira vez que ele veio aqui.

            Ana precisou confirmar aquele número e ligou para sua delegacia, falando com um policial de plantão daquela noite. Após conferir, informaram-lhe que a placa GKZ-0707 era de uma Toyota Hilux SW4 3.0 na cor preta com cabine dupla, que estava vinculada ao nome de Petros Guerra de Castro.

Ana confirmou que a placa batia com descrição de Felipe, e o melhor de tudo, poderia também ser a caminhonete investigada no caso das jovens mortas.

— Confirmei a placa e bate com a sua descrição — disse Ana, desligando e telefone e caminhando em direção à porta. — Vou ligar para a PM e as queixas serão retiradas. As queixas dessa noite. O resto da sua vida é problema seu.

— Combinado, detetive. Tenha uma boa viagem! — respondeu ele, rindo. — Espero não vê-la nunca mais.

— Torça pra isso! Se eu precisar voltar, não teremos mais acordos — ameaçou Ana. — Outra coisa, tente não sumir, você seria suspeito de delatar a quadrilha. E se esse cara aparecer novamente, me ligue imediatamente.

Mesmo fazendo Felipe acreditar que estava livre, Ana pretendia intimá-lo como testemunha do caso assim que prendesse o suspeito da caminhonete. Ela virou as costas para Felipe e desceu as escadas, acordando duas jovens que dormiam no sofá, dizendo para irem pra casa. Entrou em seu carro, ligou para o policial Drummond, agradeceu pela grande ajuda e disse que deu certo. Ela conseguiu a informação que precisava para seu caso e estava voltando para São Paulo.

Encerra com a música: (Confident - Demi Lovato).


autor
João Paulo Coca

elenco
Giovanna Antonelli como Ana Torosídis
Sheron Menezzes como Letícia
Cauã Reymond como Felipe Morfeu
Otávio Muller como Antero Torosídis
Antônio Fagundes como Konstantinos
Alexandre Borges como Georgios
Miguel Falabella como Dimitri
Carmo Dalla Vecchia como Andreas Torosídis
Larissa Manoela como Helena Torosídis

trilha sonora
Confident - Demi Lovato

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


REALIZAÇÃO


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