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Crimes no Subúrbio Carioca - A Gata de Irajá: Capítulo 06

Minissérie de Marcelo Oliveira
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CRIMES NO SUBÚRBIO CARIOCA - A GATA DE IRAJÁ - CAPÍTULO 06


   

O bairro Irajá no subúrbio do Rio de Janeiro é um dos mais de vinte bairros que são cortados pela Avenida Brasil, ao longo de mais de cinquenta quilômetros de estrada. Às margens dessa avenida existem muitos condomínios, quase todos construídos há mais de cinquenta anos, para comunidades específicas. Hoje em dia, alguns são tomados por classes menos favorecidas. E foi em um desses condomínios que os agentes foram investigar mais um ataque do misterioso maníaco.

O cenário parece se repetir, realmente há um padrão. Mulher, sozinha, estrangulada, o corpo todo contorcido, debaixo do colchão, sangue esparramado por todos os lados. Dessa vez, porém, a cena do crime não traz a mesma organização da anterior, o corpo da vítima apresentava diversos hematomas, indicando uma descontrolada selvageria do assassino. Além do mais, a vítima tinha um companheiro e chamou a polícia no mesmo dia.

— Zé, conseguiu alguma coisa com a portaria?

— Esses “profissionais” só estão lá de enfeite, não sabem de nada, nem viram nada.

— Câmeras de vigilância?

— São falsas, a administração considerou em reunião que é um recurso desnecessário, já que possuem a “vigilância” vinte e quatro horas. Mas, depois dessa, aposto que irão reconsiderar.

Ralf e Marilda trocam olhares de decepção e se voltam para a cena do crime. Marilda presta mais atenção ao ambiente, um apartamento simples, de um quarto, bastante abafado, organizado e limpo, a sala tem alguns objetos decorativos na estante, móveis novos. Tudo limpo e bem organizado, o banheiro perfumado, cortinas e black-outs limpos. Pelo visto a mulher tinha muito zelo pelo apartamento.

— Recém-casados? — Marilda comenta.

— Sim, o marido, Carlos Eduardo, está lá fora em estado de choque. Ele teve que ser dopado para evitar ficar histérico. — Zé Carlos já tinha falado com o rapaz.

Não havia muitas evidências para descobrir, o assassino segue sua metodologia religiosamente. Talvez estivesse só brincando com os investigadores, talvez ele (ou eles) não tenham consciência do que deixam para trás, embora, as características do crime excluam muitos suspeitos, porque poucos teriam condições de forçar um corpo humano a assumir aquelas posições, ainda mais sendo arrastado para dentro de um estrado e perfurado com as madeiras. Ainda assim, o sangue que escorria dos corpos e formavam a poça debaixo da cama, coagulavam rapidamente e nem sequer continham qualquer pegada nele. A falta de uma direção estava constrangendo a polícia.

— Bom, aqui não há muito mais o que fazer. Marilda, você poderia tirar algumas fotos? Eu quero levar para a Adriana do TI analisar. E, Zé, assim que o viúvo estiver em condições, nos traga qualquer informação que conseguir dele.

— Espere um pouco, Ralf, veja essas marcas aqui no rosto dela. — Marilda se aproxima do corpo.

— O que é Marilda? — Ralf a acompanha.

— Veja, tem alguma coisa diferente aqui.

Ralf passa o dedo e o leva ao nariz. O odor é fraco, mas ácido como alvejante. Então, o Inspetor apanha os acessórios de coleta e raspa um pouco e entrega ao perito para análise.

Zé Carlos se adianta para fazer outras verificações, Marilda e Ralf entram no carro para sair, mas antes que consigam dar partida, são abordados por Sergio Riso, o repórter.

— Com licença, senhores Inspetores, alguma declaração?

— Não, Sergio, nada a declarar. — Ralf responde com rispidez.

— Alguma relação com o crime da rua Fernandes Gusmão, a violência foi praticamente a mesma?

— Sergio, é incoerente eu fazer uma declaração depois que disser “nada a declarar”.

— A população precisa saber que há um maluco à solta. O que a polícia pode nos dizer?

Ralf fecha o vidro da janela e acelera o carro, o repórter continua a narrativa para a RIC News.

Algumas horas depois, assim que chegam à delegacia Ralf demonstra irritação com a falta de solução do mistério, chama a analista e pede que descarregue as imagens no celular da Marilda. A psicóloga parece um pouco mais compenetrada, ela retoma seus arquivos.

— Dois assassinatos em menos de dez dias e estamos na estaca zero. O que espera encontrar aí, Marilda?

— Na verdade ainda estou confusa com o crime anterior a esse. Pelo cenário que vimos hoje, dá pra perceber como ele é meticuloso.

— Sim, em princípio, não nos deixou nada, nem mesmo testemunhas.

— E de repente, temos um jorro de sêmen a disposição. — Zé Carlos surge com um relatório de exames periciais preliminar.

— O pessoal trabalhou rápido. — Marilda se surpreende.

— Pois é, tem vestígios de sêmen no rosto da vítima.

— Mas, ela não apresentava sinais de violação sexual.

— Não, o esperma foi encontrado só no rosto. O detalhe é que os vestígios foram colocados depois do assassinato.

— O que acha Marilda?

— O esperma é novidade.

— O que pode significar?

— Psicologicamente falando, sêmen no rosto é uma forma de demonstração de poder, de domínio ou submissão, mas, como apontam os exames...

— Nada disso faria sentido com ela morta. — Zé Carlos complementa.

— Exatamente. Nesse caso, acredito que seja mais uma demonstração de raiva.

— Mas, se for a mesma pessoa que cometeu os três crimes passados, essa raiva não é um sentimento individualizado. — Ralf completa o raciocínio.

Na porta do escritório Nina aparece. Diante do incômodo que causa, na psicóloga, Zé Carlos se levanta para pega-la e levar a outro lugar.

— Considerando que a vítima era estranha, pelo modus operandi, a psicopatia do homem pode estar se agravando. — Marilda continua a análise.

— Como você disse, pode ser alguma raiva direcionada a pessoa, ou ao que ela representa.

— Seria a primeira vez em oito crimes consecutivos.

— Você já considerou que fosse mais de uma pessoa?

— Acho improvável, quanto mais envolvidos, os riscos de serem expostos, ou deixarem pistas, seria muito maior. Esse tipo de assassino, tem um círculo de relacionamento muito restrito, por motivos óbvios.

— Então, você acha que é somente um maluco?

— Isso está mais do que óbvio. Mas, um tipo de maluco que consegue ser competente ao ponto de nos deixar assim, no escuro.

— Você disse que ele cometeu seis crimes ano passado? Como eu nunca soube disso?

— Porque foram cometidos em outras cidades, nós resolvemos manter as investigações em sigilo para evitar um pânico generalizado.

— Vocês, ao menos deveriam ter emitido um boletim reservado. Não que fôssemos evitar os crimes, mas, ao menos serviria para estudo de casos.

— Isso seria feito se conseguíssemos capturar o responsável, mas, de repente, os crimes cessaram...

— E as pistas esfriaram a ponto de vocês, simplesmente, arquivarem os casos. Se o homem continuar com o mesmo planejamento, temos pouco tempo para evitar o último crime dele, depois só ano que vem.

— Você sabe muito bem como o sistema funciona nesse país, né? Menos de dez por cento, desse tipo de caso, é resolvido. E os governantes preferem abafar os crimes do que assumir que não tiveram competência para resolvê-los, ou, pior ainda, passar o problema para um sucessor político. Na cabeça deles é o mesmo que jogar munição para o inimigo usar contra eles.

— Ainda assim, nós não temos muitas pistas para iniciar a investigação.

— Posso sugerir uma coleta de dados dos montadores de moveis da região? Ele parece que conhece bem essa área.

— Não acho que seria possível, além do universo de autônomos, não temos garantias de que todos seriam catalogados.

Uma escrivã bate na porta da sala.

— Inspetor, o senhor vai querer atender essa ligação.

— Claro, pode passar... Alô, sim aqui é o Inspetor Ralf, em que posso ajuda-la? ... Qual o seu endereço? — Ralf rabisca no caderno. — Mas, como você... Tudo bem, só peço que não fique sozinha e aguarde que logo chegaremos aí. Venha, Marilda, acho que nosso gênio cometeu um erro.

Ralf desliga e se apronta para sair, Marilda recolhe os arquivos e se junta a ele.

— Adriana, teve algum sucesso com o rastreamento daquela ligação? — antes de sair da delegacia, Ralf passa pela central de TI.

— Não deu em nada, era de um telefone pré-pago, não consegui nem localizar a região de origem.

— Tudo bem, faz um favor, liga para o Zé Carlos e peça que ele nos encontre nesse endereço.

— Já terminou com meu celular? — Marilda pede o aparelho de volta.

— Ah, sim, claro, toma. Muito obrigada.

A analista apanha o bilhete do Inspetor e rapidamente atende a solicitação.

autor
Marcelo Oliveira

personagens
Ralf
Zé Carlos
a gata Nina
Sergio Riso
Zulmira
Abigail
Gonçalo
Marilda

agradecimentos
Leda Selma
Wellington Santos
Guilherme Hepp
Gustavo Calazans
Maria Ines
Maria Aparecida

trilha sonora
Hitman - Kevin MacLeod

direção
Carlos Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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