A porta da sala da casa de Odílio e Odilon se abre. Eles entram. Odilon está com aparência tranquila. Já Odílio, está com um sentimento oposto; irritado, bate a porta da sala e manda Odilon se sentar.
– Fala qual é o seu pobrema, Odílio?
– Você! Você é o meu problema, Odilon!
– E o que que eu fiz demais? Ocê que encrenca com tudo. Quarqué cosinha, ocê já fica irritado. Ocê é que tem sido um pobrema – desabafa, Odilon.
– Pelo contrário, meu amigo. Eu sempre fui a solução pra tudo. Já você? A sua vida é aquela mulherzinha sem jeito.
Odilon parte pra cima de Odílio, sacando um revólver e encostando-o em seu rosto.
– Não coloca a Tereza na conversa não, seu disgramado.
Odílio dá um tapa no revólver que Odilon segura.
– Vai. Afasta essa merda de mim, seu bundão. Você acha que eu tenho medo de você? Sabe o que me irrita: é você ficar se juntando com uma caipira feito a dona Branca pra empurrar aquele purgante da Aurora pra cima de mim. Eu não quero nada com ela e nem com mulher nenhuma daqui. Enquanto você só pensou na sua namorada, eu fiz a nossa vida financeira ir pra frente. Se não fosse por mim, hoje você taria de empregado na pensão da dona Creuza, vivendo uma vidinha medíocre. Dois anos aqui, e o que você conseguiu? Nada. Só esse namorico ordinário. Eu que consegui tudo: dinheiro, reputação, respeito. Você é uma pedra no meu sapato, sabia Odilon?
Odilon se afasta. Senta-se novamente no sofá e mantém a cabeça baixa. Odílio conseguiu ofendê-lo.
– Vai, Odilon, diz alguma coisa. Sem mim, você acha que poderia ter um carro algum dia na sua vida? Você acha que teria o dinheiro que tem hoje?
– A gente tem que parar, Odílio. Vamo parar de matar as pessoa. Ainda vão terminar descobrindo a gente – pede Odilon.
– Vão descobrir nada. Sabe por quê? Porque eu, sim, fiz amizade com as pessoas certas. Se um dia alguém desconfiar que tem assassino na cidade, eu vou ser a última pessoa que vai passar pela cabeça dela. Você devia ter feito o mesmo, meu amigo. Você devia ter criado uma reputação. Na verdade você só tem uma reputação graças a mim.
– Sabe porque nós temo esse vidão, Odílio? Porque ocê me forçou a virar um cúmplice dos seus assassinato. Você acha que eu gosto de matar pessoas boas? E sabe do que mais, Odílio? Dava pra gente viver bem com o que a gente tem agora. Mas até dinheiro da prefeitura ocê rouba junto co prefeito.
Odílio saca um revólver e pula para cima de Odilon. Ele puxa seu cabelo e coloca o cano do revólver no seu queixo e fala quase sussurrando:
– Seu filho da puta! Se alguém escuta isso, me compromete e compromete o seu Eurico também.
– Se ocê atirar, ocê vai preso, Odílio. Cê acha que as pessoa vão perdoar um irmão que mata outro? Cê tava falando de reputação agorinha. Pra onde ia sua reputação se você me matasse?
Odílio devolve o revólver ao coldre. Lentamente ele se afasta de Odilon. Ele lhe arruma o cabelo e dá um leve tapa no rosto.
– Vai ficar tudo bem com a gente. Não precisa se preocupar. Eu só espero que as coisas que acontecem aqui dentro dessa casa não saiam daqui – ameaça, Odílio. Se algum dia eu desconfiar que você conta algum detalhe da nossa vida pra Tereza, eu acabo com a sua raça e com a dela.
Num salto, Odilon empurra Odílio, que cai deitado. Ele saca o revólver e coloca o cano na boca de Odílio.
– Nem pense em fazer um mal pra um fio de cabelo da Tereza, que eu acabo com você, seu desgraçado! – ameaça, Odilon.
Odílio fala com dificuldades:
– Fala baixo; as pessoas podem escutar.
Odilon retira o cano de dentro da boca de Odílio e encosta o cano entre seus olhos.
– Se você me matar, você vai preso. E não vai poder viver a sua vidinha com a sua namoradinha. Nenhuma mulher vai querer casar com um assassino. Você acha que a dona Creuza vai aceitar a filha dela com um assassino. E tem outra: se você me matar, vão descobrir todo o restante – ressalta Odílio.
Odilon lentamente se afasta de Odílio. Se levanta, mantendo o revólver apontado para ele. Odílio se levanta passando a mão em um dos cotovelos e parte do braço. Ele tem uma leve expressão de dor no rosto. Ele caminha em direção ao seu quarto, mas ao passar por Odilon, que ainda tem o revólver na mão, diz:
– Vai dormir, seu bunda-mole.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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