Odilon entra na sala da casa. Odílio está sentado com o aparelho televisor ligado.
– Desliga a televisão e senta aqui, Odilon.
Odilon obedece a ordem de Odílio, sentando-se no sofá, próximo a ele.
– Eu achei as notas. Sabe onde tava?
– Onde? – pergunta Odilon.
– Numa gaveta da cozinha. Como será que essas nota foram parar lá?
Odilon fica curioso.
– Como que essas notas foram parar na cozinha?
– Se eu soubesse, eu não tinha te perguntado. Olha, Odilon, eu vou tentar não perder a paciência com você. Vou conversar bem calmamente com você, tá? – fala, pausadamente, Odílio. Essas notas da prefeitura podem dar cadeia, sabia? Se alguém pega e leva pra denunciar em outra cidade, pode dar a maior confusão. E eu não quero dar nenhum tipo de dor de cabeça pro Eurico, entende? O seu trabalho aqui é praticamente ficar com a bunda sentada naquela cadeira da funerária, só isso. Você enche de gente lá e...
– Não encho não! Só de vez em quando que a Tereza ou o Pedro...
– Cala a boca, que eu tô falando! – grita Odílio.
Odilon se cala. Odílio respira fundo e retoma a fala baixa e pausada:
– Todo mundo fica lá batendo papo com você. Sempre que eu chego lá, tem alguma pessoa diferente, não é só a Tereza e o Pedro, mas qualquer pessoa que você dá trela. Você não vai colocar mais ninguém lá dentro; nem a Tereza.
– Ocê não manda nimim. Eu já tô ficando de saco cheio disso – reclama Odilon.
– E o que você vai fazer? – questiona, Odílio.
Odilon baixa a cabeça. Vai falar algo, mas desiste. Ele está bastante incomodado. De repente, decide falar, franzindo a testa e implorando:
– Óia, Odílio. Eu agradeço o que cê fez por mim, as coisa que ocê prometeu pro meu irmão. Mas vamo cada um seguir seu rumo? – pede Odilon.
Odílio dá uma gargalhada.
– Cada um seguir o seu rumo! Como?
– Eu te pago. Eu compro a sua parte da funerária, das lojas. Cê vai ficar com um bão dinheiro. Aí cê pode ir até embora daqui. Você não gosta daqui mesmo.
Odílio dá outra gargalhada.
– Você bebeu? Tudo que a gente tem aqui, fui eu que montei.
– Mas eu te pago a sua parte.
Odílio se engasga, rindo.
– Odilon... Há... Odilon, coitado de você... Hahaha... Única coisa que tá no seu nome é metade da funerária. As lojas estão com os alvarás todos no meu nome. Você não tem nenhuma parte nelas. Hahaha – diz, Odílio, chorando de rir.
Odilon tem uma expressão de choro no rosto.
– Cê me enganou, Odílio. Eu te ajudei em tudo.
Odílio fica sério.
– Você não ajudou em nada, rapaz. Você começou atrapalhando tudo quando escolheu essa merda dessa cidade desgraçada. Mas agora eu gosto daqui. Agora eu sou um grande empresário de São Pedro da Cachoeira. E passei a gostar dessa cidade. E todo mundo gosta de mim – ironiza, Odílio.
– Então vamo fazer o seguinte: você compra uma casa, eu fico morando nela, e você fica nessa. Ou, se você quiser, fazemo o contrário; cê compra uma casa grande e eu fico aqui.
Odílio coloca o braço sobre os ombros de Odilon e diz:
– Não. Nós vamos ficar juntos, como dois bons irmãos. Quem me garante que, longe, você não vai armar alguma coisa pra me prejudicar?
– Não, Odílio. Jamais eu faria arguma coisa contra ocê – diz Odilon.
– E vai dormir que lá pelas três horas tá chegando um caminhão com caixão e mercadorias.
Odílio caminha até a porta do seu quarto, retira a chave do grande cadeado. Depois se tranca em seu quarto. Odilon permanece sentado no mesmo lugar, inconformado e triste, sentindo o cheiro de cigarro que vem do quarto de Odílio.
Odílio se deita na cama, com o cigarro na boca. Encosta a cabeça no travesseiro e coça o queixo com um olhar raivoso e pensa: “Acho que tá na hora de tirar ele do meu caminho”.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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