1x07 - A Última Dança
de Alexandre Naves
Artur retirou o lenço do bolso do paletó e passou-o pela testa e pescoço, enxugando o suor que escorria abundantemente. Seus passos eram lentos enquanto ele se dirigia à pensão carregando duas enormes malas, que felizmente estavam vazias. Ele estava cansado, seus calos doíam e se sentia imundo sob aquele sol escaldante, mas sua parada naquela cidadezinha tinha valido a pena, pois vendeu quase todo o seu estoque de tecidos e linhas, rendendo-lhe um bom dinheiro. Agora só pensava em tomar um banho, descansar e ir atrás de um arrasta-pé assim que anoitecesse. “Quem sabe não consigo até uma rapariga?”, pensou, sorrindo maliciosamente.
Artur era um vendedor ambulante,
também conhecido como “mascate” pelos mais antigos. Nas primeiras décadas do
século XX, o mascate era uma figura sempre presente nas pequenas cidades e
vilas do interior do Brasil, uma vez que os pequenos estabelecimentos
comerciais existentes nesses locais tinham pouco ou quase nada de diferente a
oferecer, e geralmente eram eles quem traziam as novidades, de modo que nos
rincões das Minas Gerais naquele distante 1928, Artur vendia não somente para
as pessoas nas cidades, mas abastecia o comércio local.
Após um demorado banho, Artur vestiu
o terno preto engomado por Dona Zefa, a proprietária da pensão, e ficou se
admirando no espelho. “É hoje, é hoje”, dizia para si mesmo e sorria, enquanto
passava mais um pouco de água-de-colônia e novamente ajeitava uma mecha de
cabelo que teimava em não ficar no lugar. Por fim, deu-se por satisfeito, pegou
seu chapéu e desceu para a rua.
A lua cheia estava radiante no céu,
mas alguns relâmpagos ao longe anunciavam o aguaceiro para mais tarde, então Artur
voltou e pegou sua capa para chuva. Ele avisou Dona Zefa que não jantaria na
pensão, de modo que a velha se recolheu, não sem antes pedir ao hóspede que não
voltasse bêbado ou fizesse barulho ao abrir a porta. Artur já estava acostumado
com essa vida sem residência fixa e sabia perfeitamente o quanto os donos de
pensão ou hotéis nessas cidadezinhas prezavam o silêncio, e desejoso de manter
as portas abertas se um dia retornasse ao local, prometeu que mesmo se voltasse
tarde tomaria todo o cuidado para não acordar ninguém.
Soprava uma brisa fresca, que fazia
as folhas das amendoeiras da praça dançarem num balé constante. Por fim, Artur decidiu
ir até o bar do outro lado da praça e pediu uma pinga “para dar uma
esquentada”. Dois homens estavam sentados nos bancos ao seu lado no balcão
enquanto bebiam e conversavam, visivelmente alterados pelo álcool.
— Boa noite, senhores, preciso de
uma informação — dirigiu-se a ambos.
— Pois não, o que o sinhô percisa
sabê? — Perguntou um deles, interrompendo a conversa e olhando-o com
desconfiança enquanto tragava seu cigarro de palha.
— Estou de passagem pela cidade e me
hospedei na pensão da Dona Zefa. Alguém pode me dizer se vai ter algum baile
por aqui hoje?
— Baile?
— Sim, nada como uma dança, uma boa
cachaça e um rabo de saia para animar a vida de um homem, não acham? — Disse,
enquanto ria e pousava a mão no ombro do homem.
O outro retirou a mão do seu ombro e
falou de maneira quase rude.
— O sinhô num é daqui, entonces é
mió tomá cuidado, pois as muié daqui são tudo muié direita, e os marido costuma
estripá quem forga cum elas.
— Ô, meu amigo, eu sei, não pretendo
desrespeitar ninguém. Só quero, sabe? Dançar um pouquinho. Ei, traga duas
pingas para meus amigos! — Gritou para o rapaz que estava atrás do balcão.
— Num carece não, moço, e num sô seu
amigo! Mais já que o sinhô qué tanto dançá... ô Juca, hoje é sexta-fêra?
— Isso mermo, sexta-fêra — respondeu
o outro homem.
— Bão, sexta é dia di arrasta-pé lá
no casarão do Zé Mirigido.
— E como chego até lá?
— No fim da rua o sinhô vai incontrá
uma ladêra pra sua direita. Dispois de subi por ela, vai percisá caminhá um
cadiquim. Assim qui passá umas casa o sinhô vai chegá no curral véio; a casa do
Zé Mirigido fica um poquinho mais pra riba; tem erro não.
Artur agradeceu e virou-se para sair
quando o homem o chamou.
— Toma cuidado, seu moço! Já avisei
qui as muié daqui são muié direita, e às veiz acontece umas coisas esquisitas pur
essas ruas di noite, principarmente pras banda do curral véio!
Artur agradeceu novamente e saiu
para a rua, caminhando em direção a tal ladeira.
“Mulher direita”. Artur riu com
deboche. Em todo lugar que chegava ouvia sempre a mesma recomendação, “cuidado
que aqui só tem mulher direita”, mas ele perdeu a conta de quantas “mulheres
direitas” já havia levado para a cama nessas suas andanças pelo mundo, e a
maior parte dessas “mulheres direitas” eram mulheres casadas. Sedutor e
aventureiro, Artur sabia identificar perfeitamente uma “casada bonita e
infeliz”, e era atrás dessas que ele sempre ia. Por que as casadas? Segundo
ele, porque “se uma casada der com a língua nos dentes, o marido a mata”. Mas
uma coisa era certa, ele precisaria ser mais cuidadoso para não repetir o erro
que cometeu naquela vilazinha que fica no pé da serra.
Mas que erro foi esse? Há alguns
meses, ele esteve pela primeira vez na tal vila, e seus olhos sedentos por amor
imediatamente se voltaram para uma mocinha negra muito bonita que carregava uma
imensa trouxa de roupas sobre a cabeça. Ele seguiu-a até a beira do rio, e na
companhia de outras mulheres, ela começou a lavar toda aquela roupa enquanto
entoavam uma cantiga. “Que desperdício! Tão nova, tão linda e já é obrigada a
trabalhar como lavadeira”, pensava ele.
Artur fez amizade com alguns
desocupados, e não demorou muito para que um deles, o Tonho, percebesse seu
interesse na mulatinha.
— Rapaz, não mexa com a Amália — advertiu-o
seu novo amigo. — A mãe dela é a Dona Maria Benzedeira, uma preta velha toda
metida com mandingas, rezas e a jurema.
— O que há, Tonho? Tá com medo dela
lhe jogar uma praga? — riu, com deboche.
— Não diga que não avisei!
E assim, sob o pretexto de vender
todo o estoque que trouxera, acabou demorando-se um pouco mais na vila. Bonito,
bom de conversa e experiente, não demorou muito para que conseguisse abordar Amália
e puxar conversa, e daí até seduzir a menina e tirar-lhe a virgindade “foi dois
palitos”. Agora, que já tinha “colhido seu troféu”, não havia motivos para
protelar sua partida; e assim, logo no dia seguinte, lá estava ele na estação a
fim de pegar o primeiro trem e seguir seu caminho.
Artur comprou a passagem e sentou-se
num dos bancos da estação ferroviária, aguardando a chegada do trem. Pouco
depois, ele percebeu um pequeno alvoroço atrás de si, e ao olhar, viu uma velha
negra arrastando uma jovem pelos cabelos. A moça se encolhia enquanto a mulher
e outros dois rapazes a estapeavam. Olhando com mais atenção, percebeu que a
moça que apanhava era Amália! A idosa arrastou a menina e jogou-a aos pés de um
aturdido Artur.
— Foi ele? — Perguntou a velha. — Fale,
sua ramêra! Foi ele?
— Foi sim, mãe. Foi ele — ela
confirmou, aos prantos.
Artur começou a suar frio. Ele olhou
em volta e deu graças por não haver ninguém na estação. Não era preciso ser
adivinho para saber do que elas falavam. A velha, que não era outra senão a tal
Maria Benzedeira, encarou-o.
— O sinhô vai cunsertá o mal qui
feiz pra mia fia. Já qui tirô os tampo dela, agora ela vai sê sua muié. Pode
levá!
— Levar? Como assim? Não vou levar
ninguém — respondeu, sobressaltado.
— Mas furá a mia fia o sinhô pôde,
num é? O qui vô fazê cum uma fia disonrada?
— Isso não é problema meu, nem
virgem sua filha era! — Mentiu. — Acha que sou trouxa e vou servir de tampão
para o que outros fizeram?
— Mintira dele, mãe! Eu era moça
sim, juro qui era!
O trem apitou e apontou na curva. Artur
sentiu-se aliviado, pois queria se livrar daquela situação o mais rápido
possível.
— Óia, moço! O sinhô vai casá cum a
mia fia, sinão os minino vão istripá ocê! Binidito, Zeca, pega ele!
Os rapazes sacaram canivetes e
tentaram cercar Artur, mas um bom mascate sempre está preparado para lidar com
os ladrões de beira de estrada, de modo que sacou uma garrucha. Assustados, os
rapazes recuaram.
— Pur favor, ocê disse que mi quiria
bem — implorou Amália. — Mi leva com ocê! Sou minina prendada e trabaiadêra,
sei cuzinhá, lavá, juro pelo qui é mais sagrado qui vô fazê tudo qui ocê quisé!
Artur ficou com pena da moça, mas levá-la
consigo era algo totalmente impensável! O trem se aproximou da estação.
— Vão embora daqui — disse,
engatilhando a garrucha e apontando para a cabeça de um dos rapazes. — Não vou
levar ninguém comigo.
— O sinhô sabe qui disgraçô a vida
dela — Maria falou, apontando Amália. — Ninguém vai querê casá cum muié
disonrada.
A porta do vagão foi aberta; Artur
pegou suas malas e ia entrar quando Maria Benzedeira interpôs-se em seu
caminho.
— O sinhô feiz uma disgraça na minha
famía, entonces iscute bem o qui vô ti falá — disse ela, apontando-lhe o dedo
de forma ameaçadora. — O mal qui o sinhô feiz na carne da minha fia vai vortá
tudinho procê, mas ele vai marcá é a sua alma. Conjuro todos os meus guia e
meus santo pra mi vingá, e ocê há di chorá lágrimas di sangue pur causa desse
disfrute. Ocê vai sê muito castigado pelo qui feiz, e qui ocê nunca mais
isqueça esse castigo e aprenda a respeitá uma muié!
Maria Benzedeira saiu da frente e
ele entrou no vagão. Artur acomodou-se no banco e viu, penalizado, a mãe e os
rapazes levantarem Amália e a levarem dali, surrando-a, enquanto ela gritava. A
locomotiva soltou um longo apito. Pouco depois, a vila ficava para trás e ele
jurou nunca mais pisar ali se novo.
Passaram-se
três semanas, e enquanto estava na capital comprando mais itens para revenda
encontrou o Tonho. Segundo ele, Amália havia cometido suicídio logo no dia
seguinte, pulando na frente do trem. Artur sentiu remorsos e prometeu a si
mesmo nunca mais divertir-se com as solteiras, principalmente se fossem
virgens. Quanto à maldição de Maria Benzedeira? Artur jamais acreditou em
mandingas, pois o seu “São Jorge Guerreiro estava sempre à frente e o
protegeria sempre”.
Artur
relembrava de cada um desses detalhes enquanto se dirigia ao casarão do Seu Zé
Mirigido. “Mas isso é passado! Vamos seguir em frente que a vida está aí para
ser vivida”, pensava. Os homens no bar deram a informação direitinho; logo que
chegou ao topo da ladeira ele passou pelo cemitério e encontrou as tais casas.
Seguiu pela estradinha ladeada por touceiras de capim-gordura e pouco depois
chegava ao tal curral velho. Dali era possível ver, ao longe, um casarão de
dois andares iluminado por lampiões a querosene. Já dava até para ouvir o
sanfoneiro tocando! A noite prometia!
Ele
foi direto ao segundo pavimento, onde acontecia o forró e sentiu-se pouco à
vontade quando muitos começaram a encará-lo. Sendo um estranho, Artur sabia que
era totalmente normal que os locais desconfiassem de forasteiros, mas não se
deixou abalar. Ele foi até o balcão e pediu que lhe trouxessem uma cachaça e um
prato de torresmo, enquanto olhava os casais evoluindo no salão. Só então
reparou que todos tinham os seus respectivos pares, não havia nenhuma mulher
“sobrando” que ele pudesse tirar para dançar. “Puxa vida, nem uma solteirona?
Nem uma viúva?”, pensava, desolado.
Passou-se
quase uma hora e nenhuma das mulheres presentes aceitou seu convite para
dançar, e ele já estava quase indo embora quando um fortíssimo relâmpago riscou
o céu, e o trovão ensurdecedor que veio em seguida indicou que o raio caíra
muito perto, mas foi justamente por causa do clarão do relâmpago que ele viu.
Sentada num banco de madeira, no canto oposto do salão, estava uma linda jovem,
e sozinha! Como ainda não tinha visto essa “lindeza” antes? A moça, que devia ter
no máximo dezoito anos, vestia uma bonita blusa de manga longa e uma saia
rodada, ambas de cor branca. Os longos cabelos negros estavam presos com uma
fita vermelha e caíam majestosamente pelos seus ombros, e os sapatos, também
vermelhos, calçavam pés diminutos e formosos que ela balançava graciosamente,
de uma maneira quase infantil, enquanto observava os dançarinos no salão.
Subitamente,
ela olhou na direção de Artur e abriu um lindo sorriso, e este não perdeu mais
tempo, foi até ela e convidou-a para dançar. Ela se chamava Carolina e era
sobrinha do Zé Mirigido, razão pela qual pôde vir sozinha ao salão. Conversaram
muito enquanto bailavam; ela queria saber tudo sobre ele, onde nasceu, se tinha
irmãos, como era viver solto pelo mundo. Artur respondia de bom grado às suas
perguntas, pois a moça era simplesmente linda e ele estava hipnotizado com
tamanha beleza e doçura.
O
anunciado temporal desabou e Carolina começou a aparentar preocupação, dizendo
que precisava voltar antes da meia-noite e que seu pai ficaria preocupado se
ela chegasse ensopada em casa, pois ela não poderia se molhar ou se expor ao
frio. Artur tranquilizou-a e disse para a moça não se preocupar, pois ele a
acompanharia.
Artiur
estava encantado com Carolina, e simplesmente esqueceu-se de olhar para outras
mulheres na festa. Dançou somente com ela e lamentou muito quando a moça disse
que precisava ir embora. Meio a contragosto por separar-se da donzela, ele
reafirmou sua intenção de acompanhá-la até sua casa. Eles saíram do salão de
mãos dadas, e como ainda chuviscava, Artur cobriu-a com sua capa de chuva e
foram andando na direção indicada por ela.
O
casal passou pelo curral velho, e assim que chegaram ao aglomerado de casas ela
apontou uma casinha que ficava no topo de uma colina, dizendo que morava ali. Artur
argumentou que não queria que ela se molhasse e que ficasse com a capa; no dia
seguinte ele viria buscá-la. Na realidade, esse era um excelente pretexto para
ver a moça de novo. Despediram-se e Artur voltou para a pensão a fim de descansar,
sentindo uma felicidade quase incontida por tê-la conhecido.
No
dia seguinte, logo cedo, ele arrumou-se com esmero, barbeou-se e foi até a casa
da moça. Chamou junto ao portão e um homem idoso o atendeu.
—
Bom dia — cumprimentou, tirando o chapéu. — Meu nome é Artur.
—
Bom dia — respondeu o velho. — Entre, a casa é sua!
Entraram
e Artur sentou-se numa cadeira oferecida pelo seu anfitrião, enquanto este foi
até a cozinha e trouxe duas xícaras de café.
—
Então, em que posso servi-lo? — Perguntou o homem.
—
Eu vim aqui, respeitosamente, para ver uma moça que acredito que seja sua
filha. Gostaria de falar com a Carolina — respondeu, saboreando a bebida.
—
Minha filha? A Carolina? — Perguntou o velho, parecendo assustado.
—
Sim, dancei com ela ontem lá no casarão do Zé Mirigido.
O
homem levou a mão ao peito e arregalou os olhos de uma maneira tão assustadora
que Artur achou que ele estivesse passando mal. O pai da moça escondeu o rosto
entre as mãos e todo o seu corpo foi assaltado por tremores enquanto ele
chorava convulsivamente.
—
O que aconteceu? O senhor está bem? — Artur perguntou, preocupado.
—
Deve estar havendo algum engano — disse o homem, erguendo o rosto molhado pelas
lágrimas.
–
Eu só vim pegar a minha capa de chuva que deixei com ela ontem, e dou minha
palavra que a tratei com todo o respeito. Mas com a sua permissão, eu gostaria
de cortejá-la.
—
O senhor está enganado, não era a minha filha.
—
Era sim, eu a acompanhei até a entrada da rua que sobe até sua casa. Ela disse
que morava aqui.
O
velho voltou a soluçar.
—
O senhor não pode ter falado com minha filha, minha caçula faleceu há dois
anos. Morreu de tuberculose.
Agora
era Artur que tinha os olhos arregalados. Que raio de brincadeira de mal gosto
era essa?
—
A pobrezinha morreu aos dezoito anos, na flor da idade — continuou o velho. — Ela
ficou doente logo aos onze anos, e nunca pôde sair de casa para nada. Carolina
cresceu vendo as irmãs saírem para as festas, quermesses e bailes, e o que ela
mais queria era sair para dançar, mas acabou tendo que viver trancafiada num
quarto, sempre isolada de tudo e de todos.
O
velho enxugou as lágrimas, mas continuava chorando.
—
Ela sabia que ia morrer, por isso, me pediu para fazer um baile aqui em casa
mesmo, pois ela queria muito dançar pela última vez, mas nenhum rapaz da cidade
quis dançar com ela por causa da doença. Desgostosa por causa disso, ela
piorou, caiu de cama e não se levantou mais. Infelizmente, perdi minha menina.
A
expressão no rosto de Artur era um misto de incredulidade e beirava ao riso, de
modo que o velho disse:
—
Estou vendo que o senhor não acredita em mim.
—
Desculpe duvidar de um homem da sua idade, mas o senhor há de concordar que é
uma história difícil de acreditar!
—
Venha, vou mostrar onde ela está enterrada!
De
fato, Artur não acreditava mesmo; certamente, o pai da moça estava inventando
essa estória toda para afastá-la de um mascate. Disposto a ver até onde a
história chegaria, ele o acompanhou ao cemitério. Após ziguezaguear por alguns
túmulos, ambos pararam diante de uma sepultura encimada por uma pedra de
mármore preto, e na cabeceira havia uma enorme cruz de concreto.
—
Minha filha está aqui — disse apontando o jazigo.
Artur
aproximou-se, os cabelos de sua nuca se eriçaram e ele quase desmaiou. Presa à
cruz, estava uma fotografia de uma moça muito parecida com Carolina, embora na
foto ela estivesse um tanto abatida. Não era parecida, era mais que idêntica,
era ela! O cabelo preso com a fitinha, a blusa, não havia dúvidas, era a moça
com quem dançou!
—
Essa roupa da foto... — Artur balbuciou.
—
Minha filha adorava esse conjuntinho branco porque ganhou de presente de sua
madrinha e disse que o usaria quando fosse dançar — disse o velho, recomeçando
a chorar. — Quando ela se foi, fizemos questão de vesti-la com as roupas que
mais gostava, a blusinha, a saia e o sapato vermelho; até prendemos o cabelo
dela com a fitinha vermelha que ela adorava! Mesmo morta, minha filha estava
linda!
Artur
ouvia o que o velho falava, mas continuava sem poder acreditar. De repente, um
volume atrás da enorme cruz chamou sua atenção. Cuidadosamente dobrada e
depositada no chão estava a sua capa de chuva. Ele pegou-a, e no bolso havia um
bilhete escrito com uma letra graciosa, onde se lia “Obrigada pela minha última
dança”.
Conto escrito por
CAL - Comissão de Autores Literários
Produção
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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