Há vários homens em volta do tambor onde acontecem as rinhas de galo. Napoleão, um homem rechonchudo e grisalho, de roupas grosseiras e chapéu de palha na cabeça, conversa com Odílio. O delegado Ferreira se aproxima deles e os cumprimenta. Ferreira encara Napoleão.
– Viu, seu Odílio. É disso que eu tava falando procê – diz Napoleão.
Ferreira coça o queixo e depois o ouvido. Ele puxa um maço de cigarros, lentamente retira um, coloca na boca e acende.
– Mas cê sabe como as coisas funcionam, né, seu Napoleão. Eu te ajudo, você me ajuda. Sempre foi assim. Mas quando uma das partes não coopera, as coisa ficam complicadas – explica Ferreira.
Napoleão olha para Odílio.
– Eu acho melhor o senhor aceitar a minha proposta, seu Napoleão.
– Mas aí é desvantagem pra mim, seu Odílio.
Ferreira coça o queixo novamente e diz:
– Não dificulta as coisas, seu Napoleão. Você não tem como pagar o que tá me devendo.
Napoleão está nervoso, com os olhos agitados e suando bastante.
– Olha só a minha proposta, Ferreira: eu pago tudo o que ele tá te devendo e assumo a rinha. Ele vai ficar ganhando uma comissão de 25% em cima das apostas, só pra continuar organizando tudo – explica Odílio.
– Mas desse jeito tá bão demais, seu Napoleão. Tá vendo como você é um homem sortudo. Tem o Odílio pra assumir a sua dívida e um delegado bom que nem eu pra deixar a sua rinha continuar. Se fosse outro delegado, fechava aqui, e você terminava perdendo tudo. Quem sabe até ia parar no xadrez – diz Ferreira.
Contrariado, Napoleão acaba cedendo à proposta de Odílio e do delegado Ferreira.
– Tá certo. Eu não tenho outra saída, né. Acho que vou ter que aceitar essa proposta mesmo.
– Viu? Ficou bom pra todo mundo. Todo mundo sai ganhando, seu Napoleão. Eu vou te pagar o que ele tá devendo e não se toca mais no assunto. Daqui pra frente, nós se acerta com a sua mensalidade, viu Ferreira – diz Odílio, sorridente.
Ferreira ri.
– Bom de ter uma pessoa honesta assim na cidade é isso; Odílio promete, Odílio cumpre.
– Vamo lá pro Pereira tomar aquela cachacinha mineira, Ferreira – propõe Odílio.
Napoleão, triste, vê Ferreira e Odílio saindo no meio do povo. Não que organizar rinhas de galos fosse motivo de orgulho, mas era só isso que ele sabia fazer na vida. O galpão, passado de geração em geração, desde os tempos do seu bisavô, acabara de ser perdido para Odílio. Ele ainda tinha 25% garantidos, mas aquilo fora herança de família. “Fazer o quê? Odílio tá virando o dono da cidade”, pensou Napoleão naquele momento, vendo os dois festejando.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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