A MARCA DO PRIMOGÊNITO
“No princípio Deus criou os céus e
a terra.
E a terra era sem forma e vazia; e
havia trevas
sobre a face do abismo…”
(Gênesis, 1:1-2)
CENA 01. EXT. ENCRUZILHADA DOIS RIOS. NOITE
MÚSICA: (The House of the Rising Sun - The White Buffalo)
A névoa densa toma conta da estrada de terra batida, que mal se vê a placa indicando pra onde vai cada caminho da encruzilhada.
Escuta-se o barulho das águas calmas no córrego que beira o desfiladeiro de pedra em uma lateral, que também está encoberto pela névoa.
Um homem, Izequiel (mais ou menos 40 anos), cabelos pretos desdenhados e rosto coberto de terra, usando roupas rasgadas e sujas, surge no meio de uma das estradas caminhando com certa dificuldade. Ele carrega no colo um menino (10 anos), aparentemente desmaiado.
Izequiel para bem no meio da encruzilhada e se ajoelha largando o corpo do menino no chão. Chora debruçado no corpo do menino.
IZEQUIEL
Só salva o meu filho, por favor! Faça o
que quiser, mas só salva meu Rick...
Batidas de palmas ecoam pelo ar. Izequiel levanta a cabeça.
POV de Izequiel: um homem surge à sua frente. Aparentemente 30 anos, elegante, alto e esbelto, com seus cabelos pretos bem penteados para trás, barba rala por fazer e um sorriso largo estampado no rosto. Ele usa um terno preto elegantérrimo e gravata vermelha sangue.
O homem termina de bater palmas e fica de pé a cerca de uns dez metros do homem ajoelhado diante do corpo do menino.
MÚSICA OFF.
HOMEM DE TERNO
Precisando de uma ajuda? Eu não pude
deixar de ouvir sua súplica. Seu desespero me comoveu, sabia?
IZEQUIEL
E quem é você?
HOMEM DE TERNO
Ahhh, que deselegante da minha parte,
não é? Nem me apresentei.
O homem de terno faz uma leve reverência.
HOMEM DE TERNO (cont.)
Eu sou Prometeus. Faço os acordos aqui
nesta região.
Izequiel se levanta, parecendo um pouco confuso.
IZEQUIEL
Acordo? Que acordo?
PROMETEUS
Ora, ora, Izequiel. Acha mesmo que com
todo este caos espalhado pelo mundo, as coisas serão fáceis assim? Tudo tem um
preço.
Prometues olha com apreço para o menino desacordado.
PROMETEUS
Até a vida do seu filho aí...ela tem um
preço.
IZEQUIEL
E qual é o preço da vida dele?
PROMETEUS
Ora, isso depende de você, Izequiel.
Quer ver ele se formar na faculdade, quer ver ele se casar, ver seus netos...
isso tudo varia.
IZEQUIEL
Eu já perdi meus pais e minha esposa em
tão pouco tempo. Eu só quero ver ele crescer até o ponto em que possa se
defender sozinho.
PROMETEUS
E que idade julga ser a ideal para que
ele possa se defender sozinho neste mundo tão injusto? Dez anos? Cinco anos?
Izequiel encara o filho por alguns segundos. Lágrimas escorrem pelo seu
rosto sujo.
Por longos segundos o único som que se ouve é o barulho da água no córrego coberto de névoa.
PROMETEUS
Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. O tempo está
passando, Izequiel.
Izequiel encara Prometeus.
IZEQUIEL
Cinco anos... cinco anos é suficiente.
PROMETEUS
Bravo! Bravo Izequiel. Um homem
decidido. Assim que eu gosto.
Prometeus retira do bolso do paletó uma pequena faca prateada. Alisa a
lateral da faca sobre a palma da sua mão e sorri.
IZEQUIEL (assustado)
O que você vai fazer com essa faca?
Prometeus começa caminhar na direção de Izequiel, sempre com seu sorriso
largo estampado.
CLOSE em seus sapatos bem lustrados, que vão trocando passos pisando firme no chão de terra batida.
Aproxima-se e fica a menos de um metro de Izequiel. O encara bem dentro dos olhos.
PROMETEUS
Fique tranquilo, Izequiel. Não é com
essa faca que eu costumo selar os meus acordos.
Prometeus joga a faca no chão.
PROMETEUS
Um beijo já é o suficiente para estes
cinco anos.
Izequiel arregala os olhos. Olha para o filho desacordado. À sua frente,
Prometeus sorri e abre os braços esperando para selar o acordo.
Em Rick desacordado em primeiro plano, com Izequiel e Prometeus trocando um longo beijo ao fundo em meio à névoa, para selar o acordo.
RICK (abre os olhos)
Papai?!
Izequiel se vira para o filho, um sorriso surge em seu rosto ao ouvir a
voz de Rick.
IZEQUIEL
Papai está aqui, filho.
Corre até Rick, o abraça.
PROMETEUS
Aproveite os anos que terá ao lado de
seu filho, Izequiel. Logo venho cobrar o preço de nosso acordo.
Izequiel e Rick se levantam e vão embora dali. Prometeus os observa, com
seu sorriso longo estampado no rosto.
A forma de um homem aparece atrás de Izequiel. O sorriso em seu rosto continua escancarado e ele vira-se para a pessoa que surgiu ali.
IZEQUIEL
Os anjos monitoram os acordos do
inferno agora?
BELCHIOR
Quando o assunto é almas, sempre
estamos monitorando.
IZEQUIEL
Você chegou tarde. A alma desse pobre
homem já pertence ao inferno.
BELCHIOR
Podem ficar, não me importo. (caminha
ao redor de Izequiel) Sabe o que está acontecendo no mundo?
IZEQUIEL
A bruxa lançou uma praga que está se
espalhando entre os humanos e gerando…/
BELCHIOR
…caos e morte por onde passa.
IZEQUIEL
Criando um clima perfeito para novos
pactos. Pessoas desesperadas, são capazes de tudo. Até mesmo realizarem um
pacto com o diabo.
Belchior encara Izequiel.
BELCHIOR
Queremos que ela pare com isso. Ela vai
acabar com a criação divina, se continuar com essa praga.
IZEQUIEL
E o que leva a você crer que eu posso
falar com ela?
BELCHIOR
Vocês demônios têm uma rede de conexão
bem forte, independente se são fiel ou não a ela. Então, certamente você
encontrará uma forma de avisá-la.
IZEQUIEL
Avisá-la exatamente sobre o que?
BELCHIOR (tom sério)
Se essa praga não acabar agora, o céu
inteiro irá intervir. Ignoramos a maldade que ela veio fazendo por séculos,
porque não interferia nos planos divinos. Mas agora, o que ela pretende fazer
vai acabar com todos os humanos, e isso, não vamos deixar que aconteça.
CLOSE em Belchior. Ele desaparece na sequência. CLOSE em Izequiel. PLANO GERAL da encruzilhada.
CORTA PARA
CENA 02. SEQUÊNCIA DE CENAS.
Diversas pessoas em vários lugares com os mesmos sintomas: tosse, manchas no corpo e falta de ar.
Hospitais cheios. Ruas vazias. Desespero, dor e luto em diversos locais.
CORTA PARA
CENA 03. CASA DE DOMENI. SALA. INT. NOITE.
Domeni abre a porta, Caim entra com Tales nos braços, indo direto ao sofá. Alexandre vem em seguida com sua mãe apoiada em seu ombro. Caíque logo atrás ajudando seu pai. Todos estão com o nariz coberto com suas roupas, com exceção de Caim.
CAIM
Mantenham seus rostos cobertos.
Coloca Tales no sofá, Domeni retira algumas almofadas dando-lhe mais
espaço.
DOMENI
Ele está tremendo muito. Vou pegar
algumas cobertas lá no quarto.
CAIM
Melhor não tocar nele, também não
sabemos como isso se espalha.
Domeni vai em direção aos quartos. Alexandre ajuda sua mãe a sentar-se
em outra poltrona.
ALEXANDRE
Não descubra o rosto, está bem. A
senhora está muito debilitada, não queremos que pegue o mesmo que o
Tales.
CAIQUE
Será que a Serafine está por trás
disso?
ALEXANDRE
Pode ter certeza, que está. Aquela
bruxa não conseguiu o que queria, agora tá fazendo isso como vingança.
CAIQUE
Em que proporções isso deve estar?
CAIM
Pelo o que vimos ao longo do caminho de
volta pra cá, a cidade inteira está com esse vírus.
ALEXANDRE (a Caim)
Não há um feitiço, uma cura ou um
antídoto que você possa fazer?
Tales começa a tossir. Sai uma pequena quantidade de sangue de sua boca.
Alexandre tenta socorrê-lo, mas é impedido por Caim.
CAIM
Deixa que eu o ajudo. Melhor nenhum de
vocês tocar nele.
Domeni retorna com várias cobertas. Entrega uma para Caim, que a coloca
em Tales.
DOMENI
A situação é mais grave do que
imaginamos. (entrega uma coberta para a mãe de Alexandre) Essa doença está se
espalhando não só na cidade, mas no mundo inteiro.
ALEXANDRE
Como assim?
Domeni entrega a última coberta para o pai de Alexandre, em sequência,
vai até o sobrinho e lhe mostra um vídeo no celular.
CLOSE na tela do celular.
Um jornalista (36 anos, calvo, usando máscara) em uma bancada de telejornal.
JORNALISTA
O mundo está à beira de um colapso! Um
vírus mortal vem provocando uma onda de caos e desespero em diversos lugares do
planeta. (exibe cenas de hospitais lotados, pessoas desesperadas, em seguida
retorna para o jornalista) A comunidade científica inteira está intrigada com o
surgimento deste evento e a velocidade em que ele se espalha. Todos estão
correndo contra o tempo, para encontrar uma cura. O que se sabe até o momento,
é que sua contaminação é feita pelo ar. Não há nenhum registro de paciente
curado, pelo contrário, os casos de óbito só aumentam a cada minuto. Será este
o fim da humanidade?
CAM em Alexandre perplexo. Domeni bloqueia a tela do celular e se afasta
do sobrinho.
DOMENI
Milhões de pessoas estão morrendo em
uma proporção mundial.
ALEXANDRE
O que essa desgraçada pensa que tá
fazendo?! Merda... E pensar que estávamos tão perto de pegá-la. (anda pela
sala) Passei a droga da minha vida inteira procurando o paradeiro dessa
desgraçada e quando finalmente a encontro, quando estávamos tão perto de acabar
com ela... (soca três vezes a parede ao seu lado)
Domeni vai até ele, tenta acalmá-lo. Caim apenas observa com um
semblante sério no rosto. Caíque está ao lado do pai, de cabeça baixa,
pensativo.
DOMENI
Não fique assim, querido. Ficar estressado
desse jeito não vai nos ajudar a encontrarmos um caminho para sairmos dessa
situação.
Tales volta a tossir e soltar sangue pela boca. Todos olham para ele.
CAIM
Temos que ser rápidos, senão esse rapaz
não vai aguentar por muito tempo.
CAM dá um close em Tales tossindo muito.
CORTA PARA
1x10 - CAOS NO MUNDO (SEASON FINALE)
CENA 04. SEQUÊNCIA DE CENAS.
Um cenário de caos pelo mundo. Pessoas adoecendo. Famílias desesperadas. Médicos sob pressão. Caos e destruição em ruas e locais públicos, por vândalos que acreditam estar acontecendo o fim do mundo. Alguns locais destruídos e pegando fogo.
Do alto de alguns prédios vários demônios de olhos escuros observam o caos que está lá embaixo. Ambos com grandes sorrisos de satisfação e prazer em seus rostos.
CORTA PARA
CENA 05. CASA DE DOMENI. SALA. NOITE. INT.
Domeni está com as duas mãos sobre Tales, pronunciando algumas palavras em latim. Caim está ao lado dela, observando.
Alexandre está ajoelhado em frente de sua mãe, segurando as duas mãos dela. Caíque coloca seu pai para sentar-se em uma cadeira.
ALEXANDRE
Eu falhei, mãe! (ao pai) Eu falhei, pai! Eu falhei com todos vocês.
A mãe dele, ainda fraca, apenas leva sua mão direita até o rosto do filho e o acaricia. Uma lágrima escorre de seu rosto neste momento.
ALEXANDRE
Eu não acabei com a maldição. Eu não matei a bruxa. Pelo contrário, iniciei algo pior ainda. (coloca sua cabeça sobre as pernas de sua mãe) Eu não sei o que fazer! (sua mãe o acaricia, chorando)
CAÍQUE
Eu sei! Temos que dar o que ela quer. É o único jeito! É o único jeito de acabarmos com esse caos.
ALEXANDRE (ergue a cabeça em direção ao irmão)
Eu não vou matar você. Isso é uma das poucas coisas que eu consegui cumprir.
CAÍQUE (sério)
Será que a minha vida vale mais do que a de bilhões de pessoas?
Caíque vai em direção ao irmão, mantém uma postura firme. Alexandre se levanta, mas continua segurando a mão de sua mãe.
CAÍQUE
Se fizermos o que ela sempre quis desde o início, podemos salvar essas pessoas. Podemos salvar o Tales.
ALEXANDRE
Eu não vou dar esse gostinho a ela. Não depois de tudo que passamos naquele lugar.
CAÍQUE
Cai na real, Alê. Não tem outro jeito. Não tem outro caminho. Não tem outra escolha. Ela já ganhou. Nós perdermos não há o que fazer, a não ser entregar o que ela quer.
ALEXANDRE
Eu já disse que…/
CAIM (o interrompe)
Seu irmão tem razão, Alexandre. Se há uma forma de salvar todos, talvez este seja o único caminho.
ALEXANDRE (a Caim)
Você tá brincando comigo, não é?! Não acredito que você disse isso.
DOMENI
Querido, Serafine é mais forte do que pensávamos. Se ela conseguiu fazer um estrago dessa proporção simplesmente desejando algo, imagina o que ela pode fazer.
CAIM
Nem eu mesmo a reconheço, Alexandre. Ela está imprevisível. Podemos esperar qualquer coisa dela. Coisas piores podem acontecer, se ela não tiver aquilo que ela quer.
ALEXANDRE
Vocês têm noção do que estão dizendo? Vocês querem que eu mate o meu próprio irmão! Que droga foi que aconteceu?
CAÍQUE (sério)
Você está sendo egoísta, Alê.
ALEXANDRE
Egoísta?
CAÍQUE (sério)
Escolhendo uma vida, em troca de bilhões! Eu te digo uma coisa, irmão... a minha vida não é importante, comparada a de várias pessoas que estão lá fora agora sofrendo, por um vírus desconhecido. Crianças, pessoas do bem, estão sofrendo por algo que não tem nada a ver com elas. (se aproxima de Alexandre, ainda mantém sua voz firme) E saiba que se estivéssemos em posição diferente, eu não hesitaria em fazer o necessário para salvá-los.
Alexandre o encara por longos segundos. É nítido em seu rosto um turbilhão de sentimentos momentâneos, raiva, tristeza, fúria, decepção, angústia. Ele se afasta de Caíque, com os seus punhos fechados.
ALEXANDRE
É melhor eu sair daqui, antes que eu encha essa sua cara de socos e abra teus olhos que você é meu irmão e que eu não vou fazer isso.
Alexandre vai em direção à cozinha.
CAÍQUE (tom alto, irritado)
Egoísta! Isso que você é, Alexandre. Alguém que só pensa em você. Que não se importa com a droga da vida das outras pessoas.
Alexandre sai de casa pela porta dos fundos. Caim observa Caíque tenso. Domeni volta a pôr as mãos sobre o corpo de Tales e pronuncia algumas palavras em latim.
CENA 06. HOSPITAIS. INT. NOITE.
Pessoas tumultuando corredores. Médicos e enfermeiros em desespero. Correria de ambos os lados, várias mortes e confusão. Pessoas brigando para serem atendidas.
Em um determinado local, CAM destaca uma mulher usando uma roupa branca, cabelos pretos e longos, caminhando calmamente por um corredor com várias pessoas deitadas no chão e outras sobre algumas marcas hospitalares.
Ela anda esse percurso, olhando pessoa por pessoa. Sua atenção vai para uma menina de aproximadamente 10 anos, apresentando sintomas graves da doença misteriosa.
MULHER (sorri)
Olá, garotinha! Não se preocupa, estou aqui para aliviar seu sofrimento.
A mulher toca no braço da garotinha, uma luz branca brilha de sua mão e imediatamente os sintomas que a menina estava sentindo, começam a desaparecer.
Outras pessoas usando roupas semelhantes às da mulher caminham pelo corredor. Cada uma parece estar à procura de indivíduos específicos. Ao serem tocados por essas pessoas, imediatamente, a doença misteriosa some de seus corpos.
Isso ocorre em diversos lugares pelo mundo.
CORTA PARA
CENA 07. CASA DE DOMENI. SALA. NOITE. INT.
Caim está sentado na poltrona onde momentos atrás estava a mãe de Caíque. Ele observa Tales um pouco melhor, após receber um feitiço curativo de Domeni.
Caíque está andando de um lado para o outro. Seus pais não estão mais no local, assim como Domeni.
CAÍQUE
Por quanto tempo mais meu irmão vai ignorar que a única solução é essa?!
CAIM
Entenda o lado dele também, Caíque.
CAÍQUE
Eu entendo! De verdade, eu entendo os sentimentos que ele tá tendo agora. Só que cada vez mais que perdemos tempo, centenas de pessoas estão morrendo lá fora. Enquanto estamos aqui de braços cruzados.
CAIM
Alexandre vai entender. Só o deixe um tempo sozinho.
CAÍQUE
Espero que entenda logo, antes que todo mundo morra.
Domeni entra desesperada na sala.
DOMENI
Caim, por favor, me ajuda. A Uriel não está se mexendo no quarto. O corpo dela está todo cheio de manchas, não sei a quanto tempo que ela foi infectada.
Caim se levanta rapidamente e segue Domeni até os quartos. Sozinho na sala, Caíque decide ir atrás do irmão. Ele vai até a cozinha, sai de casa pela porta dos fundos.
CORTA PARA
CENA 08. CASA DE DOMENI. QUARTO DE URIEL. NOITE. INT.
Uriel está deitada na cama, com a pele pálida e imóvel. Uma luz brilha no quarto e no instante seguinte, um homem de roupa branca está ao lado da cama.
O homem observa a garotinha deitada, senta-se ao lado dela e toca na mão esquerda da menina.
HOMEM
Você foi escolhida, menininha. O céu teve compaixão por você e está lhe dando mais uma chance.
Sua mão brilha e imediatamente as manchas no corpo de Uriel começam a desaparecer e a palidez em seu rosto se ameniza.
A porta do quarto é aberta, Domeni e Caim entram às pressas no cômodo e se surpreendem ao ver Uriel acordada e sentada na cama, sem manchas e bem.
Domeni e Caim trocam olhares confusos.
CORTA PARA
CENA 09. CABANA. NOITE. INT.
MÚSICA: (Can't be Tamed - Miley Cyrus)
Uma pequena cabana de madeira, em meio a várias árvores gigantes. CAM percorre em direção a porta, que é aberta e revela o interior do local.
Um lugar cheio de prateleiras, livros e objetos de magia. CAM continua percorrendo o espaço até chegar ao seu centro onde está Serafine usando um longo vestido azul brilhante.
Vários livros flutuam ao seu redor. Seus olhos estão com uma coloração violeta intenso. Com pequenos gestos com as mãos, ela folheia as páginas dos livros.
CAM percorre alguns livros, revelando as páginas sendo folheadas. Há símbolos, escritos em línguas estranhas e desenhos místicos.
CAM destaca Serafine novamente.
SERAFINE (fecha os olhos)
Claro que os seres com asas iriam intervir. (abre os olhos) É bom mostrar pra eles quem manda agora no planeta.
Seus olhos brilham com mais intensidade. Começa a falar palavras em um idioma estranho. Os livros circulam ao seu redor, em um ritmo acelerado. A entonação em sua voz aumenta, conforme o ritmo dos livros ao seu redor.
Um círculo roxo começa a ser desenhado abaixo de Serafine. Com os olhos fechados, ela libera uma onda de energia de suas mãos.
Símbolos estranhos começam a ser desenhados. Serafine continua falando palavras estranhas, seu corpo flutua se afastando do chão.
O piso de madeira está repleto de círculos e símbolos estranhos, ambos na coloração roxa. Serafine abre os olhos e encerra seu feitiço. Tudo fica em silêncio por alguns segundos. De repente, um som assustador e agudo, como se relâmpagos estivessem caindo, é ouvido do lado de fora da cabana.
CAM destaca o sorriso crescendo no rosto de Serafine.
SERAFINE
Está feito! Um novo mundo será criado a partir de agora!
CAM mostra o exterior da cabana. Nuvens escuras se formam no céu. Ventos fortes sopram. Raios começam a cair em diversos lugares. Tornados estranhos se formam. Terremotos e rachaduras na Terra se abrem.
CORTA PARA
CENA 10. SEQUÊNCIA DE CENAS.
O clima caótico criado por Serafine se repete em diversos lugares. Chuva forte, tempestades, alagamentos, terremotos, relâmpagos constantes, furacões.
O vírus misterioso não é mais o problema, a natureza furiosa se tornou um.
MÚSICA OFF.
CORTA PARA
CENA 11. CASA DE DOMENI. JARDIM. NOITE. EXT.
MÚSICA: (Brother - Needtobreathe feat Gavin DeGraw)
Alexandre está chutando o cercadinho de madeira, extravasando o misto de sentimentos que sente em seu peito. Caíque se aproxima dele lentamente.
ALEXANDRE (furioso)
Seu fraco! Seu fraco! Seu fraco!
CAÍQUE
Você não é fraco, irmão.
Alexandre se vira, está ofegante.
CAÍQUE
Você é o cara mais corajoso que eu conheço. É o cara que eu mais admiro e respeito nessa vida.
Caíque continua se aproximando do irmão.
CAÍQUE
Você lembra quando eu tinha 6 anos de idade e você me defendeu dos garotos da minha escola que zombaram de mim por que eu fiz xixi nas calças?
CORTA PARA
FLASHBACK,
Pequenos trechos da infância de Caíque.
Caíque chorando e rodeado por várias crianças que riem e zombam dele. Todas apontam para a sua calça molhada.
Alexandre, sendo o mais velho e maior de todas aquelas crianças, invade a roda que fizeram ao redor de Caíque e começa a amedrontar todos que estão zombando de seu irmão.
Rapidamente as crianças vão embora. Caíque para de chorar e do seu ponto de vista, a visão que ele tem é do irmão corajoso que o protegeu.
A cena inteira é em off, enquanto Caíque continua sua fala.
CAIQUE (v.o., CONT.)
A partir daquele dia, você se tornou o maior exemplo que eu queria ser. Eu não queria que as pessoas zombassem mais de mim. E muito menos gostaria que zombassem de outras pessoas. A partir daquele dia, eu queria ser como você. Corajoso o suficiente, para poder salvar qualquer um que precisasse.
O flashback se encerra com Alexandre tocando no ombro do irmão. Ele sorri e os dois seguem o caminho para casa.
FIM DO FLASHBACK
CORTA PARA
CENA 12. CASA DE DOMENI. JARDIM. NOITE. EXT.
CAIQUE (CONT.)
Você tem um bom coração, irmão. Então não importa o que você faça, isso não vai mudar.
Alexandre sente vontade de chorar, baixa a cabeça e evita contato visual com o irmão. Caíque se aproxima um pouco mais de Alexandre.
CAÍQUE
Você sabe que precisa fazer isso. É o que dizem por aí, não se pode fugir do seu destino. As pessoas precisam ser salvas, irmão. Elas precisam que você as salve.
ALEXANDRE (ergue a cabeça)
Você também merece ser salvo, Cay!
CAÍQUE
Quem sabe a morte, seja a minha salvação?!
ALEXANDRE
Eu não aceito esse destino!
Os rapazes escutam o mesmo som aterrorizante e agudo que Serafine. Eles se entreolham assustados e percebem o clima mudando bruscamente. Começa a chover e a ventar forte no local.
ALEXANDRE
Mas que droga está acontecendo agora?
CAÍQUE
É ela! Serafine está fazendo isso.
ALEXANDRE
A bruxa não tá pra brincadeira.
CAÍQUE
Você tem que me matar, Alê. Esse é o único jeito de parar ela.
Os dois irmãos se encaram. Close em Alexandre nitidamente angustiado.
CAÍQUE
É o único jeito, irmão. Você sabe disso.
Caíque vai até o irmão e o abraça. Alexandre retribui e abraça fortemente o irmão. Os dois ficam nessa cena por alguns segundos.
Caíque se afasta do irmão, com uma arma nas mãos.
CAÍQUE
Peguei a arma que você guarda na cintura! (coloca o objeto nas mãos de Alexandre) É só puxar o gatilho e estará tudo terminado, Alex!
Alexandre pega a arma direito. Caíque se afasta do irmão. Alexandre prepara a arma e ergue lentamente em direção ao peito de Caíque. Suas mãos estão trêmulas. A chuva continua aumentando.
CAÍQUE
Cuida da nossa família, está bem! Você vai salvar muita gente ainda, irmão. (sorri) E eu estarei ao seu lado sempre.
Alexandre está angustiado. Suas mãos estão trêmulas. Devido a tempestade, não se sabe se o que escorre de seu rosto são lágrimas ou água da chuva.
CAÍQUE
Atire meu irmão. Atire antes que seja tarde. Salve as pessoas! Salve você mesmo dessa maldição.
Alexandre está trêmulo. Seu braço declina um pouco. Ele olha para o lado, não quer que sua última memória seja uma bala perfurando o peito de seu irmão.
Raios e trovões surgem em meio a tempestade. Um cai em uma árvore ao fundo do quintal, assustando os rapazes.
CAÍQUE (tom alto)
Atira logo, Alexandre! Não temos muito tempo!
Alexandre volta a erguer o braço em direção ao irmão. Respira ofegante, como se o ar não quisesse permanecer em seus pulmões.
CAÍQUE
Atira, irmão! (sorri) Você consegue. Eu acredito em você.
FIM DA SONOPLASTIA.
Alexandre segura firme na arma. Coloca seu dedo no gatilho, determinado a apertá-lo.
Caíque fecha os olhos, abre os braços e ergue a cabeça para o alto.
MÚSICA: (Things we Lost in the Fire – Bastille)
Alexandre está ofegante e suas mãos estão muito trêmulas. Em um ato rápido, ele também fecha os olhos, no mesmo instante tudo escurece e se ouve apenas o som de um disparo.
A tela fica escura por alguns segundos, se ouve apenas o som da tempestade.
A tela se abre e mostra o teto da casa de Domeni, assim como a forte chuva e as nuvens escuras no céu.
CAM corta para o gramado, onde mostra a cintura de um corpo deitado no chão, e a frente dele, a cintura de um corpo em pé.
Se ouve um choro, em meio a chuva, seguido de um grito alto!
CAÍQUE
Não!!!
O corpo que está em pé ajoelha-se, revelando ser Caíque.
CAÍQUE (chora)
Porque fez isso, Alex? Porque não atirou em mim? Porque?
CAM mostra o corpo de Alexandre morto no chão. Com um buraco em meio a cabeça e sangue escorrendo por baixo.
Caíque dá outro grito mais intenso que o primeiro. Soca o gramado diversas vezes.
CAÍQUE (chora, tom alto)
Serafine!!! Cadê você bruxa!!! Não é assim que a história termina. Porque não o traz de volta? Porque não o traz de volta para terminar isso direito.
Se ouve apenas o som da chuva que não hesita em nenhum momento. Pelo contrário, a tempestade só aumenta.
Caíque olha para o corpo do irmão caído a sua frente.
CAÍQUE (chora, tom alto)
Porque não o traz de volta? Porque você não o traz de volta? (olha para o céu, tom alto) Serafine... você tá me ouvindo? Porque não aparece aqui e vem resolver seu problema comigo. Aparece se você tem coragem.
SERAFINE (v.o)
Pobre, Cay.
Caíque se atenta a voz de Serafine. Se levanta, olha para todos os lados mas não a vê.
MÚSICA OFF.
SERAFINE (v.o.)
Perdeu o irmãozinho à toa. Eu não me importo mais com a maldição. Eu não me importo mais com a vida de vocês. Eu não me importo mais com a vida de ninguém.
CAÍQUE
Do que você está falando? Porque você não aparece aqui pessoalmente? Está com medo.
SERAFINE (v.o.)
Medo? De você? Não faça piadas, Cay. Nem de seu irmão eu tinha medo, imagina se vou ter medo de um garoto bobo que nem você.
CAÍQUE
Traz meu irmão de volta. Não é assim que a história termina. Você disse que se ele se matasse, você o traria de volta, porque não é esse o final que você quer. Você quer que um irmão mate o outro. Então traga o Alexandre de volta.
SERAFINE (v.o.)
Eu cansei desse final. E mesmo assim, pra mim não tinha a menor diferença se vocês fossem se matar ou não. Eu tenho outros planos agora. Vou criar um mundo melhor, diferente desse caótico que Deus criou. Serão criaturas melhores e mais obedientes.
CAÍQUE
Você vai acabar com o mundo?
SERAFINE (v.o.)
Eu tinha em mente deixar você e seu irmãozinho sozinhos no planeta. Vocês seriam meu entretenimento enquanto eu me preparava para ganhar mais poder. Iria adorar assistir vocês dois vivendo em meio a esse mundo vazio e sem vida. Vocês e o Caim, óbvio. Estava curiosa para ver o que vocês três iriam fazer. Mas, o idiota do seu irmão quis sair da história. Fazer o que, não é? Espero que se divirta vivendo sozinho no mundo, pobre Cay! (gargalha)
CAÍQUE
Você não pode fazer isso. Você quer a mim! Sou eu quem precisa morrer! É a minha alma que você precisa levar.
Caíque não escuta mais a voz de Serafine. Se ouve apenas o som da chuva forte.
CAÍQUE
Serafine? Serafine, você tá aí? (ajoelha-se, olha o corpo do irmão a sua frente) Por favor, volta. Volta! Volta!!!
CAM percorre o corpo de Alexandre, iniciando-se dos pés e indo até a cabeça. CLOSE por alguns segundos nos rosto de Alexandre.
CORTA PARA
CENA 13. PRISÃO. INFERNO. INT. ESCURO.
MÚSICA: (You Give Love a Bad Name – Bon Jovi)
O corpo de Alexandre encostado em algumas grades. CLOSE em seu rosto apenas. Ele desperta assustado ao ouvir a voz do irmão o pedindo para voltar.
CAÍQUE (v.o.)
Volta! Volta! Volta!!!
PLANO GERAL mostra Alexandre sentado no chão em uma ampla sala. Seus braços e pernas estão acorrentados, com correntes que vão até a parede.
POV de Alexandre: Vários homens na mesma situação que ele. Alguns abatidos, machucados e sujos. Sua visão percorre canto a canto da sala. Sua atenção se dá a um homem específico.
ALEXANDRE
Que lugar é esse? Onde estou?
HOMEM
Você possivelmente deve ser mais um dos descendentes de meu irmão! A maldição deve ter se cumprido novamente.
Todos os homens olham para Alexandre. Alguns com certa dificuldade que outros. Dentre os homens, é possível reconhecer alguns portadores da marca que foram mostrados ao longo da temporada.
HOMEM (cont.)
Seja bem-vindo ao inferno, rapaz!
série criada por
Anderson Silva
Gabo Olsen
Marcos Vinicius
episódio escrito e revisado por
Anderson Silva
Gabo Olsen
Marcos Vinicius
elenco
Chirs Wood...................................Alexandre
Matt Dallas.....................................Caíque
Danielle Campbell.................................Ayla
Lauren Graham...................................Domeni
Khylin Rhambo....................................Tales
participação especial
Ruth Connell..................................Serafine
Jeffrey Dean Morgan...............................Caim
Samara Lee.......................................Uriel
Wendy Moniz........................................Mãe
Frank Grillo.......................................Pai
música
The House of the Rising Sun - The White Buffalo
Brother - Needtobreathe feat Gavin DeGraw
Can't be Tamed - Miley Cyrus
Things we Lost in the Fire – Bastille
You Give Love a Bad Name – Bon Jovi
produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela
REALIZAÇÃO
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CENA PÓS-CRÉDITO: CORREDOR BRANCO. INT.
Um corredor infinito, branco e impecável de limpo. Serafine usando um longo vestido azul brilhante caminha com a cabeça erguida e uma postura imponente.
Continua andando pelo longo corredor de paredes brancas, sem porta ou janela alguma.
CORTA PARA
CENA PÓS-CRÉDITO: SALA DE REUNIÃO. INT.
Uma sala ampla, iluminada e com uma longa mesa retangular no centro. Um holograma da Terra está sendo exibido sobre a mesa, destacando vários pontos vermelhos.
Várias pessoas com uma expressão preocupada no rosto, atentos a um homem de terno cinza em pé na ponta da mesa.
HOMEM DE TERNO CINZA
O mundo está rachando, literalmente! A bruxa ultrapassou todos os limites ao atacar a criação divina.
PESSOA 01
Devemos fazer alguma coisa.
PESSOA 02
Devíamos ter feito algo bem antes. Não tê-la deixado atingir tamanho poder.
HOMEM DE TERNO CINZA
Não podíamos. Fomos avisados em não intervir nesse plano.
PESSOA 03
Não fizemos nada e agora o fim do mundo está aí. A Terra será destruída se não intervirmos.
Imediatamente a porta da sala é aberta e Serafine invade o local. Todos se assustam ao vê-la ali.
SERAFINE
Então é aqui onde vocês ficam assistindo o sofrimento lá de baixo?
PESSOA 02
Como entrou aqui, bruxa?
SERAFINE
Até que foi fácil. Só estranhei vocês deixarem o acesso do céu assim liberado para todos.
PESSOA 01
Todos que buscarem a salvação, podem entrar no céu!
SERAFINE
Esse é o problema de vocês. Mas algumas coisas serão diferentes depois que eu assumir meu novo cargo.
HOMEM DE TERNO CINZA
Cargo?
SERAFINE
Sim. De agora em diante, o céu está sob uma nova direção.
Todas as pessoas do local se entreolham pasmos. CLOSE no rosto de Serafine.
MÚSICA OFF.
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