Odilon está sentado no sofá, jogando algumas cartas de baralho sobre a mesa de centro. O rádio toca “Marvada Pinga”, de Inezita Barroso. Começa um barulho persistente na fechadura da porta da sala; ela balança, e Odilon consegue escutar Odílio resmungando do lado de fora, sem conseguir abrir. O barulho cessa, dando lugar a três pancadas na porta. Novamente há barulho na fechadura. Depois de algum tempo a porta se abre. Odílio entra, muito embriagado. Ele se irrita, ao ver Odilon sentado no sofá.
– Cê não tava ouvindo eu bater nessa merda não, porra?
– Ih, óia só que coincidência. Tá tocando a sua música – ironiza, Odilon.
Odílio se irrita e caminha tombando, mas rapidamente na direção de Odilon; ele coloca a mão na altura da cintura, em seu coldre para retirar o revólver. Odilon passa a mão embaixo do sofá, retira uma grande faca e salta na direção de Odílio, derrubando-o e colocando a faca em seu pescoço.
– Sorta essa arma! Vai seu merda! – grita Odilon.
– Você não tem coragem, seu bunda-mole – diz Odílio, rindo e afastando a arma no chão.
– Ocê chegou uma hora dessa em casa, bêbado igual um pingaiada. Tá cheio de gente na rua. Onde ocê tava, as pessoa viram ocê saindo assim. Arguém aqui da vizinhança deve ter visto ocê assim – explica Odilon.
– O que isso tem a ver, seu paspalho? – pergunta Odílio irritado, com a faca no pescoço.
– Quarqué pessoa pode achar que ocê, um homem solitário, sozinho, sem muié, chateado com a vida, decidiu se matar. E eu posso confirmar que ocê me dizia em segredo que tava desgostoso com a vida – ameaça, Odilon.
– Ninguém ia acreditar em você.
– Ocê quer pagar pra ver? – pergunta Odilon.
Odílio balança seu corpo, tentando se desvencilhar de Odilon que está sobre ele. Ele grita:
– Sai de cima de mim, seu merda!
– Eu vou sair e você vai ficar quietinho – diz Odilon.
Ele faz exatamente como dissera que iria fazer. Lentamente sai de cima de Odílio e retira a faca do seu pescoço. Odílio se levanta, enfurecido.
– Qualquer dia eu acabo com você a com a sua namorada – ameaça, Odílio.
– Deixa de falar merda, Odílio. Vai tomar banho que amanhã de manhã a gente tem que ir na missa.
Odílio se levanta e pega a sua arma. Ele se dirige até a porta do seu quarto cambaleando, procurando no molho, a chave do cadeado. Odilon volta para o seu lugar no sofá; junta as cartas e começa a embaralhar.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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