Edih Longo
Sinopse: Uma sutil comparação com duas realidades: a nossa, cuja empatia é um termo quase desconhecido e a época em que brincávamos na rua, sendo observados ao longe pelos pais que conversavam nas calçadas. Tranquilidade. Hoje a Terra se torna uma fria e indiferente mãe de seus filhos, por causa do próprio destempero deles. Ela sofre.
Não há regras. Muito menos, uma trégua. Assim é a nossa pedra.
Não há uma releitura eficaz do nosso tempo. Há sempre um contratempo.
O minuto que passou já era e as flores visitam, quando deixam, a primavera.
No meio do nosso caminho, pedras existem de verdade, Drummond de Andrade.
Nossa máquina de escrever virou um teclado macio como carrinho de criança. É confortável, mas hoje a desilusão me cansa!
Letras bailam em silêncio. Não saltitam ao som das pesadas teclas. Os sons se mesclam.
Os pássaros gorjeiam e a gente escuta à distância. Ouço, às vezes, gorjeios na lembrança. Criamos ao som de britadeiras, buzinas e motosserras. No meio do caminho, em nossas cabeças caem pedras, Poeta.
Vivemos comprimidos no útero de nossas casas. Sob os pássaros que nos jogam pedras de suas metálicas asas.
A vida escorre desvairada. Não é mais só a criação de Deus. Pode ser até clonada.
Presenciamos uma anarquia linguística. Sílabas correm sem quaisquer logísticas.
Não se pontuam mais. Tanto fez como tanto faz. Maiúsculas fugiram do ponto final. Não faz mal. Hoje há outras necessidades. O ar é uma pedra que pesa mais que a respiração da humanidade.
O mundo se apequenou, a máquina se agigantou e está nos engolindo e mudando a história. Humanos?! Ficaram só na memória.
O mundo virou uma bola de fogo. Em toda parte, só há engodos. É, poeta, nosso velho mundo se transformou em uma bolinha de gude, que nem as crianças perdem seu tempo, amiúde. Tudo é tão cruel! Lembro do livro 1984 de George Orwell.
Somos monitorados a todo momento. É um tormento!
As redes sociais nos perfilam nos muros de forma atroz. Metralham-nos como um encapuçado algoz.
Antes, brigávamos por divisões de terras e continentes. Hoje, a coisa é mais urgente.
A briga dos chefões é pelo planeta inteiro, e para ver quem aperta o botão primeiro.
E agora, Drummond de Andrade? Eis a pedra que inaugura a nossa realidade.
No meio do caminho, caro poeta, a sua pedra se deslocou, cimentou- se às outras e nos cercam, como nos antigos castelos. Mas, não em sonhos infantis, outrora belos.
Trancou-nos nos pesadelos, que medo!
AGONIZANTE GAIA
Neil Wolf
Sinopse: O sofrimento de um planeta que não desiste de lutar.
Imenso casco que concede abrigo e proteção,
Teu sofrimento, nem Atlas suportaria nos ombros,
Anteu atordoado em um mundo triste e sem união,
Florestas inteiras transformadas em escombros.
Flora queimada,
Flor pisoteada,
Fauna calcinada.
Seu ar poluído, rios sujos e vastos campos dizimados.
Mas Gaia ainda resiste, não desiste ou se deixa abater.
Suas lágrimas escorrem por entre seios desidratados,
Suas mãos sangram, mas insistem na luta para viver.
É preciso reciclar,
É preciso conscientizar,
Para a vida não terminar.
CARTA ABERTA
Gilliard Santos
Sinopse: Soneto sobre a preservação do meio ambiente.
Peço a atenção de todo ser humano
Para valorizar o que lhe resta;
Alguns devastam tudo, em ato insano,
Movidos por dinheiro – ação funesta...
- Explique agora, que ganância é esta?
Relate, enfim, o seu nefasto plano
Por que destrói a vívida floresta?
Por que polui as praias e o oceano?
É necessário sempre estar alerta...
Não seja aquele tolo que se ilude,
Alheio ao que hoje está acontecendo.
Eu faço destes versos carta aberta:
Mudemos bruscamente de atitude,
Pois o Planeta Terra está morrendo.
QUEIMADA E DESMATADA
Plácido Amaral
Sinopse: Um soneto que fala sobre a degradação do meio ambiente no que concerne aos atos de queimadas e desmatamento de florestas.
Numa floresta em fogo aflora a dor,
existe a mão que queima a natureza,
ardem as chamas vivas no calor
de um ato desumano e sem nobreza...
Na selva assassinada em seu verdor,
insiste a face má da serra “alteza”
na fútil comunhão de cruz com flor
sem pétalas, sem cor e sem nobreza...
É triste ver a mata incendiando,
agonizante ao meio do ambiente,
a vítima inocente do desmando.
Chocante é ver a planta estar ausente,
tomada do seu solo que, chorando,
lamenta pela ação tão indecente.
SONHO COM UMA ÁRVORE INABALÁVEL
Liza Rodrigues
Sinopse: O poema retrata uma árvore imponente que fala e conta sobre o que ela é e sobre sua interação com os demais elementos naturais. A árvore surge como eu lírico dentro de um sonho (que está colocado em primeira pessoa). É um poema que fala sobre força, sobre querer permanecer no tempo, sobre pertencer a uma paisagem, um território e também sobre nutrir o outro. É um poema sobre a terra e é feminista.
sonho com uma árvore inabalável
fincada no tempo que diz:
eu sustento o verão e todas as estações
em meu esqueleto armado
mantenho-me firme
numa porção de areia
numa porção de lama
de mangue, de terra dura ou seca
entre as pedras eu me elevo
e falo com os ventos de todos os oceanos
que me trazem notícias de vida e de morte
eu tenho domínio sobre a água e a terra
e tenho o mar
infinitamente verde azul
o solo preso em minhas raízes
pertence todo a mim
e com ele eu livro minhas filhas da fome
e todas as mulheres
podem me considerar sua mãe
SAUDOSO PARAÍSO
Mayara Luciane
Sinopse: Representação sob a forma de lamentação e tristeza ante o desmatamento e destruição provocada pelo homem no meio ambiente.
Era verde o paraíso
Onde a serra foi cortar
Mas por que escuto riso
Se o pobre passarinho
Ao encontrar caído o ninho
Não poderá o filhotinho
Com doçura alimentar
E que graça tem agora
Aquela firma cor de cinza
Onde havia o pé de amora
Que com tanta alegria
As frutinhas cor de vinho
A gente corria pra apanhar
E por que me importaria
As regras de se rimar
Se a minha infância todinha
Naquele sítio tão verdinho
O homem mau teve de achar
A floresta exuberante
Ela não está mais lá
Tanta coisa vai mudando
A gente não sabe mais onde está
E por que tanto cimento
Onde a grama poderia brotar?
E por que tanta ganância
Onde o amor devia reinar?
Cadê o buraco do tatu,
O ninho estranho do anu
Cadê as flores e as abelhas
As aranhas com suas teias
Poluíram até o ar
CATACLISMO
Maurício Cavalheiro
Sinopse: A explosão de bombas, vivenciada por um menino, dizimou todo tipo de vida na Terra. Depois de muito tempo, choveu; a chuva despertou sementes e tamborilou na janela da casa do menino que acordou de um... pesadelo(?)
Quando as estrelas caíram na Terra
o menino contemplava a lua,
sem tempo de fechar os olhos
para não ver o polvilhar das bombas
de maior potência.
A Terra sacudida ganhou fissuras,
saiu do eixo
e se arremessou na direção da lua.
A atmosfera embrulhou o planeta
e desnudou florestas,
criando um santuário de troncos e galhos
com ninhos tumulares.
Rios e mares se esconderam na memória
do esquecimento,
revelando leitos
feitos de plásticos.
Depois de muito tempo o céu chorou,
despertou sementes hibernadas,
tamborilou na janela do menino
que contemplava a lua
e o acordou do pesadelo.
CEGUEIRA
Elvira Drummond
Sinopse:
Nem sempre olhar o mundo à nossa volta,
indica que enxergamos tal entorno.
Humanos, por ganância ou por suborno,
procedem de maneira que revolta…
Será que precisamos de uma escolta,
contendo a espécie humana do transtorno
de corromper a terra, sem retorno?
Armando o próprio embuste, quem nos solta?
Há falta de bom senso e pouco tato…
Teremos um talento, quase nato,
que nos impele à vil destruição?
Senhor, que venha a cura da cegueira,
que impede de enxergar que a vida inteira
cavamos nossa estúpida extinção!
Poema escrito por
Edih Longo
Neil Wolf
Gilliard Santos
Plácido Amaral
Liza Rodrigues
Mayara Luciane
Maurício Cavalheiro
Elvira Drummond
CAL - Comissão de Autores Literários
Agnes Izumi Nagashima
André Garcia
Eliane Rodrigues
Francisco Caetano
Gisela Peçanha
Lígia Diniz Donega
Paulo Luís Ferreira
Pedro Panhoca da Silva
Rossidê Rodrigues Machado
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
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