Odílio e Odilon entram pela porta da sala. Odílio está sorridente e amistoso com Odilon. Ambos riem.
Odilon senta-se no sofá. Odílio vai até a cozinha e retorna pouco tempo depois com uma garrafa, dois pequenos copos, uma maçã e uma faca nas mãos. Ele senta-se na poltrona do outro lado da mesa de centro, onde colocara a bebida e os copos.
– Tomar uma cachacinha pra comemorar um dia feliz e agradável – diz Odílio, sorrindo e olhando para Odilon. Deixa eu encher o seu copo.
Odílio enche os dois copos e retalha a maçã em pequenos pedaços. Eles tomam a bebida num gole e em seguida comem um pedaço de maçã.
– Vamos lá, Odilon. Agora nós vamos falar sério. Hoje é terça-feira, certo? Tenho em mente um plano pra você executar na sexta-feira da semana que vem. O que você acha?
– Ô, Odílio, eu não queria mais fazer isso.
– Fazemos esses trabalhos e depois cada um vive sua vida. Você faz esse e eu me arranjo com mais uns três ou quatro – argumenta Odílio.
– Mas como vai ser?
– Igual com o Aurélio. Cê fez amizade com ele, bateu papo, foi ficando amigo, e chamou pra pescar. Vai lá pro rio, eu fico esperando, e daí faço todo o resto. Cê só vai ter o trabalho de levar alguém até lá – explica Odílio.
– Mas se tiver gente lá?
– Cê acha que vai ter gente pescando no rio numa sexta à noite? Pessoal vai estar descansando, bebendo. E se tiver gente lá, a gente pesca, uai. Quem vai achar estranho a gente ir pescar com outra pessoa? – diz Odílio.
– Certo. E quem eu vou chamar pra pescar? – questiona Odilon.
– Rapaz, eu tava pensando no Alfredinho, filho daquele verdureiro, o seu Rui.
– Mas eu nem tenho essas intimidade toda com ele, Odílio! Só falo com ele às veiz quando vou comprar arguma coisa no mercado.
– Mas com o Aurélio foi do mesmo jeito; vocês mal se conheciam. Vocês nunca foram vistos juntos, nunca beberam juntos, nem ele veio aqui e nem você nunca foi na casa dele. Foram pescar, ninguém viu vocês indo. Ele se afogou no rio por algum motivo, e você e eu tamo aqui, livres de qualquer suspeita – explica Odílio.
– E eu vô chegar sem mais nem menos e chamar ele pra pescar?
– Odilon, todo mundo daqui gosta da gente. Todo mundo quer ser amigo da gente. Cê não vê o tanto que aquela jararaca da dona Branca fica empurrando a filha pra cima de mim? Aposto que com vinte minutos de prosa você convence o Alfredinho a ir pescar com você. Vai amanhã lá no mercado e fala com ele. Passa outro dia e repete uma conversa bacana. Na hora que você disser: “Ô Alfredinho, o que ocê acha da gente ir dar uma pescada, meu amigo?”, ele não vai pensar duas vezes – explica Odílio.
Odilon apoia os cotovelos nas pernas e fica pensativo.
– Não vai dar certo.
– Deixa de ser pessimista. Já deu certo mais de uma vez; vai dar certo de novo. E já teve trabalhos mais difíceis que você conseguiu fazer com primor – diz Odílio, sorrindo. Vai. Levanta a cabeça, homem.
Odilon ergue a cabeça. Odílio está sorrindo para ele. Ele estende o braço, abre a mão e diz para Odilon:
– Vai. Toca aqui.
Quando Odilon vai apertar-lhe a mão, Odílio puxa a mão de repente, toca uma viola imaginária e diz gargalhando:
– Deixa que eu toco sozinho.
Novamente ele leva a mão até onde a mão de Odilon tinha ficado. Desta vez ele aperta a mão de Odilon e olha em seus olhos.
– Vai dar tudo certo, meu amigo.
Tereza
direção
Carlos Mota
Cristina Ravela
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