Odílio e Ferreira conversam, enquanto saboreiam o famoso torresmo pururuca preparado no bar do Pereira, acompanhado da deliciosa cachaça mineira, considerada por muitos como a melhor aguardente da região serrana e do Vale. Dois violeiros animam o local, onde outras pessoas comem e bebem.
A moda é abafada pelo barulho do motor de um veículo. Logo o barulho cessa e o prefeito Eurico entra acompanhado do fazendeiro Irineu. Ambos acenam para todos os presentes e rapidamente chegam até a mesa de Ferreira e Odílio.
– Agora todos os amigo tão reunido – diz Irineu, sorrindo. Cêis acreditam que o Eurico foi me buscar lá na fazenda pra nóis beber junto cocêis?
– Então vamos beber, ora – sorri, Odílio.
– E como tá indo a loja, Odílio? – questiona o prefeito.
– Tá indo bem, seu Eurico, muito bem.
– Quem diria que um dia a gente ia ter uma loja de eletrodomésticos aqui em São Pedro? Essas coisa a gente só via em São Paulo, Rio, São José dos Campos...
– É o progresso chegando em São Pedro, seu Irineu – diz o delegado Ferreira.
– Mas o progresso não veio sozinho, Ferreira. Se não fosse a visão do Odílio, a gente talvez não tivesse nem uma casa funerária ainda aqui na cidade – ressalta o prefeito.
– Eu sou um homem de negócios, seu Eurico. Eu e meu irmão viemos com a intenção de viver uma vida tranquila, sossegada. Como nós não somos de esbanjar, fomos fazendo nossas economias. Aí decidimos que era a hora de montar a relojoaria. Mas a lojinha foi ficando pequena. E a cidade toda terminou tendo rede elétrica onde ainda não tinha. Aí eu pensei: “por que não montar uma loja onde eu pudesse vender de tudo?”. As pessoas de São Pedro não tão no fim do mundo. Lógico, a cidade é longe, mas nós não tamo fora do mundo. As pessoas precisam ter rádio, televisão, geladeira, fogão. As pessoas têm dinheiro pra comprar à vista? Não. Então, sabendo da honestidade da população daqui, eu pensei: “por que não vender no crediário?”. E tamo aí, trazendo tecnologia e diversão pras pessoas de São Pedro.
Irineu não se contém.
– Gênio! Você é o gênio dos negócio, Odílio!
O delegado Ferreira interrompe o momento de alegria de Irineu.
– Ô, seu Irineu, me diz uma coisa: aquela onça-parda que andou rondando a sua fazenda naqueles tempos, ela sumiu?
– Ferreira, meu amigo, aquelas bichas são umas fiadaputa. Elas passam um tempo num lugar, depois vão morar num canto bem longe. Depois aparece outras. Parece que, por enquanto, não tem nenhuma pela região, mas nunca se sabe quando elas pode vortá – explica o fazendeiro.
– Mas então por que ocê ainda insiste em manter os rapazes nas divisas da fazenda? – questiona, Ferreira.
– Óia, Ferreira, vou ser sincero procê. Antigamente a gente não tinha desses pobrema aqui em São Pedro, mas parece que argumas pessoas pegaram costume de roubar galinhas e cabritos dos outros. O seu Valdir andou me dizendo que tinha gente que tava roubando as galinha dele de madrugada. Mas cê se preocupe não. Os rapaz não vão machucar ninguém não. Se eles pegar arguém tentando entrar na minha fazenda, vão só dar um susto, quem sabe, uns bons tapas no pé do ouvido. Ou a gente entrega procê.
– Mas cê sabe que tem turista que vem pra cá e que vai pras cachoeira, né? Tem uns poucos, mas que, às vezes, tem gente que vai pra do Jaú também, né? Tem que tomar cuidado pra não confundirem, porque eles podem se atrapalhar nas trilhas e terminar entrando na sua fazenda – explica o delegado.
– Ah, meu amigo, os rapaz já tão tudo orientado. Eles sabem quem é quem. Taí uma coisa que ocê não precisa se preocupar! Só quem vai praquela merda daquela cachoeira é umas pouca pessoa daqui mesmo. Eu não sei como tem gente que gosta daquele lugar.
Eurico toma a palavra:
– Eu tava pensando da gente pedir carneiro e mais umas cervejas, daí a gente encerra por hoje. Que que cêis acham?
– Por mim, tá ótimo – diz Odílio.
– Por mim também – diz Ferreira, sendo repetido por Irineu.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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