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Crimes no Subúrbio Carioca - A Gata de Irajá: Capítulo 02

Minissérie de Marcelo Oliveira
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CRIMES NO SUBÚRBIO CARIOCA - A GATA DE IRAJÁ - CAPÍTULO 02


   

Assim que abriu a porta, Abigail não pôde conter a surpresa ao ver aquele homem corpulento parado na sua frente. O rosto encoberto pela máscara facial não é incomum, mas os olhos negros brilhantes sobressaem aos traços grosseiros e também não esconde o sorriso cativante sob o pano. O homem é um pouco mais alto, tem braços fortes com músculos acentuados, cabelos curtos, mas ondulados, e uma voz ao mesmo tempo firme e agradável, que hipnotiza Abigail de tal forma que ela se sente invadida por uma sensação forte. A fração de segundo entre o olhar de fascínio e o silêncio que seguiu, deu ao homem a impressão de que batera em porta errada. Instintivamente, ele enfia a mão no bolso traseiro do macacão, um pouco empoeirado e manchado de cola marrom, e puxa um pedaço de papel amassado:

— Senhora Abigail Silva?

— Si-sim, sou eu e você é...

— Gonçalo, o montador. O porteiro não avisou pelo interfone?

Envergonhada pela distração, Abigail disfarça e pede que o homem entre. O odor que ele deixa ao passar, provoca um arrepio na mulher, faz tempo que Abigail não se sentia desse jeito.

Apesar de estar casada há mais de duas décadas, Abigail é o tipo de mulher que se cuida, trata os cabelos, tem um corpo bem torneado, a pele aveludada, mas a relação matrimonial entrara naquele loop rotineiro, onde o companheiro não acende mais o fogo da paixão. Mesmo assim, ela leva uma vida tranquila. As manhãs na academia, os bate-papos com as amigas, os flertes inocentes com os boys malhados, nunca a fizeram perder o ar daquele jeito. Definitivamente, o tal Gonçalo tinha algo mais que provocava o instinto de fêmea dela.

Gonçalo entra, mas fica parado no meio da sala.

— Você quer alguma coisa? Um copo d’água, um café?

— Não, obrigado, só quero que a senhora me mostre onde estão as caixas para que eu possa começar a montagem do guarda-roupas.

— Ah, sim, claro, por favor, venha por aqui. Não repare na bagunça, sabe como é, a gente ainda está ajeitando as coisas. — Involuntariamente, Abigail vai a frente exagerando no rebolado.

— Não se preocupe senhora.

— Não precisa me chamar de senhora, todo mundo me chama de Gabi, você pode me chamar assim também.

— Tudo bem senhora... quero dizer, Gabi.

Ao chegarem no quarto dos fundos, as caixas com as partes do móvel novo estão empilhadas em um canto, encostadas na parede. Abigail aponta para o local, Gonçalo apenas balança a cabeça e se aproxima das caixas para a conferência. Abigail fica parada olhando.

— Pode abrir as janelas para arejar o quarto?

— Ah, sim, desculpe, estou pensando em tantas coisas, nem sei onde estou com a cabeça. — Abigail recolhe as cortinas e abre a janela.

O quarto é amplo, Gonçalo olha ao redor, faz cálculos de espaço na mente. Abigail explica em qual posição prefere o móvel, o montador confirma e começa a desmontar as caixas.

— Olha, eu preciso adiantar algumas coisas na cozinha, o senhor se importa de ficar aqui sozinho? Pode ficar à vontade aí, viu?

— Obrigado, talvez eu precise só de água mesmo, porque o trabalho aqui vai demorar.

— Só não sei se vou poder te ajudar, meus filhos estão viajando de férias e o meu marido só chega à noite.

— Eu estou acostumado a trabalhar sozinho, não se preocupe. Por enquanto só precisarei mesmo da água, o tempo está bastante abafado.

— Tudo bem, eu vou apanhar e já volto. Não quer nada pra comer?

— Não senhora... quero dizer, Gabi, estou bem, obrigado.

— Não precisa ficar acanhado, qualquer coisa é só chamar.

Abigail não demora muito e já retorna segurando uma jarra com suco de laranja e um prato com biscoitos de sal, mas ao chegar no quarto quase deixa o prato cair no chão. Gonçalo está de costas, sem camisa, distraído, ele está agachado rasgando as caixas de papelão. O braço musculoso, cheio de tatuagens chama atenção da mulher, que solta um gritinho, despertando Gonçalo de seu planejamento. Ele se levanta rapidamente e veste a camisa. Envergonhado, pede desculpas pelo constrangimento, pois não esperava que ela voltasse tão rápido.

— Como eu disse, Gonçalo, fique à vontade e peça o que quiser. Não precisa se desculpar, hoje está muito abafado mesmo, agora deixa eu me adiantar. Se precisar de qualquer coisa é só gritar que eu ouvirei e venho te atender.

Abigail coloca a bandeja e a jarra numa cômoda e sai do quarto. Ao chegar na cozinha, ela encosta na parede e começa a se abanar. Leva a mão a testa que parece estar quente: “Calma mulher, o que é isso? Eu sou casada!”, ela se olha numa superfície espelhada da cozinha e ajeita o cabelo, então pega o celular e inicia uma chamada por vídeo:

— Gabi?  tudo bem? — na cam a amiga se surpreende.

—  sim.

— O que é? Por que não foi pra academia hoje?

— Menina, não sei nem por onde começar.

— É impressão minha ou você está ofegante?

— Cátia, larga tudo que  fazendo e vem pra cá agora, eu estou a ponto de cometer uma loucura. Se demorar muito não respondo pelos meus atos.

— Fala logo, mulher, o que é que tá rolando?

— Lembra que eu falei que hoje o montador viria aqui em casa?

— Ah, , eu tinha esquecido e daí?

— Só te digo uma coisa: George Clooney e Brad Pitt perdem de lavada... Cátia, Cátia? Ué, caiu o wi-fi? Ai, droga, a luz acabou...

Abigail dá de ombros com as dificuldades da vida moderna. Antes de voltar as tarefas, ela estranha a falta de barulho no quarto. “Será que ele está bem? E agora, o que eu faço, vou lá ou não? E se ele estiver sem camisa de novo?

autor
Marcelo Oliveira

personagens
Ralf
Zé Carlos
a gata Nina
Sergio Riso
Zulmira
Abigail
Gonçalo
Marilda

agradecimentos
Leda Selma
Wellington Santos
Guilherme Hepp
Gustavo Calazans
Maria Ines
Maria Aparecida

trilha sonora
Hitman - Kevin MacLeod

direção
Carlos Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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