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Funerária Dois Irmãos: Capítulo 24

Novela de Marcelo Caronesi
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FUNERÁRIA DOIS IRMÃOS - CAPÍTULO 24




 

            Há vários homens em volta do tambor onde acontecem as rinhas de galo. Napoleão, um homem rechonchudo e grisalho, de roupas grosseiras e chapéu de palha na cabeça, conversa com Odílio. O delegado Ferreira se aproxima deles e os cumprimenta. Ferreira encara Napoleão.

         – Viu, seu Odílio. É disso que eu tava falando procê – diz Napoleão.

         Ferreira coça o queixo e depois o ouvido. Ele puxa um maço de cigarros, lentamente retira um, coloca na boca e acende.

         – Mas  sabe como as coisas funcionam, né, seu Napoleão. Eu te ajudo, você me ajuda. Sempre foi assim. Mas quando uma das partes não coopera, as coisa ficam complicadas – explica Ferreira.

         Napoleão olha para Odílio.

         – Eu acho melhor o senhor aceitar a minha proposta, seu Napoleão.

         – Mas aí é desvantagem pra mim, seu Odílio.

         Ferreira coça o queixo novamente e diz:

         – Não dificulta as coisas, seu Napoleão. Você não tem como pagar o que  me devendo.

         Napoleão está nervoso, com os olhos agitados e suando bastante.

         – Olha só a minha proposta, Ferreira: eu pago tudo o que ele  te devendo e assumo a rinha. Ele vai ficar ganhando uma comissão de 25% em cima das apostas, só pra continuar organizando tudo – explica Odílio.

         – Mas desse jeito tá bão demais, seu Napoleão. Tá vendo como você é um homem sortudo. Tem o Odílio pra assumir a sua dívida e um delegado bom que nem eu pra deixar a sua rinha continuar. Se fosse outro delegado, fechava aqui, e você terminava perdendo tudo. Quem sabe até ia parar no xadrez – diz Ferreira.

         Contrariado, Napoleão acaba cedendo à proposta de Odílio e do delegado Ferreira.

         –  certo. Eu não tenho outra saída, né. Acho que vou ter que aceitar essa proposta mesmo.

         – Viu? Ficou bom pra todo mundo. Todo mundo sai ganhando, seu Napoleão. Eu vou te pagar o que ele tá devendo e não se toca mais no assunto. Daqui pra frente, nós se acerta com a sua mensalidade, viu Ferreira – diz Odílio, sorridente.

         Ferreira ri.

         – Bom de ter uma pessoa honesta assim na cidade é isso; Odílio promete, Odílio cumpre.

         – Vamo lá pro Pereira tomar aquela cachacinha mineira, Ferreira – propõe Odílio.

         Napoleão, triste, vê Ferreira e Odílio saindo no meio do povo. Não que organizar rinhas de galos fosse motivo de orgulho, mas era só isso que ele sabia fazer na vida. O galpão, passado de geração em geração, desde os tempos do seu bisavô, acabara de ser perdido para Odílio. Ele ainda tinha 25% garantidos, mas aquilo fora herança de família. “Fazer o quê? Odílio  virando o dono da cidade”, pensou Napoleão naquele momento, vendo os dois festejando.

escrita por
Marcelo Caronesi

elenco
Odilon
Odílio
Tereza
delegado Ferreira
Onça-parda

tema
Canções de Assassinato 

intérprete
Confraria da Costa

direção
Carlos Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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