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Crimes no Subúrbio Carioca - A Gata de Irajá: Capítulo 09

Minissérie de Marcelo Oliveira
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CRIMES NO SUBÚRBIO CARIOCA - A GATA DE IRAJÁ - CAPÍTULO 09


   

Acrescentar esse jogo de “gato e rato” só aumentou a intensidade do prazer. A sensação de estar sempre um passo a frente dos investigadores torna meus encontros muito mais divertidos. É tão fácil colocá-los onde quero.

Olha só, esses olhos. Ah, não precisa fazer isso, não faz essa carinha de choro. Quando era criança sempre achei que gente adulta não chorava, agora é o que mais vejo. É triste e, ao mesmo tempo, odioso, aposto que você não pensava em chorar quando se colocava debaixo dos seus amantes. Pra quê? Hein? Quer saber, eu faço é um favor pra sociedade. Essas mulheres sem dignidade não servem pra nada. Na verdade, eu sou um altruísta, mas o meu preço é beber desse desespero. Hehehehe! Se a sociedade não queria que elas me servissem, que tivessem mais cuidados das suas mulheres. Mas, quem sou eu para negar a oportunidade de fazer justiça?

— Vizinha! Vizinha, você tá aí?

Merda, merda, quem é essa enxerida? O que ela veio fazer aqui? Calma, melhor manter a calma, já passamos por isso. Logo ela vai embora.

Fica quieta mulher, eu não vou te machucar. Se soltar uma palavra eu vou buscar a sua amiga e mato as duas. É isso que você quer? Ótimo, vamos ficar bem quietinhos e esperar um pouco. Se ela for esperta, vai embora e eu te deixo em paz, está bem? Isso, fique boazinha.

Enquanto esperamos essa idiota se mandar, deixe ver como posso preparar o terreno para meus amiguinhos... eu quase sinto pena de só desfrutar desses prazeres uma vez por ano, mas os mestres me convenceram a ter pouco do que não ter nada, além do mais, manter esse hábito, só deixa a época mais especial ainda. E esse ano tive um ingrediente a mais. Realmente, não tinha como ser melhor.

Ah, olha só que bom, a sua amiguinha já foi, agora somos só nós dois. O que podemos fazer. Shhhhh! Não, não faça isso, eu não vou te estuprar, não. Eu não prometi te deixar em paz? O meu prazer é diferente, eu quero ver você morrer, hehehehe!

~ * ~

Você de novo? Dessa vez não vou ficar parada, nem vou fugir, você não vai fazer mal a minha amiga, seu maldito “Largue-a!” eu vou acabar contigo, macho sem cheiro. Venha atrás de mim se puder.

~ * ~

Gata maluca, o que deu em você? Saia daqui eu vou te matar. Onde está? Cadê você?

~ * ~

Nina está arisca, ela pula entre um móvel e outro e tenta de todas as formas defender a mulher que jaz inerte no chão. Da mesma forma o homem tenta se defender de seus ataques. Nina se esconde e salta em cima dele, às vezes arranca pele do rosto ou crava as garras nas costas dele. Embora fosse tomada por um instinto selvagem, o homem consegue sair da casa no meio da escuridão e fugir da sua caçadora.

Limpando o rosto, Gonçalo toca a campainha da porta, mas a demora em atender o deixa irritado. “Caramba, onde é que essa mulher foi agora?” ele não quer gritar pelo nome da dona da casa para não atrair atenção. Então, decide se pendurar para ver através do muro e saber se tem alguém, mas a casa está toda fechada. Súbito, Nina salta na sua frente, fica em cima do muro e o encara como se quisesse dizer alguma coisa, só que Gonçalo não presta atenção. A gata também parece impaciente e mostra os dentes, guinchando com raiva.

Gonçalo desiste e encosta no muro, pensando onde pode ir para descansar um pouco. Até que dois homens o abordam.

— Aí, mano, pode me dizer as horas?

— São onze e quinze.

— Olha só que tatuagens maneiras. Você é Gonçalo, o montador de moveis?

— Quem são vocês, o que querem?

— Somos agentes da civil, só queremos bater um papo, você precisa vir conosco.

Assustado, Gonçalo dispara para não ser agarrado, pula por muros, mas os homens tem a mesma habilidade e conseguem alcança-lo. Como o rapaz é forte, ainda tenta alguma resistência, mas os agentes o dominam e o levam sob custódia.

Na Delegacia de Polícia, Zé Carlos conduz Gonçalo à sala de interrogatório. O montador de móveis abaixa a cabeça, para não ser fotografado. Sérgio Riso avança fazendo perguntas ao Inspetor.

— Inspetor, esse é o maníaco que assassinou as duas idosas?

— Não, ele é apenas um suspeito.

— Por que a demora em encontrar um suspeito, Inspetor?

— As investigações ainda não terminaram, agora com licença.

— Queridos ouvintes, da rádio RIC News, parece que finalmente podemos dormir aliviados, a polícia conseguiu prender o maníaco da terceira idade, o homem que vinha aterrorizando os bairros do subúrbio cometendo os mais bárbaros crimes. Com a ajuda de uma ouvinte, que foi informada através do nosso Twitter e com muita coragem, ela deu as pistas essenciais, que levaram a prisão do criminoso. Agora ele deve passar muito tempo preso e aproveitar para refletir sobre o mal que infligiu às pessoas de bem. Aqui, Sergio Riso, direto da Delegacia de Polícia.

Na sala de interrogação, após algemar Gonçalo na cadeira, Ralf e Marilda entram e sentam de frente a ele.

— Seu nome é Amilton Gonçalo? — Ralf começa com um arquivo na mão.

— Sim, senhor, mas isso tudo é um erro, eu não sei de nada.

— Onde o senhor estava há sete dias?

— Sete dias? Nã-não sei, eu acho que... eu estava numa casa na rua Fernandes Gusmão.

— O que foi fazer lá?

— Ora, eu...

— O senhor tem ideia por que nós o trouxemos pra cá?

— Tem a ver com o caso do montador de móveis que tá matando as pessoas?

— Então você admite que sabe das mortes?

— Claro, tá todo mundo falando... mas não fui eu, eu juro pro senhor, não tenho nada a ver com isso.

— O senhor é montador de móveis?

— Sou, mas não mantei ninguém, doutor, eu juro.

— Limite-se a responder as perguntas.

— Eu tô respondendo, tô cooperando.

Marilda toma a frente,

— Se você não tem culpa nesses crimes, então não precisa ficar com medo de nada.

— Eu estou dizendo, não fiz nada, dona.

— Posso pegar uma amostra de DNA para fazer um teste?

— Claro, se isso ajudar a vocês.

Marilda sai e logo volta com uma enfermeira. Ela coloca um cotonete em sua boca, tira amostra de sangue e corta uma mecha de cabelo.

— Como é que você conseguiu esses arranhões na cara? — Zé Carlos também pergunta.

— Foi a Letícia, aquela maluca. Foi ela que me arranhou, ela é muito ciumenta.

— Parece arranhões de gata.

— Gata? Que nada, a Letícia já teve dias melhores, mas agora tá complicado, sabe como é, depois que engravidou ela perdeu aquelas curvas...

— Chega de enrolação e diz logo se você tem um álibi, ou não?

— O que é isso?

— Alguém confirmando que você não estava no local do crime.

— Ah, tenho sim, é só falar com a Zulmira.

— Quem é essa? — Ralf toma a frente.

— É onde eu tavo. Ela vai dizer que fiquei com ela esses dias todos, prometo.

— Zé, peça ao pessoal para confirmar o álibi.

— Qual a sua relação com a sra. Zulmira? — antes de sair, Zé Carlos tenta intimidar.

— É, que... eu... sabe o que é?

— Para de enrolar, rapaz, a sua situação aqui não é nada boa. — Zé Carlos fica irritado.

Ralf chama Zé Carlos e Marilda para saírem da sala.

— O que estão achando?

— Ele parece abalado demais, para quem teve sangue frio de cometer esse tipo de crime. — Zé Carlos responde rapidamente.

— Zé, parece que você fez mais uma conquista. — Ralf comenta sobre o carinho de Nina com seu companheiro.

— A Nina testemunhou dois assassinatos, os homens a trouxeram junto com Gonçalo. — Zé Carlos a pega no colo.

— Não precisamos nos desgastar com ele, amanhã já teremos o resultado do exame para comprovar. — Marilda é mais cética.

— Se não tivermos uma acusação não poderemos mantê-lo aqui. — Ralf abaixa a cabeça pensativo. — E você não tem muita afinidade com a gata, né?

— Estou mais preocupada em resolver esse caso, não gosto de distrações.

— Parece que a recíproca é verdadeira. — Ralf observa a irritação de Nina em relação a psicóloga.

— E se uma testemunha o reconhecer? — Zé Carlos tem uma ideia.

— Será que aquela mulher aceitaria vir aqui, hoje ainda?

— Não custa tentar, só assim a gente conseguiria segurá-lo até os resultados dos exames.

Ralf e Marilda concordam. Zé Carlos corre para convencer o casal do condomínio residencial ir até a delegacia.

Duas horas mais tarde, Abigail e o marido chegam a delegacia e são levados para sala escura. Eles são acomodados em um cômodo com uma grande janela de vidro a frente e são informados de que as identidades deles estão seguras, pois os homens atrás do espelho não podem vê-los. Assim que os homens entram em fila, Abigail se sentem mal ao ver os braços de Gonçalo exposto e já aponta para ele. O marido a consola e pede para serem dispensados.

Gonçalo é conduzido para a detenção preventiva. Ralf e Zé Carlos se organizam para emitir o relatório, enquanto Marilda se ausenta para seu apartamento.

autor
Marcelo Oliveira

personagens
Ralf
Zé Carlos
a gata Nina
Sergio Riso
Zulmira
Abigail
Gonçalo
Marilda

agradecimentos
Leda Selma
Wellington Santos
Guilherme Hepp
Gustavo Calazans
Maria Ines
Maria Aparecida

trilha sonora
Hitman - Kevin MacLeod

direção
Carlos Mota

produção
Bruno Olsen
Cristina Ravela

Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.


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