O bar do Pereira está com os mesmos frequentadores habituais. Odílio está sozinho numa mesa, bebendo uma cerveja e comendo dobradinha. Ferreira entra apressado no local e se dirige para a mesa onde ele está. Puxa uma cadeira e se senta.
– Odílio, meu amigo, vim o mais rápido que pude. O que você precisa tanto conversar comigo?
– Nem sei por onde começar, Ferreira. É uma situação deveras complicada.
– Pode dizer, meu amigo. Eu ajudo no que tiver ao meu alcance – se solidariza Ferreira.
– Cê sabe como eu e o Odilon somos unidos, não?
– Ô! E como! Todo mundo sabe. Cêis dois são unha e carne – elogia o delegado Ferreira.
– Pois é. Nós, além de irmãos, somos muito amigos.
– Toda a cidade sabe disso. Mas me diz: ele tá com algum problema, Odílio? Ele se meteu em alguma encrenca?
– O Odilon sempre foi um menino muito bom, desde pequeno. Foi um filho excelente, prestativo, obediente. Sempre foi o orgulho da mãe. E é um ótimo irmão, um companheirão. Mas eu tô meio preocupado com ele ultimamente, sabe Ferreira – explica Odílio.
– Diz logo o que que tá havendo, Odílio. Eu tô começando a ficar preocupado.
– Cê sabe do namoro dele com a filha da dona Creuza, a Tereza?
– Sei sim. Já faz um bocado de tempo, né? – responde, Ferreira.
– Mas cê sabe também que ele sempre teve amizade com o filho do seu Rui verdureiro?
Ferreira fica surpreso.
– Disso aí eu já não sabia – responde novamente o delegado Ferreira.
– O negócio é o seguinte, Ferreira: ele tá tendo umas imaginação, umas ideias malucas na cabeça. Eu já tô cansado de dizer que isso é criação da cabeça dele, mas ele é teimoso feito uma mula – explica Odílio.
– Diz logo o que tá acontecendo, Odílio.
Odílio puxa sua cadeira para mais próximo da do delegado Ferreira. Ele coloca a mão à frente da boca e diminui o volume da sua voz.
– Ferreira, eu não comentei isso com ninguém. Tô confiando na nossa amizade. O Odilon é louco de ciúme daquela menina. E de uns tempos pra cá inventou de cismar com o filho do seu Rui. Tá desconfiado. Fica teimando que o rapaz quer ter coisa com a Tereza.
– Mas, Odílio, eu conheço o Alfredinho. Ele namora com a Estelinha, filha daquela professora, a dona Ester. Cê não conhece ela? Eles até planejam casar; pelo menos é isso o que eu ouvi – se preocupa Ferreira.
– Conheço, Ferreira. Mas, puta merda, não tem quem convença o Odilon que o Alfredinho não quer nada com a Tereza! Ele tá maluco, nem me escuta.
– Cê quer que eu converse com ele? – propõe Ferreira.
Odílio se assusta com a proposta.
– Não! De jeito nenhum, Ferreira! Se ele souber que eu comentei isso com você, é uma quebra de confiança entre eu e ele. E eu nem sei o que ele é capaz de fazer.
– Mas me explique, Odílio: o que você quer fazer exatamente? Eu posso ajudar de algum jeito?
– Olha, eu acho que é o caso da gente ficar de olho no Odilon e no Alfredinho. O Odilon já falou que ia dar um fim nele. Até já peguei ele falando sozinho, com revólver na mão, dizendo que ia colocar uma bala na cabeça dele, planejando coisas. Tô preocupado dele fazer uma besteira e acabar desgraçando com a vida dele, do garoto, de todo mundo. E tem vezes que fala coisas sem sentido; coisas que eu achava que só bandidos bastante perigosos dizem – desabafa Odílio.
Ferreira coloca a mão no ombro de Odílio e o encara de frente.
– Odílio, fique tranquilo. Nós vamos resolver isso da melhor forma, certo? Se o Odilon tiver precisando de um médico de louco, nós vamo dar um jeito.
Odílio balança a cabeça, mostrando confiança no seu amigo Ferreira.
– Muito obrigado. Eu já tava ficando maluco com essa história.
Nesse momento uma lágrima escorre pelo rosto de Odílio. Ferreira coloca a mão em seu ombro.
– Eu tenho tanto medo do meu irmão fazer uma merda.
– Ele não vai fazer merda; eu te garanto.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
Copyright © 2022 - WebTV
www.redewtv.com
Todos os direitos reservados
Proibida a cópia ou a reprodução
Comentários:
0 comentários: